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Cordeis=[
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-005",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Sorteio Obrigatorio (sic)",
"Detalhe": "Possui o texto: \"Concluzão [conclusão] do Romance Traição, Vingança e Perdão",
"Localidade": "s.l. - (sem local)",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930), Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 8,
"Notas": "O folheto possui dois textos: A autoria do primeiro texto é atribuída à Leandro Gomes de Barros, e o segundo é atribuído a Francisco das Chagas Batista, inclusive através do acróstico. Fontes: http://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaDocumentos.asp?Consulta_Interna=&Tipo_Consulta=Acervo&Setor_Codigo=1&Acervo_Codigo=10&Tipo_Acervo_Codigo=1&Tipo_Unidade_Logica_Codigo=&Unidades_Logicas_Codigos=&Pagina=1241&Palavra_Chave=&Autor=&Autor_Codigo_Auto=&Pessoa_Codigo=&Suporte_Codigo=&Periodico_Codigo=&Data_Inicial=&Data_Final=&Exposicao_Codigo=&Especie_Codigo=&Codigo_Referencia=&Ordenar_Por=1 e http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro_bibliografia.html. Acessados em 28 de março de 2016 às 12h15.",
"Observacoes": "Não possui capa nem contracapa. \nNumeração manuscrita na capa: \"5\".",
"Palavras-chave": "Sorteio; sociedade; escape; meio; morte; Czar; Licurco; luta; armas; paz; traição; vingaça",
"Tema": "O mesmo destino para todas as pessoas; Traição, vingança e perdão",
"Tecnica": "",
"Texto": "O SORTEIO OBRIGATORIO \n\nAlèrta rapaziada,\nP'ra pegar no pàu furado! \nQue agora ou tudo è soldado,\nOu a guerra está pegada:\nO eiercito e a armada\nMetem-nos em arrodeio;\nE' medonho a bombardeio! \nEo governo è quem vence! \nEm se livrar ninguem pense;\nVai tudo para o sorteio! \n\nPrezidentes Conselheiros, \nMinistros e Senadôres,\nCondes, Dezembargadôres,\nPilôtos e Marinheiros,\nDe indústria os cavalheiros\nHão de rodar como veio!...\nNinguem ficará alheio\nA essa lei em questão;\nSêja manço ou valentão; \nVai tudo para o sorteio! \n\n\nCardeaes, Bispos, Abades,\nConegos e Monsenhôres,\nArcebispos e Reitôres,\nVigários colados, Padres,\nSacristães, croinhas, Frades,\nCaem tôdos nesse enleio;\nQuèr seja bonito ou feio,\nTudo ha de vestir a farda,\nFazer eizercicio e guarda:\nVai tudo para o sorteio! \n\nDeputados, inspectôres,\nChefes de repartições,\nCaixeiros, socios, patrões,\nTipogrofos, escritores\nPoétas que cantam amores\nEmpregardos de correio;\nInda vindo de permeio\nP'ra os salvar uma bernarda, \nNão os livrará da farda;\nVai tudo para os sorteio!\n\nMedicos e advogados\nParteiros e oculistas,\nFarmacêuticos, dentistas,\nJuizes e delegados,\nOperários, majistrados;\nQue escapem, nisto não creio;\nCada um será um esteio\nPara ao governo servir;\nNinguem poderá fujir:\nVai tudo para o sorteio! \n\nMaquinistas, serralheiros,\nOurives e gravadôres,\n\n\n\n\nAlfaiáte e pintores,\nCarpinas e marcineiros,\nAlmocreves, fazendeiros,\nPoliticos a quem odeio;\nNem um só inventa um meio\nQue o livre de ser soldado\nOu solto ou mesmo amarrado:\nVai tudo para o sorteio!\n\nCobradôres de imposto,\nFiscaes de meza de renda,\nEsses vão de encomenda\nE nunca pagarão pôsto;\nEste inefável gôsto\n-Eu de cá o saboreio-\nDe vel-os cair no seio\nDos pervessos militares,\nNão ficarão eizemplares:\nVai tudo para o sorteio! \n\nPobre ou rico, não jeito,\nTôdos irão no embrulho\nInda o tipo tendo orgulho,\nA'lei estará sujeito;\nAté quem tiver defeito,\nQue não escape, riceio; \nSó não irá n'este meio\nVelho, mulher e menino\nE o brabo Antonio Silvino,\nO mais irá p'ra o sorteio!...\n\n\nCONCLUZÃO DO ROMANCE\n\nTRAIÇÃO, VINGANÇA E PERDÃO\n\nFôste fraco em dares crença\nA um homem desconhecido,\nA um infame traidor\nQue te deixou iludido.\n-Perôa-me! esclamou êle: \nQue estou muito arrependido! \n\nAbdias despertou\nOuvindo ainda a visão\nDizer: -<A Deus jà pedi perdão,\nE eu tambem voz perdôo\nDe todo o meu coração.\n\nEle ergue-se inda tremendo\nComo que estava assombrado\nSentindo-se arrependido \nDe ter a espoza matado! \nE ouvindo a inda a vóz d'ela\nDizer-lhe: <\nAli mesmo êle ajoelhou-se\nJunto ao canto onde se ergueu\nA cruz em que Jezus Cristo\nPara nos salvar morreu,\nE esclamou: -<Perdoai o crime meu; \n\n\n\nMeu Jezus que derramasses\nO vosso sangue divino,\nNeste monte p'ra salvar\nAo homem tão pequenino,\nDignaivos Senhor meu\nPerdoar este assassino!...>>\n\nAbdias rezolveu\nAo depois d'esta oração,\nIr á cidade de Londres\nEm procura de Adrião;\nPois que este o tinha traído,\nDizia-lhe o coração.\n\nNão encontrou-o em Londres,\nMas, sendo êle Calabrez,\nAbdias regressou\nPara a Itália outra vez:\nPercorreu tôda a Calabria\nNo percurso de um mez\n\nNa Calabria lhe enformaram\nQue Adrião d'ali levou\nA espoza, e a muito tempo\nEm Veneza embarcou;\nNinguem lhe soube dizer\nQue destino êle tomou.\n\nAbdias em Veneza\nTomou uma embarcação\nQue na noite d'esse dia\nSeguia para o Japão:\nFoi a Tókio e lá, não teve\nNoticias de Adrião!...\n\n\n\n\n\nQuando êle chegou a Tókio\nJà não tinha mais dinheiro;\nE se vendo em terra alheia\nComo um simples forasteiro,\nViu-se obrigado ábraçar\nO oficio de jardineiro.\n\nMais de quatro ãnos passou\nAbdias no Japão\nDe ali, seguio para a Rucia.\nTendo firme a pretensão\nDe percorrer o pais\nEm procura de Adrião.\n\nPor esse tempo na Rucia\nUma guerra rebentou:\nDe S. Petesburgo o povo\nEm maça, se levantou\nContra o Czar que imperava\nNa cidade de Moscou.\n\nDe encontro aos revoltozos\nFoi um batalhão guerreiro,\nPorem, sendo derrotado,\nO Czar mandou, ligeiro\nSeguir outro batalhão\nQue morreu como o primeiro. \n\nO Czar se preparou\nPara tambem ir lutár,\nPorem o pintôr Licurgo\nVendo êle a vida arriscár.\nPediu-lhe para ir tambem\nComo seu auxiliár.\n\nVendo o Czar que Licurgo\nE'ra um amigo lial\nDisse-lhe: -<Irás feito jeneral\nE se vencêres serás\nConselheiro Imperial.>>\n\nChegou Licurgo com as tropas\nNa cidade revoltada,\nE ao chefe dos revoltózos\nMandou logo uma embaixada\nDizendo que de seu lado\nA guerra estava acabada; \n\nE pedia ao revoltózos\nPara na cidade entrar;\nEstes, a bandeira branca\nVendo êle alevantar;\nTôdos baixaram as armas\nNinguem ouzou mais brigar!...\n\nLicurgo levava ordens\nPara tudo rezolver;\nEntão, disse aos revoltozos;\n-<>\nE a todos deu anistia\nSem a ninguem ofender!...\n\nBaixou um decreto de paz\nQue por tôdos foi aceito.\nDepois, mandou ao Czar\nContar o que tinha feito;\nFicando o Czar com êle\nAinda mais satisfeito,\n\nMandou Licurgo que as fôrças\nVoltassem para Moscou;\nE êle em S. Petesburgo\nSeis dias se demorou,\nForam seis dias de fèstas\nQue o pÔvo lhe dedicou!...\n\nUma vez em que Licurgo\nPasseiava na cidade,\nViu o grande hotel París\nQue éra de propriedade\nDe Adrião, e n'ele entrou \nSó por curiozidade.\n\nAdrião o recebeu, \nMuito longe de pensar\nQue aqu'êle jeneral fosse\nEsmeraldina Alencar,\nA espoza que êle traira\nPara uma apósta ganhar. \n\nEntão óf'receu servêja\nE o jeneral aceitou;\nA este, as salas do prédio\nAdrião tôdas mostrou;\nViu Licurgo uma vidraça\nQue a tenção lhe chamou!\n\nTinha dentro da vidraça\nDuas caixinhas douradas,\nCom duas formozas joias \nDentro d'éla colocadas\nE cada uma das joias\nCom duas lêtras gravadas.\n\n\n\n\nE'ra o anel e a redoma\nQue out'ora Adrião roubou\nDe Esmeraldina Alencar\nQuando em sua caza entrou;\nConheceu Licurgo as joias;\nE a Adrião perguntou: \n\n-<Que vêjo tão delicadas,\nDize-me a qual joalheiro\nForam as mesmas compradas?\nDisse Adrião: <Foram a mim órfetadas.>>\n\nE disse então que em Londres\nGanhou d'um tal Julio Abel\nCinco milhões, por provar-lhe \nSer-lhe a espoza infiel!\nE que a mesma, em París\nDeu-lhe a redoma e o anel. \n\nLicurgo, então conheceu \nSer Adrião o autôr\nDo roubo d'aqnêlas joias; \nE que aquèle traidor,\nFez Julio mandar matar\nA espoza aquem tinha amor. \n\nEntão o nobre Jeneral\nFinjiu que ignorava\nA historia mentiroza \nQue Adrião lhe contava;\nDisse que de su'astucia \nMuito se admirava!...\n\n\n\n\n\n\nE disse: -<A manhã devo voltar \nA' Moscou, onde um banquête\nMe óferece o Czar\nE d'essa festa, eu dezejô\nVer você participar\n\nAdrião, com muito gôsto\nA Licurgo acompanhou\nE a este, pelo caminho\nMil aventuras contou.\nCom grande recepção\nEntrou Licurgo em Moscou.\n\n. . . . . . . . . . . . . . . . . \n\nFazião já quatro dias\nQue á Moscou tinha chegado\nO jardineiro Abdias\nE fôra então empregado\nNos jardins da Czarina,\nGanhando um bom ordenado,\n\n. . . . . . . . . . . . . . . . . \n\nNa ocasião do banquete\nPediu Licurgo ao Czar,\nLicença para Adrião\nAli, a historia contar\nDe uma aposta vantajoza\nQue êle conseguiu ganhar.\n\nAdrião contou a historia,\nJà diferente d' aquéla\nQue contára ao Jeneral,\nSem ver que d'uma janèla, \n\n\n\n\nO Jardineiro Abdias\nPrestava atenção a èla\n\nAbdias no jardim\nEstava as plantas regando \nMas de ali, vendo Adrião\nA historia ao Czar contando,\nSe amparou d'uma janela\nE tudo estava escutando.\n\nAbdias conheceu\nAdrião, e quiz entrar\nNa sala, e mesmo na meza\nEsse infame apunhalar; \nE não o fez porque êle stava\nNa prezença do Czar!\n\nMas se arezeutou na sala\nE disse: -<Venho dizer que a historia\nDe Adrião não stá fiél...>>\nLicurgo reconheceu\nO seu marido cruél!...\n\nAdrião quando viu Julio\nTambem o reconheceu...\nO general levantou-se\nE disse aos dois: -<O juís d'esta questão;\nContem tudo o que se deu.\n\nViu-se obrigado Adrião\nA descobrir a verdade\nDisse que ganhou ápósta\n\n\nPor meio da falsidade\nE que ficou Esmeraldina\nCom a su'honestidade.\n\nJulio Abel ouvindo isso,\nEsclamou quase a chorar:\n-<< E's um infame traidor;\nEu, por ti acreditar,\nMandei a Esmeraldina\nCruelmente assassinar!...\n\nDisse então o Jeneral:\n-<Deus não deixou que a ferisse\nA tua mão vingativa!...\nE esperem qu'ela já vem\nOuvir essa narrativa!...\n\nDisse isso e saiu da meza\nE no seu apozento entrou,\nDespiu a farda e em trajo\nDe mulher se aprontou,\nE em menos de dés minutos\nNa sala se aprezentou.\n\nVendo-a Julio assim vestida,\nTambem a reconheceu, \nE se ajoelhando, lhe disse:\n-<Que o teu perdão não merece\nQuem tantas magôas te deu!...>>\n\nDisse-lhe èla: -<Que por mim stás perdoádo;\n\n\n\n\nE tenho rogado a Deus\nQue perdoe-te esse pecádo;\nPois eu sabia que tú\nHavias sido enganado.>>\n\nAdrião vendo èstas scenas,\nLevantou-se e quiz correr\nMas o Czar o deteve,\nE mandou logo o prender;\nE disse:<Essa questão rezolver.>>\n\nDisse então, Esmeraldina:\n-<Recebe outravez a mão\nDe tua espoza fiel:\nQue Deus nos prodigalize \nSegunda lua de mél...>>\n\nRespondeu-lhe Julio Abel:\n-<Vamos voltar para a França\nMorar em Paris então;\nMas vou primeiro vingar-me\nDo traidor Adrião.>>\n\nEsmeraldina lhe disse:\n-<Mas te pesso que a Adrião\nPerdoes essa grande afronta;\nNós perdoamol-o, e Deus\nDos seus atos tome conta!...>>\n\n\n\n\nJulio disse:<Do traidor me vingar,\nPorem, tú me perdoáste,\nTambem devo o perdoár!...\nOs cinco milhões, somente\nD'êle eu quero reclamar.>>\n\nAssistiu tôdo esse drama\nO traidor Adrião,\nSem de nada comover-se,\nSem implorar o perdão!...\nO Czar ergueo-se e disse:\n-<>\n\nE disse êle:-<Merece muito louvôr...\nPorem a minha justiça\nCastiga ao mão feitôr;\nE não ha lei n'esse Imperio\nQue perdoe ao traidor! \n\nPortanto, tôdos os bens\nDe que despõe Adrião,\nSerão entregues a Julio\nPorque d'êle tôdos são;\nE o infame traidor!\nSerá queimado hoje então!>>\n\nE uma grande fogueira\nMandou fazer o Czar,\nE Adrião dentro d'éla\nVivo mandou atirar!...\nE mandou que as sinzas d'êle\nFossem lançadas no mar! \n\n\n\n\n\nFoi Julio a S. Petesburgo\nE ali,fora embolçado\nDe seis milhões que Adrião\nN'um banco havia botado\nE tomou conta do hotel \nQue Adrião tinha comprado.\n\nJulio vendeu o hotel\nE com a espoza voltou\nA' capital de París,\nE novamente tomou\nPósse de tudo qu'ao medico\nEsmeraldina entregou.\n\nAbriu Julio um novo banco\nNa capital de Paris;\nE longos ãnos viveu\nEsse cazal mui feliz,\nRendendo graças a Deus\nQue foi d'esse drama o juís. \n\nCom poucos ãnos depois\nTinha Julio e Esmeraldina\nDois filhos muito galantes:\nUm rapaz e uma menina;\nChamava-se ele Adonias\nChamava-se éla Anedina.\n\nFinalmente Esmeraldina\nInvocando sempre a Deus\nMostrou ser grande heroína!\n\nFoi a Roma julio Abel\nRezolvido a procurar\nAli,a João Maciel;\nNão foi custoso o encontrar\nConseguiu Julio que João\nInd' o acompanhasse então,\nSendo do seu banco socio.\nCom essa nova união\nOs dois fiseram negocio."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-006",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Marco de Lampeão (sic)",
"Detalhe": "Possui os textos: \"Os Revoltosos no Nordeste - A Hecatombe de Piancó e a Morte do Padre Aristides\" e \"Os Novos Crimes de Lampeão",
"Localidade": "Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"6",
"Palavras-chave": "Lampião; Padre Cícero; cangaço; Nordeste; luta; vingança; polícia;",
"Tema": "O impacto de Lampião no cangaço",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\n[Em branco]\n\nO MARCO DE LAMPEÃO\n\nNo Estado de Pernambuco\nLampeão se abarracou,\nCom cento e trinta bandidos\nDos sertões se apoderou\nE no Pegehú de Flores\nPraticando mil horrores\nO seu marco edificou. \n\nEste marco do bandido\nDetermina a divisão\nDas terras que elle governa\nQue occupam todo sertão,\nO Estado de Alagoas\nQue dispõe de forças boas\nLhe serve de divisão. \n\nDescança a base do marco\nSobre o rio Mochotó;\nAbrangendo a sua sombra\nDe Pesqueira a Cabrobó\nP'ra o lado da Parahyba\nA sombra bem quasi em riba\nDe Princeza e Piancó.\n\nUm sargento alagoano\nSendo uma vez encontrado\nNos dominios do bandido\nFoi por este fuzilado\nDo morto o monstro arrancou\nAs divisas e as mandou\nAo chefe daquelle Estado.\n\nDeixando os seus dominios\nEm Alagoas entrou\nE a região do Ipanema\nQuasi toda devastou\nFez ali mortes crueis\nE mais de mil contos de reis\nNesse Estado elle roubou.\n\nNas terras de Lampeão\nPassava um empregado\nDa companhia Standart\nQue foi por elle roubado\nEm armas roupa e dinheiro\nE elle como prisioneiro\nQuasi que morre queimado.\n\nLampeão tinha mandado \nQue seus cabras amarrassem\nO viajante num auto\nE depois o encendiassem\nMas havendo intervenção\nO bandido Lampeão\nMandou que o homem soltassem.\n\nO homem pediu em nome\nDo padre Cicero Romão\nQue lhe poupassem a vida\nE o bandido Lampeão\nQue obedece temeroso\nA esse Padre virtuoso\nAo homem deu o perdão,\n\nHorácio da Sergia que é\nComparsa de Lampeão\nConvidou-o p'ra matar\nManoel Giló no sertão;\nGiló 'stava preparado\nCom dose homens entrincheirado\nDentro em sua habitação.\n\nLampeão juntou seu grupo \nE a Manoel Jiló cercou\nEste, resistiu trez horas \nE a munição esgotou\nOs Gilós foram então presos\nE os treze homens indefezos\nLampeão todos sangrou.\n\nNo Estado da Bahia\nFez elle uma escursão;\nAli matou pouca gente,\nMas roubou uma porção\nP'ra Pernambuco voltou. \nE em Bom Conselho mandou\nGuardar sua munição. \n\n\nNo lugar chamado Tigre\nO Anspeçada Liberato\nCom uma força de policia\nCercou Lampeão no mato\nE feriu-lhe dez seguazes\nQue eram dentre os seus rapazes \nOs mais ruins e mais baratos.\n\nO Dr. Sergio Loreto\nNomeou agora, então\nO major Teophanes Torres \nP'ra combater Lampeão\nE bravo commandante \nQual delegado volante\nSeguiu p'ra o alto sertão. \n\nTeophanes foi quem prendeu\nO brabo Antonio Silvino,\nE agora quer prender\nO capitão Virgolino.\nQue jura que não se rende;\nE Teophanes diz que prende\nOu mata aquelle assassino. \n\nLuzardo afirma na camara \nQue Lampeão è legalista\nQue de Floro Bartolomeu\nElle estivera na lista.\nQue tem serviço prestado\nE que se fosse perduado\nSeria um bom bernardista.\n\nOs revoltosos no Nordeste \n A hecatombe de Piancó e a morte \n do Padre Aristides\n\nIzidoro e João Francisco\nOs chefes da revolução,\nFugiram para o extrangeiro,\nLevando mais de um milhão,\nLá brigaram porque ambos\nQueriam o maior quinhão! \n\nO Coronel Luiz Prestes,\nGuiando os rebeldes sae, \nDe Paraná e Matto Grosso,\nAtravessa o Paraguay\nE segue rumo ao Nordeste\nOnde a Esperança o atrae. \n\nAtravessaram os rebeldes \nO Estado de Minas Geraes,\nBahia e Pernambuco,\nCom escala por Goyaz,\nPassando nesses Estados\nPor longe das Capitaes.\n\nDe Goyaz os revoltosos\nPassaram p'ra o Maranhão,\nIvadindo Carolina\nCidade do alto Sertão,\nMarchando smepre em columnas \nSem temer perseguição.\n\nProseguindo em avançadas \nVinham as columnas guerreiras\nAtravez de Grajahú,\nBarra de Corda e Pedreiras,\nMas destas ultimas cidades\nRecuaram as carreiras. \n\nPara cortar a vanguarda\nDa columna revoltosa, \nO governo concentrou\nUma força poderosa,\nNo Estado do Maranhão\nQue era a zona perigosa.\n\nPerdendo sempre nas luctas\nMuita gente e munição,\nOs rebeldes recuaram,\nSahiram do Maranhão\nCobrando impostos de guerra\nDe toda população. \n\nNo Estado do Piauhy\nOs rebeldes se apossaram, \nDe muitas localidades\nE a capital assaltaram,\nMas foram mal succedidos\nTodos seus planos falharam.\n\nDurante bem 15 dias\nDe cerrado tiroteio, \nTherezina resistiu\n\nRespondendo ao bombardeio\nMas a columna rebelde\nFugiu não teve outro meio.\n\nComo véem os leitores,\nTherezina resistiu\nDuas semanas a fio\nMas dali ninguem fugiu!\nOs revoltosos recuaram\nE a cidade não cahiu.\n\nO capitão Juarez Tavora,\nAli foi prisioneiro,\nCom o capitão Paulo Cunha\nSeu ousado companheiro\nAmbos foram escoltados\nPara o Rio de Janeiro.\n\nO Bispo de Piauhy\nD. Severino Vieira\nVendo o Estado Piauhyense\nBanhando em grande sangueira, \nSaiu qual mediadôr,\nAtraz da aguerrida bandeira. \n\nA sós com o seu secretario\nO Bispo conseguiu ir \nParlamentar com os rebeldes,\nE em nome de Deus pedir\nPara o exercito revoltoso\nDo seu Estado sair. \n\n\n\n\nPelos chefes revoltosos\nO Bispo foi attendido,\nSeçaram as hostilidades\nAnte tão serio pedido \nEntão foi a Ceará\nLogo depois invadido.\n\nPela serra do Ibiapaba\nNo Ceará penetraram,\nNa cidade do Ipú\nBom dinheiro arrecadaram\nSeguiram p'ra Crateús\nOnde não se demoraram. \n\nDa villa de Crateús\nNão poderam se apossar,\nEncontraram resistência,\nResolveram então passar \nA Pereiro e Migue Calmon\nQue conseguiram tomar. \n\nDeixando Miguel Calmon\nA linha ferrea arrancaram.\nForam a Riacho do Sangue\nOnde bem se demoraram,\nE defrontando os legalistas\nPor 2 vezes luctaram.\n\nDahi seguiram os rebeldes\nP'ra o Rio Grande do Norte\nEncontraram em S. Miguel\n\nUma resistencia forte,\nCaindo a villa afinal\nDepois de haver muita morte.\n\nSão Miguel foi defendida\nPor 25 soldados\nDo Rio Grande do Norte\nPoliciaes denodados\nQue luctaram 8 horas\nSendo por fim derrotados.\n\nNo povoado S. Miguel,\nQuando os rebeldes entraram,\nAs casas commerciaes\nQuasi todas saquearam\nDepois os melhores prédios\nDo logar incendiaram.\n\nRumando a Villa Luiz Gomes\nDeixaram então S. Miguel,\nPenetraram no logar \nComo pombinhas sem fel,\nPorque onde não ha resistencia\nO rebelde não é cruel.\n\nNa Villa de Luiz Gomes\nTres dias se demoraram,\n-Invadiram Pão dos Ferros\nMas na Villa não entraram.\nFoi quando da Parahyba \nPara as fronteiras marcharam\n\nO Tenente Souza Dantas\nUm revoltoso evadido,\nCom o Tenente Serôa\nAviador destemido,\nQuizeram nos assaltar \nMas o plano foi perdido.\n\nJunto a quatro marinheiros\nE um rapaz estudante,\nArmados com dinamytes\nPlanearam um levante,\nMas o Dr. Suassuna\nNão os deixou ir adiante.\n\nFoi a 5 de fevereiro\nDeste anno de 26\nO Tenente Francelino\nCercou todos de uma vez\nHouve serio tiroteio \nMas delles foi o revez.\n\nDepois de o interrogar\nO governo os enviou\nPresos para Pernambuco\nOnde uma escolta os levou,\nForam todos castigados\nPorque o levante abortou. \n\nO Estado da Parahyba\nOs rebeldes atravessaram,\nMas foi tal a resistencia\n\n\n\n\nDa policia que encontraram\nQue só uma cidade\nFoi que elles se apossaram. \n\nDe Souza, Pombal e Patos\nForam elles repellidos\nTomaram alguns povoados\nQue estavam desguarnecidos,\nEntão para Piancó\nAvançaram destemidos.\n\nAo chefe Padre Aristides\nMandaram uma embaixada\nDizendo que iam passar,\nSem offenderem a nada,\nO Padre lhe respondeu\nQue tiriam franca entrada. \n\nPorem desse accordo o padre\nNão transmittiu a noticia\nAos 2 tenentes que estavam\nNo comando da Policia\nE que deffendiam a villa\nCom heroismo e pericia. \n\nOs dois bravos officiaes \nAntonio Benicio e Marinho,\nReuniram os seus soldados\nE foram devagarinho\nAtucalhar os rebeldes \nNuma volta do caminho.\n\nUm official revoltoso\nCom 25 soldados,\nCairam na emboscada\nE foram assassinados\nCom este facto os rebeldes\nFicaram exasperados.\n\nSabendo o coronel Prestes\nDa morte do companheiro,\nFallou ás hostes rebeldes\nNum gestos audaz de Guerreiro:\nVamos! Avancem! Vingança!\nQuero ver tiro certeiro.\n\nSupondo-se atraiçoados\nRomperam fogo sem dó\nEntão banharam de sangue\nO sólo de Piancó,\nJuraram matar os chefes\nE não pouparam um só. \n\nDepois de oito horas de fogo\nSem uma interrupção\nTendo a Policia esgotado\nToda a sua munição\nFez-se ao largo em retirada\nComo unica salvação.\n\nOs tenentes comprehenderam\nQue seriam imolados\nE recuaram salvando. \n\n\nO resto de seus soldados,\nDeixando a villa entregue\nA Sanha dos revoltados.\n\nAo penetraram os rebeldes\nNaquella localidade,\nAtearam fogo as casas\nE num requinte de maldade\nEspalharam a morte e o lucto\nSem compaixão nem piedade.\n\nPrenderam o Padre Aristides\nDeputado Estadoal\nSeu sobrinho José Ferreira,\nO Tabelião local,\nE o Coronel João Lacerda\nPrefeito Municipal. \n\nAlém destes muitos outros\nTambem foram aprissionados\nE morreram todos elles \nA arma branca - apunhalados! \n- Victimas fieis do Dever\n- Bravos, heróes, denodados!\n\nDepois da carneficina,\nOs cadaveres amarraram\nNas caudas de seus cavallos,\nE nas ruas os arrastaram\nAntes porem do dinheiro\nE das joias os despojaram. \n\n\nEm seguida praticaram\nO roubo, o saque e pilhagem,\nDinheiro, viveres e roupas\nTudo entrou na rapinagem,\nSó depois de bem providos\nProsseguiram a viagem.\n\nNos annaes de nossa historia \nA todos causando dó\nHão de ficar sem iguaes\nOs crimes de Piancó.\nPois esta hecatombe horrivel\nNa historia ficará só.\n\nO Coronel Manoel Queiroga \nFazendeiro no Pombal.\nFoi feito prisioneiro\nMas não soffreu nenhum mal,\nDepois de mil peripecias\nFoi libertado afinal.\n\nSaindo da Parahyba\nA horda de malfeitores,\nFoi invadir Pernambuco\nPela cidade Flores,\nMas foi grande a resistencia\nQue encontraram os invasores. \n\nO tenente Cleto Campello\nFez uma revolução,\nPrimeiro soltou os presos\n\nDa cadeia de Jaboatão\nPrendeu um trem e seguiu\nP'ra Victoria ou Santo Antão.\n\nPassou Moreno e Nathan\nDe onde levou armamento,\n- Em Victoria soltou os presos\nE prendeu o destacamento,\nSaqueou a collectoria\nE prosseguiu seu intento.\n\nEm Gravatá de Bezerros\nForam a bala recebidos,\nMorrendo o tenente Cleto\nE mais quatro destemidos\nDos seus, os outros fugiram\nE estão sendo perseguidos. \n\n\n\n Os novos crimes \n de Lampeão\n\nTodos chefes de bandidos\nDo nordestino torrão,\nObedecem a dirictriz\nDo coronel Lampeão,\n- Porque elle é o mais forte\nDessa nefanda cohorte\nQue infesta o alto Sertão\n\nLampeão mandou seis cabras\nNa policia engajarem,\nAssentaram praça em Patos\nE depois de se fardarem,\nSeguiram p'ra deligencia\nMas a mão da providencia \nFaz os seus planos falharem.\n\nUm soldado de policia\nQue conhecia os bandidos \nDeu parte ao commandante \nDos seis soldados fingidos,\nForam eles condemnados \nE da policia afastados\nPor crimes já commettidos. \n\nO plano desses seis cabras\nDe instinctos canibaes,\nEra matar da policia\nTres ou quatro officiaes \nE depois de desertarem\nPara o grupo retornarem\nQuaes cangaceiros leaes.\n\nA perda desses bandidos\nEnfureceu Lampeão,\nQue pretendendo vingar-se,\nMatou um velho ancião,\nDe uma pobre familia\nArrebentou-lhe a mobília\nE queimou-lhe a habitação. \n\n\nDesde então o celerado\nA mais ninguem respeitou\nAté de algumas familias\nElle a honra maculou,\nE no termo de Cajazeiras\nEm Cipó e Catingueiras\nMuito sangue derramou. \n\nLampeão no Cearà\nDisse a um velho fazendeiro,\n- Eu pretendo em pouco tempo\nTer de cabras um milheiro,\nTenho de politica um plano\nE o Estado pernambucano,\nConflagarei todo inteiro\n\nSou o coronel Lampeão\nE no meu estado maior,\nO amigo Horácio Navaes\nUsa galões de major\nTem um capitão e dois tenentes\nE mais cem cabras valentes\nQue são do bom e melhor \n\nNo districto de Cajazeiras\nPerto do logar Tatús\nEm um casamento eu fiz\nOs noivos dansarem nùs,\nPintou-se o sete e o bode\nE no meio do pagode\nMandei apagar a luz...\n\n\nDepois encontrei 3 moças\nTodas da Escola Normal\nDe Cajazeiras, e um velho,\nDe aspecto paternal,\nAo velho eu amarrei\nE o que eu fiz não direi\nP'ra não ferir a moral.\n\nResolvi ultimamente\nP'ra a Policia distrair\nPreparar-lhe emboscadas\nOnde a tropa vae cahir\nOs que assim eu for matando\nDe menos irão ficando\nPra vir me perseguir.\n\nA força da Parahyba\nEm novembro eu embosquei\nA um sargento e um soldado\nDesta vez elliminei,\nE qual perito General\nFugi com os meus do local\nE outra emboscada armei.\n\nDividi meu grupo em dois,\nDe um assumi a chefia,\nE o meu mano Antonio Ferreira\nAo outro dirigia\nFicando então combinado\nSe um de nós fosse atacado \nO outro defenderia. \n\n\nA cinco de Fevereiro\nNo districto de Floresta\nNo logarejo São Braz\nHouve de bala uma festa,\nEu quasi que ia morrendo\nPorem ficaram sabendo\nLampeão p'ra quanto presta. \n\nNum predio desocupado\nEu com meu grupo estava,\nDevertindo no baralho,\nQuando menos esperava\nO tenente José Hygino,\nHomem valente ladino\nA casa velha cercava.\n\nA força pernambucana \nTinha quarenta soidados\nTrazia bom armamento\nVinham bem municiados\nE foram o cerco apertando\nE sobre a casa atirando,\nNós ficamos sitiados.\n\nEntrincheirados meus cabras\nRespondemos sem tardança\nMeu mano Antonio Ferreira,\nOuvindo os tiros - Avança!\n- E foi o que me valeu \nSeu grupo a tropa envolveu\nCerrou fogo e entrou na dansa. \n\n\nNotando o tenente Hygino\nQue tinha sido envolvido\nQuiz recuar mais não poude\nPorque se achava ferido,\nDisse para os seus soldados\nMuito delles baleados: \n- O combate está perdido!\n\nMas o tenente Optato\nQue vinha se aproximando,\nCom um troço de soldados\nFoi tambem na lucta entrando\nE eu temendo morrer\nDisse aos meus: toca a correr!\nE cada um foi se salvando.\n\nCom o tenente Optato\nOutra vez nos encontramos\nElle tinha uma grande força\nCom ella nos defrontamos \nTravou-se combate forte\nDe parte a parte houve morte,\nMas a historia ainda contamos...\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-008",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "As Cousas (sic) Mudadas",
"Detalhe": "Possui o texto: \"Continuação de João da Cruz\" - 4º volume",
"Localidade": "s.l. - (sem local)",
"Data": "[entre 1910 e 1912]",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 8,
"Notas": "Autoria do folheto atribuída a Leandro Gomes de Barros e datação. Fonte: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/pesquisa1.htm. Acessado em 28 de março de 2016 às 12:30h.",
"Observacoes": "Não possui capa nem contracapa.\nNumeração manuscrita na primeira página: \"8\".",
"Palavras-chave": "Moda; antigo; novo; homem; mulher; trabalho; preguiça; esposa; marido; Satanás; João da Cruz; beleza; diabo",
"Tema": "A diferença entre os costumes antigos e modernos de homens e mulheres; O encontro de João da Cruz com o diabo enganand-o como uma bela mulher;",
"Tecnica": "",
"Texto": "As cousas mudadas\n\nA muito tempo que eu digo\nO mundo está as avessas,\nO povo incrédulo e descrente,\nMe diz você, já começa\nIsto é sêde de agouro\nOu fôme de uma conversa.\n\nAgora é que elles estão vendo\nQue a cousa está em começo\nTanto que muitos já disseram\nEstá tudo pelo o avêsso\nE inda está em principio\nAinda vai pelo um terço,\n\nHoje se vê uma moça,\nNinguem sabe si é rapaz \nAinda com calça e chapéo,\nPouca differença faz,\nVê-se até calças de velhos\nCom breguilhas para traz.\n\nE se alguém censurar isso,\nO fulano se encommoda, \n\n\n\nResponde logo eu sou velho,\nMas ainda aprecio a moda,\nMinha velha tem 100 annos,\nMas quando anda olha a roda! \n\nElla fez saia calção\nPara ficar mais faceira,\nEu também gosto da moda,\nSigo na mesma carreira,\nFaço a calça sem breguilha,\nBoto atraz uma maneira.\n\nE note bem não há moda \nQue chegue e não nos offenda\nE' tanta moda que vem,\nQue não há quem comprehenda,\nMuito breve os homens fazem\nCalça e camisa com renda. \n\nOutr'ora a mulher casava\nPara o homem a sustentar,\nHoje uma que se case\nVá disposta a trabalhar,\nSe fôr moça preguiçosa\nFica velha sem casar. \n\nHa homens que hoje vive\nDo trabalho da mulher,\nEmbóra que ele só faça\nAquillo que ella quizer,\n\n\n\nHa de carregar no quarto\nOs filhos que ella tiver.\n\nOutr'ora, quando um rapaz\nChegava a uma certa idade,\nSó se casava com moça\nQue tivesse honestidade\nE que o pai della tivesse\nMuito bôa qualidade.\n\nMas, hoje, é pelo contrário.\nQuando um rapaz quer casar,\nQuer saber se a moça tem\nCoragem de trabalhar,\nQue saiba fechar cigarros\nE saiba bem engommar. \n\nQuer vêr casar-se depressa, \nSeja ama ou costureira,\nProfessora ou modista,\nOu mesmo uma cigarreira\nAinda feia e fallada\nNão falta rapaz que não queira. \n\nOs homens de hoje só querem\nMulher para trabalhar,\nA mulher de casa é elle,\nFaz tudo que ella ordenar,\nPara ser ama de leite\nSó falta dar de mamar. \n\n\n\nAgóra analysem bem\nUm homem assim como é:\nA mulher vai para a fabrica,\nElle ha de torrar café,\nFaz fogo apromptar o jantar\nDar papa e banho ao bébé,\n\nVai vêr agua enche vasilhas,\nForra o chão com uma estoupa\nBota nella os pannos todos,\nVai ao rio e lava roupa,\nE' ama, é creada, é tudo\nE alli só ganha a soupa.\n\nSe ella fôr uma esperta\nDiz-lhe logo mandilhão!\nMarido que não trabalha \nSó tem direito ao pirão;\nSe pisar fora do risco, \nApanha de cinturão.\n\nVocê sabe que esta casa\nE' igual a de Gençalo,\nEnquamto existir gallinhas\nAqui não se trata em gallo;\nSó se faz o que eu quizer,\nNão tem santo Pedro ou Paulo.\n\nNo tempo de meus avós\nO homem só se casava,\n\n\n\nQuando preparava a casa\nDe tudo que precisava,\nPorque na lua de mel\nUm noivo não trabalhava.\n\nHoje vão para a igreja,\nQuando acabam de casar,\nDiz-lhe a noiva: você volte\nEm casa tem que arrumar,\nEu daqui vou para a fabrica,\nTenho cigarros á fechar.\n\nE' necessario que eu vá\nGanhar o pão de consumo,\nSe hoje eu não fechar cigarros,\nAmanhã como me arrumo?\nEm vez de cheirar a noiva,\nTem é catinga de fumo.\n\nIsso que eu descrevo aqui\nE' o costume da praça,\nAgora vá ao sertão\nE veja lá que desgraça!\nLá só tem Deus nos acuda\nE eu não sei o que faça.\n\nChega-se nesses sertões\nN'uma choupana daquella;\nVer-se o barbado de cócora\nAlcovitando as panellas;\n\n\nUm feixe de lenha junto,\nAtiçando fogo nellas.\n\nPergunte pela mulher\nQue há de ouvir elle dizer:\nFoi p'ra roça apanhar fava,\nSó vem quando escurecer,\nEu fiquei sósinho em casa,\nP'ra fazer o comer.\n\nOutr'ora só se enfeitavam\nAs moças na flôr da idade,\nHoje vê-se cada uma\nMais velha que a eternidade!\nCom marrafas e espartilho,\nCinto e suas novidades.\n\nTinje os cabellos de preto\nBóta pó de arroz na cara,\nMira no espelho e diz:\nSou uma belleza rara!\nA fructa estando madura\nInda se torna mais cara.\n\nAs moças se affectam tanto\nPara fazerem figura,\nQue tem muitas que não comem;\nPara afinarem a cintura;\nIsso em minha opinião\nTem nome de cara dura.\n\nContinuação de João da Cruz \n 4º Volume\n\nNão tem ramo, não tem nada;\nDisse ahi um satanás,\nElle achando ella bonita,\nNem pensa no ramo mais,\nMulher illude até nós\nPor mais que seja sagaz,\n\nAhi transformando-se um delles,\nN'uma joven interessante, \nQue o próprio diabo disse:\nA obra está importante!\nInda estou mais animado,\nMinha idéa vai avante.\n\nEra alva, e bem corada\nAltura em conformidade,\nPés pequenos, mãos bem feitas,\nCabellos em quantidade\nRepresentando inda ter\n18 annos de idade.\n\nTranças louras, olhos azues,\nA cintura um pouco fina,\nOs seis regularmente;\nMaçãs de côr purpurina, \n\n\n\n\nChamava attenção até\nDos insectos da campina.\n\nTrajava um fino roupão\nDo melhor panno que havia;\nUm collar de ouro massiço\nSobre o pescoço pendia;\nEra moderno somente\nTudo que nella se via.\n\nPisava modestamente,\nTinho o gesto encantador,\nAdmirava-se muito\nDas obras do Creador,\nQuem a visse só julgava\nSer um anjo do Senhor.\n\nJoão da Cruz avistou ella\nQuando estava em oração\nAhi ergueu a cabeça,\nElle prestou attenção;\nDeu um suspiro, sentou-se\nSentindo uma commoção.\n\nVeio para o lado delle\nAssim que se aproximou,\nComo quem o conhecia\nSorrindo o cumprimentou; \nJoão da Cruz olhou bem\nDepois também a saudou.\n\n\nPerguntou-lhe João da Cruz\nA donzella anda perdida?\nNão senhor, respondeu ella:\nAndo distrahindo a vida;\nVenho d'ali do outro bosque,\nFui visitar uma ermida. \n\nNo verdor de nossos annos\nDevemos ter distracção,\nPois é ordem natural\nNos esclaresse a razão,\nQuando cahir na velhice\nAhi sim, faz deichação.\n\nAté logo, disse ella:\nO sol já vai se escondendo\nAs suas flechas douradas;\nJá vão aos poucos morrendo,\nSão horas dos meus pastores\nVirem do monte descendo.\n\nA Senhora móra perto? \nJoão da Cruz lhe perguntou: \nMóro através desse monte,\nLá as suas ordens estou,\nD'aqui lá é meia legua,\nPara a montanha apontou.\n\nDÊ um passeio até lá,\nVá vêr o nosso castello,\n\n\nA aldeia é magnifica,\nNosso palacete é bello,\nAli se póde viver\nSem conhecer-se o flagello.\n\nApertando a mão de João,\nPela campina seguiu,\nUma aria interessante\nEntoou quando sahiu;\nTodas palavras da aria\nJoão da Cruz as ouviu.\n\n A ARIA\n\nA vida é um riso\nDe mil esperanças;\nUma nau que nos leva\nN'um mar de bonanças.\n\nA vida é uma arvore\nO fructo é o prazer,\nDeus deu-nos esses fructos,\nDevemos o colher.\n\nDevemos gozar, \nNossa mocidade;\nBebermos o aroma\nDa primeira idade.\n\nDepois que colhermos\nO pomo ditoso\n\n\n\nVeremos o pomo\nComo é saboroso.\n\nA morte nos traz \nHorrores e choros\nDe nós rouba a vida\nExtrai nossos louros.\n\nPor isso é que brinco,\nPasseio na floresta\nFrequento os theatros. \nNão dispenso orchrestra.\n\nE entrou pela floresta\nA vóz a montanha enchia,\nFicou João da Cruz pensando,\nEssa moça quem seria!\nSeu todo era de fidalga \nPor toda forma atrahia.\n\nJoão da Cruz se esqueceu della \nContinuou a orar\nUma tarde ás 4 horas,\nElle ouviu ella cantar;\nErgueu a vista e viu ella,\nPelo campo á passeiar.\n\nE veio se aproximando,\nBôa tarde a elle deu,\nTenha a mesma, senhorita, \n\n\nJoão da Cruz lhe respondeu:\nUma pedra para assento\nJoão da Cruz lhe offereceu.\n\nDisse ella, cavalheiro:\nEstou-lhe muito obrigada,\nMeu passeio hoje foi curto,\nAinda não estou cançada;\nHoje inda vou a uma festa\nQuã fui hontem convidada.\n\nEu fui alli n'uma aldeia\nSocorrer uns desgraçados\nQue levaram suas vidas, \nSó chorando seus peccados;\nHoje morrem na miseria,\nTristemente abandonados.\n\nJoão da Cruz lhe perguntou:\nCom grande admiração,\nMas o homem, não tem alma,\nNão tem por obrigação,\nA prestar contas a Deus, \nNão necessita o perdão?\n\nNecessita, disse ella:\nO céo é um edificio\nQue foi feita para o homem,\nQuer tenha ou não vicio,\n\nE' propriedade nossa,\nNão precisa sacrifício.\n\nSe Deus assim permittisse,\nNosso mundo era de espinhos,\nNossos fructos amargavam,\nEram penosos os caminhos;\nAté mesmo nos faltava\nDe nossos paes os carinhos.\n\nPor exemplo a penitencia\nQue abuso sô são os seus!\nMaltratarmos nossos corpos,\nFazems mais que os atheus,\nTemer de perder a alma\nE' não confiar em Deus!\n\nJoão da Cruz experimentando-a,\nComo quem não tem termos\nPergubtou-lhe: existe inferno?\nRespondeu há sim, senhor;\nEra infeliz quem cahisse.\nNaquelle abysmo de horror. \n\nPara que foi feito elle?\nPerguntou lhe João da Cruz:\nPara que? respondeu ella,\nFoi para um anjo de luz,\nO home estava perdido\nA não ter sido Jesus. \n\n\n\nJoão ouvindo essa resposta\nPensou: e disse comsigo,\nEsta não é como a velha,\nNão vem botar-me em perigo;\nNão tem nada que venha\nDa parte do inimigo.\n\nDisse ella a João da Cruz:\nVá em nossa habitação,\nFaça a sua penitencia,\nMas não prive a distracção,\nDeus só exije do homem\nE' ter um bom coração.\n\nDespediu-se d'elle e disse:\nNo dia que quiser ir,\nE' rodear esse monte,\nVer por onde ade seguir;\nToda hora estou em casa\nAs ordens para o servir.\n\nReuniram-se os diabos\nE fizeram uma sessão,\nProjectando construir,\nUma linda habitação,\nQue João da Cruz ido lá\nPrestasse toda attenção;\n\nPor uma magica diabolica,\nDe uma gruta escura e feia, \n\n\nFizeram um campo espaçoso\nRepresentando uma aldeia,\nUm castello magnifico,\nN'uma planice de areia.\n\nJoão da Cruz ficou pensando\nQue a moça estava acertado\nE era asneira do homem\nTer uma vida privada,\nE a culpa é uma divida,\nQue com a morte é sanada. \n\nValtou para sua casa,\nFez a barba e o cabello,\nE disse aquelle castello\nE' necessário eu ir vêl-o;\nO pai da donzella pequena\nEu preciso conhecel-o.\n\nEram 10 horas do dia,\nJoão da Cruz appareceu;\nQuando avistou o castello\nO corpo lhe estremeceu;\nInterrogava a si próprio\nMas o que foi que fiz eu?\n\nQuem olhava vi ali\nUm palacête importante\nUm sitio ao redor da casa\nUm jardim muito elegante, \n\n\nInstrumentos para musica,\nMuitos livros numa estante.\n\nZoraide essa dita moça\nQue o João da Cruz tinha ido,\nTinha as vestes como nunca\nNinguem tinha possuido\nComo se na roupa della,\nO sol tivesse nascido.\n\nEntão João da Cruz com ella\nEstava tão embellesado,\nEstava esquecido do ramo\nQue e anjo tinha lhe dado,\nO diabo já contente, \nDizia estou arrumado!\n\nContinùa o diabo confessando um Nova Seita,"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-011",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Mundo as (sic.) Avessas / O Povo na Cruz / A Caravana Democratica (sic.) em Acção [ação]",
"Detalhe": "Possui o texto: \"A Liberdade offerecida [oferecida] ao Povo, pela Democracia em Accção [ação] em todo o Brasil\", relativo ao texto \" A Caravana Democratica (sic.) em Acção [ação]\", que consta na capa.",
"Localidade": "Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"11",
"Palavras-chave": "Mundo; avesso; brasileiro; pobre; diabo; governo; dinheiro; imposto; povo; justiça; liberdade; democracia",
"Tema": "Um mundo surreal; sofrimento do povo brasileiro; liberdade e democracia do Brasil",
"Tecnica": "",
"Texto": "[capa do folheto]\n\nPoesias Populares\n\nO Mundo as Avessas\n\nO Povo na Cruz\n\nA CARAVANA DEMOCRÁTICA EM ACÇA0\n\nPreço\n400 Reis\n\nTyp. da Popular Editora\nF. C. Baptista Irmão\n\nRua da Republica, 584\nPARAHYBA\n\n[Em branco]\n\nO Mundo as avessas\n\nO mundo era uma obra\nQue não faltava uma peça,\nTudo que havia era bom\nPorque tudo assim confessa,\nForam ver se endireitavam\nFicou assim as avessas.\n\nAntigamente este mundo\nTinha como presumpção\nDe castigar quem se pegasse,\nCom qualquer roubo na mão.\nOs homens hoje castigão\nQuem descobrir um ladrão.\n\nEu creio que o mundo foi bom,\nTudo mudou-se depois,\nQuem salvava em outro tempo,\nHoje é o primeiro algoz,\nNão vê-se em linha de ferro\nCarros conduzindo os bois ?\n\n-2-\n\nDisse-me um velho que mora\nNa Parahyba do Norte:\nVio a desgraça queixar-se\nDo caiporismo da sorte:\nVio a doença doente,\nVio mesmo morrer a morte,\n\nVio dor de dente gemer\nPorque doia-Ihe um dente,\nCabeça de dor de cabeça,\nDoendo damnadamente,\nVio callos nos pés dos callos\nVio a demencia demente.\n\nEu conversando isto\nCom grande admiração,\nEntão disse-me outro velho,\nQue este anno em Santo Antão,\nDeu bexiga nas bexigas\nE deu febre na sezão.\n\nE são tantos os phenomenos,\nTantos exemplos e factos\nQuem não morrer breve vê,\nGuabirú comer os ratos,\nCriar-se bobe no mar\nE criar-se peixe nos matos.\n\nTudo hoje me faz cres\nQue este mundo está mudado,\nPorque tem se dado cousas\n\n\n-3-\n\nDe que fico admirado.\nUm dia deste um fiscal,\nQueixou-se que foi multado.\n\nOutrora quem tinha febre,\nNão se podia molhar,\nPois se molhando corria\nPerigo de estuporar.\nHoje tendo muita febre,\nSe molha para escapar.\n\nNesse tempo qualquer noivo,\nCasava sem atropelo,\nVinha um crucifixo ao acto.\nO padre havia benzel-o,\nHoje o padre é um juiz,\nEm vez de imagem é o sello.\n\nOutrora os filhos diziam\nQue só ás mães tinham amor,\nEu dizendo isso a uma\nElla disse: não senhor.\nUm filho nascendo em paz,\nA mãe lhe deve um favor.\n\nO cemiterio se fecha,\nNinguém vê mais um doente,\nA morte desapparece,\nDo mal se perde a semente\nMas o mundo ha de crescer\nSenão não cabe mais gente.\n\n-4-\n\nDizem que na Parahyba,\nMuitos casos foram dados,\nOs criminosos nas villas,\nTeem prendido soldados.\nCom pouco sellam-se os homens\nE cavallos andam montados.\n\nNo estado de Alagoas,\nFoi claro para se ver,\nSegundo diz o jornal\nEm que nós devemos crer,\nUm menino fez discurso,\nUm mez antes de nascer.\n\nSó nos falta ver agora\nO crime na inocência,\nBôas obras no diabo,\nE cego com paciência,\nUm padre sem interesse,\nVelho sem experiencia.\n\nEu vi um velho no sul,\nQue estava muito contente,\nPorque estava engatinhando\nEsperava certamente\nVisto estar tudo as avessas\nNascer-lhe ainda algum dente.\n\nSó nos falta ver agora\nDor de cabeça no braço,\nHemorrhoidas na cabeça,\n\n\n-5-\n\nUnheiro no espinhaço,\nDor de dente nas orelhas,\nFesta de natal em março.\n\nDisse-me um velho: que viu\nUm porco fazendo feira,\nUm gato vendendo tripa,\nUm aruá na carreira,\nViu um domingo de paschoa\nCahir n’uma quinta-feira.\n\nEsse mesmo disse que vio,\nEmbora com suspensório,\nUm bode tirar novena,\nMosca tornar vomitorio\nBurro corno guarda-livro,\nMorcego com escriptorio.\n\nO povo na Cruz\n\nAlerta, Brazil, alerta !\nDisperta o somno pezado\nAbre os olhos que verás\nTeu povo sacrificado\nEntre peste, fome e guerra\nDe tudo sobresaltado.\n\nO brasileiro hoje em dia\nLuta até para morrer,\nPorque depois delle morto\nTudo nelle quer roer,\nDe forma que até a terra\nNão acha mais que comer.\n\nA fome come-lhe a carne\nO trabalho gasta o braço\nDepois o governo pega-o\nHa de o partir a compasso\nAlfandega, Estado, Intendencia\nCada um tira um pedaço.\n\nO medico cobra a receita\nO boticário a meizinha\nO juiz confisca logo\nAlguns bens se acaso tinha\nInda ficando uma parte\nDiz a Intendencia, é minha.\n\n\n-7-\n\nAssim morre o brazileiro\nComo o bode exposto á chuva\nTem por direito o imposto\nE palmatória por luva,\nFamilia só herda delle\nNome de orphão e viuva.\n\nMorrendo um pobre diabo\nSe acaso deixar dinheiro\nAinda deixando um filho\nEste não é seu herdeiro\nSó herda delle o juiz\nO escrivão o coveiro.\n\nE o governo bem vê\nNossos martyrios cruéis\nSó faz é nos botar selo\nDa cabeça até os pés,\nDiz de manhã morre um\nAo meio-dia nascem dez.\n\nE grita vá o imposto\nMorra quem estiver doente\nMorrem cem nascem dez mil,\nO Brazil tem muita gente\nO tempo vai muito bom\nToca o banquete p’ra frente.\n\nO governo estraga o pão\nDizendo não custou nada\nDinheiro nasce no matto,\n\n-8-\n\nAcha-se em qualquer estrada\nVendo o mendigo morrer\nCom fome ao pé da escada.\n\nPorque o pobre infeliz\nA quem a fome deu cabo\nDiz o prefeito morreu\nPode levar o diabo\nDiz o coveiro: de graça\nA sepultura não abro.\n\nSão esssa as garantias\nQue competem ao brazileiro\nTer fome em cima do pão\nSer pobre tendo dinheiro\nSer mandado pelos servos\nIsto causa desespero\n\nComo vive o brasileiro\nCom tres impostos a pagar\nUm corpo com tres feridas\nComo assim pode escapar?\nUm ser escravo de tres\nSe acaba de trabalhar.\n\nSão tantas as perseguições\nDos impostos que se paga\nQue um fiscal p’ra nação\nNão póde haver maior praga\nE’ como bala de rifle\nOnde vai fura ou esmaga.\n\n-9-\n\nNão ha mesmo quem resista,\nEstes impostos d’agora\nDiz o governo que tem\nQuer morra tudo em u’a hora ?\nQuando o morto se acabar\nEu boto o bagaço fóra.\n\nE se não houver inverno,\nComo o povo todo espera,\nDe Pernambuco não fica\nNem os esteios da trapera,\nParahyba fica em nada\nRio Grande desespera.\n\nO Rio de Janeiro, hoje\nParece um grande condado,\nRi-se o rico, chora o pobre\nLamentando o seu estado\nDiz o governo eu vou bem,\nTudo vai do meu agrado.\n\nSão Paulo para o governo\nE’ primor da creação,\nEu o acho parecido\nCom sitio da maldição,\nAquelle que Judas comprou\nCom o ouro da trahição.\n\nFilho de chefe politico\nInda bem não é gerado\nDiz o pai minha mulher\n\n-10-\n\nJa tem no ventro um soldado\nMas antes de sentar praça\nEn o guero reformado.\n\nAssim antes de ser casa,\njá podia ser tapera,\nOu caju que antes da fructa,\nJá a semente prospera\nOu é raça de pescada\nQue antes de ser já era.\n\nNosso Pernambuco velho\nHa annos anda caipora,\nVendo-se a hora e a instante\nQue a capital vai embora\nO governo está marcando\nEm botar-lhe o bagaço fôra.\n\nParahyba coitadinha!\nJá perdeu toda esperança,\nE’ mesmo que uma boneca\nNas unhas d’uma creança,\nFaz toda suplica ao governo\nMas puplica e nada alcança.\n\nEm que hoje está tornado\nO paiz de Santa Cruz!\nEstá igual a mariposa\nNo calor do fogo ou luz,\nO brasileiro é um verme,\nO estrangeiro é mastruz.\n\n\n-11-\n\nO Brazil hoje só presta,\nPara inglez padre e soldado,\nMédicos, feiticeiros e brabos,,\nO mais vive acabrunhado,\nDe fôrma que fica o mundo,\nPor estes só situado.\n\nO rico matando o pobre,\nNem se recolhe a prisão,\nDiz logo o advogado,\nMatou com muita razão\nSe passa um mez na cadeia,\nTem a gratificação.\n\n\nA Liberdade offerecida ao povo,\npela democracia em acção em\ntodo o Brasil\n\nSurgiu o sol no horisonte\nCom raios de oiro a brilhar,\nCom a libeadade nas mãos\nPelo Brasil a espalhar .. .\nFoi subindo e semeando,\nE o povo em geral gritando:\nEstá livre a nossa irmandade;\nDizem os bosques a os oiteiros\nDizem os valles aos ribeiros:\n—Nasceu hoje a liberdade.\n\nTraz-nos ella as chaves de oiro\nQue abrirão as correntes\nTirando do cárcere negro\nCondenados innocentes!\nTrará nas mãos a virtude\nDe restarrar a saúde\nDo Brasil, que causa dó!...\nQue livre de um poder barbaro\nResurgirá, como Lazaro\nSurgiu da fenda do pó.\n\nMorrerão com os oligarchas\nAs tiranias de outrora\nO que hontem erra escravo\nE’ cidadão livre agora;\nBate no peito e diz sou\n\n-13-\n\nLivre qual Deus me creou\nNão reconheço mais jugo !\nSou livre, sou cidadáo;\nO governo da nação\nNão será mais meu verdugo.\n\nVive qual cego sem guia\nA política brasileira\nTrazendo presa nas mãos.\nOs trapos de uma bandeira\nO echo da dor subiu\nJehovah do ceu ouviu\nE do Brasil teve dò ,..\nE Assis e Maurício então\nVêm como Moysés e Aarão\nNo tempo de Pharaó\n\nViu-se em vinte e dois de julho\nDo anno de vinte e quatro\nCom a revolução paulista\nDa scena o primeiro acto;\nFoi um dia de festim\nO céo de em azul setim,\nParecia dizer:—bravos !\nE os que na luta tombaram,\nAs almas que aos céos mandaram\nNão foram almas de escravos.\n\nQual uma luz que se apaga\nCairão os politiqueiros,\nE jamais enricarão\n\n-14—\n\nA' custa dos brasileiros ...\nTodos gosam liberdade,\nPerante a sociedade\nNão pode haver distinção;\nEstá o Brasil satisfeito\nPor ver hoje ter direito\nTodos da sua nação.\n\nQueime-se agora o azourague\nQue devora o infeliz\nDestruam-se as geladeiras\nQue humilham este paiz.\nCriem ferrugem os guilhões,\nFeixem-se as duras prisões\nQue tem o povo captivo\nCorte-se o imposto que mata;\nE um governo democrata\nDiga ao paiz: inda és vivo !\n\nAmanhã terão os homens\nTodos o mesmo conceito,\nE pra todos chegará\nJustiça, lei e direito.\nO jeca do alto sertão\nQue planta o milho e o feijão\nTambém poderá votar\nPorque com o voto secreto\nPrestes—o grande insurrecto\nPode o Brasil governar.\n\n-15-\n\nGraças a Deus que chegou\nO Anjo da abolição,\nSemeando a liberdade\nNa terra da promissão;\nPlantou a arvore da vida\nQue éra desconhecida\nNo paiz da crueldade.\nVai essa arvore fraudando\nE os frutos que vaão brotando\nSão paz, amor, liberdade.\n\nLave-se a mancha nojenta\nQue infama a nossa nação\nQue tem de política o nome,\nE que faz-nos ficar ladrão;\nQue veja o paiz visinho\nQue o Brasil ja não é ninho\nDo político explorador,\nQue o governo é democrata,\nE que ao povo do paiz trata\nCom justiça paz e amor.\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-016",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel, Partitura",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Cachaça e Mel de Pau - Dueto Comico (sic.) de Alfredo Gama - Versos de Ernesto P. Santos - Maio 1918",
"Detalhe": "Capa: título manuscrito à tinta. Possui partitura com o título \"Criação dos Notaveis (sic) Duetistas Os Orestes - Cachaça e Mel de Pau",
"Localidade": "s.l. - (sem local)",
"Data": "[05/1918]",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Alfredo Gama (1867-1932), Ernesto P. Santos",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 3,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"16\".\nPossui carimbo na contracapa: \"Gymnasio Ayres Gama",
"Palavras-chave": "Cachaça; mel de pau; moça; cabra; homem; mistura; calor; doce.",
"Tema": "Mulher e homem cantando sobre a combinação de cachaça e mel de pau",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nCachaça e mel de pau\n\ndueto comico de \n\nAlfredo Gama\n\nversos de\n\nErnesto P. Santos.\n\nMaio 1918\n\nCRIAÇÃO DOS NOTÁVEIS DUETISTAS - OS ORESTES.\n\nCACHAÇA E MEL DE PAU\n\nMÚSICA DE ALFREDO GAMA \n\nLETRA DE ERNESTO PAULA SANTOS \n\n[PARTITURA]\n\n[PARTITURA]\n\nGymnasio Ayres Gama\n\n\nA cachaça e o mel de páo\n\nDuetto comico\n\nLettra de Ernesto de Paula Santos\n\nMUSICA DO DR. ALFREDO GAMA\n\n\n\nELLA—Sou moça branca e cheirosa\nMas, se estou arreliada,\nLá na zona perigosa\nProso grito e dou massada.\n\nELLE—Sou cabra bom, escovado,\nCommigo alguém se mettendo,\nDe bom grado, ou de máo grado,\nHa de sahir se lambendo.\n\n\nELLA—Sou a Cachaça !\nELLE—E’ a Cachaca !\n Sou Mel de Páo !\nELLA—E’ Mel de Páo!\n\nELLA—Ninguém commigo faz graça.\n\nELLE—Ninguém em mim dá quináo.\n\n\nAmbos—Que bella mistura :\n Calôr e doçura !\n\n78 ---- O RATAZANA ----\n\nELLE—Aguenta, maninha, aguenta !\nELLA—Engrossa, maninho, engrossa\nELLE—Ella esquenta !\nELLA—E elle adoça !\nAMBOS—Um adoça\n A outra esquenta !\nbis\n\nELLA—Eu sello...\nELLE— Eu passo o carimbo...\nAmbos—Ai ! que mistura excellente!\nA isto é que toda gente\nDá o nome de cachimbo !\nbis\n\nII\n\nELLA—Seja no inverno ou no estio\nEu tenho o mesmo valôr:\nEsquento quando faz frio,\nRefresco se faz calôr.\n\nELLE—O mundo inteiro procura\nMeu segredo conhecer...\nQuem sente a minha doçura\nFica logo a se lamber.\n\nELLA—Sou a Cachaça !\nELLE—E’ a Cachaça!\n\netc."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-021",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Testamento de Antonio Silvino Contendo Seu Verdadeiro Retrato / Peleja de José Patricio (sic.) com Manoel Clementino",
"Detalhe": "Folha de rosto: retrato em zincogravura de Antonio Silvino",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": [
1911
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Antonio Baptista Guedes (1880-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"21",
"Palavras-chave": "morte; testamento; herdeiro; vontade; eternidade; alma;",
"Tema": "O testamento de Antonio Silvino",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nAntonio Baptista Guedes\n\nO Testamento de Antonio Silvino\nContendo seu verdadeiro retrato\n\n\nPeleja de José Patricio com Manoel Clementino\n\nA venda em Guarabira\n\nIMPRENSA INDUSTRIAL\nRECIFE — 1911\n\n[Em branco]\n\n[Imagem de Antonio Silvino impressa a partir de matriz de Zincogravura]\n\nAntonio Silvino\n\nO testamento de Antonio Silvino\n\nAchando-me em meu perfeito\nJuizo e entendimento,\nE por não saber o dia\nDe minha morte, ou momento;\nFaço essas declarações\nEm forma de testamento.\n\nPedro Baptista d’Almêda\nE Balbina de Moraes,\nCasados catholicamente,\nForam então os meus pais;\nAmbos são Pernambucanos,\nDe Pajeù naturaes.\n\nVisto meus pais serem mortos\nE eu inda estar solteiro.\nDeclaro não ter ninguém\nComo meu legitimo herdeiro;\nPortanto quem me matar\nSerà meu testamenteiro.\n\nEntre os companheiros meus\nSe encontro algum rapaz\nQue de substituir-me\nCreio que seja capaz\nPois eu conheço quem tem\nGosto, em tudo que faz.\n\n- 3 -\n\nMas, p’ra meus testamenteiros\nA nenhum eu constituo\nE visto não ter certeza\nDe quando os dias concluo\nSerá o governo o dono\nDe tudo quanto eu possuo.\n\nEu só espero morrer\nNesses vinte e oito annos,\nMas como o destino pode\nMudar numa hora meus planos,\nFaço logo testamento\nPara evitar enganos.\n\nDezejo que os governos\nDêm todo valimento\nA estas declarações\nQ’eu faço, ou testamento\nDos bens que tenho a deixar\nEis aqui o arrolamento.\n\nComeço pelos lugares\nQue por meus são conhecidos ;\nE como não tenho dividas\nElles estão desempedidos\nVou enumeral-os todos\nPara serem divididos.\n\nComeço de Pernambuco;\nNazareth e Bom Jardim,\nSão Vicente, Timbauba,\nLimoeiro e Surubim,\nCedro, Bengallas, Bizarra,\nE os mais que faltam emfim.\n\nComo bem a Serra Verde,\nItambé e Macapá\n\n- 4 -\n\nMatta Virgem, Umbuzeiro,\nCamutanga e Trapiá,\nSanta Maria, Vertentes\nBella Vista e Gravata,\n\nCaruaru e Poção,\nBrejo da Madre Deus;\nSubindo ao Pajeú\nTodos os terrenos seus.\nTambém ha na Parahyba\nMuitos povoados meus.\n\nNos brejos eu tenho Areia,\nLagoa Grande, Cuité,\nSerraria, Alagoinha,\nPirpirituba. Sapé\nCanafistula, Mulungu,\nGuriuhem e São José.\n\nMamanguape, Cachoeira,\nPào-Ferro, Araçagy\nBoa Esperança, Matinhas\nSerra Redonda Cuaty\nLagoa Nova, Pocinhos,\nE o velho Cariry\n\nCampina Grande, Fagundes,\nIngá, São Sebastião,\nItabayana, Mogeiro,\nBacamarte ou Riachão,\nAlagoa do Remigio,\nSoledade e Batalhão.\n\nDesterro, Teixeira, Patos,\nRio do Peixe, Pombal,\nSouza, São João, Cajazeiras,\nE em resumo, afinal\n\n- 5 -\n\nSó não e meu no Estado,\nO Forum da Capital.\n\nNo Rio Grande do Norte\nMe pertence o Caicò,\nSerra Negra e Acary,\nO Jardim do Serido;\nNo Ceará, Missão Velha,\nBarbalho, Crato e Icó.\n\nSou senhor absoluto\nEmfim de qualquer sertão\nDos quatro estados que assim\nMencionados estão\nPosso a quem me convier\nFazer delles doação.\n\nDe minha livre vontade.\nDeclaro que deixarei\nEstes terrenos p’ra as almas\nDe todos quantos matei\nE que se cumpra minha ordem\nEu muito desejarei.\n\nAh ! se o Cocada existisse\nOu ao menos Tempestade,\nEu juro, que se cumpria\nMinha ultima vontade,\nMas por mercê da desgraça\nAmbos estão na eternidade.\n\nA morte desses dois homens,\nPara mim, foi dois castigos.\nCom elles eu afrontava\nOs mais horríveis perigos\nE fazia intimidarem-se\nMeus maiores inimigos.\n\n- 6 - \n\nA quem for testamenteiro\nDeixo uma somma avultada\nP’ra mandar dizer cem missas\nPela alma de Cocada\nE desejo que uma dessas\nSeja com pompa cantada.\n\nP’ra alma do Tempestade\nDeixarei igual quantia\nOutro tanto a Rio Preto,\nQue a tempo faz companhia\nA Tempestade e Cocada\nNa sepulcral terra fria:\n\nSe antes que os companheiros:\nQue hoje tenho, eu morrer,\nSe algum não me deixar\nNem em luta esmorecer\nA elles deixo o cangaço\nTodo que me pertencer.\n\nConsta o cangaço: d’um rifle,\nUm revolver e uma faca,\nUma cartucheira dupla\nQue nem todo homem a ataca,\nUm punhal e uma pistola\nE a respeitaval Macaca !!\n\nEsta macaca é a mesma\nQue já alizou um Prefeito,\nUm tenente de policia\nE também ja deu um geito\nA um certo inspector\nQue não andava direito.\n\nAo parente Antão Godé\nO meu fino rifle deixo\n\n- 11 -\n\nNem occultos nem prezos estão.\nPatrício\n\nNão ha melhor protecção\nOue a do homem viver bem\nRespeitar o seu semelhante\nNão fazer mal a ninguém\nProtecção para matar\nDal-a ou tel-a não convem.\nClementino.\n\nVem desde os remotos tempos\nIsto d’homem valentão\nComo bem fosse Oliveiros,\nFerrabraz, Guarin, Roldão.\nCerto é que elles morreram\nMas seus nomes ali estão.\nPatrício.\n\nIsto é historia de novéllas\nSão contos da antiguidade\nAventuras de uns homens\nQue emfim na realidade,\nDizem que nunca existiram,\nPortanto não é verdade.\nClementino.\n\nSe esses não existiram\nPois bem me mate a razão\nSe também será novéllas\nA historia de Sansão,\nDe Saul, Golias e outros\nQue a bíblia faz mensão.\nPatrício,\n\nEstes homens existiram\nDiz a historia sagrada,\n\n- 12 -\n\nMas todos findaram mal: \nSaul morreu numa espada,\nSansão com os olhos furados,\nGolias com uma pedrada.\nClementino.\n\nEmquanto a isto, Patricio\nNascemos para tal fim\nNem um fica p’ra semente,\nDeus decretou ser assim;\nA morte leva ao valente,\nLeva a você e a mim.\nPatricio.\n\nMorremos todos, eu sei\nQue para isto nascemos.\nPorem quando morrer um\nDe desgraça, então veremos\nSe elle é um homem, não é\nQue a morte é justa, dizemos.\nClementino.\n\nAnalysamos um caso\nQue o sertão todo o proclama\nJosé Antonio não foi\nValentão de grande fama,\nNão brigou e matou tantos\nE não morreu em sua cama ?\nPatricio.\n\nQue elle morreu na cama\nEu conheço e não occulto\nE não foi porque elle fosse\nValentão de grande vulto\nFoi por D. Pedro lhe dar\nDe seus crimes o indulto.\nClementino.\n\n- 13 -\n\nOutro caso em Pajeú\nBem conhecido e notado\nManoel Ferreira Grande\nValentão considerado\nEm sua cama morreu\nJà tendo a muitos matado.\nPatrício.\n\nManoel Ferreira Grande\nNão chame p’ra discussão\nPorque sobre a sua morte\nHa mais de uma opinião.\nUns dizem que foi na cama\nE muitos dizem que não.\nClementino.\n\nEm súa cama morreu\nO valente Belizario\nResidente n’AguaFria\nO celebre padre Macario\nQue foi em Santa Maria\nQuasi trinta annos, Vigário..\nPatricio.\n\nMas Belizario já havia\nEstado em uma prizão\nE sabendo o padre Macario\nQue ia ser prezo, então\nTemeu e, envenenou-se\nCom a sua própria mão.\nClementino.\n\nJustino da Salamandra\nHomem para qualquer acto\nNão foi quem deu cangaceiros\nPara soltar Liberato ?\nMorreu na cama também\n\n- 14 -\n\nE nunca dormio no mato\nPatricio.\n\nMas o capitão Justino\nA um jury respondeu\nE como o crime era leve\nO jury o absolveu\nMas, olhe o major Raposo,\nO que com elle se deu ?\nClementino.\n\nPois Patricio me diga\nQue mal veio ao Maranhão\nQue derribou uma cadeia\nSoltou muitos da prizão\nE nunca deixou passar\nSem barulho uma eleição.\nPatricio.\n\nE porque foi que Maranhão\nFez nesse tempo o que quiz ?\nFoi devido ao Paraguay\nBrigar com nosso paiz.\nPorem, elle hoje se metta\nPara ver se é feliz !\nClementino.\n\nConheci em Pernambuco\nHomens ricos bem valentes\nComo bem fosse, o Miranda,\nJosé Bello, de Vertentes;\nAmbos por muitas bravuras\nGanharam altas patentes.\nPatricio.\n\nCalabar também ganhou\nPatente de Valentão,\n\n- 15 -\n\nMas vil e cobardemente\nTraiu a sua nação\nE teve em recompensa\nDisso, a decapitação.\nClementino.\n\nGezuino Alves Brilhante\nDe immorredoura memoria\nComo cangaceiro teve\nBonito nome, e a gloria\nDe deixar seu nome inscripto\nNas paginas de nossa historia\nPatrício.\n\nMas que fim teve o Brilhante,\nSaberás me responder?\nOnde estão os Guabirabas\nQue eu não os vejo apparecer ?\nTodo o terror de seus nomes\nOs livraram de morrer ?!\nClementino.\n\nQue todos elles morreram\nIsto eu sei é bem real\nO homem nasceu, morreu...\nEsta é a lei natural\nPortanto não se discute\nUm principio universal.\nPatrício.\n\nPode se discutir sim\nEu mostrarei a razão\nDesde que Christo assim disse\nQue deve todo christão\nTer tranquilla a consciência\nE não morrer sem confissão,\nClementino.\n\n- 16 -\n\nNesse assumpto eu me convenço\nPatrício não o repillo,\nPois, está claro que o homem\nQue sente outro opprimil-o\nNão lembra-se de confissão\nNem pode morrer tranquillo.\nPatrício.\n\nClementino por emquanto\nA discussão terminamos\nDescança-se o necessário\nE depois então tratamos\nDe assumptos differentes\nMas tarde nos occupamos.\n\nLeitores, noutro folheto\nFindarei a discussão.\nDos dois celebres cantores\nPara se saber então,\nQuem foi no fim da peleja\nQue triumphou com razão.\n\n\n[Adorno impresso a partir de clichê]\n\nContinúa na «Volta de Dr. San-\nta Cruz ao Monteiro e a Bernarda de\nPernambuco. »\n\n[Em branco]\n\nGrande deposito de livros de\nlitteratura, sciencias, manuaes e folhe-\ntos ao alcance de todos.\n\nlivro de poesias escolhidas\n\nGrande sortimento de joias, bijouterias,\nrelogios de algibeira etc.\n\npreços iguaes aos do Recife\n\nRua da Cadeia Velha\nGUARABIRA\n\n\nAntonio Batista Guedes\nA Lira do Poéta"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-022",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Sêcca [seca] no Ceará",
"Detalhe": "Possui os textos: \"O que Desejo\", \"A Florsinha\", \"Lealdade\" e \"Typographias\".",
"Localidade": "s.l. - (sem local)",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Pacífico da Silva (1865-1931)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 9,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"22\". Possui retrato em clichê fotográfico do autor na última página.",
"Palavras-chave": "Ceará; chuva; sertão; água; sol; sertanejo; terra; família; filho; seca; desejo; promessa; fé; santos; Jesus Cristo; flores; beleza; sonho; coração; mulher; tipografia",
"Tema": "A seca no estado do Ceará; desejos do nordeste; promessas vazias e promessas com fé; as flores que amada traz consigo; as virtudes da mulher; reflexão sobre tipografias",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nA Sêcca no Cearà\n\nProduções do poeta\nCordeiro Manso\n\n(O auctor reserva o seu direito de propriedade)\n\n[Em branco]\n\nA Sêcca no Cearà\n\nDose annos de verão\nNo sertão do Cearà,\nChuva, nunca mais chuveu\nN'aquellas zonas de lá,\nO Sol rescecando tudo, \nA fome dízendo: vá!\n\nAs aguas no pè da serra\nOnde haviam minação,\nCavaram buraco enorme\nNas profundezas do chão,\nAtè pue ficou sem agua\nToda aquella região.\n\nPassou-se um anno, outro anno,\nNada de chuva cahir,\nO Sertanejo esperando\nConfiante no porvir;\nAté que chegou o extremo!\nSò Deus os póde acudir.\n\nJà não canta a Síriema,\nJà não se avista um mocó,\nNão se vê nos alvoredos,\nRamagem verde, uma só,\nO Sol ardendo de quente\nPegando fogo no pé!\n\n-2-\n\nOs gados e os animaes\nValeram-se dos espinhos,\nMesmo, tendo este recurso\nFáz pena vel os magrinhos,\nAraras e papagaios\nJá despresaram seus ninhos.\n\nOnças de todas especies,\nCanguçú Suçuarana,\nVê-se rastos e mais rastos\nEm cima da terra planna,\nAs onças, de quando em quando\nDizimando a raça humana.\n\nQuem que fôr ao Cearà\nNas Serras, do Cariry,\nNão verà o signal de canna\nDas muitas cannas d'alli,\nOs Engenhos abandonados,\nOs donos cuídando em si.\n\nOs generos num'alto preço,\nE' medonha a carestia,\nFarinha, milho e feijão,\nMuito caro em demazía\nIsto mesmo é quando vae\nDe Maceió e Bahia.\n\nO pobre do Sertanejo\nSem ter em que lançar mão,\nCoitado! desapontado,\nSem ter no bolço um tustão,\nOlha, vê mulher e filhos\nDando suspiros em vão!\n\n=3=\n\nDas madeiras dos coqueiros,\nDellas fizeram farinha,\nAcabou se o coqueiral\nDe toda margem visinha;\nCavaram mesmo na terra\nTodas raizes que tinha.\n\nO tronco do gravatá,\nO buzo da macambira,\nSobre tudo o Sertanejo\nEstendeu a sua mìra;\nTudo se acaba porcerto\nDe onde muito se tira!\n\nE' facil de avalíar-se\nA cruel situação,\nQue padecem os Sertanejos\nD'aquelle vasto sertão;\nQue no momento actual\nMorre, por falta de pão.\n\nO pobre do Sertanejo\nNa vez de se retirar,\nDeixa banco, cama e meza,\nPois nada pode levar,\nBóta o malote nas costas,\nFeixa a casa e vae andar...\n\nDiz elle para a familia:\n<< Ninguem se queixe da sorte,\n<< Vamos andando a vagar,\n<< O fraco faça-se forte,\n<< Vamos em busca do sul\n<< Fazer o nosso transporte.\n\n=4=\n\nQuando caminham déz leguas,\nA meninada esmorece,\nNo meio da travessia\nPela fome que padesse;\nAvaleamos agora\nQue martyrio se offerece.\n\nLá, mesmo na travessia\nDeixa o malote, a roupagem,\nBota os filhínhos nas costas\nE ségue firme a viagem,\nAfim de encontrar moradas\nOnde lhes dêem hospedagem.\n\nUma casa, outra, outra,\nMais, vazias sem ninguem,\nA meninada chorando,\nA mulherzinha tambem,\nAfinal encotraram gente\nN'uma villa muito alem.\n\nPartem grupos e mais grupos,\nMesmo sem ter direção,\nVão pedindo pelas portas\nQuaquer migalha de pão,\nPedem a quem não pode dar,\nEste, responde: perdão.\n\nTantas familias illustres!\nN'aquelle tempo de outr'ora,\nMoeinhas tão delicadas\nChorando - caminho afóra!\nPedindo que lhes dê pão\nPor Deus e Nossa Seohora.\n\n=5=\n\nFamilias, e maís familias,\nCada qual com seu malote,\nO pae que tem filhos novos\nBota os filhos no CANGÓTE,\nVezes carrega-os no hombros\nQual se fôra d'agua um póte.\n\nViu-se uma mãe de familia\nQue oppremida pela fome,\nDo pouco que alguem lhe deu,\nChamou o filho pelo nome\nDizendo: comeì meu filho,\nSe comes, minh'alma come.\n\nO pobre Cearense\nMelhor fôra não ter vida;\nVê os filhinhos chorando\nPela falta de comida,\nSem ter sequer uma esperança\nInda que seja perdida!\n\nNo caminho, onde se arrancha\nGrande fogueíra accendendo,\nRodeado de filhinhos\nQue a noite nada comendo,\nManhece um menino morto\nOutro menino morrendo.\n\nO povo dentro da fome\nOh! que martyrios crués!...\nPara conduzirem os filhos\nDeixaram seus traste ao reves,\nDizendo: salvem-se os dedos\n<< Perdam-se embora os anneis!\n\n-6-\n\nJà não ha commerciante\nEm todo aquelle Sertão,\nO povo todo a pedir,\nCada qual que estenda a mão,\nFicará tambem pedindo\nSe tiver bom coração.\n\nPerto de Baturité\nNoutou-se um caso mesquinho,\nUm pae por trez rapaduras\nFez a venda de um filhinho,\nEscapou o que foi vendido\nO mais-morreu no caminho.\n\nDos governos e dos Bispos\nJá foi dinheiro, porção,\nMais isto alguns potentados\nTerão bonito quinhão,\nOs pobres que sentem fome\nMuitos não vêem um tustão.\n\nO governo Federal\nDeu ordem de immígração.\nAo povo Cearaence\nQue sente falta de pão,\nCada Estado do Brazil\nTer de povo o seu quinhão.\n\nO Estado de Alagoas\nPequeno torrão Brazil,\nRecebeu sua remessa\nDe povos famintos, mìl;\nJá que são nossos irmãos\nPrecizamos ser gentil.\n\n-7-\n\nNão ha quem possa escrever\nA secca do Ceará,\nPor que é tanta mizeria\nNa'quelle sertão de lá,\nNa terra que chuva, é ouro,\nSuccego tambem não há!.\n\nQuìzera saber ao certo\nSe quando um dia chover,\nSe o povo Cearaense\nVolta ao lar que o vìu nascer,\nDando glorias ao sertão\nQue lhes fez tanto soffrer!\n\nNo meu modo de pensar\nDando a minha opinião,\nEu não dou meia pataca\nPor dez leguas de sertão\nEu corro com mêdo d'elle\nComo quem corre do cão.\n\nO QUE DESEJO\n\nDe Parmeira, eu quero um côco,\nDe Matta Grande, uma linha,\nDe Parahyba, uma prancha\nDe Penedo, uma pedrinha,\nDe S.Bento, uma medalha,\nDe Bom Jesus, a lapinha.\n\n=8=\n\nDe Bom Jardim, quero um cravo,\nDe Pão d'Assucar, um torrão,\nDe Piranhas, uma frictada,\nDe Limoeiro, um limão,\nDe Atalaia, um sentinella,\nDe União, toda uníão.\n\nDe Bizerros, quero um dizimo,\nDe São Mìguel, um milagre,\nDe Viçosa, a verde rama,\nDe Pesqueira. um lindo bagre,\nDe Triumpho, uma bandeíra,\nDe Tanque d'Arca, o vinagre.\n\nDe Bom Censelho, uns quarenta,\nDe Páo Ferro, um bello esteio,\nDe Aguas Bellas, meio pote,\nDe Agua Branca, um pote cheío,\nDe Pilar, um grande predio,\nDe Floresta, um passeio.\n\nDe Muricy, quero a lenha,\nDe Rio Largo, um pitú,\nDe Correntes, uma de ouro,\nDe Alagôas, o sururù;\nDe Lage, quatro carradas,\nDe Cajueiro, um cajú.\n\nDe Matto-Gross, um terreno,\nDe Cuyabá, uma semente,\nDe Cearà, dose fardos,\nDe Espírito Santo, um presente,\nDe Mínas Geraes, o ouro,\nDe Arapiraca, um batente.\n\n=9=\n\nDe Desterro, os meus atrazos,\nDe Fortaleza, um canhão,\nDe Therezina um, sorriso,\nDe S. Paulo, um bom sermão;\nDe Natal, minha patria,\nDe S. Francisco, um cordão\n\nDe Belem, o de Jesus,\nDe Serra Grande, um terraço,\nDe Porto Alegre, um navio,\nDe Ouro Preto, um pedaço,\nDe Maranhão, Deus me livre!\nDe Mariana um abraço.\n\nMOTTE\n\nNão acredito em prmessa\nNem que fassam mais de cem,\nPromessa só as de Chirsto\nQeu não faltam a ninguem.\n\nGLOSA\n\nEstou cançado de ver\nOs batalhões de promessa,\nHoje si uza nas conversas\nA' arte de prometter,\nAlguem mesmo sem poder\nPromette com tanta pressa,\nNaquillo que se professa\nPrecizase que haja fé,\nEu sou como São Thomá\nNão acredito em promessa.\n\n-10-\n\nNão promettam nada em vão\nQuem além de feio, é ruim\nPois a bôcca que diz sim,\nTambem pode dizer não.\nCà na minha opinìão\nJulgo que os santos tambem'\nJá dirão que não convem\nCertas promessas atè,\nPromessas feitas sem fé\nNem que façam mais de cem.\n\nSeja lá que santo fôr\nFicarà triste, eu garanto,\nPorque prometem ao santo\nJoia de grande valor,\nRecebem delle o favor,\nFazem o plano sinistro,\nCom meus olhos eu tenho visto\nFaltarem com este artigo,\nFico dizendo commigo:\nPromessa só as de Christo.\n\nDiz o livro da missão\nQue promessa é grande carga,\nQue por morte não se larga\nDe andar pedindo perdão,\nVem montado n'um pavão\nComo quem anda no trem,\nDizendo a quem vae, quem vem\nQue uma promessa é uma cruz,\nDe promessas, as de Jesus\nQue não faltam à ninguem.\n\n=11=\n\nA FLORSINHA\n\nDormindo sonhei comtigo,\nVendo-te andar no jardim,\nEu vi na tua mãosinha\nUma mimosa flòrsinha\nQue offereceste à mim.\n\nChegastes junto de mim\nTrazendo um cacho de flor,\nO mais mimoso que vi,\nMe o destes, eu recebi\nComo uma provo de amo\n\nD' aquellas risonhas flores\nNascidas da Natoresa,\nEu vi mais de um florzínha,\nA mais mimoza que tinha,\nNão tinha a tua belleza!\n\nAquella mesma florsinha\nQue poizou em tua mão,\nQue m'a destes de prezente;\nGuardei-a ligeiramente\nDentro de meu coração.\n\nA florsinha que me destes\nGuardei-a com muito recato\nDentro da caixa do peito,\nNo mesmo lado direito\nOude guardei teu retrato.\n\n=12=\n\nDormindo eu sonhei comtigo,\nQuando acordeí não te ví,\nTão grande foi meu desgosto,\nQuando não vendo o teu rosto\nNão sei como não morri!\n\nBradei depois de acordado:\nOh! que desgosto medonho!...\nQuizera poder gozar\nDe toda noite sonhar\nTanto bem eu quero á sonho.\n\nEu choro porque não posso\nViver no teu captiveiro,\nN'uma palavra eu te digo:\nQuando sonhares commígo,\nCom tigo, eu sonhei primeiro.\n\nDizer tudo que sonhei,\nA tanto não me desponho,\nDevo dizer-te baixinho,\nNem qne me mates, Anjinho,\nNão digo o resto do sonho..\n\nLEALDADE\n\nA palavra lealdade,\nMe entenda como quizer,\nE' dôce quanto a Saude,\nMas, essa grande virtude,\nDeus confiou á mulher.\n\n=13=\n\nNo coração masculino\nVê-se um vestigio qualquer,\nSempre íncerto e mal seguro,\nPois que Deus só deixou puro.\nO coração da mulher\n\nFallar verdade è percizo\nDefenda-se quem pódér,\nEu digo com consciencia,\nQue só se encontra innocencia\nN'alma da bôa mulher.\n\nO maior sabío do mundo\nVenha lá d' onde vier,\nTem que ficar na certeza\nQue amor e delicadeza\nSão bellezas da mulher.\n\nSerá um doido varrido\nQualquer homem que disser,\nQne n'este bello Paiz,\nJulgar-se-ha infeliz\nTendo uma bôa mulher\n\nE' certo que à bravura\nMerece quem n'a tiver,\nPorque nobreza e respeito\nSó se encontra no conceíto\nDa verdadeira mulher.\n\nHaja festa, haja prazeres,\nHaja o dinheiro que houver.\nNada vejo que me agrade,\nPor que fallando a verdade\nDe bom, existe-mulher!\n\n=14=\n\nA palavra <>\nTem seu valor muito forte:\nJuramento muito fino\nInteiramente Divino,\nQue findará com a morte.\n\nTYPOGRAPHIAS\n\nNo meu gosto-Maceió\nTem dua Typographias,\nA <> e a <>\nAmbas gosam sympathias,\nSão duas secções de obras\nModelos e fantazias.\n\nEstas duas Redacções\nTrabalham com energia,\nPessoal habilitado\nNa arte e na theoria,\nE' onde se vê impressos\nMeus livros de poesia.\n\n<>\nTem seus louros muito acima,\nOutro tanta nos merece\nA <>\nGraças aos seus Directores\nQue são dignos de estima.\n\n=15=\n\nSão suas Typographias\nQue trabalham muito bem,\nOs seus impressos mimosos\nCorrem mundo muito além...\nDentro e fóra do Brazil\nVê-se impressos mais de cem.\n\nTenho commigo um capricho,\nNão posso me retratar,\nSó sei dizer a verdade,\nNão me verão sophismar,\nSó gabo quem tem primor'\nNão gosto de <>,\n\nFIM\n\n=16=\n\nAGENCIAS DE VENDAS DE\nLIVROS POETICOS\n\nBahia - O Cantor das Primave\nras.\nPropiá E. de Sergipe - Heitor\nMoraes.\nUnião - José Cordeiro\nCachoeira - Joaquim Gonçalves\n(SEU MOÇO.)\nArapiraca - Firmino Leite.\nMaceió vendedôres - Aristides\nde Mello, Manoel Paíxão, João Pau\nlino, e outros.\n\n\nO POETA\nCORDEIRO MANSO\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-024",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Brasil de Luto / O Desabamento do Monte Serrat em Santos, por Castigo de N. Senhora",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"24",
"Palavras-chave": "Brasil; Santos; chuva; luto; lamento; mortos; santa; casino; santa casa; polícia; telegrama; entulho; trabalhadores; barro; lama; castigo",
"Tema": "O desmoronamento do Monte Serrat",
"Tecnica": "Zincogravura (Clichê)",
"Texto": "[CAPA]\n\nJOÃO MELCHIADES FERREIRA DA SILVA\n\nO Brasil de Luto\n\n0 Desabamento do Monte Serrat em Santos, por castigo de N. Senhora\n\n\nNossa Senhora do Monte Serrât\n\n\nTyp. da POPULAR EDITORA\nF. C. BAPTISTA IRMÃO\nRua da Republica, 584 — PARAHYBA\n\nPREÇO $400\n\n[Em branco]\n\n[Adorno impresso a partir de clichê]\n\nO Desabamento do Morro\ndo Monte Serrat\n\n\nO Brasil está de luto\nChorando as suas dores\nDesceu castigo do ceu\nSobre pobres peccadores,\nPorque os vaidosos da terra\nNão querem a Deus dar louvores\n\nA Catastrophe de Santos\nNa cidade mais progressista.\nNestes mal rimados versos\nDirei cousa que contrista\nDos mortos a grande perda\nQue soffreu o povo Paulista.\n\nAs 5 e 20 minutos\nDa manhã desmoronou\nNo sabbado, o Monte Serrat\nCom as chuvas desabou\nSoterrando as casas de perto\nOs habitantes matou.\n\n-2-\n\nQuando esplodiu a noticia\nO Brasil ficou alarmado.\nDiziam que por castigo\nTinha o morro desabado.\nVamos arrancar os mortos\nSão Paulo foi castigado\n\nQuatro milhões de metros cúbicos\nCom 80 de extensão\n12 metros de altura,\nRachou em deslocação\nDerramou-se a grande massa\nSobre uma população.\n\nE naquelle mesmo dia\nDo triste acontecimento\nPelas 10 horas da noite\nUm novo dezabamento\nNa mesma noite se deu\nAugmentou mais o lamento\n\nA terra estava rachando\nPara sedar o terreiro\nEste ja era dez vezes\nMaior do que o primeiro\nE as chuvas desluvianas\nAugmentavam o aguaceiro\n\nOs Telegrammas de Santos\nLugar do acontecido\nAvisavam que o morro\n\n-3-\n\nEstava todo fendido\nE ameaçando o Casino\nQue havia de ser demolido\n\nEntão da agua do monte\nQue descia derramada\nFormou uma grande lagoa\nCom—a cor avermelhada\nE a população afflicta\nChorando tão consternada\n\nNo logar da Catastrophe\nChegaram os trabalhadores\nA turma de operários\nBombeiros e sapadores\nA policia e muita gente\nViéram prestar favores\n\nDeram de mão ao trabalho\nPara desentulhação\nForam encontrando os mortos\nJa em decompozição\nO mau cheiro não deixava\nSe tomar respiração\n\nA Santa Casa também\nFoi pela terra alcançada\nFicando metade desta\nNos escombros sepultada\nAté uma pobre freira\nAli ficou enterrada\n\n-4-\n\nOs aleijados corriam\nOs paralyticos andaram\nOs surdos chegaram a ouvir\nE os cegos avistaram\nComo uma despedida\nAtè os mudos fallaram\n\nCoitados não escaparam\nPois o ruido brutal\nArreiou com tanto pezo\nEm cima do Hospital\nOs duentes foram esmagados\nPela barreira fatal\n\nUma senhora foi salva\nCom vida foi encontrada\nDepois de 36 horas\nQue esteve soterrada\nUma creança com 6 horas.\nTambém viva foi achada.\n\nOs trabalhadores empenhados\nNa humanitaria missão\nA procura de cadaveres\nDebaixo de uma entulhação,\nAchar uma pessoa viva\nEra uma satisfação\n\nEntão o Casino do Monte\nFicou bem ameaçado\nCom toda a sua riqueza\n\n-5-\n\nSujeito a ser dezabado;\nA Igreja não quer visinho\nSem respeito do seu lado.\n\nUm Casino ou Cabaré\nE’ casa de corrução\nOnde os homens se embriagam\nNo gozo da diverção,\nNão estão levando em conta\nO autor da criação,\n\nO Casino è lugar proprio\nDe se beber e jogar,\nAli não se fala em Deus\nPorque o tempo não dar,\nSó se aproveita as horas\nEm ver actrizes dançar.\n\nA Senhora do monte Serrat\nEstá ao lado do norte\nSua Igreja está sentada\nNa parte mais alta e forte\nO Casino é mais em baixo\nDe acordo com sua sorte.\n\nE na cidade de Santos\nVê-se o povo conversando\nQue os prazeres mundanos\nA Santa está reprovando\nQue foi castigo do ceo\nAlguns estão acreditando\n\n-6-\n\nO doutor Hugo imformou\nQue a municipalidade\nQuer um forno crematório\nA onde com brevidade\nPossa queimar os codaveres\nEm defeza da Cidade.\n\nA «Platea» jornal de Santos\nDiz que o dezabamento\nFoi devido um tremor de terra\nEm rápido acontecimento,\nOs moradores do Bom Retiro\nSentiram estremecimento.\n\nVêem-se muitas pessoas\nNo cordão do izolamento\nChorando pelos parentes\nEm luto e constrangimento\nE as turmas continuam\nNos trabalhos de salvamento.\n\nE’ impossível calcular-se\nCom toda exactidão\nO numero dos que morreram\nDe baixo do frio chão\nA quantidade das victimas\nCausa admiração.\n\nAs casas de diverção\nEstão de portas serradas\nA população de luto\n\n-7-\n\nLamentando contristada.\nQuando o castigo chega\nNão se pode fazer nada.\n\n«O Jornal» falia dum velho\nJornaleiro que trabalhava\nVinha regressando a casa.\nQuando o morro dezabava\nDe fora viu arrear\nSua caza em que morava.\n\nO citado velho conta\nQue sua filha sonhou.\nCom todas aquellas casas\nQue o monte soterrou,\nFoi um aviso divino\nSomente o velho escapou,\n\nEstá o povo dizendo\nEm geral opinião\nQue o monte só caiu,\nPor causa da corrução\nQue havia no Casino\nCom grande profanação.\n\nA Santa Casa ja vinha\nSoffrendo alguma agressão\nPelos tiros da Pebreira\nQue alli quebravam então\nE que quebraram-lhe os vidros\nDa sala de operação.\n\n-8-\n\nNossa senhora do Monte Serrat\nE’ a Santa Padroeira,\nE também do povo marítimo\nQue vem de terra estrangeira,\nE ampara os que lhe procuram\nCom crença e fé verdadeira.\n\nO Casino com seus jogos\nParece um antro infernal\nChegam no elevador\nPovo pra casa do mal;\nVão poucos religiosos\nAssistir a festa annual\n\nTem um posto Semaphorico\nAtivo em occupação\nNa chapada desse morro\nFazendo observações.\nDas chegadas e sahidas\nDe qualquer embarcação.\n\nE os technicos do Posto\nContinuam a Sustentar\nQue as novas aberturas\nDe mais a mais a rachar\nE dizem que o Casino\nEstá sujeito a dezabar.\n\nE na chapada do morro\nTem casinhas de madeira\nOnde moram os operários\n\n-9-\n\nQue trabalham na pédreira\nA policia mandou sairem\nProcurar outra ribeira.\n\nA policia trabalhando\nActiva com energia\nDando aos operários\nAbrigo com moradia\nFornecendo o necessário\nTranporte e mais serventia.\n\nA policia de S. Paulo\nPara prova de critério\nTemendo crescer o numero\nDe mortos no necrotério\nFoi prohibido as creanças\nEntrarem no cemiterio.\n\nA policia passou ordem\nQue aquella população\nQuem morasse perto do morro\nFizesse evacuação\nAbandonassem suas casas\nE não fizeram opposição.\n\nLamentou esta catastrophe\nTodo o povo brasileiro\nE tem o nosso governo\nRecebido do estrangeiro\nTelegrammas condolentes\nDirecto ao Rio de Janeiro.\n\n-10-\n\nAs chuvas que foram a causa\nDessa grande destruição\nAinda estão difficultando\nO serviço de remoção\nOs trabalhadores parados\nDe ferramenta na mão.\n\nOutra enorme barreira\nJa estava deslocando \nOs refletores possantes\nCom força illuminando\nAs 11 horas da noite\nA massa desceu rolando.\n\nEntão as ultimas noticias\nCondoem a humanidade\nVem pedaços de montanha\nRolando sobre a cidade,\nE cauzando em S. Paulo.\nTão grande calamidade.\n\nO povo não sai de casa.\nPorque não param as chuvadas\nE a cannalisação\nNão esgota as enchuradas\nA cidade parece um rio\nAs ruas estão allagadas.\n\nO chefe da Santa Casa\nRecebeu communicação\nDo Presidente da Republica\n\n-11-\n\nGarantindo proteção\nQue tudo que precisasse\nEstava a disposição.\n\n600 trabalhadores\nLutando na remoção\nVão arredando os cadaveres\nEm estado de putrefação\nCaiu forte temporal\nComvento de turbilhão.\n\nO vento alli é tão forte\nPela chuva acompanhado\nQue faz descobrir as cazas\nArrancando-lhe o telhado\nCada vez mais o pôvo\nTem se visto aperriado.\n\nEm cima de Monte Serrat\nCalhiu uma serração\nOs nevoeiros são tantos\nQue formam escuridão\nNão se pode ver as casas\nA neve faz privação.\n\nEntão o Bispo de Santos\nNa pastoral determina\nQue o povo não se afaste\nDos preceitos da doutrina\nAcceitem a calamidade\nComo advertência divina.\n\n-12-\n\nO cazal Palmyro Oliver\nPoz logo a disposição\nPara os trabalhadores\nTornarem café com pão\nTudo graciosamente\nDurante a remoção.\n\nA Caixa Rural offereceu\nTodo stock de enxadas\nCavadeira dos entulhos\nPelas terras desabadas\nMuitas famílias deixaram\nAs casas abandonadas.\n\nOs cadaveres encontrados\nDebaixo daquelle horror\nMostram na phisionomia\nUm aspecto de terror\nPorque morreram assombrados\nAtacados de pavor.\n\nA Prefeitura vai deixando\nOs pontos desenfetados\nAlli os trabalhadores\nJa se verem obrigados\nAbraços com os entulhos.\nTrabalhando mascarados.\n\nA policia ligou Telephone\nPara o ponto de mais altura\nNão querem perder de vista\n\n—13-\n\nOnde o monte faz abertura\n400.000 mil metros cubico\nEspera a queda segura.\n\nDiversas sociedades.\nAbriram uma subseripção\nDe mais de quinhentos cor.tos\nFoi feita arrecadação\nSendo a favor das victimas\nQue merecem proteção.\n\nJá do prédio do Casino\nAs paredes estão rachando \nA separação no assoalho\nVai progressiva augmentando\nSe as chuvas continuarem\nO prédio vai arriando.\n\nSeis ambulancias e vinte\nautomóveis especiaes\nE homnibus transportando\nDoentes para hospitaes\nCom o fim achar socorro\nAlbergam-se nos locaes.\n\nForam encontrados mais\n4 mortos que estavam\nPor debaixo dos escombros\nDa casa em que moravam\nMulher marido e 2 filhos\nTiraram quando cavavam.\n\n-14-\n\nFoi achado um funileiro\nNa casa em que residia\nAinda estava com vida\nSo uma viga o prendia\nAgradeceu aos bombeiros\nDeu viva a Virgem Maria.\n\nAntonio Carlos também\nCom vida foi encontrado\nO levaram na assistência.\nCom o fim de ser medicado\nLhe deram uma injecção\nDe oleo acanforado.\n\nJoão Pinto é um dos salvos\nDe madrugada acordou\nCom a mulher e 3 filhos\nDa casa se arredou\nViu sua casa cahir\nja estava fora escapou.\n\nFoi encontrada uma moça\nQue vinha fugindo por certo\nComo não pode alcançar\nNa fuga um socorro perto\nComo quem dava os braços\nMorreu com o olhar aberto.\n\nOs mortos foram 200\nComo diz o telegramma\nA turma tira cadaveres\n\n-15-\n\nCobertos de barro e lama\nMorreu mulher abraçada\nCom seus fílhinhos na cama.\n\nDeclarou por sua vez\nO prefeito da capital\nQue é contra a cremação\nAcha anti-sentimental\nPorque queimar-se cadaveres\nE' uma couza brutal.\n\nMesmo não está na lei\nDum paiz Republicano\nPor epidemia suspeita\nQue não passa dum engano\nOs irmãos deitar petroleo\nPara queimar corpo humano.\n\nO povo do novo século\nNão tem regra no viver\nSo faz dizer creio em Deus\nMais não querem obedecer\nNós mesmos somos culpado\nDo castiqo apparecer.\n\nDeus disse aos Israelitas\nSe cumprires meus mandados\nEu dou vossas chuvas em tempo\nPara criar seus roçados,\nE a terra dá seus productos\nVoceis comem descançados.\n\n-16-\n\nSe não quizerem me ouvir\nMe fizerem opposição\nEu deito a tisica e a febre\nPara haver distruição\nFicará um povo fraco\nSujeito a escravidão.\n\nAinda ha gente em S. Paulo.\nQue não toma por castigo\nO desabamento de um monte\nQue nunca correu perigo\nPorque quem não teme a Deus\nNão o tem por seu amigo.\n\nPodemos dizer que estamos\nNo século da corrução;\nMais de a metade do povo \nEntrega-se a perdição\nTudo se faz pela vida\nNada pela salvação.\n\nE’ por isso que os castigos\nEstão nos aparecendo\nAté os montes desabam\nA peste sempre crescendo\nCom o castigo Deus faz\nO povo ir.-se convertendo.\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
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{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-025",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Descripção [descrição] do Estado da Parahyba [Paraíba] do Norte em Versos",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 18,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"25",
"Palavras-chave": "Paraíba; estado; litoral; capital; capitania; fronteira; sertão; açude; serra; rio; riacho; município; cidade; vila;",
"Tema": "O estado da Paraíba",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nJoão Melchiades Ferreira da Silva\n\nCANTOR DA BORBOREMA\n\nDescripção do Estado da Parahyba do Norte EM VERSOS\nPREÇO .... 800 RS.\n\nEDITOR\nF. C. BAPTISTA IRMÃO\nPopular Editora\nRua da Republica, 584 — PARAHYBA\n\n[Em branco]\n\nChorographia da Parahyba\n________________________\n\nVou cantara Parahyba nosso Estado\nCom os poderes de sua capital\nEste vasto terreno arborizado\nQue sustenta tao rico liltoral\nOs productos de um solo cultivado\nMuito agrícola em riqueza sem rival\n\nSe limitam da Barra do Goianna\nPor Taquara, Afaiá e Pitimbù\nSeu commercio é farinha e banana\nDe Alhanrira Jakoka e Cachitú\nMamanguape onde a terra é quasi plana\nFaz ponto na Barra do Guajú.\n\nOs regatos que banham a Floresta\nSão dois rios o Gramame e o Graú\nNão tem terra mais fresca do que esta\nJakokinha Mumbaba e o Grajú\nAviatá e Tabul estão de testa\nSanhauá, as Marés e Tambaú\n\nOs matutos do nosso littoral\nFornecedores de palhas de Palmeira\nVendem mais uma safra collosal\nDe abacaxis, batatas e macacheira\nSe tivesse colonia correciona1.\nMelhorava a industria Brasileira.\n\n-2-\n\nOs poderes de nossa Capital\nPelos homens de alta distincção\nNo palacio o Governo Estadoal\nE’ o chefe de grande execução\nAssignando entiqueta official\nDecretando pela Constituição\n\nTem um palacio Episcopal\nO Arcebispo com a religião\nE uma sessão commercial\nQue importa e faz exportação\nUm illustre juiz seccional\nE um tribunal de relação\n\nTem o porto com a Capitania\nA Escola de Aprendizes Marinheiros\nMesa de Rendas com recebedoria\nAlfandega e classe de remeiros\nOs hospitaes onde tem emfermarias\nGuarda civil e Corpo de Bombeiros\n\nTem trinta e duas padarias\nNa praça estão os negociantes\nAs pharmacias com suas drogarias\nO Lyceu onde aprende os estudantes\nAqui tem quatro Livrarias\nOs cacheiros que são os despachantes\n\nTemos mais uma Escola Normal\nDe ou de sae proffessoras e proffessores\nOs Juizes de direito criminal\n\n-3-\n\nOnde acuza e reclama os promotores\nAdvogados combate na moral\nE este os serviços dos doutores\n\nTem um Batathão de Caçadores\nA policia com uma Chefatura\nTem uma sessão de cobradores\nEmpregados da nossa prefeitura\nFunccionam os desembagadores\nE’ onde a justiça faz figura\n\nOs typographos com as typographias\nPublicando os livros e jornaes\nMostrando e dando sympathias\nAos homens das classes sociaes\nTelegramma que alarma nossos dias\nDe negocio e Cambio dos mortaes\n\nDeputados Federal e Senadores\nSao votados em tempo de Eleição\nSeu partido é a classe de Eleitores\nObidientes na sua opinião\nNo senado pellejam estes doutores\nDescutindo nas causas da nação.\n\nTem hotéis para todos passageiros\nActual tem uma saboaria\nTem o Banco movente dos dinheiros\nMotores de grande Serraria\nMais uma sessão de financeiros\nNo thesouro duma Delagacia\n\n-4-\n\nAdmira os homens eminentes\nQue a Parahyba tem creado\nMagnatas os médicos influentes\nTomam conta do cargo mais pesado\n56 já foram os presidentes\nQue já governaram nosso Estado\n\nParahyba é collocada\nDesde sua antiga historia\nEntre o mar e tres Estados\nVai da parte Promotoria\nCurva pelo Ceará\nSua linha devisoria.\n\nSepara Rio Grande do Norte\nDesde a Barro do Grajù\nVai subindo pela volta\nDeixando Piabosú\nCom meia legua para Nova Cruz\nCorta o rio Curimataú.\n\nNo Canal do Callabouço\nSegue a sua divisão\nVai roldiando Araruna\nE tomando direcção\nSobe a serra do Coité\nAdiante parte o Mellão.\n\nA linha da Parabyba\nDescamba a cordilheira\nEntre Curraes Novos e Picuhy\n\n-5-\n\nVem voltando a fronteira\nFeio Caboré e a Curuja\nVai a Serra da Carneira.\n\nVai seguindo a nossa linha\nQuando entra no sertão\nPela serra da Redinha\nFaz a sua devisão\nNo riacho de S. José\nContinúa a direção.\n\nCom meia legua de Ouro Branco\nA linha faz curvatura\nS. Luzia, S. Mamede e Patos\nFicam em uma sentura\nO Teixeira também fica\nSujeito a mesma estrutura\n\nDepois Parahyba abre\nE desce acompanhando\nPela esquerda do Piranhas\nSempre continuando\nNa serra de João do Valle\nFaz recorte e vae voltando.\n\nE depois de Luiz Gomes\nA linha toma um avanço\nPassando por Cajazeiras\nEsbarra como um descanço\nNa estrema do Ceará\nOnde as aguas faz ballanço.\n\n-6-\n\nO sul da nossa Parahyba\nConforme seu documento\nDa barra do rio Goianna\nVai subindo em seguimento\nNo meio de Pedra de Fogo\nPassa seu alinhamento\n\nVai cortando por Serrinha\nE a Serra do Gaspará\nAtravessa em Rosa e Silva\nSobe pelo Lagamá\nAmazonas e S. José\nBallanço e Pirauá\n\nPassa em Maria de Mello\nEstação de cobrador\nDepois de pouco comprido\nVai chegar no Mirador\nAté no pé de Jucá\nQue serve de divisor.\n\nFicou o açude de Mattos\nQue a linha o mesmo roteiro\nA linha corta no meio\nDa villa de Umbuzeiro\nE passa muito afastado\nDa Lagôa do Monteiro\n\nNa serra dos Carirys\nVai subindo a divisão\nChegando no Ceará\n\n-7-\n\nParahyba faz estação\nRios para trez estados\nComeça a separação\n\nA Borborema apresenta\nTres vertentes principaes\nO Piranhas ao Nordeste\nCom Tributários de mais\nO Parahyba sudoestes\nServindo aos marginaes.\n\nA nascença do Piranhas\nE’ na serra do Bogá\nOnde o occidente\nLiga com o Ceará\nE o Parahyba nasce\nNa serra Jabiticá.\n\nO Parahyba onde nasce\nChama-se Riacho do meio\nPorque vem entre dois braços\nParalello sem rodeio\nE’ o Correio do inverno\nQuando em janeiro está cheio\n\nRiacho da Serra Banha\nA villa do Umbunzeiro\nO Parahyba atravessa\n\nA lagoa do Monteiro\nSurucù a S. Thomé\nQuando arroja o aguaceiro.\n\n-8-\n\nO Parahyba do Norte\nBanha por obrigação\nBodocongó e Natuba\nCarnaúba e boqueirão\nGuapaba e dois riachos\nSalgado e povoação.\n\nContinua seu transborde\nPor Guarita Itabayanna\nBanha Pilar S. Miguel\nNa zona Parahybana\nPassa no Espirito Santo\nOnde mais se lavra canna.\n\nNosso rio Parahyba\nProcura se encontrar\nQuando passa em S. Rita\nVem perto de descançar\nPenetra em Cabedello\nSe abraçando com o mar.\n\nGurinhen e Gargaú\nRio do Frade e Sanhauá\nSanto André e Agua Branca\nParahibinha e Ingá\nSão afluentes do Parahyba\nCom o Rio Taperoá.\n\nO rio de Mamanguape\nPassa nas propiedades\nEnriquece aos habitantes\n\n-9-\n\nDe muitas localidades\nBanha 4 povoados\nInda mais duas cidades\n\nFaz barra no Mamanguape\nO rio de Pirpirituba\nQue segue em sua marcha\nBanhando por Tanamduba\nE na Serra da Raiz\nNasce o rio Camaratuba,\n\nNesta data Rio Tinto\nSe acha reconhecido\nCom feira e bom povoado\nPela Fabrica de Tecido\nEm aguas de S. Domingos\nQue muito tem concorrido,\n\nTem no mesmo litoral\nO Riacho da traiçoeira\nQue por detraz das casas\nAs aguas formam carreira\nO seu curso contínua\nAté chegar na Caeira.\n\nQ Progressos da Parahyba\nJà está tão adiantado\nQue de dia pára dia\nSe torna mais augmentado\nEm 89 Municípios\nQue existe no Estado\n\n-10-\n\nTemos 14 cidades\nDesde a praça ao sertão\nCom as villas competentes\nCom industria e profissão\nDuzentos e vinte e sete\nPovoados em união.\n\nCidade da Parahyba\nSanta Rita e Bananeiras\nMamanguape, Itabayanna\nPombal, Souza e Cajazeiras\nGuarabira Alagoa Grande\nSão as cidades Brejeiras\n\nAreia, Patos, Picuhy\nCampina ponto central\nQue das cidades do centro\nE’ a mais commercial\nOnde a feira do gado\nSeu vulto é collossal\n\nAs villas que tem justiça\nPoder e autonomia\nAlagoa Nova Araruna\nCabedello e Serraria\nPedra de Fogo Ingá\nSolidade, Santa Luzia\n\nCaiçara, Catolé do Rocha\nAlagoa do Monteiro\nCabaceiras, Conceição,\n\n-11-\n\nPiancó e Umbuzeiro\nMisericórdia Teixeira\nNa lei do mesmo roteiro\n\nBrejo do Cruz e Pinceza\nTaperoá e Pilar\nS. João do Rio do Peixe\nSapé por se adiantar\nS. João do Cariry\nS. José um bom logar\n\nVamos ver os municípios\nAlguns dos seus povoados\nOs productos da lavoura\nQue melhora os resultados\nOs lugares gordo da terra\nPor onde são governados\n\nO municipio de Santa Rita\nLigado a Capital\nPela estrada de Ferro\nComprehende Engenho Central\nS. João Lucena e Barreiras\nO Tecido em seu local\n\nE’ um municipio fresco\nE muito mais florescente\nDà farinha de mandioca\nAlgodão fruta aguardente\nNas margens do Parahyba\nOnde não é decadente.\n\n-12-\n\nO Município da Parahyba\nDesde o Mandacarú\nPela ponte de Gramame.\nConde Alhandra e Pitimbú\nO Bessa e Jacuman\nA Penha e Tambaú.\n\nO município de Cabedello\nPorto desta capital\nGoverna 3 povoados\nTem um grande coqueiral\nNazareth Ponta de Mattos\nJacaré no littoral\n\nMamanguape que outrora\nJá foi muito florescente\nDepois que a linha de ferro\nVeio tomar a sua frente\nEmpatou os seus negocios\nA cidade está decadente\n\nDomina seus povoados\nA Bahia da Traição\nTem o Porto do Sallema\nOnde chega embarcação\nRio Tinto com a fabrica\nMataraca e S. João,\n\nInda tem Jacaraú\nBoa povoação\nO município produz\n\n-13-\n\nFarinha assucar algodão\nOs habitantes do litoral\nVivem em grande occupação\n\nO município do Sapé\nProduz assucar aguardente\nFarinha de Mandioca\nCereaes fruta semente\n Tem uma feira no sabbado\nUm commercio influente.\n\nOs povoados do Sapé\nSujeito a sua sessão\nE Se Miguel de Taipù\nCachoeira do varejão\n0 Sobrado e Xan do Valle\nMais forte em algodão\n\nEspirito Santo era villa\nMais começou afracar\nO Sapé cresceu-lhe as vistas\nCom vontade de tomar\nDisse da cá esta villa\nTomou e foi governar.\n\nO Pilar é um município\nDe algodão canna e farinha\nLiga com a capital\nSeu commercio é pela linha\nE possue 3 povoados\nS. Josè. Pau Ferro e Serrinha\n\n-14-\n\nCidade de Itabayanna\nMunicípio commercial\nPela estrada de ferro\nLiga com a capital\nTem um mercado importante\nUrna fabrica industrial\n\nO município produz\nCereaes batata algodão\nTem ruas arborisadas\nCalçada e illuminação\nPara o ramal de Campina\nO trem faz baldiação.\n\nítabayanna tem bonds\nHotéis para passageiro\nPela feira do gado\nLugar que corre dinheiro\nE governa 3 povoados\nSalgado, Guarita, Mogeiro\n\nItambé e Pedra de Fogo\nPartido em dois movimentos\nE’ onde tem duas feiras\nE tem 2 destacamentos\nExiste 2 delegados\nQue são 2 entendimentos\n\nE’ um municipio agricola\nDe muita canna e Batata\nCereaes muita farinha\n\n-15-\n\nOnde a fruta é mais barata\nE possue dois povoados\nTaquara e Bocca da Matta\n\nUmbuzeiro é collocado\nNa linha da divisão\nDe Pernambuco e Parahyba\nDa café, canna algodão\nE tem um Grupo Escolar\nQue ensina educação.\n\nExiste dentro da villa\nFicaes de duas Barreiras\nPara arrecadar imposto\nOnde ha duas feiras\nE governa Pirauá\nMata Virgem e Aroeiras\n\nO município do Ingá\nDá farinha fumo algodão\nGoverna Serra do Pontes\nSerra Redonda em sessão\nAfluente do Parahyba\nFaz o Ingá ligação\n\nCidade de Alagôa Grande\nQue se acha situada\nNas margens do Mamanguape\nMuito agrícola adiantadada\nTem uma parte brejeira\nE outra acatingada\n\n-16-\n\nE' um município afamado\nNa safra do algodão\nAgua doce e Cannafistula\nSe conserva em sujeição\nObidiente a cidade\nDe quem recebe instrucção\n\nO Município de Guarabira\nEstá bem centralizado\nSua elegante cidade\nCom negocio variado\nTem cadeia e uma igreja\nBoa casa de mercado.\n\nExporta muita rapadura\nFarinha milho e feijão\nFruta em grande quantidade\nCafé gállinha algodão\nInhame mel de Uruçù\nTudo em boa cotação\n\nPovoados sujeitos a Guarabira\nMulungú Alagoinha Gravatá\nBarra e Cuité de Guarabira\nCachoeira Lourenço e Sipuá\nPirpirituba e Pillõezinho\nOnde ha muita batata e cará\n\nTem Araçagi Mulunguzinho\nEm seguida Passagem e Esçrivão\nFouço de Pau e Boa Vista\n\n-17-\n\nCom negocio de boa producção\nContinua a cidade Guarabira\nAlargando a sua posição\n\nNa classe dos povoados\nPilar governa o Cajá\nCanafistula de João Gonçalves\nGurinhen e Araçá\nCachueira de Cebola\nEsta é sujeita ao Ingá.\n\nA villa de Caiçara\nSeus productos principaes\nE’ o fumo e o algodão\nFarinha e Cereaes\nCafé da Serra e legume\nTem poucos cannaviaes\n\nTem suas povoações\nBelém e Duas Estradas\nE a Serra da Raiz\nSertãosinho e Estacadas\nTem Alagoa de dentro\nCom aterros cultivadas\n\nMunicípio de Araruna\nTem campo de criação\nManda em Cacimba de dentro\nDe cereaes algodão\nGoverna Cachoeirinha\nTacima e Riachão\n\n-18-\n\nPicuhy na margem do rio\nSeu commercio é regular\nTanto si cria gado\nComo é terra de plantar\nE’ uma cidade nova\nFeliz em seu prosperar\n\nPovoados do Picuhy\nTão extenso como é\nTem Barra de Santa Rosa\nPedra Lavrada e Cuité\nGirimum, Canna, Mellão\nVai crescendo o Caboré\n\nBananeiras é muito rico\nPela immensa agricultura\nOs contras forte da serra\nSão cobertos de verduras\nA cidade é na Caverna\nQue tem centro de frescura\n\nDr. Solon de Lucena\nArtificiou Bananeiras\nE’ onde os sertanejos\nVem cambia todas feiras\nCompram camboio de café\nVoltam subindo as ladeiras\n\nOs povoados que Bananeiras\nFaz justiça mais ou menos\nE’ Taboieiro e Dona Ignez\n\n-19-\n\nBorborema e o Morenos\nInda tem Pilões do Maia\nCollocado em bom terrenos.\n\nO Patronato de Bananeiras\nDà alunno exercitado\nVamos descer de Moreno\nSubir a outro chapado\nExaminar Serraria\nSo gosa de bom estado\n\nSerraria toda vida\nFoi boa localidade\nMais por causa da política\nArrumou inimizade\nAté que esfraqueceu\nA sua sociedade.\n\nSerraria dá muita canna\nCafé fumo e algodão\nCereaes e muita fruta\nQue exporta para o sertão\nGoverna Aurora e Pilões\nAraçá do seu quarterão\n\nO município de Areia\nCidade bem collocada\nNo contra forte da Serra\nAgricultura e arborisada\nDomina 3 povoados\nCada qual numa chapada\n\n—20-\n\nMata limpa e o Muquem\nSe acham na mesma altura\nO Município de Areia\nE a força da rapadura\nTem centenas de Engenhos\nProprio para agricultura\n\nAlagoa Nova e uma villa\nQue tumou collocação\nNum contra forte da Borborema\nFirmou sua posição\nDe canna café e fumo\nCereaes e algodão\n\nGoverna dois povoados\nS. Sebastião e Matinha\nEsperança passou a villa\nAgora é sua vizinha\nAlagoa Nova perdeu\nUm pedaço da sua linha\n\nEsperança era sujeita\nMais veio a se libertar\nAntiga Bandabuié\nCaprichou para augmentar\nQuem ver a sua igreja\nAcredita no logar\n\nCampina é uma cidade\nQue sua concentração\nE’ na Cruz de 4 estradas\n\n—21 —\n\nQue faz communicação\nPara o sul e para o norte\nPara o brejo e o sertão\n\nCampina está conhecida\nNa maior feira do estado\nPelo seu commercio em grosso\nTambém a feira do gado\nCereaes e algodão\nE’ o que mais tem botado\n\nOs povoados que Campina\nTem em sua obrigação\nE’ Pocinhos e Fagundes\nQueimadas e Conceição\nPovoação do Galante\nOnde tem uma Estação\n\nO município de Soledade\nE’ forte em algodão\nE dá poucos cereaes\nMais ha muita creação\nSó governa S. Francisco\nQue é uma povoação,\n\nA villa de Cabaceiras\nSe acha bem asentada\nNas margens do Taperoá\nPor quem a villa é banhada\nOnde ha muitos cereas\nEm parte mais cultivada\n\n-22-\n\nE possue 3 povoadas\nBoa Vista e Boqueirão\nA Barra de S. Miguel\nTerra para ereação\nSua maior lavoura\nE’ a safra de algodão\n\nSão João do Cariry\nPlanta fumo cria gado\nNas margens do Taperoá\nSeu município é falado\nComo um logar muito antiga\nBoas provas já tem dado\n\nS. João do Cariry\nSó possue 3 povoados\nSerra Branca e Caraúbas\nQue está a seus cuidados\nE S. José dos Cordeiros\nTodos vão bem governados\n\nA villa Taperoá\nFoi antigo Batalhão\nSeus productos é Ceraes\nFumo cansa e algodão\nSó governa Livramento\nUma simples povoação\n\nNas margens do rio do meio\nEstá Alagoa do Monteiro\nEncostado a uma Lagoa\n\n-23-\n\nQue a agua faz paradeiro\nDomina Camalaú\nSão Thomé e Umbuzeiro\n\nO município produz\nAlgodão e muito gado\nCereaes e canna doce\nCom muito bom resultado\nQue hoje é um logar\nDe se viver consolado\n\nCatolé do Rocha é villa\nQue planta muito algodão\nTem canna e cereaes\nGado em larga creação\nGoverna dois povoados\nGericó e Conceição\n\nBrejo do Cruz não tem rio\nMais tem agua para o sustento \nAlgodão e cereaes\nCriar é seu elemento\nManda em dois povoados\nQue são Belem e S. Bento\n\nSanta Luzia do Sabuay\nE’ uma villa do Estado\nQue planta muito algodão\nE tem ribeira para o gado\nE governa S. Mamede\nQue é um bom povoado.\n\n-24-\n\nTemos a cidade de Patos\nNa cintura do Estado\nNas margens do rio Piranhas\nRibeira de muito gado\nO producto do algodão\nE’ muito adiantado\n\nO Pinharas leva a cheia\n Correndo para o puente\nAté bater no Piranhas\nQue recebe o afluente\nE desce para o Nordeste\nTorcendo como serpente.\n\nO município de Sousa\nConservava sua cidade\nNas margens do rio do Peixe\nProduz grande quatidade\nDe gado e animaes\nDe diversa qualidade\n\nTem um banho Sulfurozo\nQue da Saude de Fé\nGoverna 3 povoados\nO Lastro e S. Josè\nA terceira povoação\nQue se chama Nazareth\n\nO município de Pombal\nSustenta sua cidade\nNas margens do Rio Piancó\n\n-25-\n\nDesde muita antiguidade\nQue Pombal possue justiça\nPolítica e Sociedade\n\nOs povoados do Pombal\nE’ Paulista e Varzea Comprida\nTem Álagoa e Malta\nTudo em feira concorrida\nDá todos os cereaes\nCriação desenvolvida\n\nEntão o município\nDa cidade de Cajazeiras\nE’ mesmo onde o Piranhas\nTem as suas Cabiceiras\nNa linha do Ceará\nSe juntam duas fronteiras\n\nEm cidade de Cajazeiras\nTem uma Escola Normal\nExiste mais um Bispado\nUm palacio Episcopal\nE tem mais um seminário\nPara a ordem Clerical\n\nO município de Cajazeiras\nSeus productos principaes\nE fumo canna algodão\nE’ forte em cereaes\nE não tem povoações\nCria muitos animaes\n\n-26-\n\nS. João do Rio do Peixe\nA villa de S. João\nNa margem esquerda do rio\nMuito forte em algodão\nDomina Belem e Juá\nE’ rico de criação.\n\nS. José de Piranhas\nA villa de S. José\nFica na margem direita\nProductivo como é\nGoverna Caicósinho\nO Bonito e Santa fé\n\nNas margens do Piancó\nEstá a villa da Conceição\nUm dos municípios ricos\nEm gado canna algodão\nDa farinha de Mandioca\nE exporta creação\n\nOs habitantes procuram\nA matriz da freguezia\nPara ouvir a doutrina\nComo luz da nossa guia\nE governa Montevidéo\nSant'Anna e Santa Maria\n\nA villa do Piancó\nQue se acha situada\nNas margens do Piancó\n\n-27-\n\nOnde foi começada\nDivido a sua riqueza\nTornou-se muito elevada\n\nPiancó tem 3 povoados\nQue plantam muito algodão\nAgua Branca e o Jucá\nMantem grande criação\nOlho d’agua do Curem a\nE’ boa povoação\n\nPiancó é uma villa\nQue nunca findou questão\nNão se aguenta desaforo\nO estillo é ser vallentão\nO bacamarte ou o rifle\nE’ o verdadeiro bastão\n\nO Teixeira é a villa\nQue se acha bem montada\nEm cima da grande serra\nMais fresca e arborisada\n Governa dois povoados\nDesterro e Immaculada\n\nFinalmente o Teixeira\nE’ rica localicadade\nAlgodão e cereaes\nDá em grande quantidade\nMais a politica enrrascada\nJá vem da antiquidade\n\n-28-\n\nVilla da Misericórdia\nSeu ouro é o algodão\nNas margens do Piancó\nMove a sua producção\nOnde ha muito legume\nPossue grande creação\n\nMisericórdia é o município\nQue possue muita fartura\nOnde as vasantes do rio\nConserva muita verdura\nE rege dois povoados\nS. Paulo e Boa Ventura\n\nPrinceza séde da villa\nDa mesma localidade\nFoi antigo Bom Conselho\nDepois a sociedade\nDeu-lhe o nome de Princeza\nComo quem tem majestade\n\nPrinceza dá muita fruta\nCanna milho e algodão\nCafé madeira mandioca\nPara sua população\nGoverna 3 povoados\nQue se acham em relação\n\nTem Patos e o Tavares\nLigados por natureza\nE Cachoeira das minas\n\n-29-\n\nCognome de riqueza\nSão estes os 3 povoados\nQue são sujeitos a Princeza\n\nA Parahyba do Norte\nE’ a grande fornecedora\nDe aguas para o Rio Grande\nQuando a epoca é chuvedora\nO declive da Borborema\nTem a forma transmisoura\n\nComeça logo em Pocinhos\nAs cabiceiras do Curimataù\nAgua da Serra das Bixas\nPassando no Urubú\nSegue para o Rio Grande\nFaz barra em Cunhaú\n\nJacú vem de Campos novos\nCurva aqui curva acolá\nParte a Serra do Japy\nContinua a se arrojar\nEntrar para o Rio Grande\nEntrega as aguas no mar\n\nO Rio Picuhy lança agua\nDesde da Serra do Cuité\nManda para o Rio Grande\nPegando do Caboré\nPelas quebradas da Serra\nAté o Quintururé\n\n-30-\n\nEm Campos novos tem uma casa\nQue as biqueiras da frente\nAs aguas são obrigadas\nA correr para o nascente\nE as biqueiras de detraz\nJá segue para o poente\n\nContinua a Parahyba\nNas quebradas da Cordilheira\nDo olho d’agua d as onças\nAté passar a Carneira\nDando agua ao rio Grande\nDas cavernas do Teixeira\n\nConforme o lombo da terra\nAs aguas ficam pendentes\nOs rios que a Parahyba\nEnvia para o poente\nVão desaguar no Piranhas\nQue desce do occidente\n\nComeça a serra do Jabre\nAugmentando um fumaceiro\nFaz uma cortina aqustica\nCom seu branco nevoeiro\nQuando quer se desfazer\nSe desmancha em neblineiro\n\nO Jabre é o ponto \nMais alto do nosso Estado\nOnde o índio Jabicuno\n\n-31-\n\nMorava ali enfurnado\nO salão debaixo da serra\nDe pedra é todo forrado\n\nA serra da Araruna\nEstende seu alinhamento\nAté a serra de Sant'Anna\nAhi vai o prolongamento\nE tem 40 léguas\nSomente de comprimento\n\nPor onde Araruna avança\nFaz um angulo na maiada\nE na serra do doutor\nTorna a ficar angulada\nEmmenda com a Sant'Anna\nEntão vai toda alinhada\n\nTem na Serra do Cuité\n20 olhos d’Agua filtrada\nPorque tem 20 lagoas\nQue as aguas fogem em canada\n200 casas de farinha\nTrabalhando na chapada.\n\nEm certos pontos de vista\nA mim serve de licção\nSó porque todos os annos\nEu viajo pelo sertão\nConheço rios e serras\nPor onde faço excursão\n\n-32-\n\nA capital da Parahyba\nA cidade mais elevada\nDesde Rogger a Cruz de Almas\nE’ uma collina aplanada\nBem igual com Cabo Branco\nEm altura nivelada\n\nCe não houvesse serra e rios\nCom despejo natural\nE as pedras que são da terra\nO esqueleto ossal\nA terra seria um lago\nD’Agua e lama geral.\n\n[Adorno impresso a partir de clichê]\n\n[Em branco]\n\nEDIÇÕES DA POPULAR EDITORA Livros com grandes descontos para os revendedores\n\nPoesias Escolhidas — 3. edição 3$000\nHist. Completa de Alonso e Marina 2$000\nHist. Completa de Antonio Silvino 1$500\nHist. da Donzella Theodora e Porcina 1$500\nHist. de Rosa e Lino 1$000\nHist. de Esmeraldina—Traição e Vingança 1$500\nHist. completa de Carlos Magno em versos 1$000\nHist. da Noiva Eugeitada 1$000\nHist. da India Necy 1$000\nHist. do Sertanejo Zé Garcia 1$000\nPeleja de Joaquim Francisco com o Demonio $800\nA Filha do Coronel roubada pelos ciganos $800\nSegunda peleja de João Melchiades com o\nCapitão Protestante $800\nOs Decretos de Lampeão $400\nHist. Completa de Lampeão contendo o Fe-\nchamento do Corpo e Pacto com o Diabo $500\nOs revoltosos no Nordeste e a hecatombe de Piancó $400\nO Capitão do Navio $500\nAs Graças de um Desgraçado, O Estudante\nCaipora e O Roto na Porta do Nú $400\nConselhos do Padre Cicero a Lampeão e os\nseus últimos crimes $400\nPeleja de Zé Duda com Silvino Pirauá $400\nA defeza do Padre Cicero $300\nA Revolução de S. Paulo, Sergipe e Manáos $300\n\nOs pedidos podem ser dirigidos para\nP. C. Baptista Irmão\nRua da Republica n. 584\nParahyba"
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"Codigo": "MA-LPCORDEL-026",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Historia (sic.) do Valente Sertanejo Zé Garcia",
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"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": "01/10/1926",
"Idioma": "Português",
"Autor": "João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
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"Folhas": 26,
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"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"26",
"Palavras-chave": "Seridó; Zé Garcia; casamento; capanga; capitão Feitosa; cangaceiro; vaqueiro; cavalo; barbatão; Zulmirinha; Militão;",
"Tema": "A história de Zé Garcia",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nJoão Melchiades Ferreira da Siiva\n\nCantor da Borborema\n\nHistoria do Valente Sertanejo Zé Garcia\n\n5°. EDIÇÃO CORRECTA E AUMENTADA\n\nPREÇO ...... 1 $500\n\nEDITOR\nF. C. Baptista Irmão\n\nPOPULAR EDITORA\nParahyba, 1—10—1926\n\n[Em branco]\n\nHistoria de Zé Garcia\n\nO tenente João Garcia\nEra um rico fazendeiro,\nQue havia no Seridó.\nUm dos seus filhos solteiro,\nFoi um dia calumniado\nPela filha de um cangaceiro.\n\nMilitão o pai da moça,\nEra um estrompa malvado,\nVeio a porta do tenente\nCommandando um grupo armado\nAmeaçando vingança\nSem se achar agravado.\n\nMilitão disse ao tenente:\nSó venho aqui lhe dar parte\nQue seu filho Zé Garcia\nA pouco fez uma arte:\nOu casa com a minha filha\nOu com este bacamarte.\n\nSeu Militão, não precisa\nMe gritar com armamento\nEu vou saber de meu filho\nSe a queixa tem fundamento:\nSe o rapaz dever á moça\nEu farei o casamento.\n\n-2-\n\nDe tarde José Garcia\nChegou duma vaqueijada\nCom mais de trinta vaqueiros\nNa mão tendo uma guiada,\nGalopando em seu cavallo\nNa frente de uma boiada.\n\nDepois da ceia o tenente\nChamou o filho a rasão\nQuando lhe disse: José\nAgora estamos em questão;\nO que é que estaes devendo\nA’ filha de Mílitão?\n\nRespondeu José Garcia:\nA ella não devo nada\nEu nunca dei attenção\nAquella moça acanalhada,\nMinha consciência é limpa\nMuito desembaraçada.\n\nVocê então se previna\nQue a cousa está perigosa\nSiga hoje a meia noite\nEm viagem muito penosa,\nVá ficar no Piauhy\nEm casa de Miguel Feitosa.\n\nMeu pae, eu só lhe obedeço\nComo filho de christão\nSubo para Piauhy\n\n-3-\n\nPara evitar a questão\nMas também não tenho medo\nDo caboclo Militão.\n\nLeva contigo um negro\nServindo de arrieiro\nBasta levar duas cargos\nMais vinte contos em dinheiro,\nCom tanto que te ausentes\nDa vista do cangaceiro.\n\nJosé Garcia abraçou o pai,\nSua mãe muito chorosa.\nDisse o velho: vá com Deus\nE a santa virgem poderosa,\nLá entregues esta carta\nAo capitão Miguel Feitosa.\n\nA‘ Serra do Araripe\nZé Garcia descambou\nPenetrando no Piauhy\nCom poucos dias chegou\nAo capitão Feitosa\nUma carta lhe entregou\n\nO capitão leu a carta\nDizia a narração:\nExcellente e caro amigo,\nEntrego em vossa mão\nO meu filho por uns tempos\nPor causa duma questão.\n\n-4-\n\nA filha de um capanga\nVeio a mim se queixar\nQue meu filho deve a ella\nPara obrigal-o a casar\nMas é falso testemunho\nQue a cabrita quer levantar.\n\nTua casa tem respeito,\nEu te fico agradecido\nQue meu filho esteja lá\nAtè ficar decidido,\nPorque se houver processo\nEu o deixo destruído.\n\nDisse o capitão Feitosa:\nMoço, estou bem informado\nTome conta deste quarto,\nPode ficar descançado,\nQue aqui na minha casa\nO senhor está guardado.\n\nEra no mez de Novembro\nNo Piauhy já chovia,\nEntão o capitão Feitosa\nOrdenou no outro dia\nComeçar a vaqueijada,\nEncurrallar a vaccaria.\n\nReuniu-se a vaqueirama\nEm casa do capitão\nFeitosa seguiu na frente,\n\n-5-\n\nArrastou seu esquadrão\nForam rebanhar o gado —\nAlegria do sertão.\n\nZé Garcia ficou triste,\nJunto ao curral pensando,\nPassando um lenço nos olhos\nPorque estava chorando,\nAs Saudades do Seridó\nEstavam lhe apertando.\n\nNo sotão tinha uma moça\nOlhando duma janella,\nViu Zé Garcia chorando\nPor traz de uma cancella\nEra a filha de seu Feitosa\nMas o rapaz não viu ella.\n\nA moça desceu do sotão\nCom o coração nervoso,\nDisse: mamãe Zé Garcia,\nO moço, está desgostoso\nPorque vi elle chorando\nMuito triste e pezaroso.\n\nDepois o Garcia estava\nCá no batente sentado,\nSaiu-lhe a dona da casa\nExaminou com cuidado,\nViu que os olhos do moço\nPareciam ter chorado.\n\n-6-\n\nDona Juvita Feitosa\nPerguntou impaciente\nSenhor Garcia me diga\nSi aqui cahiu doente,\nDesculpe lhe perguntar,\nMas quero ficar sciente.\n\nZulmira era a mocinha\nTambém se interessava.\nPerguntou a Zé Garcia\nPor qual motivo chorava\nSem duvida era seu amor\nQue no Seridó ficava.\n\nZé Garcia respondeu:\nEu fico aqui demorado\nEm casa do senhor Feitosa:\nEstou muito consolado\nE tenho gosado saude\nNeste clima temperado.\n\nFeitosa com os vaqueiros\nDepois de andar poltreando\nRebanharam muito gado,\nA’ tarde vinham chegando.\nNa porteira do curral\nGarcia estava aboiando.\n\nA noite quando o Feitosa\nSe achava descançando\nChegou-se dona Juvita\n\n-7-\n\nQue estava lhe contando\nQue Zuimira tinha visto\nO Zé 'Garcia chorando.\n\nFeitosa muito veixado\nPerguntou ao Garcia\nSe estava ali doente,\nQual era o mal que soffria,\nFosse um rapaz positivo,\nNão uzasse de mania.\n\nRespondeu José Garcia\nPorque sou acostumado\nNa fazenda de meu pae\nCampear atraz de gado;\nAqui nesse Piauhy\nMe considero privado.\n\nSenhor Garcia, eu também\nPosso lhe offerecer\nOs meus cavallos de campo,\nO senhor pode escolher\nAquelle que lhe agradar\nAmanhã vá desparecer.\n\nGarcia abriu suas malas,\nAonde tinha guardado,\nA vestimenta de couro,\nBom guarda peito arriado,\nPorque o vaqueiro lorde\nFez de couro de veado.\n\n-8-\n\nFeitosa ficou em casa\nDeu ordem a Zé Garcia\nQue chefiasse os vaqueiros\nPara o campo desse dia\nAté no fundo dos pastos\nDo gado bravo que havia.\n\nGarcia chegou ao campo.\nCorrendo atraz do gado\nPrecipitava o cavaílo\nDentro do matto fechado\nDeu muita queda em garrote\nComo um rapaz traquejado.\n\nNa frente do gado bravo\nEspirou um barbatão\nGarcia chegou-lhe o cavallo\nQueria chegar-lhe a mão\nPerdeu o touro de vista\nA carreira foi em vão.\n\nDisse um vapueiro ao Garcia\nVês aquelle barbatão ?\nE’ o touro Saia branca\nPertencente ao capitão,\nE’ o phantasma dos vaqueiros\nE orgulho do meu patrão.\n\nAqui chegaram 3 vaqueiros\nDo Estado do Ceará,\nSabiam de oração forte\n\n-9-\n\nE tinham mais um patuá,\nO Saia branca deixou-os\nEngalhados no cipuá.\n\nSe o Garcia tem coragem\nDe pegar o barbatão\nHoje mesmo eu vou dizel-o\nAo senhor capitão\nO seu nome vae ser falado\nEm todo nosso sertão.\n\nSe o capitão na fazenda\nTiver cavallo approxado\nAinda o barbatão\nCorrendo como um veado\nEu me astrevo a pegal-o\nNo espinhal mais fechado.\n\nA’ noite um dos vaqueiros\nEstava prompto a contar\nDizendo ao Feitosa:\nEu só vim lhe avisar\nQue o barbatão Saia branca\nZé Garcia quer pegar.\n\nFeitosa admirado\nPerguntou a Zé Garcia\nSe homem do Seridó\nNo Piauhy se atrevia\nA pegar um barbatão\nO que outro não garantia.\n\n-10-\n\nGarcia disse, ao Feitosa\nSe a fazenda do capitão\nTem cavallo corredor\nNas catingas do sertão\nEu vou ver se me atrevo\nA pegar o barbatão.\n\nChamou Feitosa os vaqueiros\nNa manhã do outro dia\nDisse vou encurralar\nA minha cavallaria\nPara escolher o cavallo\nQue agradar a Zé Garcia,\n\nOs cavallos do Feitosa\n’Stava tudo encurrallados\nComeçou José Garcia\nA examinar com cuidado\nCaçando pelos signaes\nO cavallo bom de gado.\n\nEntão disse Zé Garcia:\nEste cavallo cinzento\nNão tem carreira puchada\nPorque não tem o alento;\nEste ruzio pequeno\nE’ um lerdo sem talento.\n\nEste castanho vermelho\nE um cavallo afrontado,\nE este cavallo pampa.\n\n-11-\n\nNão pode ser bom de gado,\nAquelle castanho escuro\nTem um mocotó, inchado.\n\nEste russo apatacado\nAguenta meia carreira,\nEste cavallo mellado\nFica doido na madeira\nEste pedrez já foi bom\nMas já está com gafeira.\n\nEste cavallo rudado\nNo limpo corre sem trégua,\nEste cardão barrigudo\nSe parece com uma egua,\nEste russo de couro branco\nE’ um cançado de legua.\n\nAqui falou o Feitosa:\nBradando muito zangado\nGarcia, por caridade\nSe faça mais delicado !\nNão defame meus cavallos\nQue todos são bons de gado.\n\nSenhor Feitosa, seus cavallos\nOs bons eu digo quaes são\nPara derrubar no limpo,\nCorrer em apartação\nMas não tem um que aguente\nA carreira do barbatão.\n\n-12-\n\nSe o senhor inda tem cavallo\nPode mandar ajuntar\nQue o barbatão Saia branca\nMinha vontade é pegar\nE homem do Seridó\nNão promette p'ra faltar.\n\nMeus cavallos bons de fabrica\nO senhor levou a trote,\nCavalio e burro de carga\nAinda tem um magote\nGritou Feitosa: vão ver\nAgora o resto do lote,\n\nDepois entrou no curral,\nJunto com a bestaria\nUm cavalio de peito e anca\nPelos signaes promettia.\nLogo a primeira vista\nAgradou a Zé Garcia.\n\nZé Garcia rebolou\nO chapéu para tanger,\nO cavallo espantou-se\nMas veio reconhecer\nPorque cheirou o chapéu\nDando coragem a entender.\n\nDisse Garcia: já posso\nGarantir ao capitão\nQue este castanho amarello\n\n-13-\n\nPega qualquer barbatão\nMesmo é o melhor cavallo\nCreado neste sertão.\n\nDisse o Feitosa: eu também\nNão digo se é exacto\nPorque este cavallo é bravo\nSalta mais do que um gato\nNão é de minha fazenda\nE‘ do coronel Cincinato\n\nPara o dono está perdido;\nEu digo qual a rasão\nTodo vaqueiro tem medo\nDe montar este poltrão\nQuem montar neste cavallo\nElle sacode no chão.\n\nNas mattas mais temerosas\nO bicho bravo se tranca,\nSe o capitão conceder-me\nUma licença mais franca\nEu amanso este cavallo\nE pego ao Saia branca.\n\nSe o senhor tem coragem\nDe amansar este tourão\nAmanhã pode montar\nEntrego-o na sua mão.\nPorem fique na certeza\nQue seu quengo vai ao chão.\n\n-14- \n\nNo terreiro do Feitosa\nO povo tinha chegado,\nAs seis horas da manhã\nTinha um cavallo cellado\nGarcia ia montar\nJá se achava encourado.\n\nNo cabresto do cavallo\nCinco homens sustentava\nQuando Garcia montou se\nQue na sella estribava\nGritando: larga o cabresto\nJá o cavallo saltava\n\nLevantou-se o cavallão\nSaltando com Zé Garcia\nQue furava de espora\nE com o chicote batia.\nO rapaz era seguro\nDa sella não se movia.\n\nZé Garcia pelejou,\nPara amansar o cavallo,\nQuinze dias de repuxo\nAguentando grande abalo\nMas só no fim de um mez\nAcabou de amansal-o.\n\nO Feitosa perguntou\nPor esta occasião\nSenhor Zé Garcia, quando\n\n-15- \n\nSerá o dia então\nQue o senhor se dispõe\nA pegar o barbatão ?\n\nPrecisa mais 15 diás\nPara haver ajuntamento\nSomente enquanto o cavallo\nDescança e cobra alento\nDeixe estar que Saia branca\nEu lhe quebro o encantamento\n\nApareceram trez homens\nCom inveja e ambição\nFallando contra Garcia,\nDizendo ao capitão\nQue Garcia ia fugir\nNão pegava o barbatão.\n\nEra um Chico Banda Forra \nUm tal Manoel Gavião,\nE um Juvencio Parnahyba\nFazendo conspiração\nQue Garcia ia furtar\nO cavallo do capitão. \n\nFeitosa, mal satisfeito,\nAborrecido dizia:\nAinda não encontrei\nUma falta em Zé Garcia,\nE’ duma família rica\nDelle ninguém desconfia.\n\n-16-\n\nVocês têm a certeza\nQue o rapaz é ladrão\nBanda Forra e Parnahyba\nE Manoel Gavião\nSigam atraz do Garcia\nNa pega do barbatão.\n\nEntão no dia marcado\nPegou a chegar vaqueiros\nEspernegando os cavallos\nCento e quinze cavalheiros,\nVeio o coronel Cincinato.\nO maior dos fazendeiros.\n\nNas familias sertanejas\nA mais rica e poderosa\nEra a do coronel Cincinato,\nTrouxe uma moça formosa\nQue era a flor das donzellas\nSeu nome era Sinforosa\n\nFeitosa com os vaqueiros\nEstavam promptos esperando\nGarcia bem encourado\nSeu cavallo preparando,\nZulmira mais Sinforosa\nDa janella observando.\n\nTodos montaram a cavallo,\nFeitosa puxou a guia\nEm busca do gado bravo.\n\n-17-\n\nQue o barbatão existia.\nOs vaqueiros invejosos\nNão largavam Zé Garcia.\n\nFeitosa com os vaqueiros,\nDepois de terem avançado,\nChegaram ao fundo dos pastes\nViram o arranco do gado\nO barbatão ia na frente\nIa correndo adiantado.\n\nGarcia pela esquerda\nCorria se desviando\nQueria correr sosinho,\nSahiu do meio do bando\nMas sentiu 3 cavalleiros\nQue iam lhe acompanhando.\n\nGarcia numa Jurema\nTangeu com má intenção\nUma galhada de espinhos\nQue laçou Manoel Gavião,\nEsfollou-lhe a cara e um braço\nFicou cabido no chão.\n\nGarcia açoitou de novo\nUm calumbi esgalhado\nQue batento era Banda Forra\nFoi da sella arrebatado\nFicou berrando: me acuda!\nPelos pés dependurado.\n\n-18-\n\nO Juvencio Parnahyba\nRecebeu naquella hora\nUma lapada na cara\nQue o chapeo avoou fora\nCahiu do cavallo abaixo,\nEngalhado na espora,\n\nQuando Garcia deixou\nOs tres sujeitos no chão,\nPuchou pelo seu cavallo, \nAlcançou o barbatão,\nCorrerram de matto a dentro\nComo um vento furacão.\n\nSubiram por uma serra\nJá iam em outra carreira\nDesceram por uma furna\nPassando pela pedreira;\nO boi saltou num riacho\nDe cima da cachoeira.\n\nSaltou também o cavallo,\nCausando admiração\nO sapato de Garcia\nDeixou 2 rasto no chão\nSeguiu mordendo o cavallo\nA anca do barbatão.\n\nGarcia pegou o touro\nNa mão a cauda enrolou,\nAtirou-o de alto a baixo\n\n-19-\n\nDeu-lhe um socco o derrubou\nA fama do barbatão\nNeste dia terminou.\n\nFeitosa com o seu povo\nPassaram por Gavião,\nBanda Forra e Parnahyba,\nCahidos todos no chão\nSeguiram na buraqueira\nDo cavallo e o barbatão\n\nQuando deram na pedreira\nDisseram: temos demora\nPor aqui ninguém não passa\nVamos rodeia por fora\nGarcia passou aqui\nComo uma bala nessa hora.\n\nDepois mediram a distancia\nQue o cavallo saltou,\nContaram 40 palmos,\nFeitosa se admirou,\nDisse não tenho cavallo\nQue passe onde este passou.\n\nContinuaram no rasto,\nAdiante foi avistando\nZé Garcia sentado\nCom um cigarro fumando\nO touro já varejado\nE o cavallo descançando.\n\n-20-\n\nMandaram levar em carga\nA carne do barbatão.\nEm casa de Miguel Feitosa\nCresceu a reunião.\nForam chamar os cantores\nBeira D’agua e Madapolão.\n\nA noite os 2 cantores\nDescutiam em cantoria\nElogiavam os rapazes,\nA graça da moçaria\nDando viva ao capitão\nDavam fama a Zé Garcia.\n\nEstavam em cima do sotão\nA Zulmirinha Feitosa\nSe embalando numa rede\nDeitada mais Sinforosa\nQue criticavam os rapazes\nPorque eram vaidosas.\n\nSinforosa, tu não viste\nAquelle rapaz barbado\nQue fumava num cachindo\nOlhando para o teu lado ?\nQueria te dar um cravo,\nComtigo estava animado.\n\nZulmirinha não me fale\nNaquelle typo immoral,\nAquillo é meu parente\n\n-21-\n\nMas é um sujeito brutal,\nQuer namorar com as moças\nDê por visto um animal.\n\nElle está vestido agora,\nDe casaca, encolletado\nDe chapeo de copa alta\nCalça curta, engravatado,\nDe alpercata nos pés\nE’ um papangú descarado...\n\nAquillo já vem de raça\nO pai delle numa eleição\nFoi vestido de camisa\nE ceroula de algodão\nLá só não fez um discurso\nPorque não deram attenção\n\nRapaz deste Piauhy\nNão sabe se ageitar\nO cabello cobre as orelhas,\nPassa um anno sem cortar\nAssim mesmo acanalhado\nSó conversa em se casar.\n\nO povo do Seridó\nTraja bem na fantasia,\nAdmirou-me a decencia\nNa roupa de Zé Garcia,\nAquelle, sim, é um rapaz\nQue as moças tem sympathia,\n\n-22-\n\nSinforosa, Zé Garcia\nVive prestando attenção\nAo livro de Carlos Magno\nElle até por distração,\nFalla na princeza angelica\nComo casou com Roldão.\n\nSinforosa suspirou\nCom a face mais corada,\nZulmira apertou-lhe a mão\nDando uma gargalhada\nE disse: já conheci\nQue estás enamorada.\n\nChamava no pé da escada\nDona Juvita Feitosa\nMeninas desçam dahi\nAcabem com essa prosa\nOs cantores estão chamando\nPor Zulmira e Sinforosa.\n\nCom pouco as duas moças\nJá brilhavam no salão,\nA cada um dos cantores\nDeram o seu patacão,\nNos tamboretes da sala\nForam tomra posição.\n\nA Sinforosa sentou se\nDe frente com Zé Garcia\nE o olhar da donzeila\n\n-23-\n\nSomente se dirigia\nP’ra o moço do Siridó\nQue também correspondia.\n\nFinalmente no outro dia\nA Zulmirinha Feitosa\nFoi ao quarto de Garcia,\nJunto com Sinforosa\nTomar um livro emprestado\nQue ensina scena amorosa\n\nO pessoal do banquete\nJá se havia retirado\nOs velhos donos da casa\nForam descançar do enfado\nNessa hora foi Garcia\nPelas moças visitado.\n\nGarcia dizia as moças\nTodo o meu contentamento\nE’ em dona Sinforosa,\nImagem do meu pensamento\nAproveitamos a hora\nAjustamos casamento\n\nSinforosa respondeu:\nO senhor é um rapaz famoso\nMas para casar commigo\nEu acho muito custoso,\nSomente porque papai\nE’ um homem perigoso.\n\n-24-\n\nO meu pai governa aqui\nUm batalhão cangaceiro\nE possue 20 fazendas\nE’ orgulhoso em dinheiro\nTem um negro que advinha;\nE é macumba feiticeiro.\n\nO senhor casa comigo\nVisto ser rapaz solteiro\nSe tiver muita coragem,\nCavallo bom e dinheiro\nPara fugirmos daqui\nE correr um mez inteiro.\n\nRespondeu lhe Zé Garcia:\nEu sou homem a toda hora\nNão tenho medo de nada,\nQuero é saber da senhora\nSe quizer casar commigo\nVamos do Piauhy embora.\n\nEu tenho muita vontade\nLhe digo de coração\nQuando arrumar os cavallos\nE dinheiro no matulão,\nFugiremos do Piauhy\nA bem da nossa união.\n\nDesde ahi se combinou\nQue Sinforosa fugia,\nE noivo para Zulmira\n\n-25-\n\nMuito breve apparecia\nQue Zulmirinha se casava\n Com o irmão de Zé Garcia\n\nQuem tinha cavallo bom\nGarcia ia compral-os\nDe 20 em 20 léguas\nDeixava 5 cavallo\nPara o dia em que fugissem\nNinguém poder mais pegal-o.\n\nGarcia veio ao Seriuó,\nDeixou a preparação,\nFez uma sociedade\nCom Lourival seu irmão,\nSubiram ao Piauhy\nComprar gado no sertão\n\nOs Garcias no Piauhy\nFizeram logo contracto\nDe comprar toda boiada\nDo coronel Cincinato,\nComeçou a descer gado\nVendido muito barato.\n\nA vaqueirama nos campos\nRebanhava em movimento\nSe pegando boi de solta\nE fazendo ajuntamento,\nOs Garcias tomando conta\nE fazendo pagamento.\n\n-26-\n\nNa fazenda do Feitosa\nHavia apartação.\nZé Garcia no cavallo\nQue pegou o barbatão\nLeu muita queda no pateo\nNaquella vadiação.\n\nNeste dia combinaram\nGarcia mais Sinforosa\nO seu irmão Lourival\nRaptar Zulmira Feitosa\nDo sabbado para o domingo\nFugida bem temerosa.\n\nSinforosa disse aos Garcias\nNão tem mais que avieal-os\nEsperem atraz do curral\nTudo prompto com os cavallos,\nEu saio com Zulmirinha\nA’ primeira voz dos gallos.\n\nNo ponto estavam os Garcias,\nCantaram os gallos na hora\nSinforosa e Zulmirinha\nA meia noite sahiram fora.\nDisseram logo aos Garcias:\nFujamos vamos embora.\n\nZé Garcia tumou conta\nDa donzella Sinforosa\nLourival pegou na mão\n\n-27-\n\nDe Zulmirinha Feitosa\nDissseram adeus ao Piauhy,\nTerra de moça formosa.\n\nAmanheceu o domingo\nEm casa de Miguel Feitosa\nNão foram visto os Garcias\nNem Zulmirinha e Sinforosa,\nDisseram: estão dormindo,\nMocidade preguiçosa.\n\nAs nove horas do dia\nO almoço estava botado\nForam chamar os Garcias\nO quarto estava fechado,\nJuvita subiu no sotão\nAchou o desocupado.\n\nDona Juvita desceu\nDo sotão, muito veixada\nPerguntou: homem «cadê»\nNossa filhinha estimada ?\nZulmirinha foi embora\nJunto com nossa afilhada.\n\nFeitosa tocou no busio,\nMandou levar um recado\nAo compadre Cincinato,\nDizendo: fique informado\nQue nossas filhas fugiram\nVão em busca de outro Estado.\n\n-28-\n\nO coronel Cincinato\nDestribuiu armamento\nArmou 40 capangas\nMarchou logo em seguimento\nPara a casa do Feitosa\nQue era um sanguinolento.\n\nFormou 60 jagunços\nNa casa do capitão\nPara montar a cavallo\nCom armas e munição,\nDisseram: é uma guerra\nQue vai se dar no sertão.\n\nDisse Chico Banda Forra:\nNão creio nesta vantagem\nPorque o José Garcia\nTem muito plano e coragem\nEu já sei que este povo\nVai é perder a viagem.\n\nEu fui atraz do Garcia\nNa pega do barbatão\nMais Juvencio Parnahyba\nE Manoel Gavião,\nGarcia quasi nos mata\nE não tivemos razão.\n\nO negro do Cicinato\nFez mesa de bruxaria;\nDisse: eu acho muito eustoso\n\n-29-\n\nSe pegar o Zé Garcia,\nJá vão com 23 léguas\nPassando uma travessia.\n\nAs duas moças montadas\nEm cavallos de silhão\nUm negro com uma carga\nDe bahú e matulão,\nSinforosa vai no cavallo\nQue pegou o barbatão.\n\nO sol estava se pondo,\nO crepúsculo ainda fora\nOs dois chefes se vexavam,\nGritaram vamos embora\nOs Garcias já vão longe\nMas elles me pagam agora\n\nSeguiram em todo carreira .\nOs chefes se adiantando,\nAlguns montados em jumentos\nOs burros se acuando,\nAqui, alli, demoravam,\nUns por outros esperando.\n\nCincinato e o Feitosa\nEm sua perseguição,\nNas portas onde passavam\nPediam informação,\nDe dois rapazes e duas moças\nQue fugiram do sertão.\n\n-30-\n\nPassaram no Araripe\nNa casa dum fazendeiro\nA’ noite estavam hospedados,\nTiveram melhor roteiro\nDos rapazes e das moças\nE o negro bagageiro.\n\nLhe disse a dona da casa\nSenhor capitão Feitosa,\nAqui dormiram duas moças\nZulmirinha e Sinforosa\nDeram presentes a meus filhos.\nJá vi que moças mimosas\n\nOs dois moços se parecem,\nMe disseram que eram irmão,\nA cada uma creança\nElles davam um patacão\nForam casar no Siridó,\nDepois voltam ao sertão\n\nSahiram hontem daqui\nQuando amanheceu o dia\nAs moças mudaram a roupa,\nVestiram a montaria,\nDeixaram cinco cavallos\nPor ordem de Zé Garcia.\n\nDisse o coronel Cincinato:\nLevantemos o acampamento,\nDevemos a toda pressa\n\n-31-\n\nBotar logo empedimento\nSenão os Garcias casam\nNos dão um conhecimento.\n\nOs Garcias em Cajazeiros\nFizeram logo uma acção\nChegaram aos pés do padre,\nDespejaram um matulão\nQue estava cheio de dinheiro\nVoando as notas no chão.\n\nO padre disse: meninos\nPara que tanto dinheiro ?\nSe têm negocio commigo\nDigam o motivo primeiro,\nDe onde vêm estas moças\nFugindo assim tão ligeiro?\n\nRespondeu José Garcia\nEu fui mais o meu irmão\nAo Piauhy comprar gado\nQue é nossa transação,\nLá raptamos estas moças\nDa casa dum capitão.\n\nAtraz vem um coronel\nJunto com um capitão\nCom o fim de tomar as filhas,\nNos fazer perseguição,\nRapaz por causa de moça\nEm velho passa lição.\n\n-32-\n\nDisse o padre: contem commigo\nEu ajudo a dar o nó,\n\nE sigo com os senhores \nNo rumo de Caicó\nVou fazer os casamentos\nLá mesmo no Seridó.\n\nEntão mudarão os cavallos\nConforme quiz Zé Garcia,\nSellaram outro cavallo\nDo padre da freguezia,\nSeguiram com o vigário\nCresceu mais a companhia.\n\nOs jagunços do Feitosa\nE do coronel Cincinato\nFicaram em Morro Dourado\nEscondidos pelo matto\nCom receio de trezentos\nCapangas do Viriato.\n\nCincinato e o Feitosa\nPassaram em Mangabeiras,\nJa vinham sem os jagunços\nChegaram ern nossas ribeiras\nPerguntaram pelo padre\nDa cidade de Cajazeiras.\n\nDisseram que o vigário\nTinha saido ha 8 dias\nEm viajem ao Siridó,\n\n-33-\n\nCurar outras fregueziás,\nPara fazer casamentos\nNa família dos Garcias.\n\nOs dois chefes do Piauhy\nPerderam a valentia!\nQuando chegaram á fazenda\nDo tenente João Garcia\nPois encontraram as filhas\nJá casadas nesse dia.\n\nSinforosa mais Zulmira\nTrajavam veo e capellas\nTodo o povo contemplava,\nA belleza das donzellas,\nSeus noivos permaneciam\nAssentados junto dellas.\n\nCincinato e o Feitosa\nQuando entraram no salão\nAs noivas se ajoelharam\nPara tomarem abenção\nOs velhos abençoaram\nAs filhas de coração.\n\nO Cincinato e o Feitosa\nFalaram amigavelmente,\nAbraçaram seus dois genros,\nDe accordo com o tenente,\nDisseram: nossas filhinhas\nCasaram decentemente.\n\n-34-\n\nEstava um rapaz louro,\nPoeta novo e letrado\nCom uma viola de duas boccas\nA cantar discurso rimado\nEra Hugulino do Sabugy\nFelicitando o noivado.\n\nFiguraram nesta festa\nTres officiaes de patente;\nO coronel Cincinato\nO Capitão e o tenente.\nContinuava o banquete\nNaquelle salão decente.\n\nZulmirinha e Sinforosa\nDepois da festa acabada,\nCada uma tomou posse\nDe sua casa arrumada\nVisinha uma da outra\nNa alliança acostumada.\n\nFeitosa e o Cincinato\nDepois de bem descançados\nEm casa de suas filhas,\nEstavam determinados\nRegressar ao Piauhy\nAlegres e consolados.\n\nO coronel Cincinato\nE o capitão Feitosa\nMandaram a grande herança\n\n-35-\n\nDe Zulmirinha e Sinforosa\nContinuou dos Garcias\nA família numerosa.\n\nNum bebedor de animaes\nSe achava José Garcia\nTrepado numa oiticica,\nDuma ramagem sombria,\nMettido por entre as folhas\nQue debaixo ninguém via\n\nA filha do Militão\nChegou com um debochado\nDebaixo da oiticica,\nSe sentaram sem cuidado\nSem saber que Zé Garcia\nEm cima estava trepado.\n\nDisse Francisca Rarnel:\nJoaquim, tenha sentimento,\nEstou engordando a força\nMeu bucho em crescimento,\nSe papae souber se zanga\nMe peça em casamento\n\nTu tens que casar commigo\nSabes que sou tua prima.\nLevantei falso a Zé Garcia\nMas você não me estima.\nQuem sabe que estou gravida\nE’ aquelle que está lá cima.\n\n-36-\n\nVagabunda sem vergonha,\n—Aqui gritou Zé Garcia—\nEu não sei de tuas misérias\nQue tu ha tempo escondia,\nVou descarar o teu pai \nCom tua patifaria.\n\nFugiu Francisca Ramel\nEm busca duma camarada,\nChegando no Caicó\nFicou de casa alugada\nE o Militão foi preso\nPorque fez muita zuada.\n\nEntão correu a noticia\nQue Garcia raptou\nUma moça no Piauhy\nGrande perigo passou.\nChegando no Seridó\nA toda presa casou.\n\nO seu irmão Lourival\nConduziu na mesma empreza\nUma filha dos Feitosas\nAdmirava a riqueza\nDestas moças que encheram\nO Seridó de belleza.\n\nO Militão Cangaceiro\nQue já era intrigado\nSabendo que Zé Garcia\n\n-37-\n\nAgora estava casado\nGarantiu que ia matal-o \nConforme tinha jurado.\n\nDizia o Militão\nPois o tenente Garcia\nQuer ser melhor do que eu\nEm riqueza e fidalguia\nMais eu sou um cangaceiro\nRespeitado em valentia.\n\nEu posso bater nos peites\nQue sou cangaceiro honrado\nNão me lembro mais da conta\nDas surras que tenho dado\nEm branco do olho azul\nEm meus pès ajoelhado.\n\nEu vou fazer tal barulho\nCorre o povo a noiva chora\nSó mato o Zé Garcia\nDe chicote e palmatória\nMe amonto no tenente\nRasgo-lhe o bucho de espora.\n\nDepois eu lhe queimo a casa\nToco fogo em algodão\nO Garcia que escapar\nFique com esta lição\nNunca mais engeitará\nOutra filha de Militão.\n\n-38-\n\nÂs cinco horas da manhã\nQuando amanhecia o dia\nChegava um cavalleiro\nPara o tenente Garcia\nPrevinir a sua casa\nPorque de nada sabia.\n\nSenhor tenente Garcia:\nSó venho lhe avisar\nAssim disse o cavalheiro\nMilitão vem lhe matar,\n\nEstá juntando capangas\nPara vir lhe atacar.\nVem queimar a sua casa\nCom paió de algodão\nAcabar com os Garcias\nE’ toda sua tenção\nO senhor não facilite\nCom o cabra Militão.\n\nEntão disse Zé Garcia:\nMeu pai me entregue a questão.\nQue a noite eu vou cercar\nA casa de Militão\nElle tem que vir nas cordas\nPorque é um valentão.\n\nAs 8 horas da noite\nGalopava Zé Garcia\nCom 9 homens a cavallo\n\n-39-\n\nArmados a fuzilaria\nEncontraram o Militão\nDescuidado sem espia.\n\nQuando occultaram os cavallos\nForam se aproximando\nViram o grupo de bandidos\nNo terreiro vadiando\nOs bacamartes encostados\nE uma viola tocando.\n\nUma descarga cerrada\nOs bandidos receberam\nGritaram chegou a tropa\nDeixaram as armas, corrreram\nSeguiram em busca da serra\nNas grutas se esconderam.\n\nMilitão não quiz correr\nJá ferido numa mão\nJosé Garcia pegou-o\nBateu com elle no chão\nGritando tragam as cordas\nAmarrem este ladrão.\n\nO Militão quando viu-se\nPreso pelo intrigado\nAinda quiz estribuchar\nMais já estava amarrado\nGarcia deu-lhe uma surra\nFicou elle acomodado.\n\n-40-\n\nGareia disse: criminoso\nTu querias me dar fim\nTua filha é pariceira\nDo cangaceiro Joaquim\nEu não ia misturar-me\nNuma canalha tão ruim.\n\nVou dar-te por despedidas\nMais uma surra de peia\nTe despede da cachaça\nE roubo das casas alheia\nDiz adeus ao sertão\nHas de morrer na cadeia.\n\nCom dois annos Zé Garcia\nTomou a resolução\nDe subir ao Piauhy\nCom Lourival seu irmão\nPara visitar os sogros\nNesta mesma occasião\n\nSinforosa e Zulmirinha\nSe abraçaram de contente\nPorque iam ver seus paes\nVisitar a sua gente\nNa terra em que nasceram\nPara o lado do poente\n\nPartiu então Zé Garcia\nCom seu acompanhamento\nChegando em Cajazeiras\n\n-41-\n\nJá tinham conhecimento\nDormiram em casa do Padre\nQue fez o seu casamento.\n\nEram dez do mez de Junho\nHavia leite e qualhada\nDe manhã tomaram café,\nEntão veio a cavalgada\nPreparou-se a montaria\nPara seguir a jornada\n\nSe despidiram do padre\nCom abraço e aperto de mão\nSeguiram em largo trote\nGarcia disse a seu irmão\nVamos gosar no Piauhy\nUma noite de S. João.\n\nAvançaram até chegar\nNo ponto mais desejado\nNas margens do Parnahyba\nOnde se cria mais gado\nPegaram Manoel Feitosa\nEm casa bem descuidado.\n\nA chegada dos Garcias\nFoi uma recepção\nContinnou o banquete\nAté noite de S. João\nCincinato e o Feitosa\nGosando a satisfação\n\n-42-\n\nQuando entrou o mez de Julho\nForam rebanhar gado\nEscolhendo boi de era\nE ficando encurrallado\nE os Garcias comprando\nPois estavam acostumado.\n\nLourival e Zulmirinha\nFicaram com Miguel Feitosa\nEm casa de Cincinato\nFicou dona Sinforosa\nJosé Garcia desceu\nCom uma boiada volumosa\n\nJosé Garcia baixou\nCom seu gado pela estrada\nChegando em Campina Grande\nVendeu a sua boiada\nVoltou para o piauhy\nVer sua esposa estimada.\n\nZé Garcia ia passando\nNum esquesito arriscado,\nSairam tres cangaceiros,\nO moço estava emboscado\nO Garcia estava só,\nAgora ia ser roubado.\n\nOu o dinheiro ou a vida!\nAbra logo o matulão;\nAcrescentou um bandido\n\n-43-\n\nA minha opinião\nE’ que se matarmos elle\nNão teremos perseguição\n\nZè Garcia respondeu\nNão faço historia comprida\nVou entregar o dinheiro\nMas não robem minha vida\nDisseram elles: você morre\nMatal-o é nossa medida.\n\nJosé Garcia inda disse\nPois visto eu ser um christão,\nEu quero me confessar\nMe ouçam de confissão\nE perdoem-me os peccados\nConforme a religião.\n\nUm cangaceiro exerido\nDisse então podes rezar\nEu posso servir de padre\nSó para lhe confessar\nVamos diga seus peceados\nQue eu os sei perdoar.\n\nGarcia disse: aqui não\nMe confesse ali no matto,\nPeccado alheio tem segredo\nVisto a fineza do acto;\n—Vamos que serei o padre\nConfesso muito barato.\n\n-44-\n\nGarcia disse ao ladrão\nAqui vamos concordar\nEu lhe dou 60 contos\nVocê vai negociar;\nMatamos aquelles sujeitos\nQue eu só quero é escapar.\n\nVocê com 60 contos\nPara viver tem dinheiro\nVai ser um negociante\nAté no Rio de Janeiro,\nMelhor ser um homem rico\nDo que ser um cangaceiro\n\nDisse o bandido: está certo;\nE voltou emparelhado,\nO ladrão sempre dizendo\nO homem está confessado\nOuviu-se logo dois tiros\nCada um foi fuzilado\n\nEntão disse Zé Garcia;\nOuça outra confissão\nEu tinha tres inimigos\nDois estão mortos no chão\nAgora só falta um\nSegure o punhal na mão!..\n\nO cangaceiro gritou:\nVocê quiz me enganar !\nZé Garcia respondeu-lhe:\n\n-45-\n\nEu não vivo de matar\nQuando a sorte me obriga\nEu luto para escapar.\n\nSe travaram nos punhaes\nCombate muito ligeiro,\nZé Garcia apunhalou\nOs braços do cangaceiro,\nAinda lhe disse ladrão\nTu não tomas mais dinheiro.\n\nBotou-lhe o pé no pescoço\nO bandido não fez acção\nDisse eu estou acostumado\nAssignalar barbatão\nVou deixar o meu signal\nNas orelhas deste ladrão. \n\nGarcia montou a cavallo\nContinuou galopando\nDeixou no meio da estrada\nUm roubador praguejando,\nCom dois cadaveres de lado\nOs urubús festejando\n\nE depois no mez de Setembro\nGarcia fez despedida\nVoltando ao Piauhy\nCom sua esposa querida,\nLourival e Zulmirinha.\nHouve choro na partida.\n\n-46-\n\nE depois um aleijado\nDe porta em porta pedia\nQuem lhe dava uma esmola\nAdmirado dizia\nAs suas orelhas têm\nO signal de Zé Grrcia\n\nResponde o ex-cangaceiro\nEu mesmo fui o culpado\nNos mattos do Ceará\nZé Garcia foi cercado\nMorreram - meus companheiros\nEu escapei aleijado.\n\nContinuou Zé Garcia\nEm S. João do Sabugy\nDe anno em anno visitava\nOs campos do Píauhy\nComo topador de touro\nOutro igual não tinha alli.\n\nA LIVRARIA\n\nPOPULAR EDITORA\n\nDispondo de grande deposito\nde Folhetos, Novellas, Historias Po-\npulares, Romances, Revistas, Figu-\nrinos, Literatura, Livros de sciencia,\nReligião e livros em branco.\n\nChama a attenção dos reven-\ndedores desses artigos para os seus\ndescontos que são os melhores, pois\nesta casa não teme competidores em\npreços.\n\nExperimentem !\n\nPedidos a F. C. Baptista Irmão\n\nRua da Republica, 584\n\nPARAHYBA DO NORTE\n\nLIVROS EM DEPOSITO\n\n—NA—\n\nPopular Editora\n\nRELIGIÃO\n\nCartilha Christã. Adoremos, Livros de missa e muitos outros livros catholicos\n\nINSTRUCÇÃO\n\nTodos os livros adoptados pelas aulas publicas e particulares\n\nLITERATURA\n\nGrande variedade de Livros brochados e encadernados dos melhores autores\n\nLIVROS POPULARES\nGrande sortimento de Novellas, Romances, Historias e Trovadores, Livros de Direito, Sciencis, Diccionarios e Commerciaes.\n\nLivros em branco para escriptas commerciaes, Revistas, Figurinos e Bordados Cadernetas, Blocos e papel para cartas\n\nTudo a preços baratos, vendas em grosso e a retalho.\n\nIMPRESSÕES\n\nNa typographia da POPULAR EDITORA imprime-se: Livros, Jornaes, Envelopes, Facturas, Rotulos etc.\n\nExecuta se com rapidez todo e qualquer serviço typographico\n\n[Em branco]\n\nLivros editados pela POPULAR EDITORA\n\nNestas edições, damos aos revendedores os descontos de 30 a 60%, e nos livros comprados fora o desconte será de 20 a 40%.\n\n\n\nPoesias Escolhidas 3a Edição 3$000\n\nHistoria de Alonso e Marina contendo a morte de Alonso 2$000\n\nHistoria completa de Antonio Silvino 1$500\n\nHistoria de Esmeraldina — Traição e vingança 1$500\n\nHistoria de Carlos Magno, em versos 1$500\n\nHistoria da índia Necy 1$000\n\nHistoria de Rosa e Li no de Alencar 1$000\n\nA noiva engeitada 1$000\n\nA vingança do Sultão 1$500\n\nHistoria de Zé Garcia 1$500\n\nHistoria da Donzella Theodora e da Imperatriz Porcina, em versos 1$500\n\nHistoria de Lampeão 800\n\nHistoria do Capitão do Navio 500\n\nPeleja de Joaquim Francisco com o Demonio 800\n\nSegunda peleja de J. Melchiades com o nova ceita 800\n\nDescripção da Parahyba, em versos 800\n\nA filha do Coronel roubada pelos ciganos 800\n\nConselhos do Padre Cicero a Lampeão 500\n\nOs decretos de Lampeão 400\n\nO marco de Lampeão 400\n\nA Defeza do Padre Cicero 400\n\nO casameuto do Rato com a Catita 400\n\nPeleja de Zé Duda com Silvino Pirauá 400\n\nAs Graças de um desgraçado 400\n\nA revolta das Mulheres contra J. Atayde 400\n\nA nova moda de cabello cortado e vestidos curtos 400\nNovena de Santa Theresinha 500\n\nTrezenas de Santo Autonio 400\n\nCarta de A B C Infantil — C. Nunes 200\n\nTaboada Moderna — C. Nunes 200"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-027",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Minha Infancia (sic)",
"Detalhe": "Possui os textos: \"Ser Padre\", \"O Dedo de Deus!\", \"Dou Tudo Pela Mulher\", \"A Independencia (sic) do Brazil (sic) - 7 de Setembro\", e \"Recordações de Minha Finada Esposa\".",
"Localidade": "Maceió, AL",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Pacífico da Silva (1865-1931)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"27",
"Palavras-chave": "Infância; tempo; alegria; meninas; rio; mamãe; batina; padre; seminário; pai; divino; sol; mulher; rosa; Brasil; país; brasileiro; D. Pedro I; cemitério; dor;",
"Tema": "A vida na infância; convivência no seminário quando se ama alguém; as belezas que Deus criou; homenagem às mulheres; independência do Brasil; lamento pela morte de ente querido",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nA MINHA INFANCIA\n\nProducção do poeta\nCORDEIRO MANSO\n\n“O auctor reserva o seu direito de propriedade”\n\nEstado de Alagoas\n\nMACEIÓ\n\nA minha infancia\n\nRecordo o tempo sadio\nDe minha infancia querida,\nQuando eu no verdor da vida\nBrincava á margem do rio\nAdmirando a belleza\nDos golphos, da baroneza,\nQue soltos na correnteza\nPassavam qual um navio !\n\nDaquella ramagem sã\nTirei um cacho de flor\nO mais mimoso na cor\nCom orvalho da manhã,\nIndacom flores abrindo,\nFormei um presente lindo\nQue fui leval-o sorrindo\nA minha boa Mãmã.\n\nO tempo faz-se tardio,\nMas indã hoje me lembro\nQuando num mez de Novembro\nNum bello dia sombrio\nEu junto ao rio, brincando,\nDe veras admirando\nAs piabinhas passando\nDentro das aguas do rio.\n\n[Em branco]\n\nA minha infancia\n\nRecordo o tempo sadio\nDe minha infancia querida,\nQuando eu no verdor da vida\nBrincava á margem do rio\nAdmirando a belleza\nDos golphos, da baroneza,\nQue soltos na correnteza\nPassavam qual um navio !\n\nDaquella ramagem sã\nTirei um cacho de flor\nO mais mimoso na cor\nCom orvalho da manhã,\nIndacom flores abrindo,\nFormei um presente lindo\nQue fui leval-o sorrindo\nA minha boa Mãmã.\n\nO tempo faz-se tardio,\nMas indã hoje me lembro\nQuando num mez de Novembro\nNum bello dia sombrio\nEu junto ao rio, brincando,\nDe veras admirando\nAs piabinhas passando\nDentro das aguas do rio.\n\n— 2 —\n\nEu via os peixes nadando,\nMaiores e mais pequenos,\nDentro das aguas, serenos,\nOutros, no secco pulando.\nOs peixes quando me viam,\nParecia que sorriam,\nEmquanto as aguas desciam\nLá no peráu se quebrando !\n\nUma das fontes ditosas,\nTendo em suas ribanceiras\nUm partido de roseiras\nTodo bordado de rosas !\nEu alli passava o dia,\nNum transborbo de alegria,\nContemplando a primazia\nDaquellas flores mimosas !\n\nNaquelia horta sem fim\nVentilava a fresca brisa,\nEm quantidade precisa\nRefrescando o meu jardim \nAinda conservo a lembrança\nQue de minha visinhança\nVia mais de uma creança\nBrincando junto de mim.\n\nNaquelles tempos de alem...\nEu colhia as rosas finas\nPara brindar as meninas\nA quem eu queria bem.\nEu já rimava versinhos\n\n— 3 —\n\nRecheiados de carinhos\nA’s meninas dos visinhos\nDe versos eu dava cem.\n\nNão tinha nada de máo\nAquelles tempos de outr’ora,\nEu seguia estrada a fora\nNum cavallinho de pao\nVaquejando as borboletas,\nBrancas, pintadas e pretas,\nSem ver meninos marretas\nQue a mim dessem quináo.\n\nEu tinha como nobreza\nUm lindo véo excellente,\nQue delle me fez presente\nO Auctor da Natureza,\nNú, eu estava vestido,\nQual um craveiro florido,\nEu lastimo ter perdido\nTão importante riqueza !...\n\nOuvia pela manhã\nNas ramas do manacá\nO canto do sabiá\nTambém da guriattan ;\nDentro das aguas do rio,\nMimoso pato gentio\nNadava qual um navio\nDe construcção toda sã.\n\nQuando o sol em desalinho\nSe escondia nos penedos,\nVinham para os arvoredos\n\n— 4 —\n\nPernoitarem os passarinhos,\nCentenas de curióes\nDezenas de rouxinoes,\nNas ramagens, nos cipós.\nMilhares de casalsinhos.\n\nDe entre o grupo sadio\nDas aves daquelle bando,\nEu vi uma ave piando\nTiritando de frio,\nAs outras, em seus lugares,\nUnidas centos de pares,\nEmquanto uma ave nos ares\nMostrava um ar doentio.\n\nNesse momento sombrio,\nOuvi de um christão afflicto,\nUm grito e mais outro grito,\nNum desadouro bravio.\nEra mamãe que chorando\nCoitada! se lastimando!\nAndava me procurando\nLa pela margem do rio.\n\nBradei: Mamãe, vulto santo,\nNão se veixe tanto assim,\nNão chore tanto por mim\nTire su’alma do pranto.\nVenha ver uma andorinha\nDas outras afastadinha,\nA pobre da avezinha\nCoitada, gemendo tanto !\n\n— 5 —\n\nMamãe chegando ao jardim\nEsteve ralhando commigo\nDizendo que no perigo\nDaria vida por mim ;\nVendo na rama da uva\nA ave chorando em chuva,\nDisse : aquella está viuva,\nPor isso é que faz assim.\n\nFaz-me pena descrever\nAs glorias do meu passado,\nPois já não tenho de, lado\nMeu antigo bel-prazer!\nAquella vida ditosa,\nAquelles dias de rosa,\nAquella idade mimosa\nQue nunca mais hei de ter...\n\nNão gosto de recordar\nOs tempos de minha infanda\nQuando eu tinha por ganancia\nComer, beber e brincar !\nPassei da vida de flores\nA outro polo de amores,\nHoje, um inferno de dores\nQuerendo me devorar !\n\nSer Padre\n\nMeu pae era um boticário\nTinha dinheiro na burra,\nUm dia deu-me uma surra\nE botou-me num Seminário\nLá me entregaram um rosário,\nUm livro e uma batina,\nVesti a roupagem fina\nMas era olhar para ella\nVinha-me a lembrança de Bella\nFilha de dona Balbina.\n\nDaquella fazenda fina\nBella tinha um bom vestido,\nJustamente parecido\nCom a primosa batina,\nDalli provinha a ruina\nPois a saudade de Bella\nEra peior que sovela\nFurando-me o coração\nSem ter uma occasião\nQue não me lembrasse della.\n\nHavia um capellão rouco\nQue confessava a gentella,\nA quem fallei tanto em Bella\nQue o padre julgou-me louco\nDepois que pensou um pouco\nPerguntou-me: Que dê ella ?\nMostrei-lhe o retrato della\nDizendo : é esta, a querida,\nO padre deu-me em seguida\nUm arrocho de guela.\n\n— 7 —\n\nAquelle azougado cura\nBrindou-me um santo cordão,\nVencedor de tentação,\nAmarrei-o na cintura\nO cordão por amargura\nMais de cem nós tinha em si,\nA noite, eu sonhando vi\nA minha risonha Bella,\nQuando acordei não vi ella\nNão sei como não morri!\n\nAo não ver Bella na vista\nSaltei da cama no chão,\nTirei da cinta o cordão\nE surrei um seminarista\nE mais de cem numa lista\nProvaram do cinturão,\nElles, nessa occasião,\nGrande algazarra fizeram\nDisse eu : isto me deram\nPara vencer tentação.\n\nFui preso no Seminário\nNum quarto escuro encerrado\nNesse dia era esperado\nVir meu Pae, o boticário,\nMeu Pae julgando-me vario,\nProcurou toda cautella\nArranjou cavallo e sella,\nFomos para nossa casa\nE eu trazendo o peito em braza\nDas saudades de Bella.\n\n— 8 —\n\nNoventa dias depois\nViu-me casado com Bella,\nUm dia disse-me ella:\nFelizes que somos nós dois\nDizei-me emfim por quem sois\nUm padre que prazer tem,\nSe do amor vive alem ?...\nDisse-lhe : é certo, coitados,\nSe os padres fossem casados,\nSeria padre também.\n\nO dedo de Deus !\n\nHa cousas no nosso mundo\nQue causa admiração,\nSurgirem vozes humanas\nDo peito de um gavião,\nHontem vi um papagaio\nCantando as rezas de Maio\nComo se fosse um chrisrão !\n\nE’ bello ver-se a baleia\nMorando dentro do mar\nTendo vida como temos\nSem de nada se queixar,\nLá dentro do mar bravio\nSem sentir calor nem frio,\nSem sentir falta de ar.\n\nBem assim vê-se uma cobra\nCorrer em cima do chão,\nSubir num alto penedo\nSem aza, sem pé, nem mão,\nDepois nadando no rio,\nQual magestoso navio\nMerece admiração !\n\nE' bello ver-se a formiga\nMorando dentro chão,\nTer casa para o inverno\nPalacio para o verão,\nO que faz causar-me assombro,\nE’ vêl-a levando ao hombro\nA folha que chama — pão.\n\n— 10 —\n\nE' bello ver-se as abelhas\nNo seu trabalho penoso,\nEm vez de canna, de flores,\nFazerem mel saboroso !\nA sciencia no meu ver\nTudo faz, menos saber\nDesse processo engenhoso !\n\nBem assim o urubu\nUm passaro tão cara-dura,\nEsvoaçar na amplidão\nFazendo grande figura ;\nAndando junto do sol\nDe luminoso pharol,\nSem sentir menor quentura !\n\nTudo isto quanto vemos\nSão dotes especiaes\nQue a Providencia Divina\nConcedeu aos animaes.\nO que mais acho indecente\nE’ nós criarmos no ventre\nInsectos intestinaes!\n\nDou tudo pela mulher\n\nQuero muito bem ao sol\nPorque este é luz Divina\nMuito mais eu quero a lua\nPorque esta é feminina.\nDou tudo pela mulher\nPreciso cumprir uma sina.\n\nEm qualquer reunião\nSeja mesmo ella qual for\nNão tendo mulher no meio\nPara mim não tem valor,\nNo meu modo de pensar\nA mulher é como a flor.\n\nEu confessando a verdade\nDigo que gosto de Adão,\nQue em vez de pedira Deus\nUm caboclo charlatão,\nPediu, sim, uma mulher,\nA quem deu seu coração.\n\nVou revelar um segredo\nQue nunca o disse a ninguém,\nEu quero bem as mulheres\nEllas não me querem bem,\nSó sendo isto uma praga\nRogada não sei por quem.\n\n— 12 —\n\nTudo que se diz mulher\nTem attracção verdadeira,\nA mulher é qual fazenda\nQuando está prateleira\nCada qual por sua vez\nTem seu louro de primeira.\n\nA mulher é qual estrella\nQuando brilha luminosa,\nOs homens, (não digo todos),\nSão bandoleiros da prosa,\nNegam o mereciment\nDa mulher branca e cheirosa.\n\nA mulher nacional\nE’ nossa luz brazileira\nElla reside na terra\nQual imagem verdadeira,\nA mulher é qual a rosa\nQuando brilha na roseira.\n\nQuem-que julgar-se offendido\nSe arrume como quizer,\nCantarei o bello sexo\nAté quando Deus quizer,\nPois que encima do mundo\nDe bom existe mulher.\n\nA mulher é como a lua\nQuando passa vae serena\nNa presença, uma delicia,\nNa ausência causa pena,\nPosso chamar a mulher\nUma rosa de Açucena.\n\nA Independencia do Brazil\n\n7 de Setembro\nFoi n’esta data feliz\nQue o Brazil, nosso Paiz,\nLivrou-se de Portugal ;\nTornando-se Independente\nNão consentindo corrente\nEm seu braço triumphal !\n\nFoi n’esta data altaneira\nQue a terra Brazileira\nSe viu com soberania,\nViva D. Pedro primeiro !\nViva o povo Brazileiro !\nVivam os louros deste dia !\n\nReinando Pedro Primeiro\nDisse ao povo Brazileiro\n“A bem de todos eu fico”\nFoi quando Sua Excellencia\nDecretou a Independencia .\nDe nosso terreno rico !\n\nFoi na margem do “Ypiranga”\nQue defendeu-se da canga\nO nosso Paiz gentil !\nFoi nesta data immortal\nQue conheceu Portugal\nA potência do Brazil !\n\n— 14 —\n\nInda que os Portuguezes\nViessem cheios de arnezes,\nEncontrariam a guerra\nTeriam de recuar\nDepois de se derramar\nRios de sangue na terra !\n\nVamos todos Brazileiros\nEnfeitar nossos terreiros\nCobril-os de flores mil !\nCommemorando-se a data\nDesta relíquia grata\nQue tanto honra o Brazil!\n\nComo pequeno poeta\nBeijo a bandeira correcta,\nQue êrgo em meu peitoril !\nViva 7 de Setembro !\nViva a data que relembro\nVivam os louros do Brazil !\n\nFoi nesta data feliz\nQue o Brazil, nosso Paiz\nLivrou-se de Portugal;\nTordando-se Independente,\nNão consentindo corrente\nEm seu braço triumphal!\n\nRecordações de minha finada esposa\n\nMOTTE\n\nTenho ido ao Cemiterio\nNuma tristeza sem fim,\nVisitar o meu anjinho\nQue a morte roubou de mim.\n\nGLOSA\n\nQuando o sol vae se escondendo\nLá por detraz dos penedos,\nSinto minh'alma em degredos\nFraca abatida e gemendo !\nMeu coração padecendo\nSuspirando em ponto serio,\nSem achar um refrigério\nQue modere a minha dor,\nCom o fim dever o meu amor\nTenho ido ao Cemiterio.\n\nAquella ave innocente,\nMinha leal companheira,\nA cruel morte certeira\nRoubou-m’a tyrannamente,\nO cruel golpe potente\nDesmoronou o meu jardim,\nDeixou-me prostrado assim\nComo que preso na Cruz\nNum quarto escuro sem luz,\nNuma tristeza sem fim.\n\n— 16 —\n\nTenho ido ao Campo Santo\nMeia noite, a noite escura,\nPara em sua sepultura\nDerramar sentido pranto,\nAlta noite, o frio é tanto\nQue volto em busca do ninho,\nChorando pelo caminho\nPedindo a Deus paciência,\nJá tomei por penitencia\nVisitar o meu anjinho.\n\nSinhá, acorde se dormes,\nOuça meus pobres gemidos,\nE os meus prantos sentidos\nOs meus suspiros enormes!\nInda que estejas disforme\nTe abraçarei mesmo assim,\nPrecizo dizer-te emfim\nQue eu perdi um thesouro\nTú eras uma agua de ouro\nQue a morte roubou de mim.\n\nCordeiro Manso\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-033",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Historia (sic.) da Esmeraldina",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": "[10/1928]",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 26,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"33",
"Palavras-chave": "Esmeraldina; fiel; mulher; Paris; aposta; Adrião; Julio Abel;",
"Tema": "A história da fildelidade de uma mulher",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Em branco]\n\nTRAGEDIA CELEBRE\n\nHistoria de Esmeraldina\n\nHavia no seculo treze\nNa capital de Paris\nUm banqueiro muito rico\nAmigo de El-rei S. Luis,\nCasado, não tinha filhos.\nPorem vivia feliz.\n\nTinha esse nobre banqueiro\nO nome de Júlio Abel,\nAmava muito a esposa\n£ esta lhe era fiel,\n\nA vida p'ra estes dois entes\nTinha a doçura do mel.\n\nEssa distincta senhora\nChamava-se Esmeraldina,\nPossuía mil virtudes\nSeu coração de heroina '!\nParece que pr’a formal-a\nEsmerou-se a mão Divina\n\n-2-\n\nEra educada e formosa\nEsmeraldina Alencar\nAprendera quinze línguas\nPara escrever e falar,\nE tinha predilecção\nPela arte de pintar,\n\nE também as bellas artes\nElla as não desconhecia\nEra boa pianista\nCultivava a poesia\nE como dona de casa\nTudo ella fazer sabia.\n\nTinha ella deseseis annos\nQuando perdera seus paes\nEntão procurou casar-se\nAmava muito a um rapaz,\nQue era seu primo e visinho\nE em sangue eram iguaes,\n\nEsse rapaz era Julio\nDo leitor já conhecido,.\nEsmeraldina casou-se\nE fez com o seu marido\nA união mais perfeita\nQue o mundo tem conhecido.\n\nEsmeraldina seguia\nFiel á religião,\nEra muito caridosa\n\n-3-\n\nTinha tão bom coração\nQue ao rico chamava amigo\nE ao pobre chamava irmão.\n\nTinha p’ra todas as classes\nSempre carinhos e agrados,\nVisitava e protegia\nDoentes e encarcerados,\nTinha uma esmola effectiva\nP’ra cegos e aleijados.\n\nCriou-se na opulência\nE vivia na riqueza\nPorem sempre desprezou\nO orgulho e a avareza\nSe ufanava quando um pobre\nChamava-a mãe da pobreza.\n\nEntre esse casal feliz\nCiúmes não existia,\nJulio Abel com os deveres\nDe bom esposo cumpria\nUm pela honra do outro\nNo fôgo a mão botaria.\n\nDez annos em santa paz\nViveu esse bom casal,\nSem que desse um fructo apenas\nEssa união conjugal\nPois Deus não lhes concedera\nEsse prazer paternal\n\n—4—\n\nDeus não quiz aos dois esposos\nUm so filho conceder,\nPorque sabia que elles\nNo futuro iam soffrer,\nAs peripecias horríveis\nQue ao feitor vou descrever\n\nJulio Abel como banqueiro\nPossuia dez milhões\nDe libras com que fazia\nBôas negociações;\nMuitas vezes ia a Londres\nOnde tinha transações.\n\nEstando uma vez em Londres\nO banqueiro Julio Abel\nAchava-se hospedado !\nEm um sumptuoso hotel\njunto ao seu secretario\nUm moço honrado e fiel.\n\nEsse hotel, no mesmo dia\nHospedara um jogador,\nUm rico negociante,\nUm medico e um pintor\nNem um desses quatro homens\nEra em Londres morador.\n\nA’ noite esses quatro homens\nAbriram uma discussão\nQue durou mais d’uma hora\n\n—5—\n\nCom alguma agitação,\nCada um sobre mulher\nDava a sua opinião.\n\nFalou primeiro o pintor\nQue dissera:—Eu sou casado,\nMoro no Cairo onde a esposa\nDeixei, e tenho cuidado\nNella porque mulher firme \nInda não tenho encontrado,\n\nDisséra o negociante:\n— «A doze annos casei\nFalsidade em minha esposa\nAinda não encontrei,\nMas, em juras de mulher\nJamais acreditarei».\n\nO medico disse:—Senhores,\nTenho estudado a mulher\nE posso lhes garantir\nQue a mais firme que houver\nEngana o proprio marido\nAs vezes que ella quizer.\n\nDizem que a mulher é fraca\nMas nella não ha fraqueza\nJura falso a qualquer hora\nTem as lagrimas por defeza\nTem labias para deixar\nA humanidade surpreza.\n\n—6—\n\nDissa então o jogador\n— «Senhores eu sou marido\nDuma mulher, e por ella\nNunca julguei-me illudido\nMas eu, della estando ausente\nNão duvido em ser trahido.\n\nTenho viajado muito\nConheço muitas nações\nE tenho em todas as classes.\nConquistado corações\nInda não achei mulher forte\nPara as minhas seducções.\n\nA mulher chora e sorri\ncom a mesma facilidade\nE o seu coração volúvel\nNão guarda fidelidade,\nPor tanto toda mulher\nFaz ao homem falsidade.\n\nJulio Abel estava de parte\nOuvindo esta discussão\nQuando o jogador calou-se\nElle disse:—«Amigo eu não\nAcho que esteja acertada\nEsta sua opinião\n\nDiz o senhor que a mulher\nA’ falsidade é sujeita\nMas a sua affirmativa\n\n—7—\n\nE’ fundada na suspeita\nPorque ha mulher honesta\nQue a seducção não acceita.\n\nRespondeu lhe o jogador\n—«Não ha mulher sem defeito\nAlguma, para o marido\nGosa de muito conceito,\nMas o homem morre velho\nSem conhecel-a direito.\n\n—«Meu amigo eu sou casado\nE á minha esposa conheço\nE que ella a mim é fiel\nEu p’a jurar me offereço\nPorque p’ra comprar-lhe a honra\nA seducção não tem preço.\n\n— «E como o amigo sabe\nQue procede honradamente\nQuem lá em outro paiz\nEstá do senhor ausente?\nQuem sabe se ella é falsa\nE o senhor está innocente?\n\n—«Vá o senhor a Paris\nE a seducção lhe offereça,\nE se poder conseguir\nQue a me trahir ella dêça\nVenha provar-me a verdade\nQue eu dou-lhe a minha cabeça.\n\n—8—\n\n—«Não quero a sua cabeça\nPorque não sou um malvado\nPorem se quer que lhe prove\nQue o senhor vive enganado\nProponha um outro negocio\nQue dê melhor resultado».\n\n—«Pois, cinco milhões de libras\nContigo eu quero apostar,\nE se não tens esta somma\nPara em deposito botar\nFicas sendo meu escravo\nDepois que a aposta eu ganhar.\n\nRespondeu-lhe o jogador\n—«A proposta acceitarei\nO sr. fica e eu vou\nEm Paris e voltarei\nSe o senhor ganhar a aposta\nSeu escravo então serei».\n\nNa presença dum juiz\nO contracto se fechou\nPassaram-se os documentos\nO banqueiro se assignou\nE os cinco milhões de libras\nNum banco depositou.\n\nAssígnou-se o jogador\nDando o nome de Adrião\nResidente na Calabria\n\n—9—\n\nTerra onde ha muito ladrão ...\nLeitor vamos ver agora\nQuem ganhou essa questão.\n\nAdrião era dotado\nDe muita sagacidade\nNa su’alma infame negra\nReinava a perversidade,\nNinguém como elle sabia\nFazer uma falsidade.\n\nNo praso de trinta dias\nA questão se resolvia\nSe Adrião ganhasse a aposta\nCinco milhões recebia,\nE perdendo-a como escravo\nA Julio Abel serveria.\n\nAdrião no mesmo dia\nPara a França embarcou\nE ao chegar em Paris\nEm um hotel se hospedou\nPerto da casa de Julio\nE alli seu plano formou.\n\nElle viu Esmeraldina\nQue para a missa passou\nPela manhã, e audaz,\nA ella cumprimentou\nMas a honesta senhora\nAttenção não lhe prestou.\n\n—10—\n\nDe Esmeraldina uma áia\nPôde Adrião seduzir,\nCom promessas mentirosas\nConseguiu a illudir\nEssa infame se prestou\nA’ Esmeraldina trahir.\n\nDeu Adrião á criada \nUm anel e um collar\nE disse a ella: eu pretendo\nCom a senhora casar,\nMas... só caso se uma aposta\nQue eu fiz com Julio, ganhar.\n\nE contou á namorada\nA aposta que tinha feito\nElla disse: «O senhor perde-a\nE eu não posso dar um geito\nPorque D. Esmeraldina\nE’ uma mulher sem defeito.\n\nE’ mulher que só tem alma\nPara Deus amar e servir,\nE’ virtuosa e honesta\nA ninguém sabe illudir\nEu acho mais que impossível\nElla ao marido trahir.»\n\n— «Pois uma vez que perdemos\nPor meio da legalidade,\nVamos conseguir ganhar\n\n—11—\n\nPor meio da falsidade\nSe quizeres ganharemos\nCom muita facilidade.\n\n— «E quando eu ganhar a aposta\nNós havemos de enricar\nCasamos e na cidade,\nDe Roma, iremos morar!...\nDisse a creada: Estou prompta\nPara em tudo o ajudar.\n\nPois se queres me ajudar\nHoje com muita cautella\nDa casa de Esmeraldina\nDeixe aberta uma janella\nQue eu depois de meia noite\nDo prédio entrarei por ella.\n\nElla então deixou á noite\nUma janella cerrada,\nPor onde Adrião entrou\nA um’hora da madrugada\nSem ser alli presentido,\nNem mesmo pela criada.\n\nEtava a casa illuminada\nQuando Adrião nella entrou\nEm menos de meia hora\nO prédio elle examinou\nEntão de tudo o que viu\nNota em um livro tomou.\n\n—12—\n\nE depois entrou na alcova\nOnde sozinha dormia\nEsmeraldina Alencar\nQue nem por sonhos o via\nElle tomou boa nota\nDo que na alcova existia.\n\nDa gaveta duma banca\nElle roubou um anel,\nContendo as iniciaes\nJ. A ou Julio Abel,!\nE uma redoma de ouro\nCom um retrato fiel.\n\nE’ra o retrato de Julio\nQue estava collocado\nNessa formosa redoma,\nQue Adrião tinha roubado,\nEssa joia a sua esposa\nJulio Abel tinha offertado.\n\nAdrião aproximou-se\nDo leito onde repousava\nEsmeraldina e não via\nO que se passando estava,\nElle ouvindo-a resonar\nTudo alli examinava.\n\nCovardemente o infame\nSem a fazer despertar\nE sem tocar-lhe no corpo,\n\n—13—\n\nConseguiu o examinar\nE tudo que pode ver\nNão se esqueceu de anotar.\n\nSob o lençol transparente\nAdrião viu um signa!\nNos seios de Esmeraldina\nQuando esse genio do mal\nViu isso, disse consigo\n—Ganhei aposta afinal!\n\nDe um lado do peito esquerdo\nEstava o signal escondido\nEra um floco de cabellos\nCom um anel parecido\nSó por ella e Julio Abel\nE’ra o signal conhecido.\n\nNo signal quatro cabellos\nO miserável contou,\nE do seu livro de notas\nTudo isso elle anotou...\nDepois subtil como um gato\nDa alcova se retirou.\n\nNo outro dia Adrião\nProcurou ver a criada\nE receiando que ella\nDescubrisse a su’alçada\nCom vinho e estriquinina\nMatou a envenenada.\n\n—14—\n\nChegando em casa a criada\nDera parte de doente\nEsmeraldina mandou\nVer um medico seu parente\nPorem a infeliz áia\nMorreu quasi de repente.\n\nQuando o medico chegou\nJá estava morta a criada\nDisse o doutor q’uella havia\nMorrido envenenada,\nMas, sobre a causa da morte\nNão se sabia de nada.\n\nPor completo Esmeraldina\nTudo aquillo ignorava\nDe que Adrião a roubara\nSciente ella não estava,\nPorque estas duas joias\nPoucas vezes ella uzava.\n\nAdrião vinte e seis dias\nNessa viagem gastou\nE tendo voltado Londres\nCom Julio Abel se encontrou\nE a sua falsa historia\nA Julio então relatou.\n\nDisse Adrião: Sr. Julio\nAntes do prazo voltei\nPorque a D. Esmeraldina\n\n—15—\n\nFacilmente conquistei\nDisse Julio: —Dae-me as provas\nOu eu não te acreditarei.\n\nAs provas que me pedir\nEu posso lhas fornecer\nJurando por minha honra\nToda verdade dizer\nPois se eu não ganhei a aposta\nNão a quero receber.\n\nMas p’ra o senhor convencer-se\nDe que a si não menti,\nE de que na sua alcova\nMais de uma noite dormi\nAgora vou descrever-lhe\nO que dentro della eu vi.\n\nE’ uma alcova decente\nAchei muito asseiada,\nA papel semi dourado\nToda por dentro é forrada\nA cama do lado esquerdo\nEstá no fundo collocada.\n\n—«Senhor isso não é prova\nRespondeu-lhe Julio Abel\nIsto lhe foi revelado\nPor um cúmplice infiel !\nAdrião nisto mostrou-lhe\nA redoma e o anel.\n\n—l6—\n\nE disse a Julio: essas joias\nPor ella me foram dadas\nJulio Abel lhe respondeu:\n—As joias foram roubadas\nFoi tua cúmplice talvez\nUma das minhas criadas.\n\n—«Tudo o que lhe tenho dito\nNão merece a sua crença\nPois vou dar-lhe outra prova\nP’ra que o sr. se convença\nQue na minha narração\nExiste verdade immensa.\n\nSua mulher tem nos seios\nUm signal muito bem feito\nE’ um floco de cabellos\nEstá de um lado do peito\nEsquerdo, não enganei-me\nPorque examinei direito.\n\nQuatro cabellos mui louros\nTem o signal, eu contei,\nFormando um bonito annel\nQue muito perfeito achei\nVeja agora se acredita\nQue essa aposta eu ganhei.\n\nJulio Abel quando ouviu isso\nFicou quase allucinado\nE disse: mulher infame\n\n—17—\n\nMe fizeste desgraçado;\nMatar-te-ei cruelmente\nE então ficarei vingado.\n\nDisse Julio a Adrião:\n—Ja que tive tão má sorte\nReceba os cinco milhões\nDe libras de cunho forte\nQue eu vou errar pelo mundo\nComo um proscripto sem sorte.\n\nJulio com seu secretario\nPara a França embarcaram\nPorem não foram a Paris\nLogo no Havre ficaram\nDe ali para a capital\nPor terra então viajaram.\n\nJulio Abel tinha umas quintas\nChamadas Villa Muniz\nA' trez léguas de distancia\nDa capital de Paris\nNessas quintas elle então\nCombinar seus planos quiz.\n\nDisse Julio ao secretario\nMeu caro João Maciel,\nHa dez annos te conheço\nComo empregado fiel\nPorem não sei se és amigo\nDe teu patrão Julio Abel.\n\n—18—\n\nJoão Maciel respondeu-lhe:\n—«Eu era quasi um mendigo\nE somente em sua casa\nAchei paternal abrigo\nE por isso o considero\nComo o meu maior amigo.\n\nPois se tú és meu amigo\nComo acabas de dizer\nQuero saber se te espões\nA matar e a morrer\nOu a commetter um crime\nPara me satisfazer.\n\n—«Meu amigo eu farei tudo\nQuanto o snr. desejar.\nPois o favor que lhe devo\nCom outro quero pagar»,\nDisse Julio: Tu te atreves,\nA Esmeraldina matar?!\n\n—«Matar D. Esmeraldina!?\nQue crime alla commetteu ?\nComo é que eu posso matar\nA quem nunca me offendeu ?\nDisse Julio:—Se não matas,.\nNão serás amigo meu.\n\n—Meu amigo disse Julio\nMinha mulher me trahiu,\nCom o cynismo de Judas\n\n—19—\n\nNa minha honra cuspiu,\nPor tanto merece a morte\nEssa que assim me illudiu.\n\n—Senhor Julio ao assassinio\nEu tenho bastante horror,\nMas, pra punir sua honra\nEu mato seja quem for,\nSe quizer eu mato ella\nE também ao seductor.\n\n—Ao homem que a seduziu\nNão é preciso matar\nPorque a culpa é só d’ella\nEm se deixar enganar\nSe elle tiver me trahido\nDepois hei de me vingar\n\nJulio para Esmeraldina\nUma cartinha escreveu,\nDizendo-lhe que ao voltar\nDe Londres, adoeceu\nEm Havre aonde ficou\nE se restabeleceu.\n\nDizia a carta: «Do Havre,\nVim para a Villa-Munis\nMas o mal voltou, divido\nA essa viagem que fiz\nE me acho tão doente\nQue não posso ir a Paris.\n\n—20—\n\nJoão Maciel é quem vae\nEsta carta te entregar,\nVem com elle até aqui\nP’ra um remedio me aplicar,\nComtigo volto á cidade\nAo depois que melhorar.\n\nJulio assignando essa carta\nEntregou-a ao companheiro\nE deu-lhe mais uma ordem\nP’ra elle trazer o dinheiro\nQue houvesse no seu banco\nEm poder do thesoureiro.\n\nDisse a João Maciel\n—«Quando para aqui voltares\nEm o logar mais diserto\nQue no caminho encontrares\nMata a infame, e lá mesmo\nPodes seu corpo enterrares.\n\nMas eu exijo que tu\nTragas me della um signal»\nPara eu ficar convencido\nDe que ès amigo leal,\nE de que a esposa infame\nJá não existe afinal.»\n\nMaciel disse que as ordens\nCumpriria fielmente\nE p’ra Paris embarcou\n\n—21—\n\nLevando o crime na mente;\nTencionando matar\nÁ quem astava innocente.\n\nJoão Maciel ao chegar\nEm Paris, logo entregou\nA carta a Esmeraldina\nQue leu-a e muito chorou,\nAo ver que Julio doente\nEm villa Munis ficou.\n\nMaciel ao Thesoureiro\nDeu a ordem que trazia\nE d’este então, recebeu\nTodo o dinheiro que havia\nNos cofres, e preparou-se\nPra voltar no mesmo dia.\n\nE quando voltou á casa\nEsmeraldina já estava\nPreparada p'ra seguir,\nE só por elle esperava;\nAmbos num carro partiram\nElle á parelha guiava...\n\nCom uma hora de marcha,\nJá o carro tinha vencido\nDuas léguas de caminho:\nJoão que ia prevenido\nEntrou por uma vereda,\nLugar p’ra o crime escolhido.\n\n—22—\n\nParou o carro distante\nUns cem metros da estrada\nEsmeraldina olhou-o\nUm pouco sobresaltadaL.\nEntão disse elle: A Senhora\nVai ser aqui sepultada\n\nPerguntou Esmeraldina\n—«Porque me queres matar\nDisse-lhe João Maciel\n—«Tú ouzaste atraiçoar\nA teu marido e esse crime\nVais com a vida pagar.\n\nTeu marido teve as provas\nDe que lhe havias trahido\nE então se considerando\nInjuriado e offendido,\nMando-me te assassinar\nsem que isso fosse sabido.\n\nDisse ella se a minha morte\nDá a meu marido prazer\nFaça-se a sua vontade\nPois quero o satisfazer\nE’ bastante que Deus saiba\nQue innocente eu vou morrer,\n\nMaciel disse: «Acredito\nQue a senhora está innocente\nNisto, porque a conheço,\n\n—23—\n\nSei que vive honradamente\nSó mato-a porque jurei\nSer a Julio obediente.\n\nE se prepare senhora\nQue eu quero logo matal-a\nEsmeraldina ajoelhou-se\nE então sem tremer a fala,\nFez a seguinte oração,\nPedindo a Deus p’ra salval-a.\n\n«Oh virgem da Conceição\nQue sois minha protetora\nVós sabeis que a meu marido\nEu nunca fui trahidora\nVinde amparar Santa Virgem\nVossa fiel servidora!\n\nE vós ó meu bom Jesus\nQue morreste p’ra salvar\nA ingrata humanidade\nVinde também me amparar.\nA vós entrego minh’alma\nNão deixeis ella ir penar.\n\nSenhor, vós que penetrais\nEm todos os corações\nE conheceis plenamente\nTodas as minhas acções\nDignai vos escutar,\nAs minhas deprecações.\n\n—24—\n\nAgora meu Redemptor\nQue toda a vos me entreguei\nVos peço que perdoeis\nComo eu já perdoei\nA Jlio e a Maciel,\nAos quaes não conderrmarei'..\n\nDisse alla a João Maciel\n— «Terminei minha oração\nAgora, podes cumprir\nA ordem de teu patrão\nQue para ti e p’ra elle\nA Deus já pedi perdão».\n\nMaciel lhe respondeu:\n—Eu me acho commovído...\nE de ter vindo matal-a\nEstou muito arrependido\njamais a assassinarei\nPorque não sou um bandido\n\nNão me deixa a consciência\nEsse crime praticar,\nE eu me acho indeciso\nSem saber como arranjar\nUm signal para ao patrão\nQue assassinei-a provar...\n\nEsmeraldina lhe disse:\n—«Darte-ei o signal então:\nCorta meus longos cabellos\n\n—25—\n\nE leva-os a teu patrão,\nQue ao vel-os elle acredita\nQue eu já durmo sob o chão...\n\nSangra um destes cavallos,\nTinge de sangue o punhal;\nE diz-lhe que do meu sangue\nTú lhe levaste um signal,\nTe affirmo que elle acredita\nQue és um amigo leal.\n\nDe Esmeraldina os cabellos\nMaciel todos cortou;\nUm dos cavaílos na bocca\nCom o seu punhal sangrou\nE com o sangue da ferida\nA folha d’arma molhou !\n\nE depois de Esmeraldina\nLigeiro se despidiu;\nTomou o carro outra vez\nE para as quintas partiu\nJulio Abel estava na porta\nQuando avistou-o sorriu...\n\nMaciel disse ao chegar:\n—«A’ sua esposa matei:\nVeja esse punhal molhado\nCom o sangue que lhe tirei\nE receba os seus cabellos\nQue ao enteral-a os cortei !\n\n—26—\n\nDisse Julio:—- Eu te acredito\nQue tu me foste leal;\nE sinto nojo em olhar\nP’ra os cabellos e o punhal;\nEnterra-os que elles me trazem\nUma lembrança fatal!...\n\nDeu elle a João Maciel\nA metade do dinheiro\nQue este trouxe de Paris\nE disse:—«Teu companheiro\nSerei de aqui até Roma,\nOnde irei ser forasteiro...\n\nEsmeraldina á cidade\nNa masma noite voltou,\nE sem que ninguém a visse\nElla em sua casa entrou:\nE a uma velha criada\nContara o que se passou.\n\nE pela mesma criada\nMandou depressa chamar\nA um medico seu parente\nEste não fel-a esperar,\nElla então do qne passou-se\nNada lhe quiz occultar.\n\nE disse a elle:—Amanhã,\nDeixarei esta cidade\nE quero que se ignore\n\n—27—\n\nA minha infelicidade\nDeus que me dá o martyrio\nMostrará, disso a verdade.\n\nHas de emprestar-me cem libras\nPreciso desta quantia\nE então disse a seu parente\nQue os prédios que possuia\nElle os entregasse a Julio\nSe o encontrasse algum dia.\n\nGarantiu fazer o medico\nO que ella tinha pedido\nDiria que Esmeraldina\nTinha desapparecido.\nDespidiram-se e depois\nElla mudou de vestido.\n\nE vestindo um traje de homem\nCaminhou até Cherburgo\nAli tomou um navio\nSaltou em S. Petesburgo,\nDe ali foi a Moscou\nDando o nome de Licurgo.\n\nLogo que chegou na Rússia\nAdoptou a profissão\nDe pintor e por ess’arte\nTinha tal predilecção\nQue lindos quadros pintou\nCo’ uma rára perfeição.\n\n—28—\n\nQuem conhecia Licurgo\nNão o julgava ser mulher\nE quem via seus desenhos\nDesejava o conhecer;.\nTanto que mui visitado\nera o seu atelier.\n\nLicurgo uma vez pintou\nUm quadro que figurava\nUm casal muito feliz\nQue mutuamente se amava;\nMais que o marido illudido\nMatar a esposa mandava !\n\nTodos quanto ali passavam\nPrestavam muita attencão\nA’quelle formoso quadro\nQue estava em exposição\nE alguns daquella esposa\nMostravam ter compaixão...\n\nUma vez a Czarina\nPassava no atelier,\nE vendo o quadro exclamou:\n— «Outro igual não pode haver\nPidiu-lhe o pintor licença\nP’ra o quadro a ella offrecer.\n\nAo receber esta offerta\nMuito alegre ella ficou;\nE logo para o palacio\n\n—29—\n\nO bello quadro mandou;\nO Czar vendo a pintura\nMuito se admirou !\n\nO Czar no mesmo dia\nMandou o pintor chamar,\nE fizeram um contracto\nPara Licurgo apagar\nAs pinturas de paiacio\nE outras novas desenhar.\n\nNo palacio do Czar\nDeixemos nós o pintor\nE voltamos para Londres\nEm busca do jogador\nQue illudiu Júlio Abel,\n—Adrião o trahidor.—\n\nQuando Adrião recebeu\nDe Julio os cinco milhões\nDisse comsigo:—«stou rico\nVou mudar de condições:\nVou gosar a minha vida\nEm estranhas regiões.\n\nEntão no dia seguinte\nFugiu da Ingleza cidade\nMurmurava elle:-—Si Julio,\nDescobrir-me a falsidade\nToma-me todo o dinheiro\nE mata-me sem piedade !\n\n—30—\n\nTomou um navio em Londres\nE foi saltar em Veneza\nDe ali, foi a Calabria\nDonde voltou com presteza,\nTrazendo sua mulher\nE ostentando lordeza.\n\nTendo chegado a Veneza,\nÁdrião no mesmo dia\nTomou ali um navio\nQue para a Rússia seguia:\nSaltou em S. Petesburgo\nFixando ali moradia.\n\nChegando em S. Petesburgo\nAdrião enviuvou;\nE algum tempo depois\nAli um hotel fundou,\nE quatro milhões de libras\nNum banco depositou.\n\nDeu elle a sua pensão\nO nome de «Hotel Paris»\nVamos deixal-o na Rússia,\nGozando a vida feliz\nE procurar Julio Abel\nQue está em Villa Muniz.\n\nJulio com João Maciel\nPara Italia viajaram,\nDesfarçados em artistas;\n\n—31—\n\nQuando em Roma chegaram\nDespediram-se um do outro,\nE logo se separaram.\n\nMaciel comprou um prédio\nCom uma mercearia;\nCasa que na capital\nMuito negocio fazia:\nTanto que elle em pouco tempo\nTinha grande freguezia.\n\nO banqueiro Julio Abel\nSeu apellido mudou\nPara Abdias de Andrade\nE desde então viajou\nSosinho em muitos paizes\nE grande somma gastou.\n\nViajou muito na Asia,\nNa África e na Oceania;\nPercorreu todo o Egypto.\nVisitou Alexandria,\nEsteve em Athenas—na Grécia,\nPasseou pela Turquia.\n\nVisitou muitas cidades\nDa Palestina tambem\nEsteve na Galiléa.\nEm Jericó em Belem;\nE quatro annos passou\nNa grande Jerusalém.\n\n—32—\n\nAbdias foi um dia \nO Calvario visitar\nE estando em cima do monte\nOuvio uma voz o chamar\nJulgou elle ouvir a fala\nDe Esmeraldina Alencar!...\n\nSentiu elle uma vertigem,\nE ali mesmo adormeceu\nE então viu Esmeraldina\nQue em sonhos lhe appareceu\nQuiz elle voltar-lhe a face,\n—Mas, ella o reprehendeu.\n\nDizendo então:—Julio Abel.\nPorque me tens tanto horror!\nPois tú não fingias ter-me\nUm illimitado amor ?\nPorque mandaste matar-me?\nDeste crença a um trahidor?\n\nFoste fraco em dares crença\nA um homem desconhecido\nA um infame trahidor\nQue te deixou illudido\n—Perdoa-me? exclamou elle:\nQue estou muito arrependido:\n\nAbdias despertou\nOuvindo ainda a vizão\nDizer:—«P’ra ti e Maciel,\n\n—33—\n\nA Deus já pedi perdão,\nE eu também vos perdoo\nDe todo o meu coração.\n\nElle ergueu-se inda tremendo\nComo que estava assombrado\nSentindo-se arrependido\nDe ter a esposa matado!\nE ouvindo ainda a voz della\nDizer-lhe:—«Estás perdoado.\n\nAli mesmo elle ajoelhou-se\njunto ao canto onde se ergueu\nA cruz em que Jesus Christo\nPara nos salvar morreu,\nE exclamou:—Senhor Deus\nPerdoai o crime meu.\n\nMeu Jesus que derramaste,\nO vosso sangue divino,\nNeste monte p’ra salvar\nAo homem tão pequenino,\nDignai-vos senhor meu\nPerdoar este assassino!...\n\nAbdias resolveu\nAo depois desta oração,\nIr a cidade de Londres\nEm procura de Adrião;\nPois, que este o tinha trahido,\nDizia-lhe o coração.\n\n—34—\n\nNâo encontrou-o em Londres\nMas sendo elle Calabrez.\nAbdias regressou\nPara a Italia, desta vez\nPercorreu toda Calabria\nNo percurso de um mez,\n\nNa Calabria lhe enformaram\nQue Adrião d’ali levou\nA esposa, e ha muito tempo\nEm Veneza embarcou;\nNinguém lhe soube dizer\nQue destino elle tomou.\n\nAbdias em Veneza\nTomou uma embarcação\nQue na noite deste dia\nSeguia para o Japão:\nFoi a Tokio e lá, não teve\nNovas do tal Adrião!...\n\nQuando elle ehegou em Tokio\nJá não tinha mais dinheiro;\nE se vendo em terra alheia\nComo um simples forasteiro,\nViu-se obrigado a abraçar\nO officio de Jardineiro.\n\nMais de quatro annos passou\nAbdias no Japão\nDe ali, seguio para a Rússia,\n\n—35—\n\nTendo firme a pretenção\nDe percorrer o Paiz\nEm procura de Adrião.\n\nPor esse tempo na Rússia,\nUma guerra rebentou:\nDe S. Peterburgo o povo\nEm maça se levantou\nContra o Czar que imperava\nNa cidade de Moscou.\n\nDe encontro aos revoltosos\nFoi um batalhão guerreiro\nPorem sendo derrotado,\nO Czar, mandou ligeiro\nSeguir outro batalhão\nQue morreu como o primeiro.\n\nO Czar se preparou\nPara também ir lutar...\nPorem o pintor Licurgo\nVendo elle a vida arriscar,\nPediu-lhe para ir também\nComo seu auxiliar.\n\nVendo o Czar que Licurgo\nEra um amigo leal\nDisse-lhe:—Vai que eu fico;\nirás feito general\nE se venceres serás\nConselheiro Imperial:»\n\n—36—\n\nChegou Licurgo com as tropas\nNa cidade revoltada,\nE ao chefe dos revoltosos\nMandou logo uma embaixada\nDizendo que de seu lado\nA guerra estava acabada.\n\nE pedia aos revoltosos\nPara na cidade entrar;\nEstes, a bandeira branca\nVendo elle alevantar,\nTodos baixaram as armas\nNinguém uzou mais brigar!...\n\nLicurgo levava ordens\nPara tudo resolver\nEntão disse aos revoltosos;\n—«Eu, venho a paz vos trazer\nE a todos deu anistia\nSem a ninguém offender!...\n\nBaixou um decreto de paz\nQue por todos foi acceito\nDepois mandou ao Czar\nContar o que tinha feito,\nFicando o Czar com elle\nAinda mais satisfeito.\n\nMandou Licurgo que as forças\nVoltassem para Moscou;\nE elle em S. Petersburgo\n\n—37—\n\nSeis dias se demorou\nforam seis dias de festas\nQue o povo lhe dedicou !\n\nUma vez em que Licurgo\nPasseiava na cidade, .\nViu o grande Hotel Paris\nQue era de propriedade\nDe Adrião e nelle entrou\nSó por curiosidade.\n\nAdrião o recebeu,\nMuito longe de pensar\nQue aquelle general fosse\nEsmeraldina Alencar,\nA esposa que elle trahira\nPara uma aposta ganhar.\n\nEntão ofresceu cerveja\nE o general acceitou:\nA este, as salas do prédio,\nAdrião todas mostrou\nViu Licurgo uma vidraça\nQue a sua attenção chamou!\n\nTinha dentro da vidraça\nDuas caixinhas douradas\nCom duas formosas joias\nDentro dellas colocadas\nE cada uma das joias\nCom duas letras gravadas.\n\n—38—\n\nEra o anel e a redoma\nQue outr’ora. Adrrão roubou:\nDe Esmeraldina Alencar\nQuando em sua casa entrou;\nConheceu Licurgo as joias;\nE a Adrião perguntou:\n\n—«Amigo estas duas joias\nQue vejo tão delicadas,\nDiz-me a qual joalheiro\nForam as mesmas compradas ?\nDisse Adrião—«Não comprei-as,\nForam a mim offertadas.»\n\nE disse então que em Londres\nGanhou de um tal Julio Abel\nCinco milhões, por provar\nSer-lhe a esposa infiel!\nE que a mesma em Paris\nDeu-lhe a redoma e o anel.\n\nLicurgo então conheceu\nSer Adrião o autor\nDo roubo daquellas joias.\nE que aquelle trahidor,\nFez Julio mandar matar\nA esposa a quem tinha amor.\n\nEntão o nobre general,\nFingiu que ignorava\nA historia mentirosa\n\n—39—\n\nQue Adrião lhe contava,\nDisse que de su’astucia\nMuito se admirava\n\nE disse:—«Amigo Adrião\nAmanhã devo voltar\nA’ Moscou, onde um banquete\nVai me of'recer o Czar\nE desta festa eu desejo\nVê você participar.\n\nAdrião com muito gosto\nA Licurgo acompanhou\nE a este, pelo caminho\nMil aventuras contou.\nCom grande recepção\nEntrou Licurgo em Moscou.\n\nFazia já quatro dias\nQue a Moscou tinha chegado\nO jardineiro Abdias\nE fôra então, empregado\nNos jardins da Czarina\nGanhando um bom ordenado.\n\nNa occasião do banquete\nPediu Licurgo ao Czar,\nLicença para Adrião\nAli, a historia contar\nDe uma aposta vantajosa\nQue elle conseguiu ganhar.\n\n—40—\n\nAdrião a historia,\nJá differente daquella\nQue contara ao general,\nSem vê que duma janella\nO jardineiro Abdias\nPrestava attenção a ella\n\nAbdias no jardim\nEstava as plantas regando\nMas de ali, vendo Adrião\nA historia ao Czar contando\nSe amparou da janella\nE tudo estava escutando.\n\nAbdias conheceu\nAdrião e quiz entrar\nNa sala e mesmo na meza\nEsse infame apunhalar \nE não fez porque estava\nNa presença do Czar!\n\nMais se apresentou na sala\nE disse:—«Eu sou Julio Abel;\nVenho dizer que a historia\nDe Adrião não está fiel...»\nLicurgo reconheceu...\nO seu marido cruel!...\n\nAdrião quando viu Julio\nTambém o reconheceu...\nO general levantou-se\n\n—41—\n\nE disse aos dois—Serei eu\nO juiz desta questão;\nContem tudo o que se deu.\n\nViu-se obrigado Adrião\nA descobrir a verdade\nDisse que ganhou a aposta\nPor meio da falsidade\nE que ficou Esmeraldina\nCom a sua honestidade.\n\nJulio Abel ouvindo isso\nExclamou quasi a chorar:\n—E’s um infame traidor;\nEu por ti acreditar,\nMandei a Esmeraldina\nCruelmente assassinar!...\n\nDisse então o general\n—Esmeraldina está viva !\nDeus não deixou que a ferisse\nA tua mão vingativa!..\nE esperem que ella já vem\nOuvir essa narrativa!...\n\nDisse isso e sahiu da meza\nE no seu aposento entrou,\nDespiu a farda e o traje\nDe mulher se aprontou\nE em menos de dez minutos\nNa sala se apresentou.\n\n—42—\n\nVendo-a Julio assim vestida,\nTambém a reconheceu,\nE se ajoelhando, lhe disse:\n—Apunhala o peito meu!\nQue o teu perdão não merece\nQuem tantas maguas te deu!...\n\nDisse-lhe ella:—Ha oito annos\nQue por mim estás perdoado\nE tenho rogado a Deus\nQne perdoe-te este peccado;\nPois eu sabia que tú\nHavias sido enganado.\n\nAdrião vendo estas scenas,\nLevantou-se quiz correr,\nMais o Czar o deteve\nE mandou logo o prender:\nE disse: Amigos eu quero\nEssa questão resolver.\n\nDisse então Esmeraldina:\n—«Levanta-te Julio Abel\nRecebe outra vez a mão\nDe tua esposa fiel,\nQue Deus vos dê outra vez\nSegunda lua de mel!...\n\nRespondeu-lhe Julio Abel:\nJá que me deste o perdão,\nVamos voltar para a França\n\n—43—\n\nMorar em Paris então;\nMas vou primeiro vingar-me\nDo trahidor Adrião\n\nEsmeraldina lhe disse:\n«P’ra acompanhar-te estou prompta;\nMas te peço que a Adrião\nPerdões essa grande afronta;\nNós perdoamol-o, e Deus\nDos seus actos tome conta!...\n\nJulio disse: «Eu desejava\nDo trahidor me vingar\nPorem tú me perdoaste,\nTambém devo perdoar!...\nOs cinco milhões somente\nDelle eu quero reclamar».\n\nAssistiu todo esse drama\nO trahidor Adrião,\nSem de nada commover-se,\nSem implorar o perdão!\nO Czar ergueu-se e disse\n—«Vou resolver a questão!\n\nE disse elle: Este casal\nMerece muito louvor...\nPorem a minha justiça\nCastiga ao malfeitor\nE não ha lei neste Império\nQue perdoe ao trahidor!\n\n—44—\n\nPortanto todos os bens\nDe que dispõe Adrião\nSerão entregues a julio\nPorque delle todos são;\nE o infame trahidor!\nSerá queimado hoje então!\n\nE uma grande fogueira\nMandou fazer o Czar,\nE Adrião dentro della\nVivo mandou atirar!...\nE mandou que as cinzas delle,\nFossem lançadas no mar!\n\nFoi Julio a S. Petersburgo\nPara ser reembolçado.\nDe seis milhões que Adrião\nNum banco havia botado\nE tomou conta do hotel\nQue Adrião tinha comprado.\n\nJulio vendeu o hotel\nE com a esposa voltou\nA’ capital de Paris;\nE novamente tomou\nPosse de tudo qu’ao medico\nEsmeraldina entregou.\n\nAbriu Julio um novo banco\nNa capital de Paris\nE longos annos viveu\n\n—45—\n\nEsse casal mui feliz\nRendendo graças a Deus\nQue foi desse drama o juiz.\n\nFoi a Roma Julio Abel\nResolvido a procurar\nAli, a João Maciel,\nNão foi custoso encontrar\nConseguiu Julio que João\nInda o acompanhasse então\nSendo do seu banco socio\nCom essa nova união\nO banco fez bom negocio.\n\nDepois da nova união\nO venturoso casal\nTeve ainda quatro filhos.\nEra esse o principal\nDesejo dos dois esposos\nQue completaram o ideal.\n\nMandaram dar aos filhos\nPrimorosa educação\nLhes ensinando os preceitos\nDa christã religião\nElles herdaram dos paes\nRiqueza, honra e brasão.\n\nFIM\n\nSecção de Livraria\n\nLivros de Instrucção, Re-\nligiosos, Litteratura, «Poesia,\nArtes, Novellas, Folhetos, Ora-\nções, Livros em branco, Ca-\ndernetas, Talões e Guias, Pa-\npel para cartas, almaço e\nenvellopes.\n\nCartões Postaes, gelatina-\ndos e Fantaziados.\n\nVendas em grosso e a retalho.\n\nPopular Editora\n\nSECÇÃO TIPOGRAPHICA\n\nImpressão nitida e capri-\nchosa de:—Cartões de fanta-\nzia, participações, visita, cartas\nde convite etc.\n\nTimbramento de papeis\npara correspondência, Blocos\nCommerciaes, Envelopes, Fac-\nturas, rotulos, etiquetas, etc.\netc.\n\nPopular Editora\n\nSecção religiosa\n\nLivros de missa e orações\nsimples e ricamente encader-\nnados proprios para presentes.\nDeposito de todos os livros\nchristãos do centro da Bôa Im\nprensa e das Vozes de Petro-\npoles. Manuaes de devoções,\n\nfolhetos de novenarios diver-\nsos.\n\nTerços madreperolados\nprateados e simples.\n\nMedalhas, bentos, cruxi-\nfixos, corôas, etc.\n\n[Em branco]\n\nEDIÇÕES\n—DA—\n“POPULAR EDITORA”\nLivros com grandes descontos aos reverendos\n\nPoesias Escolhidas— 3a Edição 3$000\n\nHist. completa de Alonso e Marina 2$000\n\nHist. completa de Antonio Silvino 1$500\n\nHist, da Donzella Theodora e Porcina 1$500\n\nHist. de Esmeraldina — Traição e Vingança 1$500\n\nHist. completa de Carlos Magno em versos 1$500\nHist. do Sertanejo Zé Garcia 1$500\n\nGrande Peleja de Joaquim Francisco com o\n\nDemonio / $800\n\nCombate de João Melchiades com um\nPastor Protestante $800\n\nOs decretos ds Lampeão $400\n\nHist. completa de Lampeão contendo o Fecha-\nmento de seu corpo e o pacto com o Diabo $400\nHist. de Zezinho e Mariquinha $800\n\nO Capitão do Navio $500\n\nO Desabamento do Monte Serrat em Santos,\npor castigo de N. Senhora $400\n\nO Mundo as Avessas O povo na Cruz $400\n\nO Assalto de Lampeão a Mossorò\nonde foi derrotado $400\n\nMartello de Antonio da Cruz com \n\nJoaquim Francisco $400\n\n\n\n\nOs pedidos podem ser dirigidos a:\n\nF. C. Baptista Irmão\n\nRUA DA REPUBLICA, 584\n\nPARAHYBA DO NORTE"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-034",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Salvação do Rio Grande do Norte! - Quem Salvará? Ferreira Chaves? Ou José da Penha? / As Orações de Antônio Silvino",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": [
1913
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"34",
"Palavras-chave": "Rio Grande do Norte; política; Estado; governo; jornais; banditismo; arte; oração; encomendar; devoção;",
"Tema": "Promessas de um futuro para o Rio Grande do Norte; o poder e a necessidade de orações",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nF. C. Batista\n\nA SALVAÇÃO DO Rio Grande do Norte!\nQuem salvará?\nFerreira Chaves?\nou José da Penha?\n\nAS ORAÇÕES DE ANTONIO SILVINO\n\nVende-se na rua da Republica n. 65\n\n0 Autor reserva seu direito propriedade\n\nTyp. da Livraria GONSALVES PENNA & Ca.\n59—RUA MACIEL PINHEIRO—59\nPARAHYBA DO NORTE\n\n1913\n\n[Em branco]\n\nA SALVAÇÃO DO Rio Grande do Norte\n\n\nCapitão José da Penha,\nPrometeu que salvaria\nO Rio Grande do Norte\nDo jugo d’oligarquia,\nQue domina aquêle Estado\nCom audacia e ouzadia !...\n\nA familia Maranhão\nE’ quem está governando\nAquêle pequeno Estado,\nQue agora vai se ajitando;\nE com salvação politica\nMuito cêdo vai sonhando!\n\nJosé da Penha estava\nHa muitos tempos auzente\nDe sua terra natal,\nA política indiferente;\nMas pr’a salvar seu Estado,\nD'oposição está na frente.\n\n—2—\n\nOs oposicionistas\nPediram-lhe pr’a aceitar\nO lugar de Presidente\nPr’a o estado governar;\nPorque só um como ele\nOs poderia salvar.\n\nO partido governista\nJá havia apresentado,\nQ Dr. Ferreira Chaves\nPara ser ali, votado\nNas eleições de Setembro,\nPr’a governador do Estado.\n\nA Familia Maranhão\nTem sabido governar\nA esse estado do Norte.\nDevo aqui mencionar\nSens feitos para que todos \nPossam bem analisar».\n\nA capital do Estado\nTem muitos milhoramentos:\n—Avenidas e jardins,\nBond, luz e calçamentos;\nBons cinemas e theatros\nOnde ha mil divertimentos.\n\nDirão que foi com impostos\nQue tudo isto foi feito;\nPorem vemos que o governo\n\n—3—\n\nD'ali não tem o defeito\nDe roubar! Dos Maranhãos\nNunca fez-se esse conceito.\n\nUma vês que está provado\nQue n Familia Maranhão\nE’ uma familia onésta,\nEu, posso afirmar então,\nQue da sua oligarquia\nHavia ali precisão.\n\nMas como o ser oligarca\nE’ ser desobidiente\nAos preceitos da Republica,\nQue vivia indiferente\nA isso, porem agora\nQuer andar corretamente.\n\nE é por esse motivo\nQue se atreve a opposição,\nA defender seus direitos\nNas urnas duma eleição;\nEnfrentando ouzadomente\nA familia Maranhão !\n\nO Partido governista\nDiz que está muito firmado !\nQue o Dr. Ferreira Chaves,\nNo Rio, é o considerado...\nE que só êle é capaz\nDe endireitar o Estado...\n\n—4—\n\nA oposição, diz que o Penha\nE’ um distinto oficial\nDo exercito Brazileiro;\nE amigo do Marechal\nQue dirije actualmente\nO Governo Federal.\n\nChaleiras afirmão que\nNo Dr. Ferreira Chaves\nNunca ninguém encontrou\nDefeitos simples ou grave;\nE, que as suas promessas\nSam francas e agradaves.\n\nO «Diário de Natal»\nDiz que o Zé da Penha é ,\nUm Capitão de prestigio\nQue merece muita fé;\nE que não irá a pique\nSua barca de Noé.\n\nDiz mais que os governistas\nEscravisaram o Estado;\nQue o povo Rio-grandense,\nVive hoje subjugado\nA um regime despótico\nPelos os Maranhãos plantado.\n\nAfirma que os governistas\nVédão toda a liberdade\nAo povo da oposição\n\n\n—5—\n\nLhe preterindo a vontade !...\nE que as eleições ali\nNão teem legalidade.\n\nDiz finalmente o Diário\n—Que ali, não ha garantia,\nQue os dominantes da teirra\nCom sua suberania,\nA liberdade do voto\nNas urnas asfixia!...\n\nA «Republica» protesta\nTudo o que diz o diário;\nAfirma que aquéla folha\nEmprega um vocabulário\nCheio de grandes mentiras,\nNocivo e encendiario!\n\nLeio todos os jornaes\nMas não formulo conceitos;\nNão os conheço e não sei\nQuem tem dotes ou defeitos;\nApenas digo que votem\nNos que forem mais perfeitos.\n\nO Capitão Zé da Penha\nE’ valente e decidido,\nE é pelos municípios\nDo Rio Grande acolhido.\nGarante que o dr. Chaves\nNas uruas será vencido.\n\n—6—\n\nO Dr. Ferreira Chaves,\nJá uma vês governou\nO Rio grande do Norte,\nE a todos muito agradou;\nSeu programma de governo\nJá na imprensa publicou.\n\nDisse que no seu governo\nTodos serão acolhidos;\nQue os inimigos políticos.\nNão hão de ser perseguidos\nE que da oposição,\nSerão os votos garantidos.\n\nPromete que ao encino\nDespensará proteção;\nAuxilia agricultura\nFacilita á creação;\nEvitará que ao comercio\nSe faça perseguição.\n\nO Capitão Zé da Penha\nInda não quis publicar\nSeu programma de governo;\nMas eu já ouvi contar\nQue é semilhante ao do Chaves\nO seu modo de falar.\n\nOs que votarem com êle,\nImpostos não pagarão!\nGosará mil regalias\n\n—7—\n\nO povo da oposição...\nPerseguirá o banditismo\nDuplicará a instrucção.\n\nEm vista de taes promessas\nSe todos dois governassem,\nTalvez que os Rio-grandenses\nCom isso muito ganhassem;\nNo caso quêles se unissem\nE nem por sonho brigassem!\n\nFaço aqui ponto final\nE espero a eleição;\nPorque se houver encrenca\nConto aos leitores então...\nDarei bravo a quem ganhar,\nPorem d'outra occasião.\n\nA Lira do Poéta, é o unico livro\nde versos que agrada a todos; o milhor\ne mais barato livro de poezias.\n\n\nAS ORAÇÕES\n\nDe Antonio Silvino\n\nTenho carta de doutor\nNa arte de cangaceiro,\nDesempenho com perícia\nO lugar de quadrilheiro;\nTanto que quem me conhece\nJura que eu sou mandingueiro.\n\nO povo diz geralmente \nQue eu tenho protecção,\nPorém o povo se engana\nPorque eu tenho é precaução: \nFaço serviço bem feito\nE fujo á perseguição.\n\nDa arte que desempenho\nConheço toda a escala:\nSei livrar-me de cacete\nDe ponta de faca e bala,\nQuem me enfrentar, se não for\nMui perito arrasta a mala,\n\nEu, para me defender\nTenho fortes orações\n\n—9—\n\nQue já me tem livrado\nEm varias occasiões,\nDos inimigos que exercem\nContra mim perseguições!\n\nMinhas orações me livram\nDe a policia me prender,\nE já me tem livrado\nMuitas vezes de morrer:\nDas orações a melhor\nQue eu sei é a de S. Côrrer!\n\nA oração de S. Correr\nConsiste em ser esperto,\nTer forca e geito nas pernas,\nPé ligeiro e pulo certo;\nTer folego para fugir...\nAté sair do aperto...\n\nA oração de S. Ligeiro\nPeso quando vou brigar,\nEsta oração é tão forte\nQue faz bala me errar,\nCacete não me bater\nE faca não me furar!\n\nEssa oração consiste\nEm ter muita agilidade;\nSaber dar pulos enormes\nCom immensa velocidade:\n\n—10—\n\nSó a desempenha bem\nQuem tem muita abilidade.\n\nTodo dia me encomendo\nÂo velho S. Traiçoeiro,\nS. Brabo, S. Vigilante\nE a S. Escopeteiro,\nEste ultimo faz meu rifle\nFicar com o tiro certeiro.\n\nEncomendar-se a S. Brabo\nConsiste em ser valente,\nArruaceiro e perverso,\nAtrevido e insolente.\nResar p’ra S. Vigilante,\nE' ser muito experiente!\n\nOrar a S. Escopeteiro\nConsiste em ter a mão certa.\nO indicador ligeiro,\nVista boa e bem esperta:\nOrar a S. Traiçoeiro\nE ir sempre em hora incerta\n\nTambém tenho devoções\nCom Santo Desconfiado\nNão me esqueço de resar\nPara o velho S. Cuidado:\nAo velho S. Dorme-pouco\nSou bastante afeiçoado!...\n\n—11—\n\nOrar a S. Dorme-pouco,\nE’ viver sempre acordado,\nEnganando ao velho somno,\nA oração de S. Cuidado\nConsiste em estar ’activo\nComo quem vive assustado.\n\nEu também sei fazer magicas\nDe um prompte resultado\nCom estas magicas já tenho\nMuitas vezes me livrado\nDe cair na esparrela\nQue o inimigo tem armado !...\n\nO Sabio S. Cypriano\nE’ o meu advogado,\nA magica branca e preta\nSeu livro tem me ensinado,\nTanto que mais de mil vezes\nEu me tenho encantado\n\nA magica do gato preto\nE’ sempre a que me encanta;\nEssa magica é tão forte,\nA sua força é tanta\nQu’eu a fazendo, o imigo\nContra mim não se levanta.\n\nQuando eu faço esta magica\nDe ser visto fico isento:\nPasso em qualquer emboscada,\n\n—14—\n\nDeve se confessar logo:\nPorque se não for perito\nGaranto ganhar-lhe o jogo.\n\nNão tenho em meus companheiros\nUma confiança inteira,\nSó confio em minhas armas,\nE em minha cartucheira,\nE na arte que aprendi,\n—Minha fiel companheira...\n\nVivo qual «Judeu Errante»,\nSem ter descanço na vida:\nHa muitos anos que as tropas\nAndam na minha batida,\nMas se ellas não teem quengo\n—Dão a viagem perdida!\n\nSei que não ficarei velho\nPorque não posso ficar:\nSi o governo não poder\nCom minha vida acabar,\nQuando entender de morrer\nHei de me suicidar!\n\nEu estou hoje excluído\nDa ordeira sociedade,\nPorque o povo tera medo\nDe vêr a minha entidade\nEmbora que eu só mate\nA quem me tem inimisade.\n\n—15—\n\nVivo qual negro fugido\nPelas brenhas amoitado:\nSou companheiro da onça,\nDa serpente e do veado\nFelizmente para as cobras\nEu tenho o corpo fechado!\n\nNão considero minh'alma\nInteiramente perdida,\nPorque si existe inferno\nEu já vivo nele em vida!\nNão ha maior sofírimento\nQue o viver do homicida!...\n\nNem ao menos um momento,\nEu repouso socegado,\nTemendo continuamente\nSer pelas tropas cercado:\nFelizmente com esta vida,\nEu já estou acostumado...\n\nSi durmo vejo em sonhos\nPhantasmas ensanguentados.\n— Ex-homens que por mim foram\nCruelmente assassinados!—\nPedindo justiça a Deus\nPara os meus grandes pecados!...\n\nVejo mulheres de luto\nVertendo lagrimas ardentes\nPelo esposo que matei;\n\n—16—\n\nVejo bandos de inocentes\nExpostos á orfandade,\nTrapilhos e indigentes.\n\nDepois me sinto ajoelhado\nAos pés dum juiz superno\nQue me diz severamente:\n—Volta para o teu inferno,\nQue o teu castigo é soffrer\nPerseguição do governo!...\n\nRetiro-me e para onde espio\nVejo um espectro ensanguentado,\nDizendo-me: Homicida,\nPor ti fui assassinado,\nMas, para o teu remorso,\nEstarei sempre a teu lado!\n\nDesperto horrorisado\nCom este sonho e então\nSaio do meu esconderijo\nImmerso em má impressão,\nComo quinda ouvindo espectros\nA lançar-me maldição...\n\nMas inda não arrependi-me\nDe ter me feito assassino,\nPorque si esta é minha sorte,\nEu obedeço ao destino,\nAté que fique imortal\nO nome—Antonio Silvino!\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-035",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Os Milagres de Bento Bebiribe e o Enterro da Medicina! / Conclusão da Historia (sic) do Capitão do Navio.",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": [
1913
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"35",
"Palavras-chave": "Ciência; água fria; milagre; cura; doente; remédio; Brasil; envenenar; capitão; comparsa; navio;",
"Tema": "A história de um curandeiro milagroso; conclusão da história do Capitão do Navio",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nFrancisco das Chagas Batista\n\nOs Milagres do BENTO DE BEBIRIBE\n\ne o enterro da MEDICINA!\n\nConclusão da Historia do Capitão do Navio.\n\n\nVende-se na Rua da Republica n° 65\n\nO autor reserva seus direitos de propriedade\n\n\nTyp. da Livraria GONÇALVES PENNA & Ca.\n59—RUA MACIEL PINHEIRO—59\nPARAHYBA DO NORTE\n1913\n\n[em branco]\n\nOs Milagres do Bento\nDE\nBebiribe e o Enterro da Medicina,\n\nSrs. no ceculo vinte,\nTudo nós temos de ver:\nOs progressos da scieneia\nSão tantos, que fazem crer\nQue não se esgota o invento;\nPois temos agora um Bento\nQue nos livra de morrer !!\n\nNão quero dizer com isso,\nQue êle nos Taça imortal,\nApenas digo e afirmo\nQue a todo e qualquer mal;\nCom agua fria êle cura;\nE se um doente o procura\nNão gasta nem um real!\n\nDiz elle:—Com agua fria\nCuro quase o povo todo:\nSeja cégo ou aleijado,\nSeja mudo, ou Seja doudo:\nSe o mal não for do nascença,\nE o christão tiver creança,\nVoltará sadio e gordo !\n\nDevido a esses prodijios\nChamam êle—O Milagroso.\nUns dizem que êle é de Deus\nE outros, que é do tinôso... .\nQue faz milagre —está visto!\nE não é ante Cristo,\nPorque êle é religioso ....\n\n— 2 —\n\nMuita gente dez que Bentor\nE’ de Cristo um mensajeiro\nQue, veio dar aos doentes\nUm alivio passajeiro,\nSó enquanto Deus quizer,\nPois quando a morte vier,\nMata o proprio curandeiro.\n\nEle disse que curava\nPor meio de espiritismo,\nMas, outros dizem que isso\nE’ puro maguinitismo.\nEu, nada digo:—a credito\nQue ele seja perito\nEm matéria de ocultismo.\n\nDiz êle que lá no Acre\nCom um indio velho aprendeu\nO segreda de curar;\nE diz que inda não morreu.\nNem um que esteja doente- \nE lhe seja obidiente\nTomando o remedio seu !\n\nO Jeneral Dantas Barreto\nTinha uma filha doente,\nQue todo o recurso medico\nFoi p'ra cural-a impotente.\nCom um frasco d´'agua do Bento,\nCurou o seu soffrimento;\nTem saude atualmente !\n\nChegou lá um pobre velho\nQue tinha um beiço rachado,\n\n— 3 —\n\nUm olho fora da orbita,\nUm quarto desconjuntado!\nDisse-lhe Bento:—Idso é nada\nE deu-lhe uma garrafada,\nDeixou-o moço e curado !...\n\nHenrique de Itabaiana\nStava có’uma banda morta;\nJá não podia falar\nPorque tinha a lingua torta:\nSó um frasco d'agua do rio,\nStá hoje gordo e sadio,\nCorre e salta qualquer porta !\n\nTinha uma velha uma sarna\nQue já stava descascado;\nSofria Bôbas e dartros,\nTinha a barriga furada !\nBento deu-lhe uma mezinha\nQue tirou-lhe todo a tinha\nDeixou-a môça e sarada !...\n\nO Bento cura bubonica.\nBexiga e febre amarela,\nSifres, tisica e morféa,\nCancro, bôba erisipéla,\nAmorroidas, étirice,\nAsma, nervoso, calvice\nE qualqual doença de guéla.\n\nCura diarréa e sarampo,\nSarna, Goma e reumatismo,\nMordidura de serpentes,\nLoucuro e idiotismo\n\n— 4 —\n\nLepra surdês e cegueira,\nHérnia, escorbuto gafeira\nParalizia, esterismo !...\n\nJá tem tirado feitiço\nE curado idrofobia;\nJá fez butar solharia,\nE curou idropesia\nCom agua pura da fonte\nCura espasmo e mal de monte\nGarrutilho e anemia!...\n\n0 Bento para eurar,\nBasta qualquer eamaráda\nMandar-lhe escripto seu nome\nE, o lugar da morada;\nE depois guarde a dieta,\nQue a cura é rapida e correta,\nPorque isto é coisa provada.\n\nJá tem mandado agua benta\nF’ra a capital do Pará,\nAcre, Manáus, Maranhão,\nRio Grande e Ceará,\nParaiba e Alagôas,\nJá tem curado pessoas.\nDe Sergipe e Paraná !...\n\nJá curou gente de Minas,\nS. Paulo e Rio de Janeiro,\nE do Rio Grande do Sul;\nAfinal no Brazil inteiro\nDá remedio ao povo em massa;\n\n— 5 —\n\nE a tôdos cura de graça\nPorque ele não quer dinheiro.\n\nE se alguém quer lhe pagar,\nDiz êle:—«Basta um tustão;\nE só aceito esse mesmo\nPor ser p’ra alimentação\nDe alguns doentes que trato;\nPois muitos dormem no mato\nPor não terem abitação.»\n\nUma sogra chegou lá,\nEstava endimoniada!\nCom o Diabo no corpo;\nJá tinha sido curada\nPor um biato e um Padre\nUm sacristão e um Frade\nQue não arranjaram nada...\n\nPorque o diabo qu'éla tinha\nEra quenguista e arisco:\nJá tinha levado surras\nDe cordões de S. Francisco!\nPorem quando viu o Bento,\nFoi dizendo: Não te aguento!\nVou procurar outro aprisco\n\nBento deu remedio á velha,\nEla depois de beber\nPariu um bicho tão feio\nQue não o sei descrever!...\nO Bento, num frasco então,\nButou-o em esposição\nPara quem o quizer ver!...\n\n— 6 —\n\nAs aguas do Bebiribe\nUm doutor envenenou\nPara ver se o enrascava,\nPorem muito se enganou\nPorque Bento conheceu,\nE a agua a um burro deu;\nEste, a canéla asticou;\n\nDisse ele: As aguas do rio\nEnvenenadas estão!\nE ali, na vista de todos\nPoz-se a fazer oração...\nRezou quase meia hora,\nDepois disse: Bebam agora\nQue éla só mata pagão!\n\nRemedio para um menino\nUma creada levou;\nNo caminho, um farmacêutico\nAo remedio envenenou...\nA creancinha bebeu\nE no mesmo instante morreu;\nMas Bento não se enrascou.\n\nDenunciaram de Bento\nPor ter morrido a creança\nPorque os médicos queriam\nExercer uma vingança!...\nA policia inda o prendeu\nMas depois se arependeu\nSoltou-o logo sem tardança.\n\nAs praças que o guardavam\nNa casa de detenção,\n\n— 7 —\n\nOuviram êle falando\nA’ noite co'uma visão!\nA policia se assombrou;\nDisse êle: Alguém me avisou\nQue amanhã saio da prisão.\n\nNo outro dia bem cedo\nMandaram a ele soltar;\nEntão, houve em Beberibe\nUma festa popular, -\nO povo se aglomerou\nE em braços não o levou\nPor ele isto rejeitar.\n\nOs médicos de Pernambuco\nEstão procurando um meio\nDe prossessarem de Bento;\n— Dizem que êle de permeio,\nMeteu-se na medicina,\nE que, trazer a ruína\nA’ mais de cem médicos veio.\n\nDepois que Bento chegou\nMedico não viu mais dinheiro;\nAs coisas ficaram prêtas,\nO cobre ficou vasqueiro....\nNinguém mais se receitou\nFarmacia a porta feixou;\nPorque Bento é verdadeiro.\n\nNunca mais uma farmacia\nDespaxou uma receita;\nO farmaceutico a fazer\nNem uma pílula se ajeita\n\n— 8 —\n\nJá vivem cheios de tédio\nPorque só vendem remédio\nA’ gente da nova ceita.\n\nPorque Bento aos nova ceita\nNão gosta de dar mezinha,\nPorque quando morre um dêles\nSe acaba um pouco de tinha;\nDesaparece a desgraça,\nPois se acabando essa raça\nO mundo a melhorar vinha\n\nOs médicos andam em grupos\nProcurando pela praça\nAlguém que esteja doente\nQue uma consulta lhes faça;\nPorem o povo com tédio\nDêles não querem remedio\nInda que deem de graça!..\n\nMuitos doentes já teem\nFugido do hospital;\nEscalam os muros á noite;\nProcuram Bento, afinal,\nEle lhes dá agua fria,\nE todos com alegria\nFicam izentos do mal!\n\nTambeín já ,teem fugido\nDoudos da Tamarindeira;\nChegam na casa de Bento\nEle cura-os da lezeira,\nDar-lhes juizo outra vez\n\n— 9 —\n\nAgora, ele tirou três\nDiabos, d'uma feiticeira!!\n\nNos hospitaes do Recife\nNão entrou mais um doente,\nPorque se adoece alguém,\nBento cura de repente\nSeje a doença qual for,\nE’ dispensado o doutor\nSó Bento é sufficiènte.\n\n\nEsperem a historia completa de Esmeraldina—Traição\nVingança e Perdão — E´' o milhor romance popular ver-\nsado.\n\nLEITORES!\n\nQuem de entre vós não aprecia a\npoezia?\n\nQuem não consagra um pouco de\namor a essa Deusa que embalara os so-\nnhos de Camões, de Bocage, Dante, Ho-\nmero, Castro Alves e Casemiro de Abreu?\nQuem não admira a musa que inspira\nos versos do immortal e incomparável\nGuerra Junqueiro ?!\n\nPois bem, na ‘‘Lira do Poeta encon-\ntrarás as milhores poesias da nossa lin-\ngua; como sejam: “O Naufragio do Baía”\nde Segundo Vanderlei.\n\nO “Orfão” de Guerra Junqueiro, e\nmuitas outras belas poesias. E’ o unico\nlivro onde acharás o verso e sua paró-\ndia.—Vende-se a 1$000 na “Casa Popu-\nlar’’—Rua da Republica n. 65.\n\nConclusão do Capitão do Navio\n\nAhi fallou o marido\nQue se achava presente?\nComo acima ficou dito\nO leitor está sciente\nQue elle acerca d’um anno\nEra do reino gerente\n\nPermittaes que eu vos falle\nReal Senhor, Nobre Rei\nSinto tanta commoção\nque como falle não sei\nEsta é a minha mulher\nPerante Deus e a lei.\n\nO Capitão do Navio\nVendo-isto empalledeceu\nMas depressa serenou\nE um plano concebeu\nConfiante triumphar\nNo diabolico engenho seu.\n\nE disse cheio de orgulho,\nSabeis Real Magestade\nQne sou um homem incapaz\nDe vos urdir falsidade\nEsta mulher no que disse\nNada teve de verdade\n\nEstas lagrimas que ella mostra\nSão lagrimas de fingimento\nElla está unida a mim\nPor laços de casamento\n\n— 12 —\n\n\nSomos casados em Londres\nDo que tenho um documento\n\nEu conheci-a em Madrid\nNa vida de Meretriz\nDepois ainda encontrei-a\nNa mesma vida, em Pariz\nE a três annos em Londres\nCasei com esta infeliz.\n\nO monarcha conhecendo\nQue mentia o Capitão\nMandou sem perda de tempo\nRecolhel-o á prisão.\nE mandou vir os soldados\nA' sua presença então.\n\nE disse á mulher, senhora\nJá que o bom Deus foi servido\nQue eu vos restituísse\nVossos filhos e marido\nEu juro que o miserável\nCapitão, será punido.\n\nE se um dia encontrarmos\nA infeliz desgraçada\nComparsa de tal infamea\nQue a trouxe encarcerada\nPor longos deseseis annos\nTambém será castigada.\n\nEmfim na corte justaram-se\nPais e filhos desditozos\nQue foram por tantos annos\n\n— 13 —\n\nMas agora venturozos\nRepresentavão um quadro\nDe quatro entes ditozos.\n\nÀ minha penna se sente\nimpotente sem valor\nP'ra descrever este quadro\nQue o mais hábil pintor\nQue só com esforços podia\nDar sua devida cor.\n\nO praser nos pais e filhos\nFoi como uma embriaguez\nO riso ali delirou\nO pranto por sua vez\nBrotou de contentamento\nTudo alli seu papel fez.\n\nDeixo a interpretação\nDeste prazer venturoso\nQue só os pais comprehendem\nAo leitor curioso\nQue vê n'elle o dedo occulto\nDo grande Deus Poderozo.\n\nTres dias de festas e ferias\nO Rei decretou então\nPassados os quaes seria\nJulgado o capitão\nQue já incommunicavel\nSe achava na prisão.\n\nHa casualidade que\nEm todo drama apparece\n\nNOVIDADE!\n\nF. Chagas Batista, proprietário da\nCasa Popular á Rua da Republica n. 65,\nvende pelo preço do Recife; livros de\ninstrucção, livros religiosos, romances\ndos melhores autores nacionaes e estran-\ngeiros, livros de poesias e versos popu-\nlares. Cartões postaes e diversos artigos\nconcernente á livraria. Relogios de al-\ngibeira. de diversos fabricantes. Joias de\nouro e prata. Bijouterias por preços sem\ncompetência. Completo sortimento de miu-\ndezas.\nTerá sempre uma gratificação para\no freguez que comprar mais de 4$000\nde uma só vez.\nGarante que todos encontrarão na\nsua casa agrado e sinceridade.\n\nRua da Republica n. 65 -Paraiba\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-036",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Novas Lutas de Antonio Silvino - Contendo os Crimes Commetidos [cometidos] pelo celebre Caudilho, de Setembro de 1910 até Abril de 1911 / Traição, vingança e perdão (Romance em Verso) - 1º Volume",
"Detalhe": "Folha de rosto: Retrato de Antônio Silvino em xilogravura.",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": [
1911
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 9,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"36",
"Palavras-chave": "Lutas; matar; mesa de rendas; tropa; espiritismo; polícia; tiroteiro; entrincheirar; Esmeraldina; fiel; mulher; Paris; aposta; Adrião; Julio Abel;",
"Tema": "Crimes cometidos por Caudilho; A história da fidelidade de uma mulher",
"Tecnica": "Xilogravura",
"Texto": "FRANCISCO DAS CHAGAS BAPTISTA\n\nNOVAS LUTAS\n\nAntonio Silvino\n\nContendo os crimes commetidos pelo celebre Caudilho, de\nSetembro de 1910 até Abril de 1911.\n\n\nTraíção, Vingança e Perdão\n\n( ROMANCE EM VERSO )\n\n1° VOLUME\n\nO autor reserva os seus direitos de propriedade\n\nTyp. da Livraria GONÇALVES PENNA & Cia.\n\n59— RUA MACIEL PINHEIRO—59\nPARAHYBA\n\n1911\n\n[Em branco]\n\n[Nota manuscrita: \"Pertence este livro a (?)\"]\n\n[Imagem de Antonio Silvino impressa a partir de matriz de xilogravura]\n\nAntonio Silvino\n\n\n\n\n\nNOVAS LUTAS\n\nANTONIO SILVINO\n\nMeu leitor, a oito mezes\nQue vives a esperar\nQue eu te dê minhas noticias,\nE eu para não te massar,\nAs minhas ultimas lutas \nVou agora te contar.\n\nFui em setembro de mil\nE novicentos e déz\nA' Barra de S. Miguel\nE lá espalhei os pés:\nMatei, prendi e tomei\nQuazi trêz contos de réis.\n\nLá, dois soldados quizeram\nCom migo se arreliár\nPorem, eu matei um d’ellês\nE no outro, mandei dár\nUma surra e, no meu grupo\nObriguei-o a entrar....\n\n— 3 —\n\nEntão guiado por êlle \nEu fui á meza de rendas.\nO dinheiro que achei lá,\nMal deu para as encomendas;\nEu embolçei-o dizendo:\n—Este é p’ra as minhas merendas.\n\nNa meza de renda a todos\nOs papéis que encontrei,\nComo fossem do governo,\nIncendial-os mandei.\nE sem incomodar outros,\nDa Barra me retirei.\n\nO Espirito de Maurício\nSendo em Campina invocado,\nDisera então que eu estava\nEm Bôa Vista cercado\nPor soldados de policia\nN’um lugar muito apertado,\n\nEntão as autoridades\nDe Campina acreditarão\nNo que dizia o esperito,\nE uma tropa mandarão\nPara reforçar o cerco\nPorem, muito se enganarão\n\nA tropa andou três semanas\nNas zonas do Carirí,\nA procurar-me, porem,\nNem meu rasto achou ali,\nPois eu como éla não ando\nNo passo do jabotí.\n\n— 4 —\n\nPodem os espiritistas\nInvocar duma só vez\nAs almas dos que morreram\nDesde que o mundo se fez\nAté hoje, que eu a todos\nEngano com rapidez!...\n\nEm espiritismo e feitiço,\nEu só posso acredictar\nS’algum dia n’uma luta\nMeu rifle não desparar.\nOu, se no couro d’úm brabo\nO meu punhal envergar\n\nFelismente depois disso\nTenho descançado mais:\nPois já vão se convencendo\nQue a policia é incapaz \nDe me encontrar descuidado\nPorque sou muito sagaz...\n\nDei uma ordem no Brejo\nQue se erompriu mui fiél.\nEm Coité de Guarabira,\nMe ofereceram um anél.\nNo Sapé, tive até muzica\nNa caza dum Coronel.\n\nAo passar no povoado\nTimbaúba doGurjão,\nCom o Cazuzinha Parente,\nEncontrei-me, e disse então:\n—Vamos dar por acabada\nA nossa antiga questão ?\n\n— 5 —\n\nEle então na minha vista\nJurou não me perseguir;\nE eu também garanti-lhe\nCom ele jamais bolir;\nEu a promessa que fiz\nGaranto que hei de compri...\n\nA festa de nascimento\nEu passei em S. Miguel\nDe Táipu lá, o pôvo\nMe chamou de coronel,\nE pediu-me para beijar\nA pedra de meu anel! !\n\nVi que as honras de Bispo\n Dava-me o pôvo em geral.\nPois só dos Bispo se beija\nO bento anel pastoral...\nEntão estendi a mão,\nTodos beijaram a final!...\n\nNão pude os abensoar...\nMas a todos agradei;\nDinheiro, dôces, bebidas\nNem sei da conta que dei!\nNunca outra noite de festa\nTam chaleirado passei.\n\nTambém estive em Serrinha\nOnde ordenei aum soldado\nQue o imposto de borreira\nPor ele alí, recadado,\nFosse só pela metade\nAos matutos cobrado\n\n— 6 —\n\nDepois estive a passeio\nNo povoádo Ferreiros...\nE o carnaval fui passar\nEm S. Jozé dos Cordeiros,\nOnde a conféti e bisnaga\nEntrudei os fazendeiros\n\nEntão o meu pessoal\nTodo brincava direito:\nSe intrudava-mos familia\nÈra com todo o respeito;\nPois esse, é meu passaporte\nA onde sou bem aceito\n\nEntão, em mil novicentos\nE déz, não tinha eu brigado\nAinda uma só vez,\nQuando me vi enfrentado\nPelo alferes Ramalho\nQue me deu algum cuidado\n\nFoi no lugar S. Mamede\nQue esse encontro se deu\nAlguns jornaes afirmaram\nQue o meu grupo correu...\nFoi êrro; vou aos leitores\nContar o que aconteceu.\n\nO alféres Jozé Ramalho\nJulgou que eu éra pixote;\nMe atirou entrincheirado,\nPorem deu errado o bote,\nPorque eu não sou arára:\nMe entrincherei n’um serrote.\n\n— 7 —\n\nEle atirou-me de longe,\nE um tiroteio serremos\nQue durou mais d’uma hora,\nAté que ambos exgotemos\nToda a nosso munição\nDedepois nos acalmemos\n\nDepois que a luta sesou\nEsperei o resultado;\nQue ficou por isso mesmo...\nAforça tinha arribado!...\nEntão, fogí do serróte\nOnde estava entrincheirado...\n\n\nTRAIÇÃO, VINGANÇA E PERDÃO\n\n\nHavia no século treze\nNa capital de Paris\nUm banqueiro muito rico,\nAmigo de El-Rei S. Luis;\nCasado; não tinha filhos;\nPorem vivia feliz...\n\nTinha esse nobre banqueiro\nO nome de Julio Abel;\nAmava muito á espoza,\nE esta, lhe erà fiel:\nA vida p’ra esses dois entes\nTinha a doçura do mel...\n\n— 8 — \n\nEssa distincta senhora\nChamava-se Esmeraldina;\nPossuia mil virtudes\nSeu coração de heroina!\nParece que p’ra formal-a\nEsmerou-se a mão Divina.\n\nEra educada e formoza\nEsmeraldina Alencar;\nAprendera quinze lingoas\nPara escrever e falar :\nE tinha predilecção\nPela arte de pintar.\n\nE também as bellas artes\nEla não desconhecia\nEra bôa pianista,\nCultivava a poezia;\nE como dona de casa \nTudo ela fazer sabia!...\n\nTinha éla deseceis ãnos\nQuando perdêrá seus pais,\nEntão, procurou casar-se;\nAmava muito a um rapaz\nQue éra seu primo e visinho,\nE em sangue éram iguaes.\n\nEsse rapaz éra Julio,\nDo leitor já conhecido;\nEsmeraldina casou-se\nE fez com o seu marido\nA união mais perfeita\nQue o mundo tem conhecido!..\n\n— 9 —\n\nEsmeraldina seguia\nFiél á religião:\nEra muito caridoza;\nTinha tão bom coração\nQue ao rico chamava amigo\nE ao pobre chamava irmão!...\n\nTinha p’ra todas as classes\nSempre carinhos e agrados:\nVizitava e protejia\nDoentes e encarcerados;\nTinha uma esmola effectiva\nP'ra os cegos e aleijados...\n\nCreou-se na opulência\nE vivia na riqueza,\nPorem sempre desprezou\nO orgulho e a avareza.\nSe ufanava quando um pobre\nChamava-a a mãi da pobreza.\n\nEntre esse cazal feliz,\nSiúme não existia;\nJulio Abel, os seus deveres\nDe bom espozo cumpria:\nUm pela honra do outro\nA mão no fôgo pôria!...\n\nDez ãnos em santa paz\nViveu esse bom cazal,\nSem que desse um fruto apenas\nEssa união conjugal;\nPois Deus não lhes concedera\nEsse prazer sem igual!\n\n— 10 —\n\nDeus não quiz aos dois espòzos\nUm só filho conceder,\nPorque sabia que eles\nNo futuro iam sofrer\nAs peripécias Horríveis\nQue ao leitor vou descrever.\n\nJúlio Abel, como banqueiro\nPossuia dez milhões\nDe libras com que fazia\nBoas negociações;\nMuitas vezes ia a Londres\nOnde tinha tranzações.\n\nEstando uma vez em Londres\nO banqueiro Júlio Abel,\nAchava-se hospedado\nEm um suntuoso hotel,\nJunto com seu secretario\nUm moço honrado e fiél,\n\nEsse hotel no mesmo dia\nHospedára um jogador,\nUm rico negociante,\nUm médico e um pintor;\nNem um desses quatro homens\nEra em Londres morador.\n\nA’ noite, esses quatro homens\nAbriram uma discução \nQue durou mais d'uma hora\nCom alguma ajitação:\nCada um sobre a mulher\nDava a sua opinião.\n\n— 11 —\n\nFalou primeiro o pintor\nQue disséra:—Eu sou casado,\nMoro no Cairo onde a espoza\nDeixei, e tenho cuidado\nNéla, porque mulher firme\nInda não tenho encontrado.»\n\nDisséra o negociante:\n—«A doze ãnos cazei;\nFalsidade em minha espoza\nAinda não encontrei\nMais, em juras de mulher\nJamais acreditarei...»\n\nO Medico disse:—«Senhores,\nTenho estudado a mulher\nE posso vos garantir\nQue a mais firme que houver,\nEngana ao propio marido\nAs vezes que éla quizer!\n\nDizem que a mulher é fraca,\nMais néla não ha fraqueza:\nJura falso a qualquer hora;\nTem as lagrimas por defeza;\nTem lábios para deixar\nA humanidade surpreza!...»\n\nDisse então o jogador:\n—«Senhores, eu sou marido\nD’uma mulher, e por éla\nNunca julguei-me iludido\nMas, eu d’éla stando auzente\nSó espero é ser traido...\n\n— 12 —\n\nTenho viajado muito,\nConheço muitas nações\nE tenho em todas as classes\nConquistado corações \nInda não achei mulher forte\nPara as minhas seduções...\n\nA mulher chora e sorrí\nCom a mesma facilidade!\nE o seu coração volúvel\nNão guarda fidelidade;\nPor tanto toda mulher\nstá sujeita a falsidade.»\n\nJúlio Abel stava de parte\nOuvindo esta discução;\nQuando o jogador calou-se,\nEle disse:« Amigo, eu não\nAcho que esteja acertada\nEsta su’opinião.\n\nDiz o senhor que a mulher\nA’ falsidade è sujeita,\nMas, a su’ afirmativa\nE’ fundada na suspeita,\nPorque ha mulher honesta\nQue a sedução não aceita!»\n\nRespondeu-lhe o jogador:\n—« Não ha mulher sem defeito,\nAlguma, para o marido,\nGóza de muito conceito;\nMas morre o homem de velho\nSem conhecel-a direito!...»\n\n— 13 —\n\n—«Meu amigo eu sou cazado,\nE á minha esposa conheço.\nE que ela a mim é fièl\nEu p’ra jurar me ofereço;\nPorque p’ra comprar-lhe a honra\nA sedução não tem preço !»\n\n—«E como o amigo sabe\nQue èla vive honradamente,\nSe èla em outro paiz\nEstá do senhor auzente?\n\nQuem sabe se èla lhe è falsa\nE o senhor està innocente?...»\n—»Và 0 senhor em Paris\nE a sedução lhe ofereça,\nE se poder conseguir\nQue a me trair èla deçà...\n\nVenha prova-me a verdade\nQue eu dou-lhe a minha cabeça»\n— «Não quero sua cabeça\nPorque não sou um malvado,\nPorem se quer que eu lhe prove\nQue o senhor vive enganado,\nProponha um outro negocio .\n\nQue dê melhor rezultado. »\n— «Pois, cinco milhões de libras,\nCom tigo, eu quero apostar;\nE se não tens esta soma\nPara em deposito botar,\nFicas sendo meu escravo\nDepois que aposta eu ganhar...»\n\n— 14 —\n\nRespondeu-lhe o jogador:\n—«Aproposta aceitarei:\nO Sr. fica e eu vou\nEm Paris, e voltarei,\nSe o senhor ganhar a aposta\nSeu escravo então serei!...»\n\nNa prezença d’um juiz\nO contrato se feixou:\nPassaram-se os documentos;\nO banqeiro se assignou,\nE os cinco milhões de libras\nN’um banco depozitou...\n\nAssignou-se o jogador\nDando o nome de Adrião,\nRezidente na Calabria,\n—Terra onde ha muito ladrão\nLeitor, vamos ver agora\nQuem ganhou essa questão.\n\nAdrião éra dotado\nDe muita sagacidade;\nNa su’alma infame e nêgra\nReinava a perversidade:\nNinguém como êle sabia\nFazer uma falsidade!...\n\nNo prazo de trinta dias\nA questão se rezolvia:\nSe Adrião ganhasse a aposta\nCinco milhões recebia;\nE perdendo-a, como escravo\nA Julio Abel serveria!...\n\n— 15 —\n\nAdrião, no mesmo dia\nPara a França embarcou.\nE ao chegar em Paris\nEm um hotel se hospedou\nPerto da caza de Julio,\nE ali, seu plano formou.\n\nEle via Esmeraldina\nQue para a missa passava\nPela manhã, e audaz,\nA Ela, cumprimentava;\nMas a honesta Senhora\nAttenção não lhe prestava!\n\nDe Esmeraldina uma aia\nPôde Adrião seduzir,\nCom promessas mentirozas\nConseguio a iludir!\nEssa infame se prestou\nA’ Esmeraldina trair.\n\nDeu Adrião á creada\nUm anel e um colar\nE disse a éla: «Eu pretendo\nCom a senhora cazar\nMas... sò caso, se uma aposta\nQue eu fiz com Julio, ganhar\n\nE contou êle á creada\nA pósta que tinha feito.\nE éla disse: «O Sr. perde-a\nE eu não posso dar jeito;\nPorque D. Esmeraldina\nE’ u’ a mulher sem defeito;\n\n— 16 — \n\nE’ mulher que só tem alma\nP’ra a Deus amar e servir;\nE’ virtuóza e- honesta,\nA ninguém sabe iludir; \nEu, acho mais que impossível \nEla ao marido trair!» \n\n—«Pois uma vez que perdermos\nPor meio da legalidade,\nVamos conseguir ganhar\nPor meio da falsidade:\nSe quizéres, ganheremos\nCom muita facilidade.\n\n\nContinua na \"Segunda Luta de An-\ntonio Silvino com uma Onça\".\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-037",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Estudante Caipora - Continuação do Romance Traição, Vingança e Perdão - 3º Volume",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": [
1911
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"37\".",
"Palavras-chave": "Caipora; estudante; família; propriedade; incêndio; João Maciel; mulher; marido; assassinar; Julio Abel; Esmeraldina; crime; traição; cabelo; sangue;",
"Tema": "Estudante não esforçado que não recebe notícias da família; A história da fidelidade de uma mulher",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nNota manuscrita na capa: \"Antonio Damasceno\".\n\nO ESTUDANTE CAIPORA\n\n\nCONTINUAÇÃO DO ROMANCE\nTraição, Vingança e Perdão\n\n3° VOLUME\n\n0 autor reserva os seus direitos de propriedade\nTyp. da livraria GONÇALVES PENNA & C.ia\n\n59—RUA MACIEL PINHEIRO—59\nPARAHYBA\n\n1911\n\n[Em branco]\n\nESTUDANTE CAIPORA\n\nNinguém pense que está bem\nNeste mundo sem futuro\nPorque vem o caiporismo,\nTransforma o claro em escuro\nE o desgraçado se atola\nSobre o penhasco mais duro!\n\nQuando a desgraça nos cerca\nNão usa escolher pessoa;\nSe arrancha ás vezes em casa\nDe gente que quer ser bôa,\nFoi assim que aconteceu\nCom um estudante em Lisboa.\n\nEra das bandas do Minho\nO esdudante fallado;\nSeu pae era agricultor,\nUm camponez abastado,\nMandou o filho pra o estudo;\nQueria vel-o formado.\n\n— 2 —\n\nO pae do tal estudante,\n—Todo o mez mandava dar\nDuzentos mil réis p'ra o filho\nSuas despezas pagar;\nEsse dinheiro mandava\nPara o rapaz estragar\n\nO moço para estudar\nNão tinha o menor veixame\nTambém nunca no Lyceu\nFoi approvado em exame\nO velho era pontual\nNão faltava com o arame.\n\nMas, passaram-se dois mezes\nSem o estudante ter\nNovas de sua familia,\nSem dinheiro receber.\nDevido aos companheiros\nNão lhe faltou o comer\n\nO desgraçado estudante\nNão tinha um x na algibeira,\nEnganou o tarberineiro,\nO criado, a lavandeira,\nJá não mudava a roupa\nDevido á quebradeira!\n\nQue o pae mandasse dinheiro\nO rapaz inda julgava;\nSahio um dia de casa,\nE quando não esperava\nEncontrou-se com Felippe\nQue pelas ruas vagava.\n\n— 3 —\n\nO Felipe era criado\nDo pae do dito caipora,\nMas na casa do patrão\nQuasi um incêndio o devora,\nEle viu tudo queimar-se\nDepois então foi embora.\n\nFelipde? tu por aqui?\nEntão que andas fazendo?\nMeu pai não mandou dinheiro?\nPois eu jâ estou devendo!\nO que ha de novo là em casa?\nVae de pressa me dizendo.\n\nDisse Felippe ao rapaz:\n—Estou aqui é verdade\nPor mim ninguém não manda\nDinheiro para a cidade;\nLà na casa do senhor\nVae tudo sem novidade.\n\n—Sim, lembrei-me de uma coisa\nFelippe então respondeu\n—Aqueles dois corvos pretos\nQue seu amigo lhe deu\nDeram as almas a Deus!\n\nFoi só o que aconteceu.\n— E de que elles morreram?\nTu não pudeste salval-os ? \nDisse Felippe;—Inhor não,\nNão foi possível cural-os;\nMorreram indigestado\nCom a carne dos seus cavallas.\n\n— 4 —\n\nOs meus cavallos morreram\nE não salvaram algum ?\nDisse Felippe :—todinhos\nNão escapou mesmo um,\nApenas deu-se este facto\nQue não é muito commum.\n\nO estudante a Felippe\nPerguntou impaciente:\n—De que morreram os cavallos?\nConta-me este incidente;\nDisse Felipe: a frontados\nNão tinha nenhum doente.\n\nE como elles afrontaram ?\nO moço inda perguntou.\nDisse Felippe : —Correndo\nCom agua que apagou\nO fogo da sua casa\nNo dia que incendiou. \n\n—Felippe, que estás dizendo?\nComo este incêndio se deu?\nDisse Felippe:—Foi na noite\nQue o pae do senhor morreu,\nNão apagaram a tocha,\nPor isso a casa se ardeu.\n\n—Desgraçado, estarás doido?\nEntão meu pai faleceu?!\nDisse Felippe :—Inhor sim,\nA terra j á o comeu,\nFoi somente o qne de novo\nLá na aldeia se deu.\n\n— 5 —\n\nE de que morreu meu pae ?\nVeixado o moço exclamou.\nElle já estava doente\nOu foi alguém que o matou?\n—Não... Andava desgostoso\nE por isso se enforcou\n\nE que desgosto foi este?\nDis-me por caridade?\nFoi porque s'a mãe deixou-o\nE foi morar com um frade,\nE’ somente o que ha de novo\nO mais vae sem novidade.\n\nE quem foi que tomou conta\nDa minha propriedade?\nEstará abandonada ?\nMeu Deus que fatalidade!\n—Os cercados se queimaram,\nO mais vae sem novidade.\n\nQuando o estudante.ouviu\nDizer que tudo queimou-se\nE que a riqueza do pae\nDesta vez toda acabou-se,\nTirou do bolso um punhal\nE com elle suicidou-se.\n\n— 6 —\n\nCONTINUAÇÃO DO ROMANCE\nTRAIÇÃO, VINGANÇA E PERDÃO\n\nParou o carro distante\nUns sem metros da estrada.\nEsmeraldina olhou-o\nUm pouco subsaltada!...\nEntão disse êle: \"A Senhora,\nVai ser aqui sepultada!...\nPerguntou Esmeraldina:\n\n—«Porque me queres matar?!...»\nDisse-lhe João Maciel:\n—«Tú ouzaste atraiçoar \nA teu marido; e esse crime \nVaes com a vida pagar. \nTeu marido teve as provas\n\nDe que lhe havias traído;\nE então, se considerando\nInjuriado e ofendido\nMandou-me te assassinar\nSem que isso fosse sabido.»\nDisse éla; «Se aminha morte\n\nDá a meu marido um prazer,\nFaça-se a sua vontade...\nPois quero o sastifazer!...\nE’ bastante que Deus saiba\nQue inocente eu vou morrer.»\n\n— 7 —\n\nMaciel disse: «Acredito\nQue a Senhora è inocente\nNisto, porquê a conheço;\nSei que vive honradamente..\nSó mato-a porque jurei\nSer a Julio obdiente,\n\nE se prepare Senhora\nQue eu quéro logo matál-a!»\nEsmeraldina ajoêlhou-se,\nE então, sem tremer a fála,\nFez a seguinte oração,\nPedindo a Deus p’ra salvál-a\n\n—«O’ virgem da Conceição\nQue, sois minha protetora;\nVós sabeis que a meu marido\n Eu nunca fui traidora ;\nVinde amparar Santa Virgem\nVossa fiel servidora.\n\nE vós, ò meu bom Jezus,\nQue morrestes p’ra salvar\nA ingrata humanidade;\nVindo também me amparar :\nA vós entrego minh’alma;\nNão deixeis éla ir penar...\n\nSenhor, vòs que penetraes\nEm todos os corações,\nE conheceis plenamente\nTôdas as minhas ações,\nDignai-vos escutar\nAs minhas deprecações.\n\n— 8 —\n\nA góra meu Redentor\nQue a vós eu já me entreguei,\nVos pesso que perdoeis,\nComo eu já perdoei\nA Julio e a Maciel;\nAos quaes não condenarei\n\nDisse éla a João Maciel:\n—«Terminei minha oração.\nAgora, podes comprir\nAs ordens de teu patrão\nQue para ti e p’ra êle\nA Deus já pedi perdão!»\n\nMaciel lhe respondeu:\n—«Eu me acho mui comovido.\nE de ter vindo matai-a\nEstou muito arrependido...\nJamais a assassinarei\nPorque não sou um bandido.\n\nNão me deixa a consciência\nEsse crime eu praticar;\nE eu me acho indecizo,\nSem saber como aranjar\nUm sinal para ao patrão,\nQue assassinei-a provár.»\n\nEsmeraldina lhe disse.\n-—«Darte-ei o sinal então;\nCorta meus longos cabelos\nE leva-os a teu patrão,\nQue ao vel-os êle acredita\nQue eu já durmo sob o chão...\n\n— 9 —\n\nSangra um d’estes cavalos,\nTinge de sangue o punhal;\n E diz-lhe que do meu sangue\nTú lhe levaste um sinal.\nTe afirmo que êle acredita\nQue ès um amigo lial.\n\nDe Esmeraldina os cabelos\nMaciel tôdos cortou;\nE um dos cavalos n'um braço\nCom o seu punhal sangrou,\nE com o sangue da ferida\nA’ tolha d’arma molhou !\n\nE depois, de Esmeraldina\nLijeiro se despediu;\nTomou o carro outra vez\nE para as quintas partiu...\nJulio Abel stava na pórta\nQuando avistou-o sorriu!...\n\nMaciel disse ao chegar:\n—«A’su’espoza matei:\nVêja este punhal molhado\nCom o sangue que lhe tirei\nE receba os seus cabêlos\nQue ao enterral-a os cortei ! »\n\nDisse Julio:—«Eu te acredito\nQue tu me foste liai;\nE sinto nojo em olhar\nP’ra os cabelos e o punhal ;\nEnterra-os qu’ eles me trazem\nUma lembrança fatal!...»\n\n— 10 —\n\nDeu êle a João Maciel\nA metade do dinheiro\nQue este, trouce de Paris\nE disse:—«Teu companheiro\nSerei de aqui atè Roma,\nOnde irei ser forasteiro...\n\nEsmeraldina á cidade\nNa mesma noite voltou,\nE sem que ninguém a visse\nEla em sua caza entrou;\nE a uma velha creàda\nContara o que se passou.\n\nE pela mesma creáda\nMandou depressa chamar\nAo medico seu parente;\nEste, não fêl-a esperar.\nEla então, do que passou-se\nNada lhe quiz ocultar.\n\nE disse a êle:—«Amanhã,\nDeixarei esta cidade;\nE quero que se ignore\nA minha infelicidade...\nDeus que, me dá o martirio\nMostrará nisso a verdade.\n\nHas de emprestar-me cem libras,\nPrecizo d’esta quantia.\nE então, disse a seu parente\nQue, os prédios que possuia,\nEle os entregasse a Julio\nSe o contrasse algum dia.\n\n— 11 — \n\nGarantiu fazer o medico\nO que èla tinha pedido :\nDiria que Esmeraldina\nTinha dezaparecido...\nDespediram-se, e depois,\n\nÉla mudou de vestido.\nE vestindo um trajo d'homem\nCaminhou atè Cherburgo,\nAli, tomou um navio\nPassou por S. Petesburgo\nE foi saltar em Moscou,\nDando o nome de Licurgo.\n\nLógo que chegou na Rucia\nÁdôtou a profição\nDe pintor, e por ess'arte\nTinha tal predileção,\nQue em poucos dias pintava\nCo'uma rara perfeição!...\n\nQuem conhecia Licurgo\nNão o julgava ser mulher\nE quem via seus dezenhos,\nDêzejava o conhecer;\nTanto que muitas vizitas\nTinha o seu etelier\n\nLicurgo uma vez pintou\nUm quadro que figurava\nUm cazal muito feliz\nQue mutuamente se amava;\nMas, que o marido iludido\nMatar a espoza mandava!\n\n— 12 —\n\nTodos quanto ali, passavam\nPrestavam muita atenção\nA’qu’ êle formozo quadro\nQue estava em espozição;\nE alguns, d’aquela espoza\nMostravam ter compaixão...\n\nUma vez a Czarina\nPassava no eteliêr,\nE vendo o quadro, esclamou:\n— «Outro igual, não pode haver!\nPediu-lhe o pintor licença\nP’ra o quadro a éla ofrecer.\n\nAo receber essa oferta\nMuito alegre éla ficou;\nE logo p’ra o seu palacio\nO bélo quadro mandou;\nO Czar, vendo a pintura\nMuito se adimirou!\n\nO Czai*, no mesmo dia\nMandou o pintor chamar,\nE fizeram um contrato\nPara Licurgo apagar\nAs pinturas do palacio\nE outras-novas dezenhar.\n\nNo Palacio do Czar\nDeixamos nós o pintor,\nE voltamos para Londres\nEm busca do jogador\nQue iludiu Julio Abel,\n—Adrião o traidor—\n\n— 13 —\n\nQuando Adrião recebeu\nDe Julio os cinco milhões\nDisse consigo :—«stou rico!\nVou mudar de condições:\nVou gozar a minha vida\nEm estranhas rejiões.\n\nEntão no dia seguinte\nFojiu da Ingleza Cidade;\nMurmurava êle:« Se Julio,\nDescubri-me a falsidade,\nToma-me tôdo o dinheiro\nE me mata sem piedade!\n\nTornou um navio em Londres\nE foi saltar em Veneza,\nDe ali, foi á Calabria\nD’onde voltou com presteza,\nTrazendo sua mulher\nE ostentando lordeza\n\nTendo chegado á Veneza\nAdrião, no mesmo dia\nTomou ali, um navio\nQue para a Rucia seguia;\nSaltou em S. Petesburgo\nFixando ali, moradia.\n\nChegando em S. Petesburgo\nAdrião enviuvou;\nE algum tempo depois\nAli um hotel fundou,\nE quatro milhões de libras\nN’um banco depozitou\n\n— 14 —\n\nDeu êle à sua pensão\nO nome de Hotel Paris.\nVamos deixal-o na Rucia,\nGozando a vida felis,\nE procurar Julio Abel\nQue ficou em Vila Munis.\n\nJulio com João Maciel\nPara a Italia Viajaram,\nDesfarçados em artistas;\nQuando em Roma eles chegaram\nDespediram-se um do outro,\nE logo se separaram.\n\nMaciel comprou um prédio\nCom uma mercearia;\nCaza que na capital\nMuito negocio fazia:\nTanto que êle em pouco tempo\nTinha grande freguezia.\n\nO banqueiro Julio Abel\nSeu apelido mudou\nPara Abdias de Andrade;\nE desde então viajou\nSozinho em muitos paizes;\nE grande soma gastou:\n\nViajou muito na Azia,\nNa África e na Ociania;\nPercoreu tôdo o Ejito,\nVizitou Alexandria;\nSteve em Athenas na Grécia;\nPasseiou pela Turquia.\n\n— 15 —\n\nVizitou muitas cidades\nDa Palestina também:\nEsteve na Galilèa,\nEm Jiricó em Belem;\nE quatr’ãnos demorou-se\nNa Grande Jeruzalem.\n\nAbdias foi um dia\nAo Calvario vizitar\nE estando em sima do monte\nOuvio uma vóz o chamar;\nJulgou êle ouvir a fala\nDe Esmeraldina Alencar!...\n\nSentiu êle uma vertijem;\nDeitou-se e adormeceu,\nE então viu Esmeraldina\nQue em sonhos lhe apareceu;\nQuiz Julio voltar-lhe a face,\nMas, èla o repreendeu,\n\nE disse então:—«Julio Abel,\nPorque me tens tanto horror?\nTú não finjias-me ter\nUm ilimitado amor?\nPorque mandaste matar-me ?\nDeste crença a um traidor?\n\n\nContinúa no «Sorteio Obrigatório»\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\nFRANCISCO DAS CHAGAS BAPTISTA\nVENDE LIVROS DE LITTERATURA, POEZIA E MANUAES ETC \nJoias, bijouterias e relogios de algibeiras\nPREÇOS IGUAES AOS DO RECIFE.\n\n\n65—Rua da Republica—65\nPARAHYBA"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-038",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Novas Emprezas (sic) de Antonio Silvino (Contendo os Crimes, de Março á (sic) Agosto de 1912) / A encrenca da Paraíba ou a Revolução dos Drs. Santa Cruz e Franclin Dantas",
"Detalhe": "Folha de rosto: Retrato de Antônio Silvino em zincogravura",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte, Paraíba [PB]",
"Data": [
1912
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Possui manuscrito à tinta na primeira página. Numeração manuscrita na capa: \"38\".",
"Palavras-chave": "Antonio Silvino; justiça; cangaceiro; crimes; tiros; Paraíba; Rego Barros; Santa Cruz; Franelin Dantas; eleição; bandido;",
"Tema": "Novos atos de Antonio Silvino; Revolução de Santa Cruz e Franelin Dantas na Paraíba",
"Tecnica": "Zincogravura",
"Texto": "[CAPA]\n\nFrancisco das Chagas Batista\n\nNOVAS EMPREZAS DE\n\nAntonio Silvino\n\n( Contendo os crimes, de Março á Agosto\nde 1912.)\n\nA Encrenca da Paraíba ou a Re-\nvolução dos Drs.\nSanta Cruz e Franclin Dantas\n\n0 autor reserva os seus direitos de propriedade\n\nTyp. da Livraria GONÇALVES PENNA & C.ia\n59—RUA MACIEL PINHEIRO-59\nPARAHYBA DO NORTE\n\n[Em branco]\n\n[Nota manuscrita: Pertence este caderno a Luiz Alves Nascimento / Antonio Silvino]\n\n[Imagem de Antonio Silvino impressa a partir de matriz de zincogravura]\n\nANTONIO SILVINO\n\n\nA HISTORIA DE\n\nANTONIO SILVINO\n\n(NOVAS EMPRESAS)\n\nA profição que abracei\nHá mais de deseceis anos,\nTem me feito praticar\nMilhões de crimes e danos;\nTanto, que nem sei porque\nMe saio bem nos meus planos.\n\nConheço apenas que sou\nUm instrumento de Deus\nQue p’ra castigo de muitos,\nSe serve dos actos meus;\nPorque nada faz o homem\nDe encontro aos disignios seus.\n\nDeve ser esse o motivo\nPorque inda não fui vencido;\nE’ certo que da justiça\nDos homens, tenho fujido...\nE continuo a zombar\nDos que me têem perseguido!...\n\nMas, quando Deus destinar\nO meu aniquilamento,\nCairei como uma folha\nAjitada pelo vento.\nQue para evitar a morte\nNão descobriu-se inda invento !\n\n— 3 —\n\nJuigo as vezes que minh'alma\nNão terá mais salvação;\nPorque se Deus pune o crime\nEu terei a punição\nMás; Deus que assim me conserva\nBem pode dar-me o perdão...\n\nSe Deus se sérve de mim\nPara instrumento do mal,\nE não deixa que me fira\nDa morte o golpe fatal\nE’ porque me destinou\nPara um fim especial. \n\nDeus já tem me castigado\nCom muita severidade\nFasendo com que o remorso\nMe tivesse lialdade...\nE afujentando de mim\nA paz e a tranquilidade!...\n\nMas para mim o remórso\nE' muito bom companheiro;\nNunca tentou impedir\nQue eu fosse assim desordeiro\nE a consciência me dis \nQue eu devo ser cangaceiro!..\n\nPor isso, nao renuncio \nÀ profíção que adotei.. ,\nTendo contado aos leitores\nOs crimes que pratiquei:\nE os que inda não escrevi\nAgora os confessarei.\n\n— 4 —\n\nDe nove centos e dôse\nEra Maio, no alto sertão\nNo logar Riacho Sêco,\nEu, tive o ensôjo então,\nDe encontrar meu inimigo\nO negro Ántonio Carão.\n\nEsse negro, a ura meu parente\nHavia assassinado,\nSimplesmente p’ra roubar;\nE por ser meu intrigado\nMatei-o a bala e por mim\nSeu corpo fôra queimado !!\n\nDei-lhe dois tiros deixando-o\nMuito ferido no chão,\nFiz por cima de seu corpo\nUma coivára e então\nAtiei fogo e deixei-o\nVirado em sinza e carvão.\n\nNo dia séte de Junho\nEm Santa Luzia entrei,\nE então dos negociantes\nUns trinta contos levei;\nE no capitão Aristides\nUma grande surra dei!\n\nA uns dés anos jurei\nDe Aristides me vingar,\nPorque dois cabras meus foram\nA’ policia se entregar;\nE êle mandou na cadeia\nDe fome e sêcle os matar.\n\n— 5 —\n\nPrometti dar-lhe uma surra\nE á promessa cumpri;\nE então á sua família\nDessa vez eu persegui;\nDe alguns levei o dinheiro\nD’outros os bens destruí.\n\nFui á vila de Afogados\nDe Ingazeira, onde nasci\nE uns nove contos de reis\nN'aquela vila colhi!\nMas, ao Dezidério Ramos\nPor caiporismo não vi.\n\nPassei perto do Monteiro,\nStivel na povoação\nDe Jatobá e em Queimadas\nFiz bôa arrecadação,\nDe Santa Cruz, uns dois contos\nDe réis, conduzi então.\n\nA quinze do mez de Julho\nEu fui a Santa Maria,\nE os moradores de lá\nJulgando que eu corria\nDeram-me uns tiros, mas eu\nReaji como devia.\n\nCom poucas horas de fôgo\nOs cabras esmoreceram\nSessaram o tiroteio\nE para o mato correram...\nEu tomei conta da rua\nE todos ali, sofreram!\n\n— 6 —\n\nIncendiei quatro cazas\nE dei de peia a valer!\nDeixei diversos feridos;\nSó não fiz nenhum morrer \nPorque eles correram logo; \nE quem corre quer viver.\n\nFui ao engenho Filgueiras\nDo major João Floretitino,\nEle out´rora perseguiu-me\nE eu fui dar-lhe um ensino,\nP’ra ele saber que só Deus, \nMatará Antonio Silvino. \n\nCerquei-lhe caza, mais ele\nQuiz se meter a guerreiro:\nBrigamos mais de uma hora\nMatou-me ele um cangaceiro:\nMatei-lhe outro e ele ferido, \nFojiu para o Limoeiro.\n\nLogo que o major correu\nDo engenho me apossei;\nRecolhi todo dinheiro,\nDepois ás cazas queimei:\nCincoenta contos de réis\nDe prejuiso lhe dei.\n\nPaguei a um câmarada\nPara o meu cabra enterrar;\nE voltei a Paraíba.,\nPerto da vila Pilar\nDemorei-me, dessedido\nA’ alguns dias descançar...\n\n— 7 —\n\nPor bora fico esperando\nQue se ofreça ocasião\nDe eu me utilisar do rifle\nP'ra matar um valentão\nOu p'ra lutar em defeza\nDo pôvo da oposição.\n\nDefendo a oposição\nPorem político não sou;\nMeu candidato é meu rifle\nQue um tiro nunca falhou.\nMas se o governo me òffende\nEu de encontro a ele vou !...\n\nMeus colegas—Franclin Dantas\nE o douror Santa Cruz\nEstes podem ser políticos\nPorque a política os seduz !\nMesmo são dois bacharéis\nTêem da ciência a luz.\n\nUm, é formado em direito\nE o outro, em medicina;\nSe hoje são dois caudilhos\nIsto a sorte é quem destina\nQue o homem trilhe o caminho\nDa flicidade, ou ruína ...\n\nO Santa Cruz, tem rasão\nDe hoje ser cangaceiro:\nFoi político de prestijio\nNa comarca do Monteiro;\nPorem os seus inimigos\nO fizeram desordeiro !\n\n— 8 —\n\nO dr. Franclin, não sei\nQual o motivo ou rasão\nQue o levou a promover\nContra o governo questão;\nApenas sei que ele está\nAo lado oposição.\n\nCom a força federal\nQue anda no centro do estado\n Eu, por cautela, não tenho\nAinda me encontrado;\nPorque não quero da linha\nMatar ou ferir soldado.\n\nOs soldados do exercito\nE’ tudo gente da praça\nQue não sabe andar no mato\nPorque em tudo se embaraça\nE esse povo p’ra mim\nDe inocente não passa.\n\nAs malas de um correio\nPerto de Patos tomei,\nE toda a correspondência\nQue ele trasia queimei;\nFoi essa a terceira vez\nQue esse crime eu pratiquei.\n\nA ENCRENCA DA PARAÍBA\n\nREVOLUÇÃO DE DR. SANTA-CRUZ\n\nEu, como escritor do pôvo,\nCostumo meter o dedo\nAos casos de sensassão\nQue não exijem segredo;\nE como não sou chaleira\nConto a verdade sem medo...\n\nVou descrever a encrenca\nDa Paraiba do Norte; \nFalar da infeliz política\nQue enegrecêra a sorte\nDe muitos parahibanos !\nE para alguns trouce a morte!..\n\nO partido oposição\nResolveu apresentar\nO coronel Rego Barros.\nP'ra o estado governar;\nE pelas armas quizeram\nNa presidência o botar.\n\nEntão o dr. Santa Cruz,\nFez uma Combinação\nCorri o dr. Franelin Dantas,\nPara que antes da eleição.\nFossem eles dois, os chefes\nDe uma revolução !!\n\nEsses doutores juntaram\nUns quinhentos cangaceiros;\nE mandaram, que duzentos\nDestes cruéis desordeiros\nFossem a vila do Teixeira,\nDar os assaltos primeiros!...\n\n— 10 —\n\nSeguiram esses dois bandidos,\nCom o crime no pensamento...\nMas quando iam passando\nPelo sitio Livramento,\nSeis soldados de policia\nDestroçaram-os n’um momento !\n\nO cabo Augusto Tavares\nJunto com cinco soldados\nEstavam n’uma emboscada;\nE ao verem os celerados,\nOs atacaram deixando\nUm morto e trez baliados!...\n\nO cabo Augusto mostrou\nHeroismo ao enfrentar\nEsse grupo de bandidos,\nObrigando-o a dispersar;\nE só na Imaculada\nA seus chefes se ir juntar.\n\nEntão o dr. Franclin Dantas\nUns seus parentes juntou\nE com o dr. Santa Cruz\nP’ra Patos se encaminhou...\nE n’essa infeliz cidade\nNo dia seguinte entrou !...\n\nVinte praças e um alferes\nQue estavam policiando\nA' cidade, quando viram\nQuinhentos homens entrando\nEm Patos, se retiraram\nE foram então se ocultando...\n\n— 11 —\n\nMuitas famílias se viram\nPor bandidos perseguidas,\nDiversas moças medrosas,\nCorreram espavoridas\nPara os matos e destantes\nFicaram algumas perdidas!.,.\n\nOs estabelecimentos\nForam logo assaltados\n Em seguida seus cófres\nTodos foram violados!.,.\nOs generos que não levaram\nDeixaram inutilisados\n\nE’ calculado o desfalque\nQue o comercio sofreu\nEm mais de trezentos contos;\nO Santa Cruz recebeu\nO rezultado do saque,\nE a metade ao Franclin deu,\n\nOs chefes dos cangaceiros\nAo dr. João Machado\nTelegrafáram dizendo:\nQue Patos tinham tomado;\nE que só a Rego Barros\nEntregariam o estado!!...\n\nE ao fio telegráfico\nLogo em seguida cortaram;\nOs instrumentos da muzica\nNenhum enteiro deixaram;\nE até da casa do padre\nOs moveis arrebentaram!\n\n- 12 -\n\nFaltam-me ideas e frases\nP’ra narrar o despotismo\nQue Patos testemunhara;\nMe horroriso quando sismo\nQue familias fôram vitimas\nDa sanha do banditismo!..\n\nOs chefes dos assaltantes,\nDos políticos, então\nExijiram que nas urnas\nNo dia da eleição\nDessem ao Rego Barros\nMaioria em votação.\n\nEm fim, abriram a cadeia,\nSoltaram os prisioneiros;\nEstes, depois de se armarem\nUniram-se aos cangaceiros\nAumentando assim o numero\nD’estes cruéis desordeiros!...\n\nDepois de terem umilhado\nÀ ordeira população\nDa cidade sertaneja,\nSeguiram em direção\nDa vila Santa Luzia,\nDando viva a oposição.\n\nNão foram em Santa Luzia\nComo em Patos, tão cruéis;\nD’ali, apenas levaram\nUns quatro contos de reis;\nArrombaram a cadeia,\nE rasgaram alguns papeis.\n\n— 13 —\n\nD’ali, p’ra o Cariri Velho\nNo mesmo dia seguiram\nMas ao subirem a serra\nEm grupos se devidiram,\nE uns trez contos de réis\nEm Soledade estorquiram.\n\nOs patriotas queriam\nInvadir a capital,\nOnde depunham o governo\nFazendo um saque geral;\nNão fôram porque em Campina\nTinha força federal.\n\nEntão p'ra Taperoá,\nOs grupos se encaminharam,\nE ali, de Pedro Pimenta\nA fazenda assaltaram;\nE mais de cincoenta contos\nDesse cidadão levaram.\n\nEntraram em Taperoá,\nLá não havia soldado;\nSaquearam o comercio\nDeixaram tudo arrazádo !\nO lar de muitas familias\nTambém fôra violado ! !...\n\nDe Taperoá seguiram\nP’ra vila de S. João\nDo Cariri, porem lá,\nEncontraram reação\nDa policia que se opois\nContra a larapia invazão.\n\n— 14 — \n\nNessa vila se achava\nO alferes José Vicente,\nCom umas cincoenta praças;\nEste official valente\nProvou que não tinha medo\nDe cangaceiro insolente,\n\nCombateu os atacantes\nQuase dois dias inteiros;\nE então mandou déz soldados\nCom o sarjento M.edeiros,\nBotar uma retaguarda,\nE atirar nos cangaceiros...\n\nLogo que essa retaguarda\nAtirou contra os bandidos\nEstes, correram, ficando\nDois mortos e alguns feridos,\n Os outros sc despersaram\nPela força perseguidos!...\n\nManoel Benicio da Silva\n—Sarjento que comandava\nVinte praças, no Jogar\nVarzea do Franco, passava,\nQuando viu que um grupo enorme\nDe cangaceiro lá estava.\n\nO corajoso sarjento\nFingiu que era camarada,\nE aproximou-se do grupo\nCom a força desfarçada;\nTravando com os bandidos\nUma luta encarniçada!\n\n— 15 —\n\nOs cangaceiros ao serem\nAtocados de surprezas;\nResistiram com bravura;\nMas, procurando a defeza,\nOs que poderam fogir\nCorreram com lijereza!...\n\nTodas as praças mostravam\nHeroísmo sem igual:\nCom a lijereza do raio\nBrandiam o rifle e o punhal !\nMataram séte bandidos\nN’esta lucta colossal!!\n\nEste sarjento Benicio\nTornou-se merecedor\nDe quatro ou cinco galões,\nUm merecido louvor,\nDoü-lhe porque elle é um soldado,\nDe iliminato valor !\n\nDebandaram os bandidos\nSe espalhando no sertão...\nMas, as forças federaes\nCom a policia em união,\nContinuavam mantendo\nContra eles perseguição!...\n\nNovamente uns cangaceiros\nTentaram em Patos entrar;\nMas, a força que lá estava\nObrigou-os a recuar !...\nNão se sabe onde o dr.\nSanta Cruz foi-se ocultar.\n\n— 16 —\n\nE a vinte e dois de Junho\nPez-se a esperada eleição:\nTendo o dr. Castro Pinto\nMaioria em votação\nE os revoltosos ganharam\nSomente a perseguição!...\n\nEstão percorrendo estados\nContingente numerosos\nDo exercito e da policia;\nDos chefes dos revoltosos\nJá teem cercado casas\nE prendido criminosos. \n\nCento e muitos individuos\nJá se acham processados;\nMas todos estes estão occultos\nEm logar ignorados:\nE como a couza é política,\nTodos serão perdoados.\n\nO exercito com a policia,\nEstá agora entrigado;\nE já se deram conflitos\nE morreu mais de um soldado.\nDepois conto a meu leitor,\nDesta encrenca o rezultado.\n\nA Lira do Poéta, é o livro de poésias \nescolhidas, mais barato; e o unico livro\nde versos onde encontra-se a poesia e a\nparodia.\n\n[Em branco]\n\nFrancisco das Chagas Batista\nVende livres de Instrução, Literatura, Poesia, Manuaes, Joias,\nBjouterias, Miudezas e Relojios de aljibeira.\n\nPREÇOS IGUAES AOS DO RECIFE\n\n65—RUA DA REPUBLICA—65\n\nPARAÍBA"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-052",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Vida de Cancão de Fogo e o Seu Testamento",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 34,
"Notas": "Autoria da Ilustração da capa atribuída a Avelino. Fonte: http://www.cchla.ufrn.br/deart/matizes/gravura_popular/?p=obra&id=74. \n Acessado em 06 de abril de 2016 às 13h40.",
"Observacoes": "Possui retrato em clichê fotográfico do autor na contracapa. Numeração manuscrita na capa: \"52",
"Palavras-chave": "Cancão de Fogo; travessuras; cavalo; casa; mãe; pai; irmãos; trabalho; velho; dinheiro; inteligente; ladrão; testamento",
"Tema": "A vida de Cancão de Fogo e seu testamento",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nA VIDA DE\nCANCÃO DE\nFOGO E o seu Testamento\n\nPreço 1$500 réis\n\n\nEdictada por João Martins\nde Athayde\n\nRECIFE-PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nA VIDA DE\nCANCÃO DE\nFOGO\nE O SEU\nTESTAMENTO\n\nLeitor se não se enfadar\ndesta minha narração,\nleia a vida desse ente\ne preste bem attenção\nque foi o quengo mais fino\ndessa nossa geração.\n\nPorque desde de creança\nelle sabia illudir\nestradeiro muito velho\nnão o pôde competir,\no Cancão nunca armou laço\nque alguem podesse sahir.\n\nSigano que no Egypto\no temiam como ao lôbo\nentre todos os ladrões\nera professor do roubo\nchegou aqui no Brazil\no cancão fez delle um bôbo.\n\n- 2 - \n\nAté na hora da morte\no cancão caloteou\ncom o testamento delle\ninda um juiz se enrascou\no escrivão recebeu\num processo que tomou.\n\nNa vida delle ouve caso\nque faz chamar attenção\nmuita gente talvez pense\nque seja exageração\nia um ladrão roubar elle\nelle roubava o ladrão.\n\nAgora vamos saber\nquem era esse tal cancão\ndescrever os signaes delle\ncostume e propensão\npara podermos entrar\nem sua apreciação.\n\nCancão éra um apellido\nque os irmãos lhe pouzeram\npelas travessuras delle\nesse apellidio lhe deram\npor elle nunca querer\ne que os parentes quizeram.\n\nElle era um branco moreno\ndos olhos agateados\no rosto um pouco comprido\n\n- 3 -\n\nos cabellos estirados\nnão eram pretos nem louros\neram quase acastanhados.\n\nO corpo muito franzino\ne muito pouco comia\nvivia sempre pensando,\nde noute pouco durmia\nnão confiava em ninguem\ne nem contava o que via.\n\nNo quengo é que não se póde\ndar delle uma descripção,\nsó posso classifical-o\ncomo grande aberraçãs\numa casa extraordinario\nenfeites da criação.\n\nporque admira a tudo\nesse ente se criar\ne enganar todo mundo\ne ninguem o enganar!\nnunca achou um estradeiro\nque o podésse enrascar.\n\nRoubar objecto algum\nisso não, nunca roubou\nmais em negocio com elle\nnunca ninguem se salvou\ndesde a igreja a justiça\ntudo isso se quixou.\n\n- 4 -\n\nO pai de Cancão de fogo\nfoi um homem preparado\nde muitos bons sentimentos\ne muito bem arranchado,\nmas á sorte neste mundo\nda e tira como um dado.\n\nPor ìsso o cancão um dia\nestava numa discussão,\ndisse a um irmão da mãe delle\nhomem algum tem distincção\na vantagem do fiél\né a mesma do ladrão.\n\nJà tinha quazi 10 annos\nnunca ouviu dizer assim\npedro escapou por ser bom;\npaulo morreu por ser ruim\nbom e máo bonito e feio\ntudo tem o mesmo fim.\n\nCancão tinha sete annos\nquando andou perto da morte\nfoi saltar n'um rio cheio\na correntêza era forte\ndessa vez quaze á desgraça\nfaz elle mudar de sorte.\n\nO Cancão já se afogando\nestava bastante vêxado\nquando passou um cavallo,\n\n- 5 -\n\nque alli morreu afogado\no cancão saltou-lhe em cima\ne disse estou embarcado.\n\nOs irmãos bateram palma\nquando viram elle cahir\ndisseram em casa nós vimos\no cancão se consumir,\naffogou-se nesse instante\nalli deitaram a sorrir.\n\nA propria mãe de cancão\nnão deu signal de sentida\nquando trouxeram-lhe a nova\nda desgraça acontecida\ne disse elle não prestava\nnão perdeu-se nada a vida.\n\nCancão sahiu no cavallo\ncom as pernas a remar\ntocaram n'uma barreira\ncancão pôde se salvar,\ndisse o cancão bom cavallo;\nque faz o dono escapar.\n\nO Cancão entrou em caza\npois tudo surprehendido\nprincipalmente aos que viram\nquando elle tinha cahido\njé tinha corrido a nova\nque cancão tinha morrido.\n\n- 6 -\n\nA mãe delle perguntou-lhe\na morte então não ti quiz?\nquem não quiz disse cancão\nfoi o esforço que eu fiz,\ngraças a um cavallo morto\nque foi quem me fez feliz.\n\nCancão de fogo já tinha\nnove ou dez annos de idade\nquando o pai delle morreu\ndeixou-o em necessidade\ncancão quando soube disse\nisso não é novidade.\n\nMinha mãe está sem marido\npor isso não vae chorar\neu tambem fiquei sem pae\nporem sempre hei de passar\nella pode achar marido\npae é que eu não posso achar.\n\nEu digo como o macaco\na um outro respondeu\nquando elle disse seu mano\nsua mãe hoje morreu\ndisse-lhe então o macaco\npor isso esperava eu.\n\nA mãe de cancão de fogo\ndedicou-se a trabalhar\ncancão de fogo não quiz\n\n- 7 -\n\na isso se sujeitar\ndizendo não tenho forças\npara serviço acabar.\n\nAgora para viagem\nou para qualquer mandado\nachava-o de promptidão\nnão se mostrava enfadado\nninguem conseguia delle\nera servíço pesado.\n\nTodos na casa queriam\nver o cancão se acabar\ndizia cancão de fogo\npode tudo me odeiar\namor não enche barriga\nodio não faz empachar.\n\nMinha mãe acha que fez\nfavor ter me concebido,\neu cá sim fiz-lhe um favor\nlivrei-a de ter morrido,\ne o que seria della\nse eu não tivesse nascido!\n\nSe ella deu-me de mammar\nque eu nao sei, ella é quem diz,\neu não lhe pedi o peito\nse meu o deu foi porque quiz\nem eu lhe vasar os seios\nfoi um favor que lhe fiz\n\n- 8 -\n\nEu cá só devo favor\nao sol e agua do rio\na agua porque bebo-a\ne tomo banho no estio,\ndevo ao sol porque me esquenta\nnas horas que tenho frio.\n\nUm dia disse a mãe delle\neu não tenho o que almoçar\no Cancão de fogo disse\né facil de si arrumar\no mundo é uma despença\ntem o que se procurar.\n\nEntão a mãe disse a elle\nsó se for comprar fiado\neu morro porem não compro\nDeus está vendo meu estado\nseu pae morreu sem dever\nconservou o nome honrado.\n\nDisse Cancão essa honra\nnão passa de uma palhada \nporque o capitalista\nnão olha a pessoa honrada\nleve honra numa venda\ne veja se compra nada.\n\nDisse a velha não puchasse\nao teu pae que foi honrado\ndisse o Cancão Deus me livre\n\n- 9 -\n\neu ter a elle puchado\nse eu fosse como meu pae\nestava tambem enterrado.\n\nElla chorando não pôde\npronunciar mais um nome,\no Cancão de fogo disse\nminha mãe está é com fome\ndisse esperem mais um pouco\nque tudo na caza come.\n\nSahiu encontrou um velho\nque andava acolá perdido\no velho éra sertanejo\ne alli desconhecido\nnão sabia de um hotel\nonde fosse garantido.\n\nO velho muíto uzurario\nnão queria se arranchar\nem qualquer hotel descente\nsó com mêdo de pagar,\ndava preferencia a um rancho\nsomente a fim de poupar.\n\nDisse-lhe o cancão de fogo\nvossa mercê està perdido\nme pague que vou botal-o\nonde será garantido\nfoi o hotel que já vi\nde preço mais resumido.\n\n- 10 -\n\nEu vou contar ao senhor:\neu levei lá um freguez\nera um mez que ia passar\nfoi tão bom que passou trez\nquer saber quanto pagou?\ndez tustões por cada mez.\n\nSe me dá cinco míl reis,\nvamos que está arranchado,\na despeza é a que eu disse\nlá não tem preço alterado,\nleve os contos que quizer\nque là ninguem é roubado.\n\nO velho disse comsigo:\nesse sim, vem me servir,\né atraz desse que ando\npara comer e dormir;\nsó gastarei seis mil rèis\nd'aqui até eu sahir.\n\nE sahiu com o cancão\no cancão a conversar\ncancão mostrou-lhe uma casa\ndisse: é alli pòde entrar,\ndê-me o dinheiro que volto\nver outro p'ra se arranchar.\n\nO velho deu-lhe o dinheiro,\ne cancão sahiu damnado,\nnão procurou mais ninguem\n\n- 11 -\n\nfoi logo para o mercado,\ndizendo com os seus botões,\neu hoje como deitado.\n\nGastou os cinco mil réis,\nnão ficou com um vintem;\nchegou em casa com tudo\ne disse a mãe: ahi tem,\npóde cuidar no almoço,\npor hoje nos estamos bem.\n\nA velha olhou para elle,\ncom a cara bastante feia,\nperguntou: fostes comprar\nfiado na venda alheia?\ndisse cancão: foi um frete\nque levei para cadeia.\n\nA velha ahi exclamou,\noh bruto amaldiçoado!\nalem de seres ladrão\nés de mais, até malvado\nalem de roubar o velho\ndeixasse-o tão enrascado!\n\nLançando mão d'uma vara\natacou ella em cancão,\ncancão se fez na canella\ndisse com páo, isso não!\neu não hei de ser fiél,\nobrigado a ser ladrão.\n\n- 12 -\n\nO velho chegou na casa\njulgando que fosse hotel,\nentão logo, quando entrou\nconheceu quer era o quartel,\ne vieram ao encontro delle,\no cabo e o furriel.\n\nO furriel perguntou-lhe:\no senhor vem se entregar?\nè sem duvida criminoso\ne vem ao jury se livrar?\no velho ficou de fórma,\nque nêm podia falar.\n\nLadrão ! exclamou o velho,\ntraçoeiro, desgraçado!\ndisse-lhe o cabo: se sente,\nnão preciza ter cuidado,\nporem só póde sahir\ncom ordem do delegado.\n\nEntão esse caso deu-se\nno centro da capital\ne canção de fogo disse:\nse eu ficar aquí, vou mal,\neu posso correr o mundo\ne não gasto o principal.\n\nO tio delle sabendo\no que tinha se passado,\nfoi a casa da mãe delle\n\n- 13 -\n\nque ia desesperado,\ndizendo que do cancão,\ninda seria vingado.\n\nCancão ganhou a estrada\nde Parahyba á Goyanna,\npassando por um partido\nentrôu, chupou uma canna\ndísse: nessas condições\neu viajo uma semana.\n\nLargou-se de estrada afóra;\nsem direcção nem destino,\nquando chegou em Goyanna,\nembora que pequenino,\nfoi procurar umo casa\nque se empregasse menino.\n\nEmpregou-se numa casa\npara vender taboleiro,\ná doze mil reis por mez,\ndisse: elle bom dinheiro,\nisso é quazi ordenado\nde guarda livro ou caxeiro.\n\nDos serviços de cancão\ntudo na casa gostava\nmuito fiél e esperto\naquillo não se encostava\ne do taboleiro delle,\num bollo não se roubava.\n\n- 14 -\n\nAo cabo de sete mezes\no cancão tinha juntado,\nsetenta e quatro mil reis,\nquasi todo ordenado,\no dinheìro que ganhou\no tinha todo guardado.\n\nUm dia, disse comsigo:\nminha mãe tem precizão,\ntalvez não tenha mais roupa\ne até lhe falte o pão,\nvou mandar-lhe este dinheiro,\nella me agradeça ou não.\n\nMandou-o pelo correio,\nmandou dízer onde estava\ne o emprego que tinha,\na quantia que ganhava,\nentão mandou lhe dizer\nque todo mez lhe mandava.\n\nAssim mesmo pela velha\ntudo tinha se arrumado\nella pensou que cancão,\ntivesse até milhorado,\nmas o tio quando soube\nficou como um cão damnado.\n\nE era o irmão da mãe delle,\nessa féra inconsciente,\nsó odiava cancão,\n\n- 15 -\n\npor ser elle intelligente\ne os filhos desse monstro\nbrutos, desgraçadamente.\n\nHavia alli um mulato,\nchamado José Vaqueiro,\num individuo ladráo,\ncobarde e alcoviteiro\njurava o que nunca via\npor diminuto dinheiro.\n\nEsse tendo feito um roubo\no cancão de fogo viu,\ne foi logo ao delegado\ne o roubo descobriu,\npor isso o cabra foi preso,\ne uma sentença cumpriu.\n\nO tio de cancão de fogo,\njulgou ir muito acertado,\nmandar por José Vaqueiro,\nver o cancão escoltado,\ndizendo com seus botões:\nelle chega desgraçado.\n\nChamou o vaqueiro e disse:\ndou-lhe parte de uma historia\nvá ver cancão em Goyanna:\nestá aqui a precatoria,\nelle já lhe deve uma,\ntem mais você essa agloria.\n\n- 16 -\n\nA precatoria que vaí,\nfoi feita por escrivão,\no delegado assignou\no mandado de prízão,\na denuncia vai provando\nque o menino è ladrão.\n\nElle descobriu o seu roubo,\nvocê pode se vingar,\nelle fez você ser prezo,\ne custar a se soltar,\nessa occasião é propria\npara você se vingar.\n\nO individuo sahiu\ncomo uma féra tyranna\nlevou chuva no caminho,\npoz-se a tomar muita canna\nfoi cahir embriagado\nnum dos ranchos de Goyanna.\n\nO cancão ia passando\ne achou elle deitado,\ndisse ahi dentro de si,\neste cabra vem damnado\no carcereiro amanhã\ntem de mais esse apurado.\n\nMeteu-lhe a mão na algibeira\ne achou a precatoria\nera um protocollo enorme\n\n- 17 -\n\nera uma medonha historia,\ndisse cancão eu ti arranjo\num baile de palmatoria.\n\nAonde cancão dormia\ntinha chaves enferrujadas\nde portas de armazens velhos\npor alli depositadas,\ncancão limpou-as dizendo\nhoje são aproveitadas.\n\nVoltou e achou o cabra\ninda na mesma soneira,\ncancão tomou-lhe chegada\npoz a mão muito maneira\ntrazia as chaves num mólho\nbotou-lhe numa algibeira.\n\nSahiu no mesmo momento\nfoi dizer ao delegado\nvi no rancho de tal parte\num individuo deitado\né ladrão e assassino\ne tres vezes processado.\n\nAnda com chaves que abre\nqualquer porta de armrzem\ne na casa que elle vai\nnão deixa nella um vintem;\nse não o prenderem logo\nnão escapará nínguem.\n\n- 18 -\n\nEntão foram lá ao rancho\ninda estava elle deitado\ncinco chaves na algibeira\nfoi visto por um soldado\no individuo é ladrão\ndisse a praça ao delegado.\n\nO individuo acordou\njá de baixo do facão\nfallava porem alli\nninguem lhe dava attençáo\nelle alii calculou logo\nser cilada de cancão.\n\nDahi a secenta dias\nfoi que veio justificar\nlevou sesenta e trez surras\nquasi morre de apanhar\npor um milagre de Deus\nainda pôde voltar.\n\nO cancão disse comsigo\neu aqui sou descoberto\npedir as contas e sahir\nessé é o plano mais certo,\neu não quero que a policia\nme ache de corpo aberto.\n\nDevido a José Vaqueiro\nter caido na prizão\no commercio de Goyanna\n\n- 19 -\n\nfez um presente ao cancão\ndeu-lhe duzentos mil réis\ncomo gratifícação.\n\nCancão antes de sair \nfez duas cartas primeiro,\numa foi para mãe dele\nmandando-lhe mais dinheiro\noutra ao tio dando lémbrança,\nque mandava Zè Vaqueiro.\n\nDisse na carta do tio\nseu mordomo excellente\neu apresentei-o aqui\nao delegado somente,\nfoi para a casa da Camara\nseguido por muita gente.\n\nEstá na casa do governo\nla tem honra de sultão\nsoldados alli na porta\nà suo disposição,\nse o senhor tivesse vindo\nera mais satisfação.\n\nCancão pediu ao patrão\nlicença de uma semana\npara visitar a mãe\nque estava em Itabayanna,\ndizendo ella não pode\nvir apé até Goyanna.\n\n- 20 -\n\nO patrão alli pagou-lhe\no resto do ordenado\ndisse cancão eu agora\nquero tomar mais cuidado,\ndormir pouco e andar mais\nviver bem acautelado.\n\nO tio de cancão de fogo\nveio cá pessoalmente\ne provou com documentos\nque a prizão foi innocente,\nforam procurar cancão\na um mez que estava auzente.\n\nO tio de cancão de fogo\ndisse ao tal José vaqueiro\nvocê siga daqui mesmo\natraz daquelle estradeiro\ndisse o cabra: eu não vou là\ninda por todo dinheiro.\n\nQuem soffreu o que soffri\nvai mais atraz de cancão?\nno meu lombo não tem lixa\npara limpar-se facão\nos dois mezes de cadeia\nme serviram de lição.\n\nEu fui que quaze que morro\ncom facão e palmatoria\nos tormentos que eu passei\n\n- 21 -\n\nme ficaram em mimorio,\ngaranto que seu sobrinho\nfoi quem ganhou na historia.\n\nCancão embolçou o cobre\ndisse vou dar um passeio\no mundo é molle, eu sou duro\ne furo-o de meio a meio\nagora vou ao Recife\nvou ver se é bonito ou feio.\n\nCancão saiu de Goyanna\nantes de dar meio dia\nchegou no Iguarassú\nao tocar ave maría\nnão quizeram dar-lhe rancho\npois ninguem o conhecia.\n\nA policia o encontrou\nperguntou-lhe donde vinha\ndisse elle venho de casa\nde minha vó e madrinha\ndisse o subdelegado\nvocê vai para a Marinha.\n\nO cancão dentro de si\nficou bastante agitado\nmais se mostrasse recusa\nia dormir amarrado\ndìsse comsigo eu arrumo\neste subdelegado.\n\n- 22 -\n\nEste subdelegado\nera um alferes ambulante\nsujeito mettido a bom\nporem muito ignorante\no cancão disse comsigo\nesse aqui cai n'um instante.\n\nDisse cancão senhor tenente\nera atraz disso que eu vinha\nporque até quando durmo\nsó sonho é com a marinha\npor isso já dei desgosto\na minha vó e madrinha.\n\nO senhor faz uma carta\na quem eu hei de fallar\nme ensina a rua onde é\nque é facil de aceitar,\ndisse o alferes eu mando\num soldado lhe levar.\n\nInda é melhor para mim\ndisse contente o cancão\npeço a vossa senhoria\npara me dar um cartão\nporque eu arrumarei bem\ncom a sua proteção\n\nFoi cancão para o quartel\nmas não se deu por achado\nno dito quartel dormia\n\n- 23 -\n\no tal subdelegado\npor fortuna nessa noite\nda força tinha um soldado.\n\nO alferes confiado\nque alli estava garantido\narmou a rede e deitou-se\nde toda roupa despido\nroncava que só um porco\nestava do mundo esquecído.\n\nO soldado na tarimba\nda mesma forma dormiu\no cancão disse comsigo\nesse somno me serviu\ntirou a roupa de todos\nabriu a porta e sahiu.\n\nCarregou as duas bluzas\ndo alferes e do soldado\ncalça camiza e ceroula\ntudo isto foi levado\nsó ficou com o relogío\no mais botou no valado.\n\nAs seis horas da manhã \nencontrou elle um menino\num desses que vem ao mundo\npor capricho do destino\né ao principio da vida\ntriste como a voz do sino.\n\n- 24 -\n\nCancão perguntou a elle\nque tens tu? que vaes chorando?\njá vão te doente os pés\ne te vêjo suspirando?\nrespondeu elle eu devia\nsó viver me lastimando.\n\nFoi um menino enjeitado\nfui logo triste ao nascer\nque nem uma ave nocturna\ntão triste não pode ser\neu sou igual ao deserto\nonde ninguem quer viver.\n\nEsse homem que me cria\nme maltrata em tal altura\nque nem um preso no carcere\nsoffrerá tanta amargura,\nnão foi Deus, é impossivel\nque me deu tal desventura,\n\nE para onde é que vas?\no cancão lhe perguntou,\neu! vou d'aqui a dez leguas\nque elle hoje me mandou\ne não me deu um vintem\nveja em que condições eu vou.\n\nQueres fazer como eu\njá ficarás descançado\ne teu pae de creação\n\n- 25 -\n\ntalvez nem tenha cuidado\npois só se tem prejuizo\nse o objecto é comprado.\n\nEu tambem sou como tù\nsó não fui foi enjeitado\nmais atè por minha mãe\neu sou bastante odiado,\nporem este mundo é grande\neu hei de viver folgado.\n\nComo se chama você?\nrespondeu chamo-me Alfredo\ne eu sou cancão de fogo\nmeu nome digo sem mêdo\ntendo precizão eu nego\nporque em tudo ha segredo.\n\nQuer ir commigo acompanhai-me\nfaço-lhe observação,\nnão ha de insultar ninguem\ne nem ha de ser ladrão\nser esperto nos negocios\nisso é uma obrigação.\n\nSò furtará uma cousa\nestando necessitado\nse não quizerem lhe dar\ntem um direito sagrado\nahi se rouba até Deus\nse achar elle descuidado.\n\n- 26 -\n\nSe um ladrão vìr-nos roubar\ndevemos procurar geito\nde roubar primeiro elle\nporem robal-o direito\nque depois delle roubado\ntodos digam foi bem feito.\n\nDisse o Alfredo pois vamos\nporem eu quero saber\nnós ainda tão pequenos\nde que podemos viver?\ndisse o cancão ora essa\nvivemos do que comer.\n\nAgora vamos saber\ncomo o alferes ficou\nas 7 horas do dia\nfol quando se levantou\ngritou acorda soldado\no menino me roubou.\n\nO soldado deu um grito\nque o alferes se assustou\ne perguntou o que foi?\no soldado suspirou\ne disse tudo que eu tinha\naquelle infeliz roubou.\n\nQue faço disse o alferes\nnusinho sem poder sahir\nse o governo souber disso\n\n- 27 -\n\npode até me demitir\nsó não deserto hoje mesmo\npor não ter o que vestir.\n\nAs 4 horas da tarde\ninda elle estava despido\ne o chefe de policia\njá tinha disso sabido\nmandou ver preso o alferes\ne foi logo demittido.\n\nCancão chegou no Recife\nscismado do que houve lá\nsoube que ia um vapor\ncom destino ao Pará\ndisse em voz baixa a Alfredo\nvamos atè o Ceará\n\nEntremos que ninguem veja\nchegando a occasião\nque nos achem sem passagem\nvocê díz que é meu irmão\no resto é por minha conta\neu desenrolo a questão.\n\nEntraram pelo rebordo\nsem a ninguem dizer nada\nja perto do Ceará\nforam então fazer chamada\no cancão disse a Alfredo\nnão conte historia furada.\n\n- 28 -\n\nPerguntou o comissario\nmeninos vocês quem são?\nnós somos dois passageiros\nrespondeu serío o cancão\npassageiros sem bilhete?\npara onde vocês vão?\n\nPapai comprou as passagens\ne mandou nos trazer cá\nem qual vapor mandou elle?\ndiz cancão no ceará\nelle mora no Recife\nmamãe mora no Pará.\n\nEste vapor é Olinda\no Cearà lá ficou\ncancão exclamou de forma\nque o comissario chorou\ndisse maninho nossa roupa!\nah! meu Deus que lá ficou!\n\nPerguntou o commandante\nmenino seu pae quem é\ndisse cancão è fiscal?\nno Recife em São Josè\nminha mãe é professora\ne se chama Salomé.\n\nPerguntou o commandante\ncomo o senhor é chamado?\no cancão de fogo disse\n\n- 29 -\n\no meu nome é Ramualdo\no nome do seu irmão?\ndisse o irmão é Reynaldo.\n\nEntão disse o Commandante\nquando chegar a Belém\nmando chamar sua mãe\ne o delegado tambem\nlá é que posso saber\no erro de onde vem.\n\nO commandante fiado\nque elles eram do Pará\nnão os privou que saltassem\nno porto do Ceará\no cancão disse comsigo\num burro é quem volta lá.\n\nNaquelle mesmo vapor\na precatoria seguiu\ndenunciando cancão\nquando no quartel dormiu\nporém ia no correio\no commandante não viu.\n\nSaltaram no Ceará\ncancão ia descuidado\ne passou cazualmente\nna porta do delegado\nesse disse esteja prezo\nvocê foi denunciado.\n\n- 30 -\n\nVocê é cancão de fogo\nda Parahyba do Norte\nvocê lá só falta ser\ncumplice em crime de morte\ncancã sorriu e lhe disse\nmeu senhor só sendo sorte.\n\nSorte porque? perguntou\no homem impressionado\ndisse cancão já alli\npor um subdelegado\nnós dois já não fomos presos\npor papae ser empregado\n\nE você tem pae aqui?\ndiz cancão tenho acolá\ndisse o delegado então\nchame seu irmão e vá\ndiga a seu pae que eu o chamo\ne seu irmão fìque lá\n\nEntão dissè o delegado\nespere um pouquinho ahi\ndeu a bengalla ao cancão\ne disse leve isso alli\ndiga ao subdelegado\nque traga seu pae aqui.\n\nO cancão sahiu sorrindo\ne disse estou arrumado\nchegou onde estava o moço\n\n- 31 -\n\ndeu-lhe o seguinte recado\nestá aqui a bengalla\nque mandou-lhe o delegado.\n\nElle me ordena que eu \ndiga a vossa senhoria\nque lhe mande cem mil reis,\nque elle jà lhe apparecia\ne mandou esta bengalla\nque o senhor conhecia.\n\nO moço deu-lhe o dinheiro\ncancão de fogo voltou\ndisse Alfredo eu agora\nvou pensar por onde vou\na bomba demora pouco\nse ainda não estorou.\n\nSahimos da capital\nganhamos a capoeira,\nnão havemos de passar\nem lugar que tenha feira\nperder cem mil réis assim\nnão é bôa brincadeira.\n\nE voltou com a bengalla\nque tinha lindos anneis\ndisse cancão isso aqui\nval quatro centos mil reis,\nporem não me custou nada\neu a vendo até por dez\n\n- 32 -\n\nQuando o delegado soube\ndisso que tinha se dado\ne que a bengalla delle\ncancão a tinha levado\nda raiva que teve alli\nquasi morre asphixiado.\n\nDava duzentos mil reís\na quem troxesse cancão,\ndava o valor da bengalla\ncomo gratificação\nchorava que só creança\ne rolava pelo chão.\n\nDisse o cancão procuremos\num matto muito fechado,\nentão só devemos ir\npara perto de um roçado\nonde tenha milho verde\nque a noite coma-se assado.\n\nO Alfredo tinha um geito\npara os olhos revirar\nque representava um cégo\nque fazia se jurar\naté um medico oculista\nera facil se enganar.\n\nE dava um geito na bocca\nque parecia aleijado\no cancão de fogo disse\n\n- 33 -\n\nagora tenha cuidado \nvocê vai para cidade\npara ver o que é passado.\n\nAlfredo foi a cidade\nlá viu todos movimentos,\nparecia um alejado\ne cégo dos mais nojentos\nsoube de tudo que havia\ntrouxe trez mil e duzentos\n\nO cancão disse a Alfredo\namanhã vá preparado,\nconverse com o vigario\nmais assim como alejado\npregue-lhe uma das minhas\ne peça-lhe um attestado.\n\nVocê diz-lhe senhor vigario\neu venho lhe consultar\nminha mãe antes da morte\nme pediu para pagar\numa promessa que fez\npara um santo festejar.\n\nPedir pelo mundo esmola\nexposto a todo rigor\npara São Sebastião\ne entregar ao senhor\nvosmecê não estando aqui\neu desse a qualquer pastor.\n\n- 34 -\n\nSe elle der-lhe o attestado\nja vê que ahi não ha nada\nvocê peça uma corôa\ne a toalha emprestada\nnós com esses documentos\nfazemos bôa jornada.\n\nO Alfredo arrumou tudo\nquanto o cancão esperava,\ndisse o vigario comsigo\natraz de ti eu andava\num conto de rèis de esmola\no vigario projetava.\n\nEntão dei-lhe um attestado\nescripto com perfeição\ncom carimho da igreja\nfeito por tabelião\nde forma só quem estava\nde accordo com o cancão.\n\nMandou fazer-lhe trez fatos\nde luto para elle andar\ne lhe disse das esmolas\nvocê não pode tirar,\num vintem dellas não tiro\nsobre pena de peccar\n\nQuando o Alfredo chegou\ncancão ficou satisfeito\ndeu-lhe um abraço dizendo\n\n- 35 -\n\nes um menino direito,\npresta attenção aos mandados\ntudo se faz é bem feito.\n\nMeia noute elles sahiram\nquando o dia amanheceu\ndisse cancão nesse mundo\nnão há mestre como eu\ne nem o diabo pode\nescapar de um laço meu.\n\nCom seis dias de viagem\ncomeçaram a esmolar\ncancão aonde pedia\nfazia gente chorar\nafim de dar-lhe uma esmola\nera capaz de o furtar.\n\nA graça era quando elles\nchegavam num povado\no cancão com a corôa\nia pedindo de um lado,\nentão Alfredo pedia\ncomo cego e alejado.\n\nNo Ceará não ficou\numa só povoação\nque essa não fosse explorada\npor alfredo e por cancão\ne nunca chegou o dia\nque gastassem um só tustão.\n\n- 36 -\n\nA cabo de quatro mezes\njá o vigario scismado\nfoi aonde Alfredo disse\nque tinha sido creado\nlhe disseram que elle alli\ntempo algum tinha morado.\n\nUm dia cancão de fogo\nconsultou ao companheiro\ndizendo somos felizes\ntemos bastante dinheiro\njá temos mais de tres contos\nvamos ao rio de Janeiro.\n\nE seguiram para o Rio\ncomo cancão calculou,\ndepois de oito ou dez dias\na precatoría chegou,\nnem noticias do cancão\na autoridade achou.\n\nTodos dois estavam no Crato\ncancão disse ao companheiro\nsahimos de madrugada\nnão se passa em Joazeiro\ne vamos directamente\ndaqui para o rio de Janeiro.\n\nAtravessaram Pernambuco\nentraram para Bahia\ndez, doze quatorze leguas\n\n- 37 -\n\ntiravam elles por dia\nvendo a hora e o instante\nque uma onça os comia.\n\nJá no Estado do Rio\num dia deram uma errada\ndormiram n'uma fazenda\nsahiram de madrugada,\ndeixaram o caminho certo\nseguiram por outra estrada.\n\nE andaram todo dia\nnão viram uma só morada,\ntinham sahido do rancho\na uma hora da madrugada,\nagua achavam que bebiam\nporem o que comer, nada.\n\nA noute fizeram fogo\nUm velava outro dormia\na onça rosnava perto\ncancão de fogo dizia\nestà com frio, aqui tem fogo\nse està só tem companhia.\n\nAs seis horas da manhã\nse levantram e seguiram\nera trez horas da tarde\nquando uma casa elles viram\ncheiro de uma feijoada\nchegando perto sentiram.\n\n- 38 -\n\nEra um lugar esquesito\nsomente uma casa havia\numa crioula acolá,\ncom quatro filhos vivia\ndalli até doze leguas\nnão tinha uma moradia.\n\nA creoulo cozinhava\nera fora no oitão,\nelles viram uma panella\nque conzinhava feijão\na crioula pisava milho\nestava conzinhando um pão.\n\nCancão de fogo chegou\ncomprimentou-a contente\na negra cravou-lhe os olhos\nque parecia serpente\no cancão disse comsigo\neu pensava differente.\n\nO cancão de fogo disse\nnão podemos mais andar\nvossa exellencia me arranje\no que se possa jantar\ntemos dinheiro e pagamos\no que a senhora cobrar.\n\nA negra olhou e lhe disse\njá por alli vagabundo\ngente branca para mim\n\n- 39 -\n\né a peior deste mundo\nvocê pode se damnar\nmorrer com os olhos fundo.\n\nA negra chamou um filho\ndisse João venha cá\nvá na baixa do capim\ne mude a cabra de lá,\ne volte com muita pressa\nprecizo de você cá.\n\nDisse a cancão e ao outro\nvocês vão logo sahindo\ntem aqui um filho meu\nque mata gente sorrindo\nelles sahiram voltando\npor onde já tinham víndo.\n\nO cancão de fogo disse\nnós havemos de voltar\npara não dar-mos motivo\na negra desconfiar\nse elle vir por onde vamos\né facil de nós achar.\n\nDisse cancão a Alfredo\npara poder conseguir\nroubar aquella panella\né preciso você ir\nse esconder perto da casa\naté a negra sahir.\n\n- 40 -\n\nEu pego aquelle moleque\ne vou com elle a madeira\na negra a de vir a mim\ne você não faça asneíra\npegue a panella com tudo\ne saia em grande carreira.\n\nAntes da negra chegar\na minha carreira é feia\nprocure a estrada em frente\nme espere a legua e meia\ne procure logo um matto\naonde se faça a ceia.\n\nCancão pegou o moleque\ndeitou-lhe o cipó no lombo\na negra partiu damnada\ncom um bacamarte no hombro\ncancão soltou o moleque\ndisse com chumbo eu não zombo.\n\nA negra ainda atirou-lhe\nmas o tiro não pegou,\na negra uivava na ira\ne de que forma ficou\ndepois que chegou em casa\ne a panella não achou.\n\nO cancão chegou adiante\nvoltou por dentro do matto\ndizendo com seus botões\n\n- 41 -\n\nquem morre de fome é pato\nquem trabalha Deus ajuda\no pão é muito barato\n\nCancão de fogo sahiu\ncorrendo sem dizer nada\nia por dentro do matto\nbeirando sempre a estrada\nonde encontrou o Alfredo\njá estava a ceia botada.\n\nEra feijão mulatinho\ncom ossada de carneiro\ncancão quando acabou disse\njá vi hotel barateiro\nenchem-se bem a barriga\ne não se gasta dinheiro.\n\nOs progammas do cancão\ntinha o que se apreciar\nporque o cancão dizia\nnada faz-me admirar\naquelle que sorrir hoje\namanhã pode chorar.\n\nBem, só pode está o sol,\nporque ninguem o alcança\nhaja no mundo que houver\no sol lá nem se embalança\nemquanto a fortuna dorme\na desgraça não descança\n\n- 42 -\n\nPae e mãe é muito bom\nbarriga cheia é melhor\na moolestia é muito ruim\nporem a morte é peior\no poder de Deus é grande\nporem o mato é maior.\n\nDisse cancão ao alfredo\nassim se deve furtar\nnão é crime nem peccado\neu fallei para comprar\na negra não quiz vender\ndeu-me o direito a roubar.\n\nAfinal chegaram ao Rio\nquando estavam hospedados\nestavam na meza almoçando,\nchegaram cinco soldados\nofficial de justiça\ne dois subdelegados\n\nQuem é o cancão de fogo\num daquelles perguntou\nsou eu respondeu cancão\nas suas ordens estou\npois está preso disse um\no cancão não se alterou.\n\nO official de justiça\nleu claramente o mandado\nentão o cancão de fogo\n\n- 43 -\n\ndisse ao subdelegado\ndê-me licença almoçar\nque ficarei-lhe obrigado.\n\nToda gente do hotel\nprestava grande attenção\ntudo pairou o talher\nolhando para cancão\naté as autoridades\nfizeram admiração.\n\nQuando acabou de almoçar\npediu a conta e pagou\ntirou um conto de réis\nao companheiro entregou\ndisse aos subdelegados\nagora querendo eu vou.\n\nEntão disse ao companheiro\nvocê faça o que poder\ne veja se pode ir\nno lugar onde eu estiver\ne demais até um dia\nquando o Governo quizer.\n\nFoi cancão a chefatura\npara ser interrogado\ndisse o chefe de policia\no senhor é viciado,\ncomo foi no ceará\no roubo do deledgado?\n\n- 44 -\n\nO cancão de fogo disse\neu lá não roubei alguem\nfoi a um mandado delle\nelle não deu-me um vintem\neu fiquei com a bengalla\nque não sou pai de ninguem\n\nE quede os cem mil reis?\nlá do subdelegado?\nvossa excellencia crer nisso\nisso é plano mal formado\nquem é que dá cem mil reis\na quem está denunciado.\n\nE a roupa do alferes?\nque vossa mercê carregou?\nfoi para me defender\nfoi isso quem me salvou\nelle para que prendeu-me?\nquando ninguem o mandou.\n\nDisse o chefe de policia\no levem para a marinha\no cancão de fogo disse\nantes isso do que tinha\na desgraça ia em viagem\nquando a fortuna já vinha.\n\nMais um medico da marinha\nestava nessa occazião\no recusou por doente\n\n- 45 -\n\nda laringe e do pulmão\nachou ser uma injustiça\nnão se proteger cancão.\n\nAs quatro horas da tarde\ncancão de fogo voltou\ndizendo bem dito seja\no que me denunciou\ná males que trazem o bem\ncomo esse agora chegou.\n\n- 46 -\n\nO \nTESTAMENTO\nDE CANCÃO\nDE FOGO\n\nNessa historia o leitor viu\nquem era o cancão de fogo\nera aquelle que dizia\na vida é mesmo que um jogo\np'ra morrer não falta tempo\np'ra dar não preciza rogo.\n\nRoubar de quem tem de mais\né forma de caridade\ntirar dez de quem tem vinte\nestá regularidade\nquem não precisa de tudo\nbasta ficar-lhe metade.\n\nFoi o que cancão de fogo\ndisse na hora da morte\na fortuna tem o pezo\nque tem a tyranna sorte\na desgraça quando vem\nnão respeita quem é forte.\n\n- 47 -\n\nQuando elle viu que morria\nchamou a mulher p'ra juncto\ne disse minha mulher\nnão preciza chorar muito\nnão ha tempo mais perdido\ndo que chorar por defunto.\n\nDisse um filho vou chamar\ncom pressa um facultivo\nalli tem um medíco bom\nintelligente e activo\ndisse o cancão é asneira\ndar remedio a quem està vivo.\n\nAgora depois de eu morto\nvocês o mandem chamar\npergunte quanto elle quer\npara me resuscitar\ne diga logo eu só pago\nse meu pae se levantar.\n\nIsso não, disse-lhe o filho,\nmorrendo ahí se liquida\ndisse-lhe cancão: meu filho\nisso é cousa conhecida\no que não espulsa a morte\nnão faz com que volte a vida.\n\nA pessoa que tomar\nremedio para não morrer\né como quem salga carne\n\n- 48 -\n\ndepois della apodrecer\né resar para S. Bento\ndepois da cobra morder.\n\nChegou um frade e lhe disse\nvenho ajudal-o a morrer\ndisse o cancão, sim senhor,\ntenho que lhe agradecer\ndeite-se ahi para um canto\ncuede logo em se torcer.\n\nTorcer como? disse o frade\ndisse e cancão: meu amigo\no senhor não vem morrer,\npara ir juncto commigo?\no frade respondeu, vote!\num burro é quem vai comtigo.\n\nDisse-lhe o cancão de fogo\nse eu não tivesse prostado\nvocê tinha que sahir\ncortez e civilizado\nsó entraria em casa\naonde fosse chamado.\n\nMeu irmão, disse-lhe o frade,\neu vim aqui exortal-o\no inferno está aberto\no diabo a esperal-o\nas chammas do purgatorio\nestão promptas para queimal-o.\n\n- 49 -\n\nDisse-lhe o cancão de fogo\nfrade quero que me dê\nexplicação do inferno\nlhe pesso como mercê\nno inferno inda haverá\ndiabo como você?\n\nEu não o mandei chamar\nnós não temos amizade\neu nunca quiz relações.\ncom cigano nem com frade\napenas tenho a dizer-lhe\ndamna-se por caridade.\n\nAgora quero que chame\no juiz e o escrivão\nde alguns bens que ainda me resta\nvou fazer aduação\nvou fazer publicamente\nminha recommendação.\n\nEntrou em casa o juiz\njuncto com um escrivão\nentraram logo no quarto\naonde estava o cancão\no juiz disse aqui estou\na sua disposição.\n\nDisse o juiz o senhor\ntem uns bens para deixar?\nsinsenhor disse o cancão\n\n- 50 -\n\neu não os posso levar\nse aguem quizer ir commigo\ntem um bom frete a ganhar.\n\nDisse o escrivão não brinque\nrepare que a morte é crua\npode até ser cosinhada\npode vir vestida ou nua\neu brinco cá com a minha\nvocê lá respeite a sua.\n\nO juiz lhe perguntou\nvocê não tem dois sobrados\nquer deixal-os a alguem?\ndisse o cancão estão vexados\nvocês ou são dois gatunos\nou são meus filhos bastardos.\n\nDisse o juiz ora esta\nentenda-se esta charada\ngente em casa me esperando\no senhor dando massada\nnós fazendo falta lá\ndivido a sua embrulhada.\n\nDisse o cancão meu amigo\nvocê assim não vai bem\nvexames fezem fadigas\ndas quaes não escapa alguem\npadre juiz escrivão\nnão fazem falta a ninguem.\n\n- 51 -\n\nPuchou um papel lacrado\nde dentro do travisseiro\nentregou-o ao juiz\ne disse leia-o primeiro\nveja quem eu constituo\ncomo meu testamenteiro.\n\nSecenta contos de reis\nque tenho depositados\nno banco nacional\ntrez casas e dois sobrados\nestão fora do testamento\nserão inventariados.\n\nAo dr. João da Cequeira\nescrivão do testamentos\ndeixo em Bello Horizonte\nna praça dos sacramentos\na casa nº. 100\ncom todos os cómpartimentos.\n\nAo dr. Alves de Lyra\neu deixo-lhe em canta gallo\na casa nº. 6\nna rua de S. Gonçalo\ne o sitio dos auzentes\nna capital de S. Paulo.\n\nDisse o juiz oh! senhor!\né muita dignidade\no senhor dar tanta cousa\n\n- 52 -\n\npor sua livre vontade\na mim e ao escrivão\nisso é ter muita bondade.\n\nNão dr. disse cancão\nmeus filhos ficam ahi\npodem precisarem um dia\nos senhores são daqui\ndisse o juiz precisando\njá sabem eu moro alli.\n\nSahiram numa palestra\no juiz e o escrivão\ndizendo um ao outro\nfoi sublime aquella acção\nsó nos dois nos livrariamos \nde um calote de cancão.\n\nMorreu o cancão de fogo\na mulher participou\npoucos momentos só depois\no juiz se apresentou\ndahi a uns 10 minutos\no tabelião chegou.\n\nDisse o juiz a mulher\nseu marido já morreu\ncom relação ao enterro\ndeixe que quem faz sou eu\neu não quero que dependa\num tustão do que é seu\n\n- 53 -\n\nE passou-lhe um documento\ncomo era gratuite\nmandou fazer catacumba\nfoi quem fez todo convite\ndisse á mulher de cancão\ncom a senhora estou quite.\n\nDepois de 40 dias\nque cancão tinha morrido\nprocedeu-se o inventario\nfoi tudo bem dividido\nfilhos e mulher de cancão\ncada qual foi bem servido.\n\nO juiz depois pensou\nque havia precizão\nde exirgir escriptura\nda familia de cancão\nchegou lá não encontrou\nquem desse definição\n\nMas depois disse comsigo\neu tenho provas légaes\nprovo com o testamento\nnão precizo nada mais\ntratou de tomar o trem\nfoi para Minas Geraes.\n\nSaltou em Bello Horizonte\nfoi ao hotel almoçou\nindagou onde era a rua\n\n- 54 -\n\numa pessoa ensinou\na rua até era perto\nnum instante elle chegou.\n\nQuando o dr. viu o predio\nsorriu-se ahi de contente\nexamìnou-o por fóra\nachou muito exelente\ntinha cem palmos de fundo\ne setenta e doís de frente.\n\nEntão batendo na porta,\ncom pouco um homem chegou\n-que deseja cavalheiro?\no homem lhe perguntou\n-sou o dono deste predio-\no homem ahi o fitou.\n\n-De qual predio meu senhor?\n-deste aqui que você mora,\n-isso é conto de vigario?\né cêdo inda não é hora\nahi bateu o postigo\nnem fallou mais foi embora.\n\nO dr. João de Siqueira\ndisse: -momentos damnados!\nficou processo de tudo\nporem minutos passados\nfoi ao cartorio e mandou\ndar buscas nos registrados.\n\n- 55 -\n\nFoi ao cartorio. Bateu.\nsahiu o tabelião\no doutor disse - me consta\nque o collega é escrivão,\ne eu venho em seu cartorio\ndecidir uma questão.\n\nE puchou ahi do bolço\nos papeis do testamento\ne disse: O collega veja\nse acha este apontamento\n-veja se não està légal\ntodo este meu documento?\n\nEncontraram a escrìptura\nda casa ja referida\nvendida pela doutor\nfelix Teixeira Guarida,\ncomprada para uma orphã\nda viuva Margarida.\n\nCollega como foi isso?\npergunta o tabelião\nfoi um conto de vigario\npassado por um ladrão,\n-disse o tabelião:-Isso\né igualmente ao <>\n\nPois foi esse tal <>\nque mora no Rio de Janeiro:\ndisse o tabelião\n\n- 56 - \n\n-Esse é um grande estradeiro!\nquando elle éra pequeno\nroubou esse mundo inteiro.\n\nAqui mesmo de uma vez\numa noite de S. João\num ladrão foi roubar elle\ne elle roubou o ladrão;\ne o gatuno por isso\nacabou-se na prizão.\n\nO ladrão tinha dois contos\nque de alguem tinha roubado\ne julgando que cancão:\nfosse um vedelhão de gado,\nfoi ver se passava um quengo\nmais foi quem sahiu quengado.\n\nDisse o gatuno ao <>\n-patrão eu tenho dinheiro\ne dejava fazer sérias\ntransações com o cavalheiro,\ndisse o <>: --é preciso\nque eu examine primeiro.\n\nO ladrão quando ouviu isso\nficou bastante assombrado;\no cancão de fogo disse:\n--ladrão eu sou delegado!\ndesde 3 horas da tarde\nque tinha sido avisado.\n\n- 57 -\n\nO ladrão ficou immovel\nsem saber o que fizesse;\npensou se aquelle dinheiro\nse acaso o cancão quizesse\nseria o meio com que elle\numa escapula lhe desse.\n\n--meu moço, disse o ladrão\npor vida de vossos paes\npor vida de vossa mãe\ndeixe-me aqui em paz\nme solte que lhe prometto\nnunca hei de roubar mais.\n\nAhi tirou o dinheiro\ne disse - senhor delegado\npegue 2 contos de réis\nacceite de seu criado;\ncancão tomou o dinheiro\ne disse vá com cuidado.\n\nBotou-lhe um cerco por fóra.\nadiante denunciou-o;\na patrulha foi atraz,\nminutos depois pegou-o;\no gatuno conheceu\nque outro gatuno roubou-o\n\nO ladrão confessou tudo\nquando a policia prendeu\ninda caçaram o cancão\n\n- 58 -\n\nelle desapareceu\no gatuno na cadeia\ndeu-lhe a bexíga e morreu.\n\nUm preto aqui fazendeiro\nno tempo da escravidão,\nbotou-o como empregado\ne elle uma occasião\nfoi a 1 comprador de escravos\ne lá vendeu o patrão.\n\nMetteu o cobre no bolço\ne ninguem poude o achar\no preto viu-se apertado\npara desembaraçar\no que cancão tinha feito\ndeu trabalho desmanchar.\n\nPassou quengadas enormes\ncom tanta facilidade,\nentão nas emprezas delle\ntínha tal felecidade,\ne nunca poude cahir\nem poder da autoridade.\n\nEu não sei como o collega\nmora no Rio de Janeiro\nnão sabia que o cancão\nera o maior estradeiro?\n- estradeiro não! ladrão!\nfalsificador verdadeiro!\n\n- 59 -\n\nTambem o dr. Siqueira\nficou encolerizado;\npassou em Bello Horizonte\numa noute imcommodado\npelo conto de vigario\nque o cancão tinha passado\n\nDizia: -Sou escrivão\nnunca roubei um vintem,\ntrinta. quarenta mil réis\nnáo è roubo de ninguem l\no roubo que eu considero\ne o que passa de cem!\n\nE eu!? fazer o enterro\ndo diabo do ladrão!\ngastar seis centos mil reis\nsem a minima precizão!\nda sepultura ao gatuno\ncomo que fosse um Barão!\n\nRaìos te partam, damnado,\nla por onde tú parares!...\no prejuizo que eu tive\nno inferno has de pagares!\ntenho fé na providencia\nque lá tù tens que amargares.\n\nQuasi tresentos mil reis\nnesta viagem gastei,\nquando o diabo morreu\n\n- 60 -\n\nquantas passada eu dei!\ngastar o meu tempo e dinheiro\n--vejam agora o que lucrei!?\n\nTambem voltou apitando\ncom a carranca mais feia,\nchegou em casa deitou-se\ne não quiz saber da seia,\ne soube que o juiz\njá tinha ido a cadeia.\n\nPorque foi em Canta Gallo\nvê lá a casa que herdou\nna rua de S. Gonçalo\na dita casa encontrou\no morador era o dono\na quem elle o intimou.\n\nComo o domno não sahio\nbotou-o a pulso p'ra fóra;\no homem foi a policia\nprendeu-o na mesma hora\no botaram no azylo\nquazi que não vem embora.\n\nO escrivão logo cêdo\nfoi a casa do cancão,\ne disse para a mulher delle?\n--seu marido era ladrão,\ndepois de morrer roubou-me\neu sendo delle escrivão!\n\n- 61 -\n\nA senhora viu a casa\nque elle para mim deixou-a?\nsendo a casa de uma orphã\nque o diabo não comprou-a,\ndisse e mulher de cancão:\n---doutor, elle não levou-a\n\nE meu marido deixou\no predío que o senhor díz,\ndeixou vinte e um estados\nque tem em nosso paiz,\nficou para quem quizesse...\nelle nada disso quiz.\n\nO dr. corou e disse:\n---tambem garanto a senhora\nse Deus botal-o no céo\npode esperar pela hora\nde uma das <> delle\nque bota atè Deus p'ra fora\n\nPorque eu nunca encontrei\nladrão fino como aquelle,\ndesgraçado do defunto\nque sepultar-se com elle\neu acho <> capaz\ndé roubar os ossos delle.\n\nE a senhora tambem---\ndesculpe a minha ousadia:\nvossa mercê herdou delle\n\n- 62 -\n\ncostume e cathegoria\npois a mulher do philosopho\naprende a philsophia.\n\nA mulher disse Doutor,\nmeu marido não roubava,\nmas com algum escrivão\nque elle se communicava\nsendo um pouco intelligente\nmuitas cousas decorava.\n\nElle chamou os senhores\nquando estava aqui prostado,\nporque queria imitar\no christo crucificado;\nquería morrer tambem\ncom um ladrão de cada lado...\n\nO doutor sabe que a pessoa\nestando perto de morrer,\nas vezes sente remorsos\ne teme de se perder;\ndizem que no outro mundo\nas pessoas hão de soffrer.\n\nO dr. não vio o frade\nvir tambem por sua vez?\ne não viram meu marido\nque barulho logo fez?\n-Disse eu, chamei dois ladrão\nnão è preciso de tres.\n\n- 63 -\n\nAhi disse o escrivão:\n-dê licença, eu vou embora,\nsou obrigado a dizer\nque tenho mêdo senhora\neu acho vossa excellencia\ncapaz de vender-me agora.\n\n-Até logo, senhor doutor,\ndisse a mulher de <>:\naqui fico as suas ordens\nse acaso houver precizão,\ntem uma creada aqui\na sua disposição.\n\n-Damna-te cachorra doida!\ndisse o escrivão correndo\no diabo é quem vem cà\nainda estando morrendo\no quengo de teu marido\nparece que em ti estou vendo.\n\nFIM\n\n- 64 -\n\nAVISO\n\nAviso aos nossos amigos e freguezes,\nque João Martins de Athayde tendo\nentrado em negocio com a Dona\nVenustiniana viuva do falícido poéta\nLeandro Gomes de Barros, com a\npropriedade de livros de\nversos do mesmo poéta.\nJoão Martins de Athayde acha-se\nmorando na matinha da Encruzilhada\nde Limoeiro rua Telles Junior nº. 23\naonde conserva um grande estok dos\nlivros de sua lavra e de todos que\no amado e nunca esquecido poèta\nLeandro Gomes de Barros pubricou.\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\nLeandro Gomes de Barrs\n\nA' venda no Mercado de São José\ncompartimento nº. 51\nO deposito na Matinha da encruzi-\nlhada de Limoeiro rua Telles Junior\nnº. 23"
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{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-053",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Bento, o Milagroso de Beberibe - Peleja de Antonio Baptista e Manoel Cabeceira",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "-",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"33",
"Palavras-chave": "Beberibe; milagre; cura; água; bigode; papai; hospital; sogra; Antonio Baptista; Manoel Cabeceira; cantar; professor; menino; velho; colega;",
"Tema": "A história de um curandeiro milagroso; Disputa entre Antonio Baptista e Manoel Cabeceira",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLEANDRO GOMES DE BARROS\n\nBENTO, o milagroso de Beberibe\nPeleja de Antonio Baptista e Manoel Cabeceira\n\nA venda, Rua do Alecrim 38 E\n\n[Em branco]\n\nBento, o milagroso\nde Beberibe\n\nPernambuco é um Estado\nAonde tudo se apoia\nE quasi todos os annos\nVem de novo uma pinoia,\nEste anno em Beberibe\nMilagre já está de boia.\n\nO que já morreu está morto\nE quem escapou não morre,\nDevemos aproveitar\nEmquanto o alambique corre,\nAinda que a morte venha\nTem o Bent que soccorre.\n\nUm dia desses, eu vindo\nDa Fabrica Camaragibe,\nDe volta vi muita gente\nNo cáes de Capibaribe,\nTudo dizia a um tempo:\n-Tem um santo em Beberibe.\n\n- 2 -\n\nDirigi-me a um rapaz\nE perguntei-lhe o que era;\n-Disse o rapaz-é um homem\nQue o povo no cáes espera,\nCura gente com milagre\nE é curador de vera.\n\nEu indaguei como era\nA cura que elle fazia,\nEntão o moço me disse\nQue com certeza sabia\nEra com almas de indios\nE agua de pote, fria.\n\nTanto que o rapaz disse:\n-Vai se fechar o hospital;\nA pharmacia, adeus viola,\nA medicina vae mal.\nRemedio perdeu a moda,\nSe acaba tudo afinal.\n\nDisse a pessoa-elle lá\nFaz a cousa de maneira,\nQue a <>\nE o <>\nTem o valor das bananas\nDe tarde, no fim da feira.\n\nCom almas de dez caboclos\nE um frasco d'agua fria\n\n- 3 -\n\nCura erysipelae lasthma\nRheumatismo e anemia,\nDôr de cabeça, enxaqueca,\nBexiga o dyspepesia.\n\nRenova a pessôa velha,\nPõe na edade que quer,\nFaz cair cabellos brancos\nDa pessôa que os tiver\nFaz serem pretos ou louros,\nDa côr que o dono quizer.\n\nOs reporters de um jornal\nForam lá, tomaram nota.\nDisse-lhe um dos curados\nQue ali não tinha lorota\nO homem aqui tira lingua\nEndireita e depois bota.\n\nChegou um aleijado\nQue causava até assombro,\nAs pernas já estavam seccas\nTinha nas costellas um rombo,\nFoi lá em duas molêtas\nVoltou com ellas no hombro.\n\nAqui havia uma moça\nPobresinha, mas, honrada,\nNão a queriam por pobre,\nJá estava desenganada,\n\n- 4 -\n\nCom 3 gottas d'agua benta\nFoi pedida, está casada.\n\nDizem que no Amazonas\nElle ganhou até apostas\nE uma viuva lá\nFoi uma das grandes mostras\nBotou agua no defunto\nTrouxe elle vivo nas costas.\n\nElla foi ao cemiterio\nViu a cova do defunto,\nTirou da agua do Bento\nE passou na cova um unto,\nNão trouxe dois outros vivos\nPorque achei que era muito.\n\nEu fui um dos que fui lá\nQuando elle appareceu,\nMeu bigode era pequeno\nMas num instante cresceu\nTanto que minha mulher\nDisse que não era eu.\n\nQuando os meninos me viram\nFoi sem limite o sussurro,\nUm me ameaçava pau,\nOutro soltava-me murro,\nGritando tudo a um tempo:\nUm pai assim só p'ra burro.\n\n- 5 -\n\nA mulher me perguntou\nE quem é vossa mercê?\nEu disse sou seu marido.\nElla disse-quem você?\nDisse-o caçula de todos:\nEsse é lá papai o que!\n\nDisse o menino papai\nE' um velho rabugento\nTem cento e vinte janeiros\nJá tem o couro cinzento\nO Sr. ainda é rapaz\nRobusto e bem corpulento.\n\nO Sr. diz que é papai?\nPorém, assim não se safa\nO palitot de papai\nParecia uma tarrafa\nA cabeça côr de neve\nO queixo como garrafa.\n\nO Sr. aqui não entra\nDa calçada logo arribe\nSenão eu metto-lhe o pau\nPois a lei não me prohibe\nEu disse sou teu pai mesmo\nVim hoje de Beberibe.\n\nNa bolsa no corpo em tudo\nEu já sentia desfalque\n\n- 6 -\n\nFoi tocar nagua do Bento\nSenti inteiro meu frack\nApareceu-me bigode\nE nasceu-me cavangnac.\n\nAhi o menino disse\nHoje eu levo mamãe lá\nElla vive muito rouca\nEu lhe disse: deixe está\nVocê é muito creança\nAinda não sabe o que ha.\n\nSogra muda e mulher rouca\nSão de bem necessidade\nEsses dois incommodos nellas\nSão de grande utilidade\nQuando nada essas assim\nDescançam a humanidade.\n\nO menino perguntou-me\nPapai como isso se deu?\nDe que forma é esse homem?\nComo foi que appareceu?\nCahiu do ceu por descuido?\nSeria trovão que deu?\n\nEntão eu disse: não sei\nSe elle foi ou não nascido\nSó sei que elle faz milagre\nE é muito concorrido.\n\n\n- 7 -\n\nMuito breve o hospital\nSerá até demolido.\n\nMas que remedio dá elle?\nO menino perguntou:\n- Eu disse: agua do pote\nFoi o que elle me applicou.\nBebi e com 10 minutos\nO cavagnac apontou.\n\nMuitos dizem que elle é santo\nVeio do céo enviado\nAssim dizem dez ou doze\nA quem elle tem curado\nE' cada espiritão\nQue está ali encostado.\n\nTomara que elle não vá\nPara as bandas de Santo Amaro\nAs sogras no cemiterio\nSó andam tomando faro\nE minha sogra esta lá\nSe sahir me custa caro.\n\nSegundo o que eu tenho ouvido\nDizer o que elle está fazendo\nCego já tem ido lá\nBebe a agua d'elle e volta vendo\nTem ido gente sem pernas.\nE volta de lá correndo.\n\n- 8 -\n\nA casa onde elle habita\nVive cheia como um ovo\nAs vezes cura 3 mil\nChega outro tanto de novo\nCom 2 ou 3 potes d'agua\nCura elle todo povo.\n\nAqui tem uma mulher\nQue 3 linguas possuia\nAdmira a todo mundo\nComo é que ella comia\nE 3 linguas n'uma bôcca\nEu nem sei como cabia.\n\nTomou agua milagrosa\nNão tem cicatriz alguma\nTratamento de 10 horas\nElla ficou bôa d'uma\nCahiram logo 2 linguas\nQuasi fica sem nenhuma.\n\nAgora note o leitor\nA que ponto ia chegar\nMulher só tendo uma lingua\nJá não se pode aturar\nExistindo uma com 3 \nQuem a podia supportar\n\nPeleja de Antonio Baptista\ne Manoel Cabeceira\n\nA. B.-Sr Manoel Cabeceira\nEu sou Antonio Baptista\nCanto a 4 ou 5 annos\nMas nunca perdi conquista\nDesejo cantar comsigo\nTirar-lhe o panno da vista\n\nCabeceira-menino quem é você?\nTão novo e tão malcreado\nIsso foi falta de couro\nSeu pae era descuidado\nNão o cortou em pequeno\nDeixou-o precipitado.\n\nB-Cabeceira eu aprendi\nNa escola de Romano,\nQue no logar que cantava\nDeixava a mostra do panno\nTomei lic*ão com Ugulino\nMe exercitei com Germano.\n\nC-Eu cantei com todos esses\nAntes do senhor nascer,\n\n\n---------\nNota: a palavra assinalada com o (*) indica um trecho ilegível.\n\n- 10 -\n\nFiz Romano atropellar-se\nE fiz Germano correr\nAbocanhei Ugulino\nPorem não pude o morder\n\nB-Pode ter sido um Romano\nAlgum velho muito antigo\nO que foi meu professor\nSó sendo por um castigo\nE Germano da alagôa\nNunca correu de perigo.\n\nC-Se Germano fosse vivo\nInda fosse cantador\nEu mandaria chamal-o\nJuntava-o com o senhor.\nPara dar de uma vez só\nEm discipulo e professor.\n\nB-Você via nessa hora\nO sol gelar e tremer\nDefunto na sepultura\nErguer a fronte e gemer\nO mar vomitar as aguas\nAs almas do céu descer.\n\nC-no tempo que eu era moço\nQue dava muito em menino\nNo dia que eu pegava\nUm cantador pequenino\n\n- 11 -\n\nSó quem podia acudil-o\nEra Germano ou Ugolino.\n\nB-Eu podia ter 3 annos\nAinda brincava nú,\nMas um dia fiz um velho\nSubir num mandacarú\nSem roupa, e até calçado\nCom botas de couro crú.\n\nC-Menino você assim\nSe habilita advertir\nSó sabe multiplicar.\nNão sabe diminuir\nO defeito foi do mestre\nQue lhe ensinou a mentir.\n\nB-Digo como José Duda!\nUm cantor de Pernambuco\nRespeite-se o homem velho\nQuando errar que está caduco\nQuem ignorar um velho\nE' tido por um maluco.\n\nC-Em moço sempre cantei\nCom Romano no Teixeira\nUgulino em Sergipe\nIgnacio da Catingueira\nVia-se mais de 10 duzias\nDe cantadores crueira.\n\n- 12 -\n\nB-Romano era professor\nGermano decurião\nUgulino era vigario\nPatricio era capellão\nE Verissimo era rapaz\nServia de sachristão.\n\nC-Você fallou na igreja\nDevia ir ao final\nQuando se faz uma obra\nSe aprompta tudo em geral\nFaltou-lhe o bispo e o nuncio\nO papa e o cardeal\n\nB-Meu velho dou-lhe conselho\nAfine mais a memoria\nProcure o bisaco velho\nVer se ainda acha uma historia\nE se despeça da vida\nComo Lucifer da gloria.\n\nC-Não admiro Alexandre\nGuerrear com tal vantagem\nNapoleão luctar tanto\nSó perder uma viagem,\nMas você partir a mim?\nAcho ter muita coragem.\n\nB-Collega, vamos agora\nVer quem sustenta o rojão\n\n- 13 -\n\nCom pouco o dia amanhece\nE eu tenho obrigação,\nO senhor está muito velho\nNão aguenta questão.\n\nC-Baptista eu já sou idoso,\nPorem, meu nome inda brilha,\nEu ainda caço de noite,\nRastejo e não perco trilha,\nDou tapa em bocca de moço\nQue os dentes dançam quadrillha.\n\nB-Eu sempre ouvia dizer\nPor minha mãe e meu pae,\nCarreira de velho é chôto\nE não chega aonde vae\nE só levanta poeira\nNa occasião que cae.\n\nC-O senhor se orgulha tanto\nQuando falla em mocidade\nEu nmnca tive esse orgulho\nQuando tinha sua edade,\nTem mais moços do que velhos\nNo chão da eternidade.\n\nB-A velhice nesse mundo\nPode ser equiparada\nCom uma fructa na feira\nDepois de estar bem passada,\n\n- 14 -\n\nQue no fim da feira o dono\nDá por pouco mais ou nada.\n\nC-Baptista eu sou cantador\nQue não aggravo a ninguem\nCanto com todos os collegas,\nPorem, os tratando bem,\nNunca gostei de notar\nDefeitos que os outros têm.\n\nB-Eu vi o senhor chegar\nFallando um pouco imprudente,\nContando muitas bravuras\nDando signal de valente,\nEu disse: esse velho acode\nLa vae madeira p'ra frente.\n\nC-Você é moço, eu sou velho\nMas, não estou desanimado,\nBarco só deve perder-se\nDepois de bem carregado,\nO risco que corre o páo\nCorre tambem o machado.\n\nB-Meu machado é de aço puro\nPode a tudo resistir\nSó Nicrando em Pajeú\nFoi quem poude o construir\nNicandro não faz machado\nPara qualquer páo partir.\n\n- 15 -\n\nC-Essas obras de Nicandro\nA mim jámais admira.\nEu tenho uma fouce d'elle\nQue não corta nem embira\nElle me fez um machado\nQue até em sêbo se vira.\n\nB-Vossa mercê olvidou-se\nOu quer fallar por paixão\nNão vê mais aonde bate\nE' essa toda a razão,\nPensa que corta a madeira\nEstá enganado, é o chão.\n\nC-Você tem toda razão\nDe o exaltar, é parente\nQuem gaba o noivo é a noiva\nIsso é cousa differente\nNão ha quem taxe o que é seu\nSendo desgraçadamente.\n\nB-Cabeceira vamos ver\nDe nós quem mais força tem\nDesgraça não quer conselho\nPobresa não quer vintem\nEm pilão que eu pisar milho\nPinto não come xerem.\n\nC-Baptista já estou cançado\nE não sei mais o que diga\n\n- 16 -\n\nCantador nas suas unhas\nE' mesmo que ter bexigas\nO senhor é raciado\nCom onça ou gallo de briga.\n\nB-Meu velho eu sou raciado\nCom homens de intelligencia\nHomens que não estudaram\nPorem tiveram sciencia\nTiveram por mestre os livros\nNas aulas da Providencia\n\nB-E eu fiquei no lugar\nDe Romano no Teixeira\nDe Ugulino conhecido\nPor cantador de primeira\nSou inspector dessas zonas\nGoverno qualquer ribeira\n\nB-Si ainda eu tiver um filho\nEsse fica em meu lugar\nPara onde eu governei\nOutro não ir governar\nA onde existir meu nome\nCantador não pode entrar.\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\nO autor reserva o direito de pro-\npriedade\n\n435 - Typ. do <>"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-054",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Retirante Sua Mulher e Seus Filhos",
"Detalhe": "Possui os textos: \"Parodia (sic) do Genio (sic) da Humanidade\" e \"Decima (sic) de um Portuguez [português] a sua Namorada",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "A ilustração da capa provavelmente é de autoria de Antônio Avelino da Costa, devido à sua conhecida parceria com João Martins de Athayde. Fontes: http://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/18694/1/Everardo%20Ramos_Do%20mercado%20ao%20museu_pdf.pdf (página 08) e http://www.cchla.ufrn.br/deart/matizes/gravura_popular/?p=biografia&artista=1. Acessados em 07 de abril de 2016 às 10:20h.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"54",
"Palavras-chave": "Sertão; terra; velho; partida; senhor de engenho; padre Cicero; sol; quente; pobreza; desgraça; beber; álcool; aguardente; pipa; taverna; mulher; coração;",
"Tema": "A história de uma família de retirantes; a vida boêmia; o amor de um português e sua namorada",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nEdictada por João Martins de Athayde\nA' venda no Mercado de S. José, Compartimento n. 51\nO auctor reserva o direito de propriedade\n\nO RETIRANTE\nSUA MULHER E SEUS FILHOS\n\nRECIFE - PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nO RETIRANTE\n\nE' o diabo de luto,\nno anno que no sertão\nse finda o mez de Janeiro\ne ninguem ouve o truvão,\no sertanejo não tira\no olho do matulão.\n\nE diz à mulher:\nprepare o balaio;\namanhã eu saio\ne se Deus quizer\narrume o que houver\nbote em um caixão,\nencoste o pilão\nonde elle não caia;\narremende a saia,\nbata o cabeção.\n\nSe meu padrinho padre Cicero\nquizer nos favorecer\neu garanto que amanhã\nquando o dia amanhecer\nnós ja sabemos da terra\nque se ache o que comer.\n\n- 2 -\n\nVá logo ao chiqueiro,\namarre a cabrinha\ne mate a gallinha\nque tem no terreiro,\nleve o candieiro\ne duas panellas,\narrume as tijellas\ne se tiver xerem\ncuzinhe o que tem,\nprepare as canellas.\n\nE lá vai de estrada a fóra\no velho com o matulão,\num chapeu velho de couro,\numa calça de algodão,\ncom uma enxada no hombro\ndizendo adeus ao sertão.\n\nJá não tem mais forças,\nvista muito menos,\ndez filhos pequenos,\nquinze filhas moças\nfaltando-lhe as ouças,\nalem de não ver,\nao ponto de ter\ntrez filhos mamando,\nquatro se arrastando\ncinco por nascer.\n\nDiz o velho: minhas filhas,\nnão era de meu desejo\n\n- 3 -\n\neu ir degredar vocês\nna terra do carangueijo,\no sul presta para tudo\nmenos para sertanêjo.\n\nTem naquelles mattos\num tal maruim\nfilho de Caim\nneto de Pilatos,\ne os carrapatos\nmordem que faz pena,\nmuriçoca em scena\ncomo um canto grego,\nsò muzica de negro\ntempo de novena.\n\nPartem, qual Eva e Adão\npartiram do Paraizo,\nnão hà um labio entre tantos\nque se veja nelle um riso,\nse despedindo um dos outros\naté dia de juizo.\n\nE chega a ranchada\nao senhor de engenho,\ndiz o velho: eu tenho\nesta filharada,\nfamilia pesada\ne não tenho geito,\nprecizo e aceito\nqualquer sacrificio,\n\n- 4 -\n\nnão tenho um officio,\nvou cahir no eito.\n\nO senhor de engenho olha\ne vê gente em quantidade,\nmeninos de doze annos\naté tres mezes de idade,\ninda o velho fiz: meus filhos\nmorreram mais da metade.\n\nSó no Joazeiro\ntem doze enterrados\ne onze cazados,\num inda solteiro,\nmeu filho primeiro\ntambem já morreu,\ndesappareceu\noutro pequenino,\ne fóra um menino\nque a onça comeu.\n\nO senhor de engenho olha,\nvê mais de cem na estrada;\numas moças outra chegando,\ne grande rapaziada,\na velha com a barriga\nque chega vem empinada.\n\nO dono da terra\nvê aquella tropa\nque só na Europa\n\n- 5 -\n\nem tempo de guerra,\nalli não se encerra\no grupo que tem\natraz inda vem\nfora o que ficou:\nos que elle deixou\nou deu a alguem.\n\nDeu desoito ao padre Cicero\ne quínze espalhou por lá,\ne uns dezeis ou vinte\nandam pelo Ceará\ne na barriga da velha\nquem sabe quantos terá?\n\nElla de uma vez\nque se confessou,\nnum dia abortou\nquinze ou dezeseis\ndevido a um freguez\nque teve uma briga,\ndevido a uma íntriga\nd'esse e um tal justo\nella teve um susto,\nperdeu a barriga.\n\nElla no mez de São João\nteve Vicente e Andrè,\nem Julho teve Paulino,\nem Agosto Salomé,\nem Setembro teve trez:\nbernado, Cosme e Thomé.\n\n- 6 -\n\nEm Outubro Anna.\ne eu não me lembro\nse foi em Novembro\nque nasceu Joanna,\nrita e Damiana\nnasceram em Janeiro\ne em Fevereiro\nnasceu um ceguinho,\nella ia em caminho \npara o Joazeiro.\n\nExclama o senhor de engenho:\nque carritia damnada!\nnasceram tantos num anno?\nsua historia esta errada!\nOh! xente respondeu o velho,\ne se admira! isso é nada?\n\nMulher do sertão\nindo ao Joazeiro,\nlevando dinheìro,\nouvindo-o sermão,\nvendo a procissão\nque faz meu padrinho,\nno meio do caminho\nella tem de ver\nmenino nascer\nque só bacurinho.\n\nE lá vai aquella prole\nsugeitar-se ao captiveiro,\n\n- 7 \n\nlimpar canna o dia todo\npor diminuto dinheiro,\nfazendo dez mil promessas\nao padre do Joazeiro.\n\nDiz em oração:\ndivino presbytero,\nsanto padre Cicero,\ntende compaixão\nde vosso sertão,\nolhae para nós,\nque soffrer atroz!\nsem se ganhar nada,\nde trouxa arrumada,\nconfíamos em vòs.\n\nLançae vossos santos olhos\npara as almas pecadoras,\nouvi os grandes gemidos\ndas familias soffredoras,\nvêde que o senhor de engenho\nnão tome nossas lavouras.\n\nSe vós me ajudar\nque chova em Janeiro,\nque em Fevereiro\neu possa plantar,\ne possa voltar,\nnão morra em caminho,\nvou índa sozinho\ne rezo num dia\n\n- 8 -\n\nDez Ave-Maria\npara meu padrinho.\n\nOh! padre santo nos tirae\ndeste paiz de mosquitos,\nas noites aqui são feias,\nos dias são esquisitos,\nao passo que no sertão\nos campos são tão bonitos.\n\nAmanhece o dia\naqui nesta terra,\nna matta e na serra\nnem um grilo chia,\nnão ha alegria\nao romper da aurora,\ntudo vai embora,\nfica a solidão\nfoi aqui que o cão\nperdeu a espora.\n\nNo sertão as cinco horas\no carã canta no río\ne no campo a seriema,\ngrita o tétèo no baxio,\npassa voando de pulos\nnos ares o currupio.\n\nA's vezes, eu babo\nda ira que tenho,\no senhor de engenho,\ntem um tal de cabo\n\n- 9 -\n\nesse é um diabo\npeior que um dragão,\neu faço tenção\nde um dia pegal-o,\nmandar encabal-o\nna foice do cão.\n\nUma é vê, outra é contar,\no diabo como é\né um cachorro do mal\ndesesperado da fé\nhontem jurou de quebrar\no cachimbo da muié.\n\nEu disse: provoque\nque eu lhe agaranto\nnão haver um canto\nque você se soque,\ne se quizer ver, toque\nno cachimbo della\np'ra ver como ella\nde que geito fica,\na se você não estica\nagora a canella.\n\nA muié já não é bôa,\nno eito, o sol a esquentando,\num tôco preto atraz della\ncomo quem está esporando,\ndizendo: aqui está mal limpo\ne de hora em hora fallando.\n\n- 10 -\n\nAlém do sol quente,\nvem um cão de um negro\nda côr de um morcêgo\npertubando agente,\nnunca vi um ente\ncomo um negro é\neu disse com fé:\nquer ver meu carimbo?\ntoque no cachimbo\né de minha muié!\n\nOra um pobre que trabalha\nno eito a semana inteira,\ndepois que sahe do serviço\ninda procurar macacheira\np'ra cosinhar e comer\ncom chá de herva-cidreira!...\n\nDepois de ceiar\nsentado no chão,\nao pé do fugão,\na se lastimar\nonde vai fallar\nda grande pobreza\ne tendo a certeza\nde findar na desgraça,\naquella fumaça\né a sobremeza.\n\nO desgraçado do cabo\nnão deixa agente fumar\n\n\n- 11 -\n\nporque disse que cachimbo\nimpata de trabalhar,\nminha muié accendendo\nelle jura de quebrar.\n\nNaquelle paúl\né aquelle mosquiteiro\npeior que xiqueiro,\nnas casas do sul,\nquem já vem azul,\ncom fome e cançado\nalem de arranhado,\ncom fome de lontra,\nalli só encontra\no fogo apagado.\n\nSe elle for para o lado\nonde tinha um fogo feito,\n-onde vai? pergunta o cabo\num pouco mal satisfeito,\nvocê se impalhando assim\njá está atrazando o eito!\n\nE o cabo agora?\nalli encostado\nnum páu escorado\ngritando-vambora!\navôe isso fóra,\nnão hai outro geito,\nlevante, sujeito,\nque demora é esta?\n\n- 12 -\n\nalmoço só presta\né mesmo no eito!...\n\nE' o resultado\ndo pobre que vem\nsem nem um vintem,\ne dezarranchado,\nnão acha um damnado\nque a porta lhe abra!\nque sorte macabra!\ncom filhos de mais,\na mulher atraz\npuchando uma cabra!\n\nPARODIA DO GENIO DA \nHUMANIDADE\n\nSou eu quem assiste os brados\ndo cachaceiro imprudente,\nquem cura os embriagados,\nna febre da aguardente,\nquiz ver do copo o segredo:\nconfesso que tive mêdo,\ndisse-me o copo: eu sou seu!\nvi o seu grande mister,\ndeixe fallar quem quizer,\nquem menos bebe sou eu.\n\n- 13 -\n\nBaixo a vista, aceno ao chão,\nvejo a terra quasi escura,\npergunta-me um beberrão:\nbeber tambem faz figura?\nmeu coração agitado\ndo alcool, muito inflammado,\nde tudo perde a vantage,\nnão posso imitar os bons:\nfui poéta com Camões,\nfui beberrão com Bocage.\n\nOuvi-me! venho cançado\nem procura de aguardente!\nmeu coração agitado\ntorna-se quaze imprudente,\nentrei por todas as pipas,\nrompi-me até pelas tripas,\ncom uma infernal cegueira,\nmais sinto uma legria louca\ndos beijos que deí na bocca\nde um copo da brazileira.\n\nEu vì uma pipa cheia\nse aproximando de mim,\ndizendo: -deixa-me meia,\nbeijame, vaza-me assim\npor traz eu ouvi rizadas\nde gentes embriagadas\nna gloria da carraspana,\nechos de ebrios e loucura\nchiavam sobre a altura\nque leva a força da canna.\n\n- 14 -\n\nTravei-me em grande questão\ncom pipa descommunal,\nperguntei a um garrafão:\n-em que pensas afinal?\n-garrafa porque te orgulhas?\n-juiz, porque te embrulhas,\nnesta lucta tão insana?-\nchamom-me terror de feira,\ndo meu quengo na caldeira\nferve o succo da cayanna.\n\nE no meu porre medonho,\nvibra a ira da taverna,\nnum lindo copo, risonho,\nse esconde a lembrança eterna,\ndiz o bebedo: inda suporto;\ndiz o caxeiro: não boto,\ndiz o bebedo: não implique;\nna crença da bebedeira,\nchega a crença verdadeira\nda deusa do alambique.\n\nNa minha grande ressaca\nvibra a ira do caxeiro,\ndo porre a urucubaca\nimportuna o marinheiro;\ndiz o caxeiro: traga!\no patrão: primeiro paga!...\nvão ambos em discussão\nnos dialagos que prepassam,\nnas vistas que se embaraçam;\nsó eu rezisto ao rojão.\n\n- 15 -\n\nDa taverna o alarido\nfere as ouças do patrão,\no cachaceiro caido\ninda pede o garrafão,\ne naquelle vae-e-vem\nergue a vista para além\nzombando da confuzão\nvendo tudo que se passa,\ndando louvor á cachaça\nque alerta-lhe o coração.\n\nDECIMA DE UM PORTUGUEZ\nA' SUA NAMORADA\n\nEu só queria savere\nse tú me tinha amizade\nporque não posso soffrere\no rigore da saudade.\n\nMulher, o meu coração\nestá entre ti e o oiro,\ncomo saves o thesouro\nnos dare a consulação,\neu não possuo um tustão,\nque compre um pão p'ra comre,\ncomo assim pode bibere\num infeliz extrangeíro?\nonde teu pae tem dinheiro\neu só queria savere.\n\nPega-te com Santo Onofre,\ndare a teu pae dormideira,\n\n- 16 -\n\nmete-lhe a mão na algibeira.\ncarregue o que houver no cofre,\nfuja se não vucê soffre,\ncorra com agilidade\ncom muita sagacidade\ntraga o dinheiro e me dêre\nque sò assim posso crere\nque tù me tinhas amizade.\n\nEu estava empregado inda agora\np'ra tratare de uma vurra,\no homem deu-me uma surra,\ne votou-me para fòra,\no que é que eu faço agora\nsem ter nada que comere?\nnão tenho mais que fazere;\nsem credito, dinheiro e nome,\napanhar e passar fome\njá não posso mais sofrere.\n\nDisse a moça: marinheiro,\ncabelleira de mufumbo,\ndesgraçado pé de chumbo,\nladrão, nariz de puleiro,\nmocotó de boi mineiro.\ncobertor de caridade,\nquizilla da antiguidade,\ncabeça de irisipela,\nderrame numa cadella\no rigor desta saudade.\n\nFIM\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-055",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Boi Mysterioso [misterioso]",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 26,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"55\"\nManuscrito à tinta na primeira página: \"Leandro Gomes de Barros\" e abaixo \"(1) Veja Chagas Batista 'Cantadores e Poetas Populares, p. 114\". Possui retrato em clichê fotográfico do autor na contracapa.",
"Palavras-chave": "Boi; vaqueiro; cavalos; sertão; vaca; touro; vulto; gado; encantado; coronel; caboclo; diabo; caatinga; bicho; São João;",
"Tema": "A história do Boi Misterioso",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO BOI MYSTERIOSO\n\nEdictada por João Martin de Athayde\n\nA' venda no mercado de São José\nCompartimento n. 51\n\nRECIFE - PERNAMBUCO\n\nPreço $1500 réis\n\n[Em branco]\n\nLeandro Gomes de Barros (1) *\n\nO BOI\nMYSTERIOSO\n\nLeitor vou narrar um facto\nde um boi da antiguidade\ncomo não se viu mais outro\naté a actualidade\napparecendo hoje um desses\nserá grande novidade.\n\nDurou vinte quatro annos\nnunca ninguem o pegou\nvaqueiro que tinha fama\nfoi atraz delle e chocou\ncavallo bom e bonito\nfoi lá porem destacou.\n\nDiz a hìstoria, elle indo\nem desmedida carreira\nse acaso engalha-se um chifre\nn'um galho de catingueira\nconforme fosse a vergontea\narrancava-se a touceira.\n\nElle nunca achou riacho\nque de um pulo não saltasse\ne nunca formou carreira\nque com tres leguas cançasse\ncomo nunca achou vaqueiro.\nque delle se approxímasse.\n\n(1) Veja Chagas Batista \"Cantadores\ne Poetas Populares, p.114 *\n\n\n--------\nNota: os trechos assinalados com (*) indicam anotações inseridas a caneta.\n\nMuitos cavallos de estima\natraz delle se acabam\nvaqueiros que em outros campos\naté medalhas ganhavam\nmuito vendiam cavallos\ne nunca mais campeavam.\n\nE' preciso descrever.\ncomo foi seu nascimento\nque é para o leitor poder\nter melhor conhecimento\nconto o que contou-me um velho\ncousa alguma acrecento.\n\nJá completaram trinta annos\neu estava na flor da idade\numa noite conversando\ncom um velho da antiguidade\nem conversa elle contou\no que viu na mocidade.\n\nFoi em mil e oito centos\ne vinte cinco esse caso\numa época que o povo\nsó conhecia o atrazo\nquando a sciencia existia\nporem trancada n'um vaso.\n\nNo sertão de quicheiou\nna fazenda Santa Rosa\nno anno vinte e cinco\nhouve uma secca horroroza\n\n- 3 -\n\nalli havia uma vacca\nchamada <>.\n\nIsso de mysteriosa\nficou o povo a chamar\nporque um vaqueiro disse\nindo uma noite emboscar\numa onça na carniça\nviu isso que vou narrar:\n\nEra meia noite em ponto!\no campo estava exquesito\nhavia até differença\nnos astros do infinito\nnem do nambú esta hora\nse ouvia o saudoso apito.\n\nDizia o vaqueiro: eu estava\nem cima de um alvoredo\nquando chegou essa vacca\nque me causou até mêdo\ndepois chegaram dois vultos\ne alli ouve um segredo.\n\nO vaqueiro viu que os vultos\neram de duas mulheres\numa dellas disse a vacca,\npartes por onde quizeres\neu protegerei a ti\ne aos filhos que tiveres.\n\nAli o vaqeiro viu\num touro preto chegar\n\n- 4 -\n\nentão disseram os vultos\nsão horas de regressar\ndisse o touro montem em mim\nque o gallo já vae cantar.\n\nAhi clareou a noute\no vaqueiro poude ver\neram duas moças lindas\nque mais não podia haver\no touro era de uma especie\nque elle não soube dizer.\n\nElle viu ellas montarem-se\nviu quando o touro sahiu\na vacca se ajoelhou\ne atraz della seguiu\ndepois veio a onça e elle\natirou-lhe ella cahiu.\n\nPor isso teve essa vacca\ndahì em diante esse nome\nuns chamavam-na feiticeira\noutros a vacca lubis-homem\ndiziam que ella era a alma\nde um boi que morreu de fome.\n\nO coronel Senzinando\nfazendeiro dono della\nse informando da historia\nnão quiz que pegassem ella\ndisse que morador delle\nnão tirasse leite nella.\n\n\n\n- 5 -\n\nAgora caro leítor\nentremos no conteùdo\no livro tem pouco espaço\npara contar-se a miudo\nsó n'um livro muito grande\npoderà se escrever tudo.\n\nNo anno de vinte quatro\npouca chuva appareceu\nem todo o sertão do norte\na lavoura se perdeu\naté ao proprio capim\nfaltou chuva não cresceu.\n\nEntão entrou vinte cinco\no mesmo verão trincado\nmorreu muíta gente a fome\nquaze não escapa o gado\nescapou algumas reis\nlà n'um ou outro cercado.\n\nA vacca mysteriosa\nnão ouve mais quem a visse\no dono não se emportava\nque ella tambem se sumisse\npodia até pegar fogo\nque na fumaça subisse.\n\nA vinte quatro de Agosto\ndata esta receioza\nque é quando o diabo pode\nsoltar-se e dar uma prosa\n\n- 6 -\n\npois foi nesse dia o parto\nda vacca mysteriosa.\n\nDella nasceu um bezerro\num pouco grande e nutrido\npreto da côr de carvão,\no pello muito lusido\nrepresentando já ter\num mez ou dois de nascido.\n\nUm vaqueiro da fazenda\nassistiu elle nascer\nfoi a noite a casa grande\nao coronel lhe dizer\no coronel disse então \nse nasceu, deixe crescer.\n\nEm Março de vinte seis\nestava o inverno pegado\no coronel Sezínando\nmandou a juntar o gado\nque elle queria saber\nque reses tinha escapado.\n\nEntão a mysteriosa\npoude vir no meio do gado\ntrazia um grande bezerro\ngrande e muito bem criado\no que era de vaqueiro\nvinha tudo admirado.\n\nUm indio velho vaqueiro\nda fazenda do desterro,\n\n- 7 -\n\ndisse ao coronel me falte\na terra no meu enterro\nquando aquella vacca velha\nfor mãe daquelle bezerro.\n\nAli mesme o coronel\ntomando nota do gado\ntirou as vaccas paridas\ndas que tinham escapado\nsoltou a mysterioza\ndevido a ficar scismado.\n\nCom um anno e meio elle tinha\nmais de seis palmos de altura\nuns chifres grandes e concavos\ncom um palmo de grossura\no casco delle fazia\nbarroca na terra dura.\n\nSumiu-se o dito bezerro\ne a vacca mysteriosa\ndepois de cinco ou seis annos\nna fazenda venturoza\nviram elle com a marca\nda fazenda Santa Rosa.\n\nO vaqueiro conhecendo\no boi ser de seu patrão\nviu que devia pegal-o\nque tinha autorização\najuntou ambas as redeas\nesporou o alasão.\n\n- 8 -\n\nPartiu em cima do boi\nandou perto de pegal-o\ncom dezoito ou vinte passos\ntalvez podesse alcançal-o\nera sem limite o gosto\nque tinha de derrubal-o.\n\nMas o boi fez-se no casco\ne no campo se estendeu\ngritou-lhe o vaqueiro: boi!\ntu não sabes quem sou eu\nboi que eu lhe boto o cavallo\né carne que apodreceu.\n\nCom menos de meia legua\nestava o vaqueiro perdido\nnão soube em quantos instantes\no tal boi tinha se ido\nestava o cavallo suado\ne já muito esbaforido.\n\nContarei no outro numero\ncomo quarenta vaqueiros\ncorreram atraz desse boi\nquazi dois dias inteiros\nonde perdeu-se o cavallo\nflôr dos cavallos míneiros.\n\nVoltou então o vaqueiro\nsem sáber o que fízesse\npensando ao chegar em casa,\nentão que historìa disesse\n\n- 9 -\n\nse pegando com os santos\nque o coronel não soubesse.\n\nContou a outros vaqueiros\no que se tínha passadó\ndizendo que aquelle boi\nsò sendo um bicho encantado\nse havia mandiga em boi\naquelle era baptizado.\n\nNo outro dia seguiram\nseis vaqueiros distimidos\nem seis cavallos soberbos\ndos melhores conhecidos\npois sò de cinco fazendas\npuderam ser escolhidos.\n\nFoi Norberto da palmeira\nismael do rìachão\ncalista do pé da serra\nfelix da demarcação\nbemvenuto do desterro\nzé preto do boqueirão.\n\nJá tinham ido dizer\nna fazendo Santa Rosa\nque o vaqueiro Apollinario\nda fazenda venturoza\ntinha encontrado com o boi\nda vacca mysterioza.\n\nO coronel duvidou\nquando contaram-lhe o facto\n\n- 12 -\n\nera filho de um cavallo\nque trouxeram no Egypto.\n\nEra meio dia em ponto\nquando formaram carreira\no boi fazia na frente\numa nuvem de pueira\nnos riachos elle pulava\ne uma a outra barreira.\n\nZé preto do boqueirão\nfoi quem mais se aproximou\ninda pegou-lhe na cauda\nporém não o derribou,\nficou tão contrariado\nque depois disso chorou.\n\nDizia que nunca viu\nem boi tanta ligereiza\ncomo no cavallo delle\nnunca vio tanta destreza\ne disse que um boi daquelle\npara um sertão é grandêza.\n\nPerguntou o coronel\no boi será encantado?\nnão senhor disse Zé preto\nisso de encanto é ditado\né um boi com outro qualquer\nsó tem que foi bem criado.\n\nEram seis horas da tarde\njá estava tudo suado\n\n- 13 -\n\nnão havia um dos cavallos \nque não estivesse ensopado\nporque mais de cinco leguas\nde um folego tinham tirado.\n\nO coronel Sizenando\ndisse vamos descançar,\nvaqueiro d'agora em diante\ntem muito em que se occupar\neu só descanço a meu gosto\nquando esse boi se pegar.\n\nDisse o indio Bemvenuto,\ncoronel se desengane\nesse boi não é pegado\nnem que o diabo se damne\ncavallo não chega a elle\ninda que por mais se engane.\n\nTenho sessenta e dois annos\nem calculo não tenho um erro\ne disse que me faltasse\no chão para meu enterro\nquando aquella vacca fosse\na mãe d'aquelle bezerro.\n\nDisse o coronel você \né um caboclo scismado\nnão deixa de acreditar\nnisso de boi baptizado\ne mesmo aquelle não é\no tal bezerro encantado.\n\n\n- 14 -\n\nNão é! ora se não é!\nveremos se elle é ou não\nvossa senhoria ajunte\nos vaqueiros do sertão\ndo rio da prata ao Parà\ne depois me diga então.\n\nDisse o coronel: caboclo\nzé preto não pegou nelle?\nora... pegou coronel,\nmais não sabe quem é elle\ndou a vida se houver um\nque traga um cabello delle.\n\nEu digo com consciencía\nsenhor coronel Sizenando\no boi é mysterioso\npara que está lhe enganando?\no boi é filho de um genio\numa fada o está criando.\n\nA mãe d'agua do Egypto\nfoi quem deu-lhe de mamar\na fada da borborema\ntomou-o para criar\nna serra do arraripe\nfoi elle se baptizar.\n\nO coronel Sizenando\ndizia eu não acredito\nna fada da borborema\ne na mãe d'agua do Egypto\n\n- 15 -\n\ngenio e fada para mim\né um ditado exquezito:\n\nQuarenta e cinco vaqueiros\nsahiram ao campo caçal-o\ndizia o indio. só hoje\nvocês podiam encontral-o\nno dia de sexta-feira\neu dou um dôce a quem achal-o.\n\nE de facto nesse dia,\nnem o rasto delle viram.\nvoltaram para a lazenda,\nno outro dia partiram\nas nove horas do dia.\nno rasto delle seguiram.\n\nNa garganta de uma serra\nacharam elle deitado\ná sombra de uma aroeira,\nestava alli tão descuidado\npulou instantaneamente\nna rapidez de um viado.\n\nO boi entrou na catinga\nque não procurava geito,\nmororó, jurema branca,\nelle levava de eito\nrolava pedras nos cascos\nlevava angico no peito.\n\nDisse Fernandes de Lima\num dos vaqueiros paulista,\n\n- 16 -\n\nde todos esses cavallos,\nnão hà mais um que resista,\ndormimos aqui convem\nninguem perdel-o de vista.\n\nDormiram todos alli\nnaquelle campo tão vasto\npeiaram a cavalgadura\ndeixaram ganhar ao pasto,\nas seis horas da manhã\nseguiram logo no rasto.\n\nO cavallo soberano,\nao ver o rasto do boi,\ngemeu, pulou para traz,\ne o indio gritou oi!\ndeixamos os outros vaqueiros,\ncorreu para traz, se foi.\n\nDisse o indio Bemvenuto\neu não posso campear\no cavallo está doente\né precizo descançar,\nfaz muitos dias que corre\ne eu precizo voltar.\n\nEntão disse o coronel\nexiste aqui um mysterio\nantes de haver este boi\nvocê não era tão serio?\nvocê faz do boi uma alma\ne do campo um cemiterio.\n\n- 17 -\n\nBemvenuto respondeu\nhaja o que houver, vou embora\nquerendo me dispensar\npode me dizer agora,\nvà quem quizer eu não vou\nnão posso mais ter demora.\n\nAndaram duzentos metros\nlogo adiante foram o vendo\num vaqueiro disse olhe!\no boì alli se lambendo\ntambem não houve um vaqueiro\nque não partisse correndo.\n\nO campo tinha uma legua\nsem ter nelle um pé de matto,\no boi corria pulando\nque só viado ou um gato\nentão fazia uma sombra\npouco a maior que a de rato.\n\nDisse o Lopes do Exù\njuro a fé de cavalheiro\nnão sahirei mais de casa\nchamado por fazendeiro\nvendo o cavallo e a célla\ne deixo de ser vaqueiro.\n\nAs 5 horas da tarde\nse resolveram voltar\nentão os cavallos todos\nnão podiam mais andar\n\n- 18 -\n\nos vaqueiros não podiam\ntanta fome supportar.\n\nVoltaram para a fazenda\ne tornaram a contractar\na 21 de Novembro\ncada um alli chegar,\no coronel Sizenando\nmandaria os avisar.\n\nO coronel Sizenando\nhomem muito caprichoso\ntirou tres contos de réis\ndisse é para Venturoso\nque venha a esta fazenda\npegue o boi mysterioso.\n\nA vinte um de Novembro\nvenceu-se o trato afinal\na fazenda Santa Rosa\nestava como um arrayal\nou uma povoação\nn'uma noite de natal.\n\nJá um creado chamava\no povo para o almoço,\nquando viram ao longe um vulto\ndivulgaram ser um moço\nentão vinha n'um cavallo\nque parecia um colosso.\n\nEra um cavallo caxito\ntinha uma estrella na testa\n\n- 19 -\n\nvaquejada que elle ia\nali tornava-se em festa\nganhou numa apartação\nnome de rei da floresta.\n\nChegou então o vaqueiro\nsaudou todos alli\nperguntou qual dos senhores\né o coronel aqui?\napontaram o coronel\ne disseram é, esse ahi.\n\nO coronel perguntou-lhe\nde que parte é? cavalheiro?\neu sou de Minas Geraes\nseu criado é um vaqueiro\nvim porque soube aqui\nexiste um boi mandígueiro.\n\nDisse o coronel existe\nesse boi mysterioso\ntem-se corrido atraz delle\nelle sae victorioso\njá tem sahido daqui\nvaqueiro até desgostoso.\n\nQueria ver esse boi\ndisse sorrindo o vaqueiro\ntenho vinte quatro annos\nnunca vi boi feiticeiro,\ndisse o coronel pegando-o\nganha avultado dinheiro.\n\n- 20 -\n\nQuem pegal-o em pleno campo\ndisse ahi o coronel\nganhará pago por mim\num relogio e um annel.\ntem mais tres contos de réis\nem ouro prata ou papel.\n\nSalvo se alguem o pegar\nquando elle estiver doente\nou lhe atirando de longe\nisso é cousa differente\na de o pegar pelo pé\nelle bom perfeitamente.\n\nDisse o coronel nòs tinhamos\nindo pouco contractado\npara irmos hoje ao campo\nvisto o senhor ter chegado,\nvamos descançar dois dias\no senhor està enfadado.\n\nDescançaram o dia de sabbado\ndomingo segunda e terça\ndisse o coronel: a tarde\nquem for vaqueiro apareça\nsairemos quarta-feira\nantes que o dia amanheça.\n\nNa quarta-feira seguiram\ncomo tinha contractado\no povo que o coronel\na tarde tinha avízado,\n\n- 21 -\n\neram dez horas do dia\ninda acharam o boi deitado.\n\nDisse o vaqueiro de Minas\nperdi de tudo a viagem\neu pegando um boi daquelle\nnão conto por pabulagem\npara o cavallo em que venho\ninda dez não é vantagem.\n\nPensei que fosse maior\nsegundo o que ouvi fallar\nparece até um garrote\nque criou-se sem mammar\num bicho manso daquelle\nfaz pena até derrubar.\n\nPorem o cavallo ahi\nviu o boi se levantar\nestremeceu e bufou\nfastou e quiz se acuar\nque deu lugar ao vaqueiro,\ndaquillo desconfiar\n\nAhi chegou-lhe as espora\ne o cavallo partiu\nem menos de dois minutos\no boi tambem se sumiu\ndeu uns tres ou quatro pulos\nali ninguem mais o víu.\n\nEntão entrou na catinga\no vaqueiro tambem\n\n- 22 -\n\npor dentro de um cipoal\nque não passava ninguem\neram estalos medonhos\nnaquellas grutas além.\n\nEram seis horas da tarde\nestava o grupo reunido\nsem saberem do vaqueiro\nque atraz do boi tinha ido\nvia-se abatida apenas\npor onde tinha seguido.\n\nUm dizia elle morreu\noutro que tinha caido\noutro dizia o vaqueiro\narrisca-se ter fugido\nnão pode pegar o boi\nvoltou de lá escondido.\n\nAcenderam facho e foram\npor onde elle tinha entrado\nachando sempre roteiro\npor onde tinham passado\no coronel Sizenando\njá ia desenganado.\n\nPassava de meia noite\ngritaram: elle respondeu\no coronel acalmou-se\ne disse, elle não morreu\nporem o grito era longe\nque quasi não se entendeu.\n\n- 23 -\n\nTres horas da madrugada\nfoi que poderam o achar\nmais o cavallo caido\nsem poder se levantar\ne elle contrariado\nsem poder quazi fallar.\n\nO coronel perguntou-lhe\no que tinha succedido\nrespondeu que tal desgraça\nnunca tinha acontecido\ndizendo antes caisse\ne da queda ter morrido.\n\nO cavallo em que eu vim\nninguem nunca o viu cançado\ncorreu um dia 6 leguas\ninda não chegou suado \ne da carreira de hoje\nficou inutilizado!\n\nNão volto em Minas Geraes\nporque chego com vergonha\nos vaqueiros lá esperam\numa noticia risonha\neu chegando lá com essa\ndão-me uma vaia medonha.\n\nMenos de 50 passos\ninda me approximei delle\nainda estirei a mão\nmas não pude tocar n'elle\n\n- 24 -\n\napenas posso dizer\nnão sei que boi é aquelle.\n\nNunca vi bicho correr\ncom tanta velocidade\nsó lampejo de rélampago\nem noite de tempestade\nnem peixe n'agua se move\ncom tanta facilidade.\n\nElle é um boi muito grande\ntem o corpo desmasiado,\nnão sei como corre tanto\ndentro de um matto feixado\npor isso é que muítos pensam\nque seja um boi encantado\n\nO coronel disse ahi\nacho bom tudo voltar\ndisse o vaqueiro de Minas\nnão precizo descançar\nvejam se dão-me cavallo\nque vou-me desenganar,\n\nO coronel Sizenando\nchamou Mamede Veloso\nlhe disse Mamede: vá\na fazenda do mimoso\ndiga ao vaqueiro que mande\no cavallo perigoso.\n\nDiga que mate uma vacca\nleve queijo e rapadura\n\n- 25 -\n\ne vá esperar por nós\nna fazenda da bravura\ndiga que somos sessenta\nleve jantar com fartura.\n\nO vaqueiro cumpriu tudo\nque seu amo lhe ordenou,\ndeu o cavallo a Mamede\npuchou a vacca e matou\nas onze horas do dia\nentão Mamede chegou.\n\nTrouxe um cavallo cardão\ncom especie de rudado\ndisse o vaqueiro de Minas\noh! bicho de meu agrado!\nlhe disseram o nome delle\nfoi muíto bem empregado.\n\nO vaqueiro levantou-se\ncom o guarda peito no hombro\nse aproximou do cavallo\npassou-lhe a mão pelo lombo\no cavallo deu um sopro\nque quazi cauza-lhe assombro.\n\nEntão o vaqueiro disse\neu vou experimentar\nse o cavallo perigoso\npresta para campear\ndisse então o coronel\ncuídado quando montar.\n\n\n- 26 -\n\nVeja que elle jà matou\ncom queda 4 vaqueiros\nos que causaram mais pena\nforam 2 pyanhiseiros\nentão respondeu o Sergio\nnão eram bons cavalleiros.\n\nQuando o vaqueiro montou\no cavalo se encolheu\nelle chegou-lhe as esporas\no sangue logo desceu\nquasi tres metros de altura\nelle da terra se ergueu.\n\nMais o vaqueiro era destro\nallí não desaplumou\nchegou-lhe ainda as esporas\nelle de novo pulou\nesse pulo foi tão grande\nque tudo se admirou.\n\nFez uma curva no salto\ntirou pelos quartos a sella\no vaqueiro era um heroy\nsaltou aplumado n'ella\ndizendo hoje achei um testo\nque deu na mínha panella.\n\nSaltou mas não afrouxando\nambas redeas do cavallo\nsabia que se o soltasse\nninguem podía pegal-o\n\n- 27 -\n\ndizendo o cavallo serve\nvou logo experimental-o.\n\nSellou de novo o cavallo\ne tornou a se montar\ntanto que o coronel disse,\neste sabe cavalgar\no cavallo conheceu\nahi não quiz mais saltar.\n\nPassava de meio dia\nquando os vaqueíros sairam\nacharam o rasto do boi\ntodos sessenta seguiram\nadiante encontraram elle\nno limpo que todos viram.\n\nSergio o vaqueiro de Minas\nfoi o primeiro que viu\nperguntou será aquelle\nque alli do matto saiu?\ntodos disseram é aquelle\nahi o Sergio partiu.\n\nDeu de esporas ao perigoso\ne nada quiz mais dizer\no boì olhou para o povo\ntambem tratou de correr\no matto abriu e fechou\nninguem mais os poude vêr.\n\nEntão quando o boi correu\nprocurou logo a montanha\n\n- 28 -\n\ntodos disseram hoje o boi\ntalvez não conte façanha\no cavallo perigoso\nagora fica sem manha.\n\nCom meia legua se ouvia\ngalho de páo estalar\natropellada do boi\npedra do monte rolar\nse ouvia prefeitamente\no perigoso bufar.\n\nEntraram o vaqueiro e o boi\nno matto mais exquesito\nde vez em quando o vaqueiro\npor signal soltava um grito\ntanto que o coronel disse\njà vi campear bonito.\n\nO boi subiu a montanha\nsem escolher por onde ia\ne o vaqueiro já perto\nde vista não o perdia\no cavallo perigoso\ncom mais desejo corria.\n\nDescambaram a serra verde\no boi entrou num baxio\ndepois sahiu na campina\nentrou na ilha de um rio\nem lugar que o outro vaqueiro\nem olhar sentia frio.\n\n- 29 -\n\nPorém o vaqueiro disse\na onde entrares eu entro\nse tú entrares no mar\nviro-me em peixe vou dentro\nalguem que for procurar-me\nacho-me morto no centro,\n\nO boi com facilidade\no trancadilho rompeu\nquazi no centro do val\no vaqueiro conheceu\no cavallo perigoso\nda carreira adoeceu\n\nDiabo disse o vaqueiro\nestá doente o perigoso\nah! boi do biabo emfim...\nte chamas mysterioso\neu pucheí bem a meu pai\nque morreu por ser teimoso.\n\nVoltou para o campo limpo\no cavallo tão suado\ncom um talho no pescoço\num casco quasi furado\nde uma forma que o vaqueiro\nnão pode voltar montado.\n\nA's oito horas da noute\nvieram os outros chegar\na estrada que o boi fez\ndeu para tudo passar\n\n- 30 -\n\ncincoenta e nove cavallos\nsem nem um se embaraçar.\n\nCollega que de o boi?\nperguntou o Sizenando\no Sergio se levantou\ne respondeu espumando\ncoronel eu já pensei\nque só me suicidando.\n\nSuidar-se porque?\no Sergio então respondeu\no coronel não està vendo?\no que já me succedeu!\nmatei meu cavallo aqui\ninutilisei o seu.\n\nDisse o coronel faz pena\nperigoso se acabar\nporém é nosso eu paguei-o\nninguem mais vem o cobrar\ne deu vinte pelo seu\nse dous ou tres não pagar.\n\nEram sessenta cavallos\nuns de diversos sertões,\ne todos esses não iam\na todas apartações,\nem vaquejadas garbosas\nmostraram lindas acções.\n\nHavia um cavallo russo\nchamado Parahybano,\n\n- 31 -\n\ncarioca Rio Grandense\npaturi e Pernambucano,\npaulista e Victoriense\nflor do prado e Sergipano.\n\nPombo rôxo e Papagaio\nflor do campo catingueiro\nsocó boi Canario verde\npatolla e Piauyzeiro\naguia branca e poldro d'agua\nflexa peixe e Campineiro.\n\nE outros que aqui não se pode\nseus nomes mencionar\ndisse o historiador\nera impossivel se lembrar\né melhor negar o nome\ndo que depois se enganar.\n\nNão tinha um desses todos\nque não fossse conhecido\nem diversas vaquejadas,\njá não tivesse corrido\naté seus donos jà tinham\nmedalhas adquerido.\n\nVoltaram para a Fazenda\nonde a gente era esperada,\nainda estavam esperando\no povo da vaquejada\nmas não houve um dos vaqueiros\nque se servisse de nada.\n\n- 32 -\n\nAssìm que deu meia noute\nforam para Santa Rosa\na mulher do coronel\nos esperava anciosa\nsabia que a vaquejada\nera muito perigosa.\n\nQuando foi no outro dia\ndepois de terem almoçado\ndisse o Sergio coronel\neu estou causando cuidado\nme arrume qualquer cavallo\nou vendido ou emprestado.\n\nO coronel mandou ver\num cavallo lhe offereceu,\nfoi ber um conto de réis\nem ouro e em prata lhe deu\nelle pedindo licença\nnão quiz e lhe agradeceu.\n\nEu vim atraz desse boi\nnão foi devido o dinheiro\neu vim porque tenho gosto\nnessa vida de vaqueiro\nse eu não morrer inda mostro\nquanto val um cavalleiro.\n\nO coronel disse a elle:\neu fico penalizado,\nnão digo que se demore\nporque seu pai tem cuidado\n\n- 33 -\n\nveja se volta em janeiro\nque me acha preparado.\n\nEntão o Sergio sahiu\nnão poude se demorar,\no coronel Sizenando\nnão deixou mais de pensar,\nporque forma aquelle boi\nninguem podia o pegar.\n\nChamou o escravo e disse\nmonte n'um cavallo e vá\na fazendo do Desterro\ndiga ao vaqueiro de lá\nque eu mando dizer a elle\nque sem falta venha cá.\n\nO escravo cumpriu logo\no dever de portador,\nachou a casa fechada\nperguntou a um morador\nse sabia do vaqueiro\nesse disse não senhor.\n\nEntão o morador disse\nna noite de sexta-feira\no indio foi ao curral\ndeixou aberta a porteira\nsahiu montado a cavallo\ne levou a companheira.\n\nVoltou o escravo e disse\ntudo que tinha sabido\n\n- 34 -\n\nque na sexta-feira a noite\no indio tinha sahido\ne carregou a mulher\ncomo quem sahe escondido.\n\nInda và, mais esta agora!\no coronel exclamou!\naquelle bruto sahiu\ne nem me communicou\nque diabo teve elle\nque até o gado soltou?\n\nNo outro dia foi lá\nachou a casa fechada\nentão a forta da frente\ntinha ficado serrada\naté a mala da roupa \ninda estava destrancada.\n\nO fazendeiro com isso\nficou muito contrangido\npensava logo em um crime\nque podesse ter havido\no indio não tinha causa\nporque sahisse escondido.\n\nEntão mandou gente atraz\npelo mundo o procurar,\nnão achou uma pessôa\nque dissesse: eu vi passar\nem todo sertão que havia\nelle mandou indagar.\n\n- 35 -\n\nEntão o povo dizia\nque o indio era feiticeiro\ne uma fada pediu-lhe\nque não fosse mais vaqueiro\na fada transformou elle\nem um viado galheiro.\n\nOs faladores diziam\nque elle foi assassinado\ne talvez o coronel\ntivesse mesmo mandado\nmatar elle e a mulher\npara ficar com o gado.\n\nOutros diziam ao contrario\naté juravam que não,\nos dois cavallos do indio\na onde boiaram então?\nmesmo assim o coronel\nnão fazia aquella acção.\n\nBem encostadinho ao indio\numa velha fiandeira\nmorava n'uma cazinha,\ne fiava a noìte inteira\ndisse que quasi si assombra\nalli n'uma sexta-feira.\n\nDisse a meia noite em ponto\neu ainda estava fiando\nem casa do Bemvenuto\neu ouví gente fallando\n\n- 36 -\n\nespiei por um buraco\nvi chegar um boi urrando.\n\nA velha disse: Deus mande\na cascavel me morder\nse de lá de minha casa\nnão ouvi o boi dizer\nbôa noite! Bemvenuto!\neu sò venho aqui te ver.\n\nO boi disse outras palavras\nque eu de lá não poude ouvir\no caboclo e a mulher\ndisso ficaram a sorrir\no boi, o indio e a mulher\ntodos tres eu vi sahir.\n\nAhi fui guardar o fuso\ne a cesta do algodão,\ncredo em cruz dizia eu\naquillo é arte do cão,\nsão cousas de fim de mundo\nbem dîz frei Sebastião.\n\nO coronel a principio\ninda não acreditou\nporém depois refletindo,\numa acção que o indio obrou\nquando rastejavam o boi\no indio não foi, voltou.\n\nE então desse dia em diante\no boi ninguem mais o viu\n\n- 37 -\n\nnão houve mais quem soubesse\na onde elle se sumiu\nfoi igualmente a fumaça\nque pelos ares subiu.\n\nComo o indio e a mulher\ntudo desapareceu\ntanto que diziam muitos\nque o diabo os escondeu,\ndurante dezeseis annos\nnovas d'elle ninguem deu.\n\nSergío o vaqueiro de Minas\ntodos os mezes escrevia\nperguntando ao coronel\nse o boi ainda existia,\ndizendo quando quizer\nme escreva marcando o dia.\n\nFaziam dezeseis annos\nque o boi estava sumido\naté por muitas pessôas\nelle já estava esquecido\nquasi todos lá pensavam\nque elle tivesse morrido.\n\nO coronel Sizenando\ntinha como devoção\nfestejar todos os annos\na imagem de São João,\ntodo anno era uma festa\nnão havia excepção.\n\n- 38 -\n\nUma noite de São João\nna fazenda Santa Rosa\nsó a noite de Natal\nestaria tão venturosa\nporque em todo sertão\naquella era mais garbosa.\n\nTres classes ali dançavam\nem redobrada alegria\nno salão da casa grande\nos lordes da freguezia;\nem latada de capim\na classe pobre que havia.\n\nO leitor deve saber\ndo estylo do sertão\no que não fizer fogueira\nnas noites de São João,\nfica odiado do povo\ntem fama de mà christão.\n\nO coronel Sizenando\nderrubou uma aroeira\ne vinte e oito pessôas\ncarregou essa madeira\npara o pateo da fazenda\ne fizeram uma fogueira\n\nEstava a noite vinte tres\ndo mez do Santo Baptista\ncomo outra no sertão\nnunca tinha sido vista\n\n- 39 -\n\nsó faltava alli a musica\ndiscurso e fogo de vista.\n\nEstava o povo todo alli\nuns dançando, outros bebendo\num prazer desmasiado\nem tudo estava se vendo\nmais de cincoenta pessoas\nassando milho e comendo.\n\nMeia noite mais ou menos\npoude o povo calcular\no gallo pai do terreiro\nestava perto de cantar\nquando viram um touro preto\nno pateo se apresentar.\n\nMetteu os cascos na terra\ncobriu tudo com poeira\nsoltou um urro tão grande\nque ouviu-se em toda ribeira\ndeixou em cima da casa\ntodas brasas da fogueíra.\n\nDos cachorros da fazenda\nnem um sequer accudiu\no gado urrava com mêdo\nparte do povo fugiu\no coronel Sizenando\nfoi o unico que sahiu.\n\nInda viu o vulto d'elle\nque, pelo o pateo ia andando\n\n- 40 -\n\nchamou os cachorros todo\nesses fugiam uivando\no povo todo em silencio\njá muítos se retirando.\n\nEntão acabou-se a festa\no povo se debandou\nos moradores de perto\nlá um ou outro ficou,\naquelle clarão garboso\nem escuro se tornou.\n\nNo outro dia as dez horas\no coronel Sizenando\nestava com a mulher\nno alpendre conversando\nquando o indio Bemvenuto\nchegou e foi se apeiando\n\nO coronel exclamou\nindio velho desgraçado\nvocê sahiu escondido\nme dando tanto cuidado\npor sua causa até hoje\neu vivo contrariado.\n\nEntão perguntou o indio\npegaram mysterioso?\nque atraz delle até morreu\no cavallo perigoso?\nrespondeu o coronel\nsumiu-se aquelle tinhoso.\n\n- 41 -\n\nEntão disse o coronel\nvocê hoje ha de dizer\naquelle boi o que é\nque só você pode saber\nse fizer-me esse favor\ntenho que lhe agradecer.\n\nDe nada sei coronel\no indio lhe respondeu,\nsabe, disse o coronel:\ne contou o que se deu\ndisse quando o boi sumiu-se\nvocê desappareceu.\n\nZé preto do boquerão\nnesse momento chegou\ne disse Sr. coronel\nme diga o que se passou\neu soube de um facto hoje\nque já me contrariou.\n\nEntão disse o coronel\nfoi uma scena horrorosa\ninda estou contrariado\nminha mulher desgostosa\nnão sei que negocio tem\no diabo em Santa Rosa.\n\nDisse Zé preto eu tambem\nvenho aqui bem receioso\no coronel me conhece\nvê que não sou mentiroso\n\n- 42 -\n\ninda agora quando vinha\nvi o boí mysterioso.\n\nNa malhada do balão\npassei vi elle deitado\nfoi o boì que veio aqui\neu fiquei desconfiado\nporque vi um chifre delle\ne parece está queimado.\n\nSergio o vaqueiro de Minas\nnesse momento chegou\ndisse Sr. coronel\nas suas ordens eu estou\npois recebi o recado\nque o coronel me mandou.\n\nDisse o Sergio eu recebi\ndo coronel um recado\npara o dia vinte sete\nestava o povo contractado\npois o boi mysterioso\njà tinha sido encontrado.\n\nEntão disse o coronel\nque o recado não mandou,\nali contou a miudo\na scena que se passou\ne disse: Zé preto agora\nme disse que o encontrou.\n\nNisso chegou um vaqueiro\num caboclo curibóca\n\n- 43 -\n\no nariz grosso e roliço\na forma de uma taboca\nem cada lado do rosto\ntinha uma grande pipoca.\n\nBom dia Sr. coronel\ndisse o tal recem-chegado\ntenha o mesmo cavalleiro,\nrespondeu desconfiado\ndizendo dentro de si\nda onde é este damnado?\n\nO coronel pergunto-lhe\nde que parte é, o cavalleiro?\ndo sertão de Matto Grosso\nrespondeu o tal vaqueiro\na que negocio é que vem?\npergunto-lhe o fazendeiro.\n\nMeu patrão é bom vaqueiro\ndisse-lhe o desconhecido\nsoube que dessa fazenda\num boi tinha se sumido\nmandou-me ver se esse boi\njá teria apparecido.\n\nE se o coronel quizesse\nque eu fosse ao campo pegal-o\neu garanto ao coronel\nse o vir hei de derrubal-o\no patrão por segurança\nmandou-me nesse cavallo.\n\n- 44 -\n\nEsse cavallo não sahe,\ndaqui desmoralizado\nneste só monta o patrão\nou eu quando sou mandado\né um poldro está mudando\nporem é condecorado.\n\nO cavallo era mais preto\ndo que uma noite escura\naté os outros cavallos\ntemiam aquella figura\no corpo muito franzino\ncom oitro palmos de altura.\n\nTinha os olhos côr de brasa\nos cascos como formão\nmarcado com sete rodas\nda junta da pá a mão\ne tinha no lado esquerdo\nsete sinos Salomão.\n\nPois bem disse o coronel\namanhã temos de ir\nmando avizar aos vaqueiros\ncreio que tudo á de vir\nas seis horas da manhã\nnós havemos de seguir.\n\nCincoenta e nove vaqueiros\nas 8 horas chegaram\ntodos tiraram as sellas\ne seus cavallos peiaram\n\n- 45 -\n\nceiaram armaram as rêdes,\nno alpendre se deitaram.\n\nMas o caboclo não quiz\npeiar o cavallo delle\nnão quiz ceiar e passou\na noite encostado a elle\ndizendo que não peiava-o\npor não confiar-se n'elle.\n\nDe manhã todos seguiram\no caboclo foi na frente\no coronel notou logo\nnelle um typo differente\ne disse se houver diabo\né aquelle sertamente.\n\nForam aonde Zé preto\nde vespera tinha-o deixado\nnaquelle mesmo lugar\ninda estava elle deitado\nlevantou-se espreguiçando-se\ne não ficou assustado.\n\nDepois de se levantar\ncavou no chão e urrou\no urro foi exquesito\nque tudo ali se assustou\no cavallo do caboclo\ncheirou o chão e rinchou.\n\nTratou o boi de correr\ne subiu logo um oiteiro\n\n- 46 -\n\npor lugar que era impossivel\nsubir nelle um cavalheiro\nde cincoenta e nove homens\nsó foi lá o tal vaqueiro.\n\nEntão o caboclo disse\npóde correr camarada\nvamos ver quem tem mais força\nsi é meu patrão ou a fada\neu não chego a meu patrão\ncontando historia furada.\n\nVocê bem vê o cavallo\nque eu venho montado nelle\ne conhece meu patrão\nsabe que o cavallo é delle\no boi ahi se virou\ne olhou bem para elle.\n\nAhi desceu do oiteiro\nem desmarcada carreira\ndeixando por onde ia\numa nuvem de pueira\no curibóco gritou-lhe\nnão corre que é uma asneira\n\nEntão sahiram no campo\nonde tudo se avistava\no cavallo do caboclo\nfogo das ventas deitava\ndava sopros na campina\nque tudo alli se assombrava.\n\n- 47 -\n\nO coronel disse a todos\ndevemos seguir atraz\nestá decidido que alli\nanda mão de Satanaz\nconvem agora é nós vermos\nque resultado isso traz.\n\nBem no centro da campina\nhavia uma velha estrada\nfeita por gado dalli\nporém já estava apagada\ndepois com outra vereda\nfazia uma encruzilhada.\n\nIam o vaqueiro e o boi\npela dicta cruz passar\nali enguiçava a cruz\nou tinha então que voltar\ndevido aos outros vaqueiros\nnão havia outro logar\n\nMas o boi chegando perto\nnão quiz enguiçar a cruz\ntudo desappareceu\nficou um foco de luz\ne depois della sahiram\numa aguia e dois urubús.\n\nTudo alli observou\no facto como se deu\ndizem que a terra se abriu\ne o campo estremeceu\n\n- 48 -\n\npela abertura da terra\nviram quando o boi desceu.\n\nVoltaram todos os vaqueiros\no coronel constrangído\no boi e o tal vaqueiro\nterem desaparecido\nsem ninguem alli saber\ncomo tinha succedido.\n\nO coronel Sizenando\nficou tão contrariado\nque vendeu todas fazendas\ne nunca mais criou gado\nhouve vaqueiro daquelles\nque um mez ficou assombrado.\n\nLa inda hoje se vê\nEm noites nevoadas\nA vacca mysteriosa\nNaquellas duas Estradas\nDuas mulheres chorando\nRangindo os dentes e falando\nOnde as scenas foram dadas.\n\nFIM\n\n\n\n---------\nNota: na última estrofe encontramos acróstico composto pela primeira letra de cada linha. No original, as letras estão na horizontal, formando a palavra LEANDRO.\n\n[Em branco]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO deposito de Matinha da\nEncruzilhada de Limoeiro\nrua Telles Junior n. 23"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-056",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Sertanejo no Sul / Debate de Josue Romano e João Carneiro - Historias (sic) Completas",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Observando a tipografia e a configuração do folheto em comparação à outros, além da localidade, é possível que a edição do mesmo tenha sido realizada por João Martins de Athayde. \nObservações: Numeração manuscrita na capa: \"56",
"Palavras-chave": "Fome; sul; filhos; velho; menino; senhor de engenho; sertão; sertanejo; choro; cana; Josué Romano; João Carneiro; cantar; pai; bicho;",
"Tema": "A história de uma família de retirantes; Disputa entre Josué Romano e João Carneiro",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO \nSERTANEJO\nNO SUL\n\nDEBATE DE JOSUE\nROMANO \nE JOÃO CARNEIRO\n\nHISTORIAS\nCOMPLETAS\n\nA' venda no deposito na\nMatinha da Encruzilhada\nRua Telles Junior n. 23\n\nRECIFE - PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nO SERTANEJO NO SUL\n\nNòs todos stamos ao par\nda indigencia do norte\nquando o anno não é secco\no inverno é muito forte\nvem sertaneijo de cima\narrenegando da sorte\n\nVendo que morre a fome\ncomo morre qualquer bruto\nvai ver se no sul chuveu\no sul tambem está enchuto\npergunta o senhor de engenho\nde onde vem este matuto?\n\nCom os cabellos tão grande\nfedendo até a fumaça\num rozario no pescoço\ncamisa fora da calça\nem cada dedo das mãos\nas unhas tem meia braça.\n\nO velho chega na frente\nvindo atraz grande ranchada\ngente de todo tamanho\nchega tomar a estrada\nparesse até que naceram\noito e dez de uma ninhada\n\n- 2 -\n\nA mãe da familia atraz\ncom um filho em cada braço\ndois escanchados nos hombros\noutro bem no espinhaço\numa trouxa na cabeça\numa cuía e um cabaço.\n\nUm filho com quinze dias\no outro com menos de mez\nna velha ja se devulga\no estado de gravidez\npergunta o senhor de engenho\nquantos filhos tem vocês?\n\ndiz o velho seu major\nsó eu vendo se me lembro\nchico naceu em a gosto\nmigué nasceu em setembro\nanna nasceu em outubro\nrita nasceu em novembro\n\nJoão nasceu no mez de festa\njosé nasceu em janeiro\na mué fez u'a promessa\nao padre do joazeiro\ncuma num poude pagar\nabortou em fevereiro.\n\nO senhor de engenho pergunta\ntodo mez nascia um?\nresponde velho o ora está\n\n- 3 -\n\nfamilia è um bem comum\no que dá mais no sertão\ne' menino e girimum.\n\nO numero de todos filhos\nvocê sabera qual é?\ndiz o velho seu major\npergunte ahi a muié\ndiz a velha eu num sei não\nsó se quem sabe é mané.\n\nA gora eu lembro-me bem\nquando caitano nasceu\nfoi nun dia de domingo\nnessa tarde até chuveu\nquando a besta de meu sougro\na cascavel a mordeu.\n\nEu estava apanhando fava\nna roça do meu cunhado\nbutei gerimun no fogo\ndepois de ter almoçado\npá nasceu meu filho cosme\nla no rancho do roçado\n\nE mané eu tive elle\nquando fui ao joazeiro\numa besta que eu levava\nteve um pordinho foveiro\nentre o pordo e o menino\nnão sei quem nasceu primeiro\n\n- 4 -\n\nGenoveva foi no anno\nque apariceu a bichiga\nella Antonia e Damianna\ntodas tres de uma barriga\nneste anno teve até\numa peste de furmiga\n\nPergunta o senhor de engenho\nquantos filhos tem vocês?\nrespondeu avelha trazemos\nvinte e nove desta vez\ndeus levou dez para o céo\nno sertão ficaram seis.\n\nO senhor de engenho diz\neu estou com a vida ganha\ntenho mais trabalhadores\ndo que povo na alemanha\no que não me trabalhar\nou vai embora ou apanha.\n\nO miseravel que vem\npela fome perseguido\nmete-se ali num mucambo\njulga que està garantido\ntoda roupa serve ao nù\na questão é está despido.\n\nTrabalha a familia toda\ne se o homem não for máo\ndar dois litros de farínha\n\n- 5 -\n\ntrez tustões de bacalho\nse for um da pá virada\nde tarde recebe páo\n\nO senhor de engenho diz\na qui não se faz dezejo\nmorador do meu engenho\nsó tem direito ao despejo\ne eu não vou trabalhar\npara engordar sertanejo\n\nSe accaso elle plantar canna\ndiga adeus minha eucomenda\nporque ou toma dinheiro\nou então compra na venda\ndeixa o trabalho do anno\nno barracão da fazenda\n\nQuando chega-lhe a noticia\ndo lnverno no sertão\nelle diz logo muié\narrume meu matulão\nquebre os cacos de panella\ntoque fogo no pilão\n\nVai ver se o senhor de engenho\ncompra as cannas que elle tem\no proprietario diz\nestou apitando tambem\ndo apurado da safra\nnão resta mais um vintem.\n\n- 6 -\n\nPode deixar suas cannas\nse não puder as vender\nvolte em setembro ou outubro\nque e otempo de moer\npode assucar dar preço\ne sua canna render.\n\nVolta o pobre miseravel\ncom fome descalço e nú\ncomendo pelo caminho\njoá e raiz de imbú\nroto que só um cigano\nmagro que só urubú\n\nVolta no anno vindouro\nmoi as cannas com vechame\ntraz sesenta pães de assucar\nporem chega no andame\nescorre todo no tanque\nali só tem é retame.\n\nCahiu no tanque perdeu-se\ninda que o dono reclame\no senhor de engenho diz-lhe\nvà chorar la no andame\nque essa sua busina\nestá agourando o retame\n\nO senhor de engenho alli\nnão houve queixa nem chouro\ndiz elle que o mel de furu\n\n- 7 -\n\ne' pagamento do fôro\nquem quizer sahir em paz\naguente o dezaforo.\n\nVai trabalhar alugado\npara puder ir embora\nchega em casa e diz maria\nse eu lhe contar voc ê chora\no que eu trabalhei num anno\nocão levo unumahora.\n\nCortei a canna e moí\nporem perdi meu suor\nquando tinha a esperança\nde voltar de lá maior\ndeixei tudo quanto fiz\nno tanque di seu major.\n\nVou ao joazeiro e digo\ntudo que me aconteceu\ndeichei a roça no sul\no gado entrou e comeu\nmoi canna e fiz assucar\nesse pá, se derreteu.\n\nMas meu padrinho pade Cirço\ninda está no Joazeiro\nelle ha de ser servido\nque eu inda ganhe dinheiro\ne com os poderes delle\ninda seje un fazendeiro.\n\nDEBATE DE JOSUÉ ROMANO\nE JOÁO CARNEIRO\n\nCarneiro-Amigo diga o seu nome\nQue quero ser sabedor\nAonde foi que nasceu\nComo se chama o senhor\nSe acaso aprendeu a ler\nQuem foi o seu professor\n\nJ- Eu me chamo Josué\nnasci dentro do teixeira\nfilho do velho Romano\num cantador de primeira\naonde meu pai cantava\nalli havia uma feira.\n\nC- Eu sou o carneiro velho\nconheci muito seu pai\ntenho subido em altura\nque você morre e não vai\ndou marrada numa serra\nabre fenda o monte cai.\n\nJ- Carneiro eu sou mutio mole\naqui só se vê tamanho\ntudo que existe no mundo\ntem medo quando me assanho\ncarneiro que eu for a elle\nme entregue logo o rebanho\n\n- 9 -\n\nC- menino, Carneiro velho\nsabe o segredo da abelha\nnão vai fazer uma cousa\npara torcer a orelha\nnem lobo do meu rebanho\nnunca tirou uma ovelha\n\nJ- Eu disse ao sahir de caza\nque vinha ver um carneiro\no primeiro que encontrasse\nsairia do chiqueiro\nmandei lavar a panella\ne comprar logo o tempeiro\n\nc- menino nem pense nisso\ne' uma asneira completa\ncarneiro como cantor\nnogueira como poéta\nsamos dois navios no mar\nou dois trens em linha reta.\n\nJ- a machina desencarrilha\no navio podefu ndar\nnougueira já não existe\no senhor pode cançar\nha muitas cousas no mundo\nque ninguem as ver passar\n\nc- inda você se virando\nno lôbo mas carniceiro\nno leão mas temeroso\n\n- 10 -\n\nno tigre mais traiçoeiro\ntudo isso inda e pouco\npara espantar o carneiro.\n\nJ- eu tenho encontrado bicho\nonças com filhos nos ninhos\nporem eu entro na furna\ntrago ella e os gatinhos\ndou uma surra na onça\nmando criar os filinhos.\n\nc- pode o sol nascer de noite\ne por-se de madrugada\npello de rato dar trança\nleite de sapo qualhada\ndificil é tirar da furna\nfilho de onça pintada.\n\nJ- carneiro eu já preparei\no sitio onde tenho morada\nbotei uma peça grande\nna bouca de cada estrada\no cautador que for lá\nmorre doido e não faz nada.\n\n-c o almirante balão\nfortificou atorquia\nem cada ponte butou\num gigante por vigia\nchegaram os pares de França\nlimparam tudo que havia\n\n- 11 -\n\nJ- pois se transforme em Roldão\nou outro qualquer guerreiro\nvá lá e veja depois\nse pisa mais em chiqueiro\nseu rebanho ha de dezer\nnós ja tivemos carneiro\n\nc-menino você é novo\npresiza que alguem lhe explique\no homem é um barco velho\no mundo todo e um dique\nvocê não sabe remar\neu sou velho o boto apique.\n\nJ- vamos tratar noutra cousa\nde mais adiantamento\nsobre a rotação da terra\na lua a chuva e o vento\ncomo em 24 horas\na terra faz movimento?\n\nc-menino eu não estudei\naquillo que mas servia\ncomo bem fosse gramatica\narithmetica geographia\ncomo podia estudar\nnegocios de astronomia?\n\nJ-pois eu conheço o globo\ntudo quanto nelle enserra\ne com relaçõs a isso\n\n- 12 -\n\ncantor algum me faz guerra\nporque estudei a fundo\no movimento da terra\n\nc-o senhor estudou bem\ncomo tira aripuá\narmar quixó nas veredas\npara mocó e preá\nrasteijar pelos caminhos\ntatú e tamanduá.\n\nJ-todo sertão no seu tempo\nera um bosque solitario\nquando nascia um menino\ndavam-lhe logo um rozario\ne para ler-se uma carta\nia perdir-se ao vigario.\n\nc-seu pai era desse tempo\ne por iss era a trazado\nporem o senhor nasceu\njá num tempo adiantado\njá vê que não tem razão\npara falar tão errado.\n\nJ-se escapoli algum erro\nfoi devido a comvivencia\nter relação com pessoas\ndespidas de inteligencia\nvelhos que a lem de caduco\nnunca teveram sciencia.\n\n- 13 -\n\nc-pessôa ignorante\ndiz que não sabe o que faz\nas veses até levanta\nmil falço ao satanaz\nnão tem o conhecimento\nque o erro já vem de atraz\n\nJ-cantar com velho caduco\ne' como ensinar um louco\nmostrar caminho a um cégo\ndar um recado a um moco\nensinar ginastica a gato\ndar meopathia a porco.\n\nc-abra olho olhe o caminho\no tempo e este a proveite\ncriança só faz asneira\ncouco velho tem azeite\neu tenho dado em menino\nque a boucca a inda cheira a leite\n\nJ-carneiro eu tenho encontrado\nbicho de grosso congote\nporem eu tenho amançado\ndesde touro a novilhote\no que tem aponta fina\neu corto tudo a serrote.\n\nc-se eu fosse um touro e achasse\nvaqueiro heroe e desposto\nesse serrando-me as pontas\n\n- 14 -\n\nnão me envergonhava o rosto\nmas serrado por você\neu morrirìa de desgosto.\n\nJ-eu já prearei um sitio\npara esperar valentão\narmei quatro mil caboclos\na frochei dentro um leão\ntrez tigres e duas pintadas\nestão alli de prontidão\n\nc-no dia que chegar lá\nvocê vê a esplozão\nboto os cachorros nas onças\ne a tiro no leão\namarro todos caboculos\ne todo tudo a facão.\n\nJ-alem disso inda tenho\numa medonha serpente\nquatro litros de veneno\ntem no pé de cada dente\ngaranto que quem for lá\nem vel-a fica doente\n\nc-se eu for lá tudo fica\nmais manso do que um somno\ntudo corre a um tempo só\nfica o sitio em abandono\nmêto o cacête na cobra\nespero que venha o dono\n\n- 15 -\n\nJ-dois indios que eu tenho lá\num só, vence uma cidade\ncaboculos que tem seis mezes\ntem tanta velocidade\nque parece se mover\npor meio da eletricidade\n\nc-quem foi que viu caboculo\nque fizesse bôa ação\nquando prisizasse delle\nfalta na occazião\nvá se confiando nelles\nveja se perde ou não\n\nJ-carneiro và confessar-se\ne reze o acto de fé\nvocê já está caducando \nnão sabe o mundo o que é\nhoje fica conhecendo\na força de jozué\n\nc-todo menino de velho\ntem roço e è malcriado\no meu colega romano\nera um pouco descuidado\nnão cortou este rapaz\ncriou-o insuburdinado\n\nJ-carneiro a luta è tremenda\nvocê jà està enrascado\nquando não puder arreì\n\n- 16 -\n\nnão rique sacrificado\nmadeira velha de mais\nnão aguenta machado\n\nc-eu sou alvoredo velho\nmas tambem tenho consollo\nem mim quebra-se o machado\nmas não ha quem faça um roulo\nessa madeira dagóra\ntem casca e não miollo.\n\nJosué poz-se a tucir\na cabeça ficou tonta\ndisse carneiro oh! rapaz\nvocê não estava na ponta?\nnão a guenta o rojão\nvenha pedir sua conta.\n\nFIM\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\n(LIVROS DE HISTORIAS EXPOSTOS A VENDA)\n\nZesinho e Mariquinha \nPrincesa Elysa \nOs Martyrios de Genoveva \nH. do Pescador \nJosé do Egypto \nOs dois Glosadores \nPadre Cicero \nJuvenal e o Dragão \nGenevra \nNatanael e Cicilia \nPierre e Beatriz \nRico Avarento \nPrincesa Rosa \nPeleja de Gavião e machd. \nO homem da Lua \nA morte de Xico Barulhao \nA vida do seringueiro \nO casamento infelis \nDiscussao de Zèduda com \n Joao Athayde \nA rainha que sahiu do mar \nO advogado da Religiao \nCapitão do Navio \nP. de Manoel Raymundo \n com Manoel Campina \nO segredo do casamento \nO homem que nasceu p'ra \n nao ter nada \nO cavallo que deffecava \n dinheiro \nO grande Roberto do Diabo \nO Poder da Nescessidade \nRachel e a fera encantada\nMarco do Meio-mundo\nPrincesa da Pedra-fina\nPulo e Maria\nFilha que matou a mãe\nPriso de Antonio Silvino\nA discussao de A. com\n Leandro\nP. de Ventania com P. Azul\nPeleja de Bern ardo No-\n gueira com Preto Limão\nA inf. de dois Amantes\nO homem que teve uma\n questao com S. Antonio\nA moça enterrada viva\nRoques Matheus\nA grande surra que o poeta\nCordeiro Manso levou de\n Joao Athayde\nO torpediamento do Macau\nGallinha com dente\nMorte de Leandro\nA guerra dos Animaes\nMulher Bonita\nHistoria de Barba-azul\nO Menino da Floresta\nRomeu e Julieta\nA Bella adormecida no\n bosque\nDonsella Theodora\nH. do Velho Antonio Co-\n coróte\n\n\n\n\nRemete-se pelo correio qualquer quantidade de \nlivros mediante a importancia do pedido para qualquer\nEstado do Brazil.\n\n\n---------\nNota: No original, os títulos estão divididos em duas colunas, não dispostos apenas em uma."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-057",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Verdade Nua e Crua / A Dôr (sic.) de Barriga de um Noivo",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": [
1913
],
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"57",
"Palavras-chave": "Invenção; progresso; mundo; passado; moça; rapaz; criado; classe; época; igreja; humanidade; dor de barriga; noivos; tripas; bucho;",
"Tema": "Como o mundo mudou; a dor de barriga de um noivo",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nA verdade nua e crua\n\nA dôr de barriga de um noivo\n\nÁ VENDA\nRua do Alecrim 38 E\nReeife\n\n\nRECIFE\nTYPOGRAPHIA DO <>\n47-Rua 15 de Novembro-47\n\n1913\n\n[Em branco]\n\nA Verdade nua\n\nQuem é que vê este mundo\nE o acha adiantado?\nAs cousas do universo\nEm que terão melhorado?\nMelhora quem é pedante\nE tem quengo refinado.\n\nPara que os automoveis\nQue correm pela cidade?\nMachucando os miseraveis\nQue recorrem a caridade\nCrianças que são tangidas\nPor grande necessidade.\n\nQuem inventou luz electrica\nDevia ter inventado\nUma machina para chuva\nOutra para fazer gado,\nDessa forma nosso mundo\nEra bem adiantado.\n\nO inventor do cinema\nUm dos artistas mais,finos\n\n- 2 -\n\nAntes estudase um mseio\nPara ver os intestinos;\nMostrasse publicamente\nOs ladrões e assassinos.\n\nZoonophone se fosse\nUma couza que influisse,\nMas é como o papagaio\nDiz o que outro já disse\nEu nunca vi um segredo\nQue um desses descobrisse.\n\nOs homens de nossa epocha\nAcham que vão em progresso,\nMas só o cégo não vê\nAs lastimas do universo\nRaro é o que não diz\nO mundo vai em regresso.\n\nHá muito adiantamento\nNa sciencia dos artistas\nMas tambem a corrumpção\nVôa claro em nossas vistas\nO sentimento dos homens\nEstá preso pelos quenguistas.\n\nA consciencia sumiu-se,\nO caracter apodreceu,\nA vergonha envergonhou-se\nE por isso enloqueceu\nA caridade queimou-se\nO interesse cresceu.\n\n\n\n- 3 -\n\nQuem já tiver meio seculo\nVolte a mente no passado\nQue vê um mundo grosseiro\nComo era o atrasado\nVolte a vista no presente\nTudo que vê é de agrado.\n\nVê o palacio de um nobre\nQue parece um sanctuario\nPortas e janellas feitas\nPor perito imaginario\nCustou ao barão de tal\nDous mil contos do vigario.\n\nVamos na praça mais publica\nOnde a bellezsa fluctúa,\nVeja uma mulher já velha\nPasseando pela rua\nA saia é curta e estreita\nQue parece que está nua.\n\nMoças de 18 annos\nCom as canellas de fóra,\nUm cintorão de camurça\nQue já esta tóra, não tóra,\nSe apertar mais qualquer cousa\nNão tem geito, vai embora.\n\nOs espartihos já vê-se\nA moça quando se ataca,\nBota-os na segunda-feira\nNa sexta inda tem a marca,\n\n- 4 -\n\nO estomago della fica\nComo as costas de uma faca.\n\nMas a moda exige isso\nIsso é quer queira ou não queira\nAnda puxando de um quarto\nComo quem soffre manqueira\nMas é devido aos sapatos\nQue tem salto de madeira.\n\nVem alli uma menina\nQue já tem enorme altura\nParesse um anjo do céo,\nE' um symbolo da candura\nA barra da roupa bem\nPouco abaixo da cintura.\n\nNo tempo do carrancismo\nTudo vivia decente,\nMenina mostrava o pé\nAo sapateiro somente,\nMoças de quarenta annos\nAinda era innocente.\n\nO rapaz pedia a moça\nHavia de se ausentar\nE na casa do pae della\nNão havia de passar,\nE só havia de vel-a\nQuando fosse se casar.\n\nHoje a filha de fulano,\nFoi pedida á de casar\n\n- 5 -\n\nJá hontem o noivo chamou-a ;\nFoi com ella passeiar,\nFoi de manhã veio a noute\nNão teve conta a quem dar.\n\nD. Fulana de tal\nQue não dispresa o systema\nAs seis horas vai a missa\nDe tarde vai ao Cinema\nO marido que se amole\nE marque o passo da ema.\n\nE se o marido fallar\nCom certeza ella se enflamma,\nSe não tem fome não ceia\nE de noite aparta a cama\nE diz quem comprar o peixe\nRepare logo a escama.\n\nProcura-se na igreja\nO padre da freguezia\nDiz o sachristão sahiu\nNem disse se voltaria\nFoi tratar sobre politica\nNão poude marcar o dia.\n\nVá ao juiz de direito,\nPrecise do promotor\nE vá em casa de um desses\nPergunte pelo doutor;\nDiz o creado foi hoje\nFallar ao governador.\n\n- 6 -\n\nSe perguntar, quando vem?\nO criado ha de dizer\nOra o doutor, quando vem?\nVem quando lhe parecer\nQuem precisar delle espere\nSe não! pode até morrer.\n\nO que elle quizer faz\nQue é juiz de direito\nSeu fulano vá queixar.\nSe não ficar satisfeito\nVá pôr defeito na obra\nDepois do serviço feito.\n\nEntremos no hospital\nPor mais curiosidade\nVejam como são possantes\nAs irmães de caridade\nSão ellas as parasitas\nDa fragil humanidade.\n\nChega um doente morrendo\nNa casa de caridade,\nPergunta pelo doutor\nLhe dizem: só vem a tarde\nDalli mesmo o infeliz\nVai para a enternidade.\n\nAgora quer ver a cousa\nComo muda de figura?\nCaçe um cobrador de imposto\nQue acha grande fartura,\n\n- 7 -\n\nSó cupim em casa velha\nFormiga preta em gordura.\n\nEssa classe não se acaba\nNão ha quem tenha esse gosto\nDe dizer: o mundo hoje\nNão tem cobrador de imposto\nMorre um no mez de Julho\nChegam 10 no mez de Agosto.\n\nHa uns cem annos atraz\nNinguem se suicidava\nA porta do cemiterio\nPara um assim se fechava\nTambem de 10 em 10 annos\nUm caso desse se dava.\n\nMas hoje qualque pelintra\nQue vive da malandragem,\nNão se sugeita ao trabalho\nAcha uma grande vantagem\nNuma bala de revolver\nPara fazer a viagem.\n\nA moça não usa tiro\nMas se gostar de um rapaz\nO pae e a mãe não querem\nQuer saber ella o que faz?\nBebe logo acido phenico\nOu se incendia com gaz.\n\nE' hoje o que mais se vê\nNessa epocha adiantada,\n\n- 8 -\n\nNesse tal seculo das luzes\nSe tem luz é apagada,\nE' um claro côr da noite\nOu liberdade amarrada\n\nNo tempo do carrancismo\nOs homens todos em massa\nSempre faziam de véra\nO que diziam de graça\nUm cabello do bigode\nEra uma letra na praça.\n\nHoje em dia vê-se um\nJurar prometter que faz\nQuem não conhecer que o compre,\nOuça a prosa, vá atraz,\nFique esperando por elle\nE veja se elle vem mais.\n\nNa igreja em outro tempo\nHavia sinceridade\nHoje da-se cousa nella\nQue provoca piedade\nO dinheiro chegou nella\nAcabou-lhe a sanctidade.\n\nExiste aqui no Recife\nUma velha freguezia\nDe frei São Pedro Gonçalves\nUm santo velho que havia\nVenderam a igreja delle\nEstá elle sem moradia.\n\n- 9 -\n\nForam melhorar o porto\nE o governo a comprou,\nO porto ficou melhor\nMas São Pedro peiorou,\nQuem recebeu o dinheiro\nEsse foi quem melhorou.\n\nO Santo está muito velho\nJá precisa de tutor\nE só mesmo o arcebispo\nPode ser procurador,\nSe o santo precisar, peça;\nDo contrario, não senhor!\n\nSão Pedro fez-se de molle\nDeixou quem bem quiz chegar,\nPassou lhe a casa no cobre\nNão tem aonde morar,\nEstá com os cacos na rua\nE não pode se queixar.\n\nSe fosse no tempo antigo,\nIsso não se tinha dado,\nMas nesse tempo moderno\nNem santo está descançado,\nPorque vendem-lhe a igreja\nE o deixam desarranchado.\n\nHoje o homem só é bom\nSe fôr muito interesseiro,\nQninhentos contos de réis\nE' um santo verdadeiro,\n\n- 10 -\n\nUma mãe enfeita um filho,\nMas não enfeita dinheiro.\n\nE é o que estamos vendo,\nNo seculo da claridade,\nO homem estuda uma forma\nQue dê na humanidade\nA mulher e a creança,\nSó pensam na vaidade.\n\nA dôr de barriga de um noivo\n\nHa pessôas nesta terra\nQue me chamam fallador,\nMas tal defeito não tenho,\nPoderá crer o leitor.\nMas para diversas cousas\nE' bom ser reparador.\n\nQue caso se deu\nEm certo lugar,\nEu irei contar\nO que aconteceu\nNão é falso meu.\nQue não uso disto\nEu só registo\nO que se passou,\nDisse quem contou\nFoi por todos vistos.\n\n- 11 -\n\nHa diabo neste mundo,\nQue eu não sei para que casa.\nPara fazer a derrota\nDa infeliz que se arrasa:\nE' como dois jogadores\nUm augmenta, outro se atrasa.\n\nComo Zé Lombriga.\nQuando se casou,\nQue se desgraçou, \nCom dôr de barriga\nE elle que diga\nSe assim não se deu.\nDe nada valeu\nMedico e boticario,\nNão sei o vigario.\nComo não morreu.\n\nEsse tal Zé lombriga\nE' filho de Pança Inchada,\nEntão pediu uma filha\nDe Josepha Panellada,\nO leitor preste attenção\nNo que se deu na estrada.\n\nO sol alteava,\nNum dia de Abril\nO céo côr de anil\nNesse dia estava,\nA brisa cortava\nA extensão dos prados,\nOs montes escarpados\nComo quem sorria,\n\n- 12 -\n\nO vento dizia:\nLá vão uns noivados.\n\nEram bellos nesse dia\nOs enfeites naturaes,\nSublimes carramanchões\nFeitos pelos matagaes,\nEnsaiavam as cantilenas\nOs saudosos sabiás.\n\nOs noivos seguiam.\nNaquelles delirios\nRoçando nos lyrios\nQue no campo haviam\nOs padrinhos sentiam\nO noivo cançado,\nAndando envergado\nCoçando a barriga\nEra Zé Lombriga\nQue ia derrotado.\n\nNa vespera do casamento,\nO noivo tinha comido,\nUm quarto de bode assado\nE um veado cosido;\nUm resto de cabidella\nQue um irmão tinha trazido.\n\nMais tarde comeu\nUm litro de pipocas\nE dez tapiocas\nQue a noiva lhe deu,\nA agua que bebeu.\n\n- 13 -\n\nNinguem calculou,\nUm póte seccou\nE uma bacia,\nA agua que havia,\nAlli, se acabou.\n\nPela manhã levantou-se;\nPerguntou: tem gerimun?\nDisse-lhe a noiva: tinham dois,\nMas agora só tem um.\nDisse o noivo cosinhem elle,\nPara quebrar o jejum.\n\nE tinha sobrado\nUma feijoada.\nFava cozinhada\nQue tinha ficado\nCom bredo guisado;\nE muito toucinho\nE mais o fucinho\nDe um porco bahé;\nExclamava Zé\nComo está bomzinho!\n\nE foram para a igreja\nJá o noivo encommodado,\nAs tripas roncando muito\nO ventre bastante inchado,\nTanto que a noiva lhe disse:\nZé, seu bucho está damnado?\n\nNão se confessou\nNo confissionario,\n\n- 14 -\n\nPorque o vigario\nNão o aguentou.\nO bruto arrotou\nDentro da matriz.\nEm todo paiz\nCausou sensação\nAté Santo Antonio\nTapou o nariz.\n\nAlguem julgará que é falso,\nQuem viu foi homem de fé,\nPois a consciencia delle\nSó arffima aquillo que é\nE' limpa que só um panno,\nOnde se côa café.\n\nInda hoje prova\nQuem disse a historia,\nPois foi em Victoria\nNa estrada nova,\nElle viu a cova,\nQue a roupa enterraram,\nNa cova botaram\nO véo e a capella\nToda roupa della\nLá depositaram.\n\nNão demoraram na rua\nDevido a esse accidente,\nO pae da noiva ia triste,\nO noivo muito doente\nAté o proprio cavallo\nBufava damnadamente.\n\n- 15 -\n\nO noivo dizia: \nQue feijão damnado\nVou tão derrotado\nQue não boto o dia\nJá tenho agonia\nSinto a voz cançada\nComida malvada.\nA noiva dizia:\nVocê bem sabia\nEu vou ensopada.\n\nUma testemunha disse:\nSe chegar em casa vivo\nTome immediatamente\nUm purgante muito activo\nAzeite de carrapato\nQue é um dos mais purgativo.\n\nO sogro comprou\nUm litro de azeite,\nE disse: se ageite\nQue aqui mesmo eu dou,\nA um rapaz gritou:\nPegue Zé Lombriga.\nCortaram uma ortiga\nCom espinhos e tudo,\nFizeram um canudo\nE... lá vai bexiga.\n\nO azeite quando entrou\nAchou a barriga inchada,\nDeu uma cinco ou seis voltas\nE se ouviu a trovoado\n\n- 16 -\n\nNão houve uma testemunha\nQue não ficasse ensopada.\n\nAlli tinha um moço\nTrouxe um cascabulho\nFez delle um embrulho\nLevou-o a um pôço\nNaquelle alvoroço\nSabe o que se deu?\nO rapaz morreu\nPor esfregar elle\nO cavallo delle\nO dono o perdeu.\n\nTambem Zé lumbriga disse\nQue nunca mais comeria\nFeijão com carne de porco\nGuardado do outro dia,\nAinda visando a morte\nTal diabo não comia.\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\nO autor reserva o direito de pro-\npiedade\n\n\n(905)"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-058",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Azar na Casa do Funileiro / O Casamento Hoje em Dias (sic.) - Historias (sic) Completas",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "Observando-se a tipografia, a configuração e a contracapa do folheto em comparação a outros, além da localidade, é possível especular que a edição do mesmo foi realizada por João Martins de Athayde.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"58",
"Palavras-chave": "Azar; feira; freguês; funileiro; inferno; casamento; mulher; homem; solteiro; pobre; sogra; teólogo;",
"Tema": "A personificação do azar pede pousada; Os casamentos atuais",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO AZAR\nNA CASA DO\nFUNILEIRO\n\nO CASAMENTO\nHOJE EM DIAS\n\nHistorias Completas\n\nA' venda no Mercado de São José\nCompartimento. n. 51\ne no deposito\nna Matinha da Encruzilhada.\nRua Telles Junior n. 23\n\nRECIFE - PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nO AZAR\nNA CASA DO \nFUNILEIRO\n\nVou contar uma historia\nque um amigo me contou\nde um pé frio ou aza-negra\nque em casa delle chegou\no leitor preste attenção,\no que foi que resultou.\n\nAssim como as pedras correm\natraz dos apredejados\ncorre tambem a caipora\natraz dos encaiporados\nos nùs só querem amizade\ndos que estão esmulambados\n\nMe disse esse Saturnino\nque sempre ouvia fallar\nem alma do outro mundo,\nfeitiçaria e azar.\nMas ainda não tinha visto\nnão podia acreditar\n\n\n2\n\nO leitor sabe que feira\ntem um enygma que atrai\nporque no lugar que ha feira\ntodo mundo em geral vai\nd'elle e festa de natal\nAté o diabo sai.\n\nO Saturnino vendia\nobras de flandre na feira\nquando pela torda d'elle\npassou uma ave agoreira\nveio um grande ridimunho,\ncobriu tudo com poeira.\n\nSaturnino olhou a um lado\nviu um sujeito chegar\nera uma armação tão feia\nque o fez repugnar,\nelle perguntou a si\nserà aquelle o azar?\n\nEra um individuo alto\ncom uma enorme corcunda\nos olhos tinham cabellos\na bocca sem dente e funda\nquatro buracos de venta\nera uma figura immunda.\n\n3\n\nSaturnino ahi lembrou-se\ndo que já ouviu dizer\nentão murmurou comsigo\neu agora posso crer\nque aquilo que o mundo diz\nfoi ou é ou ha de ser.\n\nOlhando bem para elle\nvia todos os seus signaes\nnão tinha traços alguns\ndos entes racionaes,\nse é exacto a escriptura,\nera o puro satanaz.\n\nO nariz comprido e torto\na especie de uma rosca\nde fora via-se bem\ndois dentes no céo da bocca\nnos pés dos dentes um bolço\ncom lacráo, aranha e mosca.\n\nChegando-se a Saturnino\nlhe disse meu camarada\neu não tenho conhecido\ne ando aqui de arribada\nvenho a vossa senhoria\nlhe pedir uma pousada.\n\n4\n\nElle é muito hospitaleiro\nteve pena de negar\ndepois de pensar um pouco\ninda pensou em não dar\ndepois se compadeceu,\ndisse pode se arranchar.\n\nAhi se sumiu da torda\num bule e uma bacia\num freguez estava comprando\ne disse que não queria\napresentou-se ferrugem\nNo flandre todo que havia.\n\nSaturnino enquisilou-se\ne sahiu na mesma hora\ncomprou um kilo de carne,\narrumou-se e foi embora\nchegou em casa achou elle\ndeitado do lado de fora.\n\nSaturnino notou logo\nas formigas se mudando,\nos cahorros dos visinhos\narripiados rosnando\nas gallinhas espantadas\ne os morcegos voando.\n\n5\n\nOra Saturnino tinha\num amigo e companheiro\nesse veio a Saturnino\nensultal-o no terreiro\ne era homem pacifico\nque nunca foi desordeiro.\n\nO pobre do funileiro\nexclamou, estou derrotado,\nde onde teria vindo\nsemelhante desgraçado\nsò se o portão do inferno\nestá hoje desmantelado.\n\nSe aquelle fôr do inferno\nestava em algum basculho\no diabo precisava\nde tirar algum entulho\ne com essa escavação\ndescobriram tal embrulho.\n\nO funileíro mandou-o\nse arranchar numa latada\num pombo dormia lá\nficou de aza arriada\nTinha uma herva barbosa,\nessa amanheceu torrada.\n\n6\n\nO funileiro tremia\nque só quem esta com maleita\nquando viu o aza-negra\nestirar a mão direita\npuchar de dentro de um sacco\num livro de nova-seita\n\nO funileiro exclamou\neu bem que estava scismado\ne disse logo que vi\no inferno està furado\nsó do reino de Plutão\nsahia esse desgraçado.\n\nTinha ali um furmigueiro\na mais de um seculo morando\nentão achou as formigas\nassanhadas se mudando\ncomo quem tinham receio\npor longe delle passando\n\nAhi pendurou a carne\nmetteu a chave na porta\na chave do seu bahú\nenvergou e ficou torta\nna barrica da farinha\nachou uma gata morta.\n\n7\n\nVoltou e foi ver a carne\nque tinha deixado fóra,\nDe longe viu um cachorro\nque ia com ella embora\ne ainda não fazia,\num quarto de meia hora.\n\nFoi n'uma venda comprou\ncarne farinha e café\nquando a agua já fervia\ncahiu de cima um mondé\nvirou a chaleira d'agua\nqueimou-lhe as mãos e um pé.\n\nTinha uma cabra com canga\nlogo ahi precipitou-se\nna rede que estava armada\npulou dentro ella furou-se\ntinha uma jarra com agua,\ncahiu o fogo apagou-se.\n\nAssim que elle se deitou\nteve uma prova real\nficou convicto que aquelle,\nera um conductor do mal,\ncantou na telha a coruja\ne a peitica no quintal.\n\n8\n\nEntão guardou a farinha\nque á tarde tinha comprado\no rato furou o sacco\nque nunca tinha furado,\nde noite foi beber agua\nachou o coco quebrado\n\nDerramou-se o sal da lata\nno lugar que teve o fogo\nficou como uma pessoa\nque perde tudo no jogo\no galo pai de terreiro\nmorreu de noíte com gogo.\n\nO dono da casa disse\nposso agora acreditar\nem alma do outro mundo\nfeitiçaria e azar\naquelle veio aqui hontem\npara me justificar.\n\nFIM\n\nO CASAMENTO HOJE EM DIAS\n\nQuem casa num tempo d'este\nperdeu de tudo a razão\numa mulher em seis mezes,\nval dez annos de prisão\nagora as de onze e doze\ncom tres annos e quatorze?\nque faz esse desgraçado?\nolha para o céo exclama:\nmeu Deus! nasci numa cama\npara morrer num roçado!\n\nEu pensei que o casamento\nfosse uma parte do goso\nMas, o que, elle fez parte\né de um xarope amargoso.\nArde mais do que pimenta\nè como um sol quando esquenta\no homem perde a façanha,\nfaça elle o que quizer\nporque a mão da mulher\nem vez de alizar, arranha.\n\nA mulher é um volume\nque tem um peso infinito,\ncom carne de tres mil réis\nfeijão a cruzado o litro,\nfarinha a mil e trezentos,\n\n10\n\ntoucinho dois mil e duzentos\ne esse só tem o couro\nainda diz a mulher:\ncompre pelo que estiver\nnão faça cara de choro.\n\nCinco litros de farinha\ndo Recife ou Afogados\nse a pessôa fôr medir\ntalvez não dê dez punhados,\nquiabo um, um vintem\ne todo o dia não tem,\nlenha dois vintens a lasca\nbanana hoje é um brinco\nse dà um tustão por cinco\nsó se encontra n'ella a casca.\n\nAssucar nove tustões\ne por kilo enferrujado ;\nalguns pingam mel de furo\nquando vem pouco molhado\nmoleque atraz do balcão,\ncada qual que metta a mão,\ntira em grande quantidade,\nchegam formarem até bulha\ndepois que a caíxeiro embrulha\njá falta mais da metade.\n\n11\n\nO solteiro não se assusta\nisso faz medo ao casado,\nque tem por obrigação\nir a feira ou ao mercado,\nque pega a cesta ou o sacco\ne olha para o buraco\nonde elle precipitou-se\nvolta, acha a mulher zangada,\npergunta-lhe a filharada\n- papae, me trouxe pão doce?\n\nSe o camaradinha disser\nmeu filho, um X não voltou,\na mulher pergunta logo:\n- o que fez do que levou?\nTudo não está caro assim!...\nnão sobrou foi para mim,\nque o que eu como é sobejo,\neu não sei mais o que faça\nagora, por mais desgraça,\nestou de antôjos, tenho desejo.\n\nEstou desejando comer\nqueijo fino e goiabada,\ntomar cidra e vinho do Porto\npassa, fígo e marmelada,\nah! quem me déra um presunto\n\n12\n\nhavia de comer muito\nacabaria o fastio,\nisso é para um nobre,\ncasei com um homem pobre,\nalem de pobre, vadio.\n\nVejo um leitor se uma d'essas\ndeseja coisa ruim;\npedra, páo, bagaço e lama\numa casa de cupim?\nsò deseja coisas caras\nembora que sejam raras,\nisso não offende a ela\no burro velho, demente\nespera alli paciente\npara botarem-lhe a sella.\n\nPara os tempos de abundancia\ncasamento era um pagode\nporque com mil e quinhentos\ncompra-se a banda de um bode\nfarinha a cuia um cruzado.\ncapão bonito e cevado\nCom tres mil réis compram dois\nmanteiga compra uma lata,\ncompra um tustão de batata\ne cinco tostões de arroz\n\n13\n\nHoje que um quarto de bode\nmenor que aza de um grilo,\ntem custado em qualquer feira\nmil duzentos o kilo\nver-se a farinha de roça\npreta, crúa azeda e grossa,\ncom inhaca de cupim,\ne como um rapaz solteiro\nsem emprego e sem dinheiro\nse atreve a casar assìm?\n\nInda que o camaradinha\nnão tenha mãe nem irma\nquando está cançado pensa\no que se come amanhã?\nmeu sogro não tem dinheiro\nqueira Deus o marinheiro,\nqueira me vender fiado,\nse a sogra me visitar\nnão encontra o que jantar\nfaz um bafafar damnado!\n\nPorém esses que se casam\ndepois que pegou a guerra,\nsó para empregado publico\nou gente que come terra,\nnão acha em que trabalhar\n\n14 \n\nnão tendo em que se empregar,\nninguem lhe vende fiado,\na mulher diz eu estou núa,\nnão posso sahir na rua\nmeu vestído está rasgado.\n\nEu perguntei a um theologo,\nhomem muito scientifico,\nse podia se encontrar\nmulher de genio pacifico,\nelle me disse, se encontra\ne difficuldade monstra\nmas que o prestigio na droga\né mesmo uma raridade\ncom especialidade,\nn'uma freira ou n'uma sogra.\n\nAcrescentou o theologo\nentre espinhos nascem rosas\nde dez mil mulheres feias\ntira-se cinco formosas\ncomo isso assim é tudo\nsai de um casal carrancudo\num filho alegre e risão\neu ainda não poude ver,\nfoi uma sogra dizer\nque um genro tenha razão.\n\n15\n\nMas mestre, perguntei eu.\nTera mulher paciente?\ndisse elle, qualquer uma,\nestando na calma é prudente,\nporem quando está irada\na lingua fica afiada\ndeita espuma pela bocca\ndesconhece a divindade\ncommette temeridade,\ncomo que estivesse louca.\n\nUm sabio disse uma vez\nsou defensor da mulhér,\nvejo no céo de seus olhos\no que não vejo em qualquer\ne sem ella nada havia,\nnem no espaço se via\nos horisontes azues\no mundo não tinha côres\nseria um campo sem flôres\nou uma igreja sem luz\n\nEu classifico a mulher\ncomo a flor da existencia,\num altar de divindade\no simbolo da innocencia\npois vejo que esse objecto\n\n16 \n\nfoi o grande predilecto\ndo autor da creação;\nDeus se esmerou tanto n'ella\nque a fez, a obra mais bella\nentre a toda geração.\n\nComo a luz planta na terra\no louro clarão garboso\na mulher planta o prazer,\nn'um coração pressurso\ncomo a rosa no sereno\nella com carinho ameno\nfaz abrir um coração,\nd'ella se extrahe o prazer\ntudo tem que lhe render\no culto de adoração.\n\nEmbora que muitas dellas\ntornem-se um cèo de torpeza\num armazem de ciume\nfabricação de despeza\nha n'ellas excepção.\nAlgumas tem propenção\nnão comer e ajuntar\num dia até succedeu\nde uma o marido morreu\ne ella quiz o guardar. (FIM)\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\n(LIVROS DE HISTORIAS EXPOSTOS A VENDA)\n\nZesinho e Mariquinha \nPrincesa Elysa \nOs Martyrios de Genoveva \nH. do Pescador \nJosé do Egypto \nOs doís Glosadores \nPadre Cicero \nJuvenal e o Dragão \nGenevra \nNatanael e Cicilia \nPierre e Beatriz \nRico Avarento \nPrincesa Rosa \nPeleja de Gavião e machd. \nO homem da Lua \nA morte de Xico Barulhao \nA vida do seringueiro \nO casamento infelis \nDiscussao de Zèduda com \n Joao Athayde \nA rainha que sahiu do mar \nO advogado da Religiao \nCapitão do Navio \nP. de Manoel Raymundo \n com Manoel Campina \nO segredo do casamento \nO homem que nasceu p'ra \n nao ter nada \nO cavallo que deffecava \n dinheiro \nO grande Roberto do Diabo \nO Poder da Nescessidade \nRachel e a fera encantada\nMarco do Meio-mundo\nPrincesa da Pedra-fina\nPulo e Maria\nFilha que matou a mãe\nPriso de Antonio Silvino\nA discussao de A. com\n Leandro\nP. de Ventania com P. Azul\nPeleja de Bern ardo No-\n gueira com Preto Limão\nA inf. de dois Amantes\nO homem que teve uma\n questao com S. Antonio\nA moça enterrada viva\nRoques Matheus\nA grande surra que o poeta\nCordeiro Manso levou de\n Joao Athayde\nO torpediamento do Macau\nGallinha com dente\nMorte de Leandro\nA guerra dos Animaes\nMulher Bonita\nHistoria de Barba-azul\nO Menino da Floresta\nRomeu e Julieta\nA Bella adormecida no\n bosque\nDonsella Theodora\nH. do Velho Antonio Co-\n coróte\n\n\n\n\nRemete-se pelo correio qualquer quantidade de \nlivros mediante a importancia do pedido para qualquer\nEstado do Brazil.\n\n\n---------\nNota: No original, os títulos estão divididos em duas colunas, não dispostos apenas em uma."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-059",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Peleja de Leandro Gomes com uma Velha de Sergipe - Completa",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"59\"\nAviso de João Martins de Athayde sobre a compra dos direitos autorais de Leandro Gomes de Barros na última página.",
"Palavras-chave": "Velha; poeta; moço; senhora; mulher; marido; casamento;",
"Tema": "A discussão de Leandro Gomes com um velha sergipana",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nA PELEJA DE LEANDRO\nGOMES COM UMA\nVELHA DE \nSERGIPE\n\nCOMPLETA\n\nA' venda no mercado de S. José,\nCompartimento n. 51\n\ne no deposito na Matinha\nRua Telles Junior, 23-Encruzilhada\n\nRECIFE-PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nA PELEJA DE LEANDRO\nGOMES COM UMA\n\nVELHA DE SERGIPE\n\nEu a inda estava orelhudo\ncom estes versos que faço\nporque nunca achei poeta\nque me fizesse embaraço\nporem uma velha agora\nquase me quebra o cachaço\n\nA velha fez me subir\nonde nem urubú vai\nandei n'uma dependura\nja estava cai ou não cai,\nainda chamei tio a gato\ntratei cachorro por pae.\n\nquando partiu foi babando\no corpo vinha tremendo\nantes de dar boa noite\nde longe foi me dizendo\nmeu amigo eu venho metel-o\nentre um quente e doís fervendo\n\neu sei que o Snr. é duro\neu cá sou da mansidão,\nporém só pode salvar-se\nse eu lhe der a certidão\n\n-2-\n\npois o boi na terra alheia\naté as vaccas lhe dão.\n\nEu andava nos meus negocios\nno estado de Sergipe\numa noite me hospedei\nem casa de um tal Felippe\na onde havia uma velha\nda serra do araripe.\n\nDisse-me o dono da casa\neu aqui tenho um collosso\numa poétiza velha\nque dà em poéta moço\nquem faz verso n'esta terra\nestá hoJe comendo grosso.\n\neu disse: Snr. Felippe\ngaranto a vossa mercé\nque neste planeta terra\nnão ha mulher que me de\no velho olhou para mim\ne perguntou-me porque?\n\nEu disse: digo-lhe já\nmoleque não me dá vaia\nparola não me intimida\nnem pabulagens me ensaia\ne nas unhas desse velho\nnão ha duro que não caia.\n\n- 3 -\n\nDisse o velho: Snr Barros\na velha é prova de fogo\ndiscute com qualquer um\ne não preciza de rogo\neu disse traga ell ca\na bocca é quem faz o jogo.\n\nOvelho Felippe disse;\nvenha cá Da manhosa\nse aprompte para vir\na questão mais perigosa\na velha de la soltou\numa risada gostosa\n\nA velha disse, ja vou;\ne com pouc mais sahiu\nentão chegando na sala\ntorceu a cara ecuspiu\nsentou-se n'um banco velho\ntomou tabaco e tussiu.\n\nEu quando vi a marmota\nalta, secca e carrancuda\ntirar-me uns ohos cinzentos\nse conversando sizuda\neu disse com meus botões\nnão ha santo que me acuda\n\nEntão perguntou ali\nFelippe para que me quer?\n\n- 4 -\n\nChamou-me com tal vexame\nque nem apromtei-me se quer\npara mostrar-lhe o escriptor\ndo peso de uma mulher.\n\nA velha chavou-me a vista\ne fez um calcarejado\nolhou-me de baixo acima\nbotou os quartos de um lado\nrosnou e partiu a mim\nde chapeu de sol armado\n\nChegou e disse senhor Barros\neu desejava encontral-o\nporque pelos seus escriptos\nnão deixo de sensural-o\nsó quem não tem conscíencia\ndeixará de critical-o.\n\nEu disse minha senhora\nsão os revezes da sorte\no genio tem dois destinos,\ne' um fraco e outro forte\num blasfemam contra a vida\noutros applaudem a morte.\n\nperguntou ella porque\nfalla o senhor de mulher?\nnão aprendeu desculpar\n\n- 5 -\n\nas faltas que uma tiver?\nnem a sua propria mãe\nvocé não tira se quer.\n\nRespondi minha senhora\nisto não quer dizer nada\neu não fallo sobre a honra\nde uma donzella ou cazada\ndigo apenas a mulher\nE'uma carga pezada.\n\nElla suspirou e disse\nfiquei certa meu amigo\nque para qualquer mulher\ncazamento e um perigo\ncazar-me com certos homens\nnão dar-se maior castigo.\n\nEu disse a ella collega\nvocé pode calcular\numa mulher fica em casa\no homem vae trabalhar\ncom o suor de seu rosto\nganha para ella estragar.\n\nA velha disse não hà\nmarido sem máo costume\nquando não é cachaceiro\ne' vadio e tem ciume\n\n- 6 -\n\nnestas condições assim\nnão ha mulher que se arrume\n\nEu disse minha senhora\no homem é um inocente\ntrabalha para viver\naté morrer ou ficar doente\nella que fica em casa\nestraga damnadamente\n\nSahe logo de madrugada\nvai ao campo trabalhar\na mulher fica deitada\nsem nada a emcommodar\nde nove para dez horas\ne que vem se levantar\n\nAvelha diz isto assím\né cousa que não convem\nqnem trabalha o dia inteiro\nha de descançar tambem\na mulher não é de ferro\nnem escrava de ninguem\n\nA senhora fique certa\no que digo é com razão\na mulher geme sem dor\ne gasta sem precizão\ncazamento para o homem\né ascarosa prizão\n\n- 7 --\n\nDisse a velha,meusenhor\nnão ha marido que sirva\npor melhor que a mulher seja\ntrabalhadora e activa\nelle traz a vista nella\ne capaz de a comer viva\n\nE disse minha senhora\nmarido nenhum faz isto\nsacrificar-se por ella\nisso é claro e bem visto\nella diz com seus botões\ncarrega o madeiro,Christo\n\nDisse avelha, vossa mercê\nnão parece ser casado\nse achou mulher qne cahisse\neu lamento o seu estado\ncomo tambem me parece\nque o senhor foi engeitado\n\neu ahi pensei um pouco\ne disse com meus boões\nesta cobra velha tem\nmizeraveis expressões\nagora me deu o titulo\nde filho de dez tostões\n\nDisse a velha, porque acha\npesada assim a mulher\n\n- 8 -\n\ne diz que é um animal\nque n'elle não ha myster\nsó por ella lhe pedìr\no que em casa não tiver?\n\nLevanta que a mulher pede\nverdura fructa e toucinho\nbanha massa de tomate\nalho pimenta cuminho\nse não pedir ao marido\nha de pedir ao vizinho?\n\nO senhor diz que a mulher\nde todas formas atrasa\nporque o pires quebrou-se\no bule largou a asa\na chaleira está velha\nno fogo fura-se e vasa.\n\nNão querendo essa despesa\nprocure um geito qualquer\nfaça de uma cuia um prato\ne de um espeto talher\ndeixe de comprar fazenda\nviva nú com a mulher\n\nEu disse dentro de mim\nou que serpente assanhada\nqual seria o cascavel\n\n- 9 -\n\nquem pariu esta damnada\nfiz logo signal da cruz\ndisse; votes excommungada\n\nLhe disse, a senhora sabe\nque a mulher é uma cruz\ne soffri mais do que Christo\no marido que a conduz\ne' um cego no déserto\nvaga sem guia e sem luz.\n\nDisse ella ; e a mulher\na que ponto vem chegar?\nhaverá maior sentença\ndo que uma se casar?\nsó ella pensa no genro\nque a mãe tem que supportar\n\neu disse; minha senhora\nainda não ouvi dizer\nque um genro neste mundo\nfizesse a sogra soffrer\nsò esse nome de sogra\nfaz elle todo tremer\n\nA velha disse, o Snr.\ne muito livre em fallar\npõe defeito em quem creou\numa filha para te dar.\n\n- 10 -\n\nvoce agradece tanto\nque paga em a maltratar\n\nO Snr. chora e despeza\nque com a familia tem\npara que foi se cazar?\nnão obrigou ninguem\na mulher está na razão\nde fazer queixa tambem\n\nelle vai para o trabalho\nvolta a hora que quizer\ndeíxando com que em casa\npode ordenar a mulher\ne escolher da cozinha\na comida que quizér\n\nvem cançado chega em casa\ndeita-se e vai descansar\nella vai para cosinha\nfazer almoço ou jantar\ndepois da meza está posta\na mulhér vai o chamar\n\nAcorda-o com muito geito\ntrata-o com muito carinho\ndiz o jantar esta pompto\nvamos jantar meu negrinho\neu esperei por voce\nvoce não janta sozinho\n\n- 11 -\n\nMe diga agora senhor\no que quér que a mulher faça\nalem de criar familia\nsupportar mais a desgraça\nter um marido vadio\nque jogue e beba cachaça\n\nquando no fim da semana\nvai o homem fazer feira\ngasta o dinheiro das compras\nno jogo e na bebedeira\na mulhér passando em casa\ncom fome a semana inteira\n\nporque elle não traz nada\na pobre infeliz não come\nse os paes não morasem perto\nella tem que passar fome\npois o marido lhe trouxe\ncachaça empurrão enome\n\neu pergunto-lhe a Sra.\nteve em algum tempo marido\nteve 4 disse ellá\ncada qual mais atrevido\nainda dou graças a Deus\nelles ja terem morrido\n\neu disse minha senhora\neu quero lhe confessar\n\n- 12 -\n\ninfeliz de um destes 4\nque chegasse a escapar\nos soffrimentos de todos\nqualquer pode calcular\n\nElla disse sim senhor\nno brando o Snr. se estende\nnão venha com pannos mornos\na onde tem quem entende\nquem por si julgar a mim\njá ve que assim não me offende\n\neu não fui tão mal casada\ncomo Snr. está pensando\ntive poucas desavenças\nsempre estava tolerando\ntive muita paciencia\nmeu genio sempre foi brando.\n\nMais meu primeiro marido\nfez-me de mais esta assim\npara casar-se com outra\npenetrava a me da fim\no segundo envenenou-me\ne não era o mais ruim.\n\nO terceiro desgostou\npor eu não ser muito alva\ndizia sempre por fora\n\n- 13 -\n\nque eu o envergonhava\nsabe o que fez uma vez?\nquiz me vender como escrava\n\nO quarto era homem serio\ndizia ser bom marido\neste só faltou fazer-me\nbeber chumbo derritido\nroubou-me para jogar\nsapatos chale e vestido.\n\nE assim mesmo o Snr.\nsó se refere a mulher\ncontar as faltas do homem\nisto o Senr não quer\neu tenho lembrança\ndigo tudo que um tiver.\n\nEu disse; vossa mercé\ne' uma fera no campo\nbafejo de sua bocca\nonde bater tira o tampo\nseu pensamento é o colera\ne sua lingua sarampo.\n\nDisse a velha; sim senhor\nvoce gosta de ferir\nagrava a quem não lhe offende\ne pode até lhe servir\n\n- 14 -\n\né desses que quer dizer\nporem não gosta de ouvir\n\nEntao eu lhe perguntei\nja acabou de fallar?\nnão, principei agora\ninda tenho o que fallar\neu sou velha neste mundo\nnão ando por ver andar\n\neu disse, tambem sou velho\nsou corrido e traquejado\neu tenho visto as mizerias\nque no mundo tem se dado\ne milhares de mulheres\nas manhas tem me ensinado\n\numa mocinha solteira\ndana-se para namorar\ncom mizuras e carinhos\nfaz o homem se levar\npara illudil-o, chora\ne sorri para o matar\n\nmulher é o objecto\na quem eu quero mais bem\nnão ha quam conte os maldades\nque a mulher consigo tem\ntodos ecreditam nella\nella não cre em ninguem\n\n- 15 -\n\nentão a velha me disse\no homem é malicioso\nentre os homens verdadeiro\ntira-se o mais mentirozo\ncheio de sophismações\nimpuro pecaminozo\n\nquando a velha se callou\nque deu-se fim a contenda\neu disse só no inferno\nse achara desta fazenda\nfoi o diabo sem duvida\nque mandoume esta encommenda\n\neu inda não tinha achado\nquem fizesse eu me calár\nmas a damnada da velha\nfez até eu me engasgar\nbotou-me em cantos tão feios\nque eu não julguei mais voltar\n\nquando foi no outro dia\narrumeime fui embora\ncom medo que a tal serpnte\nnão tornasse a vir ca for\njurei não voltar mais\nonde o tal diabo mora\n\nFIM\n\nAVIZO\n\nDeclaro ter comprado à viuva\ndo poeta popular Leandro Gomes\nde Barros, a propriedade de\ntodos os versos rimados pelo\nrefirido poeta, sendo comprada\ne escripturada no dia 16 de Abril\nde 1921 e reconhecidas as firmas\npelo tabelião publico Lafayette\nTavares, com cartorio á rua\nDuque de caxias n 38\nRecife, 16 de maio de 1921\nJoão Martins de Athayde\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\n(LIVROS DE HISTORIAS EXPOSTOS A VENDA)\n\nZesinho e Mariquinha \nPrincesa Elysa \nOs Martyrios de Genoveva \nH. do Pescador \nJosé do Egypto \nOs doís Glosadores \nPadre Cicero \nJuvenal e o Dragão \nGenevra \nNatanael e Cicilia \nPierre e Beatriz \nRico Avarento \nPrincesa Rosa \nPeleja de Gavião e machd. \nO homem da Lua \nA morte de Xico Barulhao \nA vida do seringueiro \nO casamento infelis \nDiscussao de Zèduda com \n Joao Athayde \nA rainha que sahiu do mar \nO advogado da Religiao \nCapitão do Navio \nP. de Manoel Raymundo \n com Manoel Campina \nO segredo do casamento \nO homem que nasceu p'ra \n nao ter nada \nO cavallo que deffecava \n dinheiro \nO grande Roberto do Diabo \nO Poder da Nescessidade \nRachel e a fera encantada\nMarco do Meio-mundo\nPrincesa da Pedra-fina\nPulo e Maria\nFilha que matou a mãe\nPriso de Antonio Silvino\nA discussao de A. com\n Leandro\nP. de Ventania com P. Azul\nPeleja de Bern ardo No-\n gueira com Preto Limão\nA inf. de dois Amantes\nO homem que teve uma\n questao com S. Antonio\nA moça enterrada viva\nRoques Matheus\nA grande surra que o poea\nCordeiro Manso levou de\n Joao Athayde\nO torpediamento do Macau\nGallinha com dente\nMorte de Leandro\nA guerra dos Animaes\nMulher Bonita\nHistoria de Barba-azul\nO Menino da Floresta\nRomeu e Julieta\nA Bella adormecida no\n bosque\nDonsella Theodora\nH. do Velho Antonio Co-\n coróte\n\n\n\n\nRemete-se pelo correio qualquer quantidade de \nlivros mediante a importancia do pedido para qualquer\nEstado do Brazil.\n\n\n---------\nNota: No original, os títulos estão divididos em duas colunas, não dispostos apenas em uma."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-060",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Roto na Porta do Nu - A Mulher na Rifa",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "Observando-se a tipografia, a configuração e a contracapa do folheto em comparação a outros, além da localidade, é possível especular que a edição do mesmo foi realizada por João Martins de Athayde.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"60",
"Palavras-chave": "Nu; vulto; oração; colega; quisila; rôto; sorte; casamento; família; mulher; rifa; marido; jogo do bicho;",
"Tema": "A visita do rôto ao nu; O marido, a esposa e os jogos de azar",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO ROTO NA\nPORTA DO NU'\n\nA MULHER NA RIFA\n\nA' venda no deposito na Matinha\nRua Telles Jnuior, 23-Encruzilhada\n\nRECIFE-PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nO ROTO NA\nPORTA DO NU'\n\nO nú lamentava a sorte\npor não poder mais sahir;\nse não tinha o que comer,\nmuito menos o que vestir,\nafflicto banhado em prantos\ndizia em voz alta aos santos\nque não tinha coisa alguma,\num mulambo lhes pedia,\npois qualquer roupa servia\na quem não tinha nenhuma.\n\nO nú levantou a vista\ne viu um vulto que vinha,\ndisse: com certeza os santos\nmandaram-me alguma coisinha,\nouviram minha oração\nsabem que tenho precisão,\nnão querem que eu ande nú\ne o que eu faço primeiro\nse elles mandarem dinheiro\né comprar hoje um bahú!\n\n- 2 -\n\nO nú pensava que o vulto\nfosse um portador do céo\nque lhe trouxesse dinheiro,\nroupa calçado e chapeu,\ntornou de novo a olhar,\nentão poude divulgar\num homem com uma mochila;\nficando desesperado\ndisse: aquelle desgraçado!\né portador da quisila.\n\nO nú exclamou: já sei,\ntodo recurso se some,\nos santos de bucho cheio\nnão escutam quem tem fome;\neu fazer minha oração,\npedindo de coração\nque cessem meus desmantellos,\nesperando um protector,\nenviam-me um portador,\nque é pobre até os cabellos.\n\nO nú ficou com os olhos\nvermelhos como uma braza;\nquando ouviu bater na porta\ngente fizer: ou de casa?\no nú não quiz responder,\n\n- 3 -\n\nouviu de novo bater\ndisse então: oh! que caipora!\ndisse hia o que chegou\nlá dentro alguem me chamou\nfallaram em meu nome agora.\n\nTornou a bate, de novo\ncomo quem estava massado,\no nú não deu-lhe attenção,\nficou num canto amuado;\nexclamou o que bateu:\nque caiporismo esse meu!\nsó sendo uma maldição,\nde tão distante que venho\ne um collega que tenho\nnão quer prestar-me attenção.\n\nQuem bate? Sou eu, collega,\nquem bate? então não tem nome?\ntenho sim; chamo-me Rôto,\ntrapilho e martyr da fome;\nsou filho da desventura,\nentiado da amargura,\ncriado da piedade,\ncasado com a pobreza,\nsou cunhado da vileza\nprimo da necessidade.\n\n- 5 -\n\neu jà vivo tão caipora!\nnão vive mais do que eu,\nsomos de uma só parte,\nartista de uma só arte,\nseu futuro é como o meu.\n\nConheço sua familia\ndesde de seus bisavós;\nja vê que não pode haver\ndesharmonia entre nós;\nsua avó é a intriga\nsua bisavó, a bexiga,\nseu pai chamava-se arraso,\nseu padrasto era o atraso\nda familia sem dinheiro.\n\nExclama o nú: como chega\ncaipora de todo clima!\ncerta visita até faz\ncahir a casa por cima,\ndisse o rôto: eu venho aqui\npor ser expulso d'alli\npelo azar fui botado,\nmorava com a mazella,\na nova-seita entrou nella,\nfiquei eu desarranchado.\n\n- 4 -\n\nAinda não me conhece?\nsou neto do desespero,\nsou bisneto da quisila,\nsou da raça sem dinheiro,\no castigo é meu sobrinho,\nsou tio do máo visinho,\nsou pai das dôres de dente,\namigo do vagabundo\neu creio que em todo mundo\nse conhece os meus parentes.\n\nDisse o nú: não o conheço,\nexclama o rôto: oh! rapaz!\nnós fomos criados juntos\nE's esquecido de mais\npois tu não és muito antigo\njá andei muito contigo\npelo mundo a mendigar;\no senhor não se recorda,\nque emprestei uma corda\npara seu pae se enforcar?\n\nDisse o nú vá mais adiante\nque estou nú não posso ir lá,\nDisse o rôto: estou em tiras,\nquer ter pena venha cá;\ncamarada vá embora.\n\n- 6 -\n\nRoto, ainda vens affligir\na quem não pode passar?\nDisse o roto: eu troco a sorte\ne posso até lhe voltar,\ntenho um grande sortimento\nde peste, praga e tormento,\nfebre de 10 Amazonas,\nando procurando um monstro\npara ver se ainda encontro,\no peixe que enguliu Jonas.\n\nDiabo! exclamou o nù,\né ó rei dos desgraçados!\nbem dizem que as pedras correm\natraz dos apedrejados,\neu esperava um amigo\nque vinhesse ter commigo,\nvem-me na porta a quisila\nque pede pão, se alguem dá\nelle não pode levar,\nfalta-lhe atè a mochilla.\n\nNão me censura, disse o roto,\nsou mais feliz do que tú\né certo que estou em tiras,\ntu estaes peior que estas nú;\nDisse o nú: estou arranchado,\n\n- 7 -\n\nresponde o esfarrapado:\nainda ha gente muito tola!\nem nós o que se divisa?\ngravata não é camisa\nnem o cinturão é ceroula.\n\nEu com a roupa de hontem\nfaço até uma figura,\nminha camisa só falta\na fralda, os punhos e a bertura,\ndas mangas tenho um restinho,\nmetade do collarinho,\nem bom estado ainda resta,\neu com qualque camarada\narranjo outra emprestada,\npasso até por lorde em festa.\n\nDisse o nú: oh mano roto!\nme tire de uma suspeita;\neu já fui teu sacristão\nna missa da nova-ceita?\ne não fosses? no inferno\nquando um anjo do Eterno\nexpulsou tudo a facão,\nquasi que ninguem escapa,\no diabo nos deu papa\nde azeite, enxofre e carvão.\n\n- 8 -\n\nAhi ambos se abraçaram;\nmano vai e mano vem,\ndizia o roto: eu te amo;\no nù: eu te quero bem;\no roto desconfiado\nque o nù não tinha almoçado,\nahi inventou um motte\ndizendo: meu coração,\nse tens ahi algum pão\np'ra comer commigo? Bote.\n\nDisse o nú: meu camarada,\nsinto muito lhe dizer,\no senhor chegou com fome\nme acha aqui sem comer,\neu fiquei com esperança\nde prevenir minha pança\nquando ouvi você fallar,\ndisse o roto descontente:\nera tambem minha mente\npor isso o vim visitar.\n\nFIM\n\n- 9 -\n\nA MULHER NA RIFA\n\nO casamento hoje em dia\nquasi todo mundo o quer;\nmuìtos contemplam familia\ncomo outra cousa qualquer;\na mulher empenha o marido,\no marido rifa a mulher.\n\nMarido é perna de banco,\nsempre a mulher diz assim;\no marido diz tambem\na mulher e o capim\nmorre um, nascem mais dez,\ninda mesmo em terra ruim.\n\nEu conheci um casal\nque não era desunido\na mulher foi n'uma venda,\nlá empenhou o marido\nelle botou-a na rifa\nfoi um rolo desmedido.\n\n- 10 -\n\nEntão a mulher dizia:\nempenhei, fiz muito bem;\neu só não quero empenhar\né o marido de alguem,\na gente se arremideia\né com aquillo que tem.\n\nTambem o marido disse:\nmínha acção não foi mesquinha,\nprecisava de dinheiro\noutro recurso não tinha,\nnão joguei mulher alheia,\na que rifei era minha.\n\nInda recordo as lições\nque meu bisavô me deu;\nesse sempre me dizia,\nsó pegue no que fôr seu;\ne eu não quero objecto\nque dure mais do que eu.\n\nA mulher tambem dizia:\ncasei a primeira vez\nmas se o fulano morrer,\ncaso mais duas ou trez,\nse não faltar namorado\nserei noiva todo mez.\n\n- 11 -\n\nO marido diz tambem:\nmulher é como roçado,\nlimpa-se a primeira vez\ndepois do milho espigado\nagente tira os caroços,\na palha bota-se ao gado.\n\nA mulher por outro lado\ndiz que marido e tamanco\nsó prestam emquanto são novos;\nisso ê pensamento franco,\nparte das mulheres dizem\nmarido é perna de banco.\n\nE quando o marido bebe\ne a mulher joga bicho,\nelle bebe por pirraça,\nella joga por capricho\nalguns trapos que teve um\nhão de guardal-os no lixo.\n\nA aguardente a um casal\nfaz um serviço de gancho,\njogo de bicho tambem\nfaz a desgraça no rancho;\najuntando-se esses dois\nfaz um grande desarrancho.\n\n- 13 -\n\nUma noite ella sonhava\nque via um lindo carneiro,\nentão chegou n'uma venda\ne propoz ao marinheiro\nficar com o marido d'ella\naté ella achar dinheiro\n\nO marinheiro pensou\nque era pechincha acceitar,\nJoão Molle como penhor\nestava sujeito a ficar,\ntrabalhando para elle\naté a mulher pagar.\n\nJoão Molle quando chegou\nnão quiz saber do motivo,\ndisse: mulher do diabo\nentão eu para que sirvo?\nMinha mãe não era preta\ncomo eu posso ser captivo?!\n\nEntão Joanna respondeu-lhe:\neu não fico em abandono\nvocê serà algum rei,\nonde diabo é seu throno?\npara que um objecto\nque não acode a seu dono?\n\n- 12 -\n\nEsse tal jogo de bicho\neu conheço elle quem è\no que metter-se com elle\ndesespera até dà fè\nno bolso inda tenho as marcas\ndo que fiz no jacaré\n\nAguia quasi me põe louco\na cabra fez eu cahir\nn'um lugar tão perigoso\nque deu trabalho a sahir\ncachorro botou-me em canto\nque eu não pude resistir.\n\nA sogra de meu visinho\nvendeu um sitio na praia,\njogou tudo no coêlho\nvendeu até uma saia,\ne fez a filha vender\num vestido de cambraia.\n\nUm dia para jogar \nvendeu até o vestido;\nde tarde o bicho não deu,\nlá se foi tudo perdido,\nfoi um dia n'uma venda\nhypothecou o marido.\n\n- 14 -\n\nJoão Molle disse: damnada,\neu fico no captiveiro,\nporém se achar um que a compre,\nvendo-a por qualquer dinheiro;\nsó quero que a cousa renda\no que eu pague ao marinheiro.\n\nOra, João Molle empenhado\nestava o negocio perdido;\nJoanna pouco se importava\nde ficar sem o marido\ne elle estava no caso\nde mais tarde ser vendido.\n\nFoi a um parente fallou-lhe\nem dois mil réis emprestado,\nqueixando-se que a mulher\no tinha negociado,\no parente delle disse:\n\"eu tambem estou derrotado\".\n\nSua mulher empenhou-o,\ndisse-lhe alli o parente:\nfoi melhor do que a minha,\nquando nada foi prudente;\na minha metteu-me o páo\nque ainda hoje estou doente.\n\n- 15 -\n\nDisse João Molle tambem:\namanhã se Deus quizer,\neu vendo o ultimo traste\nque em minha casa tiver;\nnão achando o que vender,\nboto na rifa a mulher.\n\nElla já é velha e feia,\nUm braço está empenado,\nestá soffrendo de erysipela,\ntem rheumatismo e puchado,\ntambem a miseria ás vezes\nserve muito ao desgraçado.\n\nE botou ella na rifa,\nsahiu nr rua a vender,\nninguem conhecia ella,\nelle não ia dizer\ndizendo, até o diabo\nera custoso a querer.\n\nO todo da hypotheca\neram mil e quatro e centos\nElle apurou dez tostões\nJá nos ultimos momentos\noutro lhe disse que á Joanna\nDevia mil e seiscentos\n\n- 16 -\n\nUm carroceiro tirou-a\nJulgando ella ser bonita,\nmas quando chegou de tarde,\nViu uma cousa exquesita,\ndizia João Molle, hoje\npassou em mim uma fita.\n\nE' o que nós estamos vendo\nNeste seculo adiantado\ncasa a fome com a peste\nMiseria com desgraçado,\ne assim mesmo não falta\nquem não queira ser casado.\n\nNão sei se é a tentação\nou sympathia de nome\ncasa-se um miseravel\ncom um herdeiro da fome,\nella jejua a um mez\nelle ha um anno que não come.\n\n(FIM)\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\nAVIZO\n\nquando o leitor lê este livrinho\npreste attenção a passagem\nda pagina 4 para 5 e da\npagina 12 para a 13."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-061",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Como se Amança [amansa] uma Sogra / Zé do Brejo e Chico da Rua - Historias (sic) Completas",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "Controvérsia quanto à autoria ao comparar este folheto, de Leandro Gomes de Barros, com o da 'distribuidora' A Pernambucana, cujo autor consta como sendo João Martins de Athayde. E observando-se a tipografia, a configuração e a contracapa do folheto em relação a outros semelhantes, é possível que a edição do mesmo tenha sido realizada por Athayde.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"61",
"Palavras-chave": "Sogra; velha; bacurau; cachorro; gata; bode; carneiro; porca; bacalhau; pirarucu; Zé do Brejo; Chico da Rua; fome; nu; urubu; cururu; cru; peixe;",
"Tema": "Como \"acalmar\" uma sogra agressiva; discussão de Zé do Brejo com Chico da Rua sobre comer pirarucu",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nCOMO SE AMANÇA\nUMA SOGRA\nZÉ DO BREJO\n-E-\nCHICO DA RUA\n\n\nHistorias Completas\n\nA' venda no Mercado de São José\nCompartimento. n. 51\ne no deposito\nna Matinha da Encruzilhada.\nRua Telles Junior n. 23\n\nRECIFE-PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nCOMO SE \nAMANÇA\nUMA SOGRA\n\nVi o diabo de cócora\num mez depois de casado,\nquando julgava passar\na lua de mel deitado,\na doce, a queijo e a vinho\ne a pequena de um lado.\n\nPorém a mãe della,\ncabra conhecida,\na pouco mordida\npor uma cadella\ne quem era ella\ninda eu não sabia\ntinha a theoria\nda mãe do macaco\ntomava tabaco\nfumava e bebia.\n\nEntão a velha criava\numa maldicta ranchada\ntinha um bode e um carneiro,\numa cachorra pelada,\num bacuráo na gaióla.\ne uma gata espritada.\n\n2\n\nFazia miáo\no bóde bé-bé\no carneiro mé\no cachorro au, au\ne o bacurào\na manhã eu vou\na mulher fallou\ndevido a zuada\na velha deitada\nnem se encommodou.\n\nUma porca magra, velha\ndamnada contando um,\num bahú velho de flande,\nonde havia um guaiamum,\nfaça idéa um samba desses\nse não é mais que um jejum.\n\nUu já estava cheio,\npeguei logo um pao\nfui ao bacurào\naquelle soltei-o,\no cachorro veio\nmetti-lhe a madeira\ncom uma inquerideira\nparti a porquinha,\nalli a gatinha\nencheu na carreira.\n\n3\n\nMinha mulher exclamou:\n- quando mamãi não ouvir\na gata della miar\ne \"Cupido\" não latir,\nSant'Anna, esta casa hoje\nse arrisca muito a cahir.\n\nPapai está no matto\nmamãì desertou-o\nporque obrigou-o\nengulir um rato,\nque xarope ingrato,\nque cousa cruel!\nque taça de fel!\nmamãi disse alto:\nou engole o rato\nou tma um christel.\n\nEu disse deixe ella vir;\nmeu plano já está formado.\ncae uma banda do céo.\nfica o sol dependurado,\nsóbe um curisco vermelho,\ndesce um raio esverdeado.\n\nAs luzes se apagam,\na terra estremece,\no ar humedece,\nas nuvens se rasgam,\n\n4 \n\nOs astros se estragam,\ntudo é destruido,\neu estando \"ruído\"\nnão ha quem me arranhe;\nhoje sua mãi\nencontra marido.\n\nTres horas da madrugada\na velha se levantou\ndisse, \"Cupido\" não late,\npichane inda não miou,\no bòde não quer berrar?\na porca inda não roncou.\n\nIsso não é novídade\nque houve em meus bichos\ne esses caprichos\nse acabam mais tarde;\no cacête arde!\ne o dia é meu,\ngritou-me, entendeu?\nérga-se dahi,\ne saiba que aqui\no gallo sou eu.\n\nTrançou a saia nas pernas, \nficou como um diabete\nfez um cocó do cabello\ne lançou mão de um cacête\n\n5\n\nBateu-me na porta e disse\nvamos a ella cadête?\n\nA mulher tremia\nque embalava a cama,\na mãi tinha fama\npor isso tremia\nmas eu lhe dizia,\nesta fama cae,\nella hoje vae\ncom freio e com sella\no diabo nella\ncaçando seu pae.\n\nA velha alli perguntou\nporque está custando tanto?\npara eu dar um cabra ruim\nprimeiramente o espanto\nmarcou um coice na porta\nfoi avoa-la no canto.\n\nJá rompia aurora,\nao quebrar da barra;\npeguei-a na marra\nmetti-lhe a espóra\ncom menos de uma hora\nella disse: eu morro!\npedia socorro,\no bode berrava.\n\n6\n\na porca guinchava,\nlatia o cachorro.\n\nEntão eu disse-lhe: velha,\neu cá não sou seu marido\nse elle fosse como eu\nnão andaria fugido,\neu faço você beber\nchà de chumbo derretido\n\nQuer desenganar-se,\nbalance-se ahi\nque eu faço daqui,\nvocê desmanchar-se;\nensìno a montar-se\nnum bicho de pé,\nlhe juro por fé\na cousa faz pena,\ngritou a pequena,\ntambem isso é.\n\nMas o que, seu camarada,\nfacilitei com a bicha\nella arripiou-se toda\nficou que só lagartixa\ntrançou a saia de novo\ngritou: couro velho espicha.\n\n\n7\n\nE disse se pode,\nfaça como fez,\nporém dessa vez\npegou-me o bigode\ngritei, quem me acode!\na mulher correu,\nque fazia eu?\nestirei a mão\ndei-lhe um cachação\nque a velha se ergueu.\n\nFechei a mão bem fechada\nmarquei-lhe a bocca na frente\no murro inda obrigou\na velha engulir um dente\ntambem mais de quinze dias\nmeu braço ficou doente\n\nE o rôlo entrou\nde novo outra vez\nquando fez um mez\no velho chegou\na casa ficou\nque só um vasculho\ncresceu o barulho\nnão parou uma hora\nquem vinha de fora\nsó via o embrulho.\n\n8\n\nChegou um filho da velha\nque andava foragido,\na velha quasi que o mata\nelle sahiu escondido,\nsoube da lucta foi ver\nse a velha tinha morrido.\n\nPorém dessa vez\nos planos falharam\nporque arribaram\ndalli todos tres\na velha cortez,\nbizonha e calada\na saia rasgada\ne a cara rôcha\narrumou a trôcha\nencheu a estrada.\n\nE foi assim que amancei\no leão tão furioso\na cousa mais carregada\no bicho mais perigoso\neu julgava não haver\ninsecto tão venenoso.\n\nBicha perigosa,\nnem touro zebú,\nos surucucú\nde pico de rosa.\n\n9\n\nque féra teimosa\nanima valente,\nnem a ferro quente\na cabra temia,\nbabava e cuspia\nque me poz doente.\n\nE' mais facil se amançar\numa cobra de veado\ndo que uma sogra velha\ndessas do olho virado\na cabeça oval e secca\ncabelouro levantado.\n\nA minha amançou\nmas quanto luctei\nsò eu mesmo sei\nquanto me custou\ninda hoje estou\nsem poder andar\nfiz ella amançar\nque ficou de mais\nhoje só não faz\ndar-me de mamar.\n\nFIM\n\nZÉ DO BREJO e CHICO DA RUA\n\nGlozando\n\nZé do Brejo--Pirarucú tanto venha\nChico da rua--não come pirarucú\n\nDois glozadores fallavam\nsobre a grande carestia\no bacalhau não havia\nos vapores não chegavam\npreceitos não se guardavam\nestava o tempo frio e crú\no povo com fome e nú\ndísse o outro o tempo é mau\nmais em vez de bacalhau\nnós temos pirarucú.\n\nChico - Prefíro morrer damnado\nprego os dentes na parede\ncomo uma cobra verde\num rato inda estando inchado\nmais aquelle desgraçado\nbaboso que só muçù?\nnão tem que vêr cururú\ninda que um santo me dê\neu digo como isto o que!\nnão como pirarucù\n\n11\n\nZé -- Ora seu collega deixe\nisso é só opinião,\nporque diz o rifão\no que vem na rêde è peixe,\nlargue a cisma não se veixe\nesse cuidado não tenha\ndisse um matuto da brenha\nagora não o deixava\ne diz mesmo tendo fava\npirarucú tanto venha.\n\nChico--Passo trez dias com fome\nmendigando pela rua\ncomo um cão ladrando a lua,\nque a quatro dias não come\nprefiro negar o meu nome\ndizer: me chamo urubú,\nsou filho de um tapurú,\nneto de uma caranguejeira\nmóro n'uma bagaceira,\nnão como pirarucú\n\nZé-Despreso perú assado,\nnão dou valor a um leitão\nnão acho graça em capão\ne deixo qualquer guizado\npor muito bem preparado\ne temperos que elle tenha,\ndesde a capital a brenha,\nprocure tudo que ha\nque nada me agradará\npirarucú? tanto venha\n\n12 \n\nC.--Na catastrophe mais medonha\nno supplicio mais horrendo,\nainda alguem me prendendo\nem Fernande de Noronha,\npasso por uma vergonha,\nando pela praça nú,\nbebo um caldo de urubù,\ncomo um cachorro sem sal\ncom tudo isto afinal\nnão como pirarucú.\n\nZé-Disse um frade em seu sermão\nmeus fílhos abençoados,\neu peço aos fíeis amados,\nquem quizer ser meu irmão\nnão estire sua mão\npara a venda que não tenha\nesse peixe que se empenha\npor nossa sub-existencia\neu como por excellencia\npirarucú tanto venha.\n\nChico-Inda eu estando derrotado\na fome horrenda e tyranna\ncomo casca de banana\nn'uma feira ou n'um mercado\ncomo um arua assado\nafervento um cururù\nprefiro um camello crù,\nconforme a necessidade\nmas, inda contra a vontade\nnão como pirarucú.\n\n13 \n\nZé - Não gosto de pedantismo\ne nunca escolho comida\ntudo que sustenta a vida,\nsatisfaz o organismo\ncensura até o cynismo\npor muito sagaz que venha,\ndisse-me um frade da Penha\nn'uma taverna bebendo,\nminha mãe morreu dizendo\npirarucú tanto venha.\n\nChico-Prefiro uma excommunhão\ndo padre do Joazeiro\nporém ao mundo inteiro\nisto foi sem precisão,\nnão foi tão má minha acção\npara um castigo tão crù\nDeus do cèo, dirà-me tù\nsustente, conte commigo\nposso cahir no perigo\nnão como pirarucù.\n\nZé-E' um peixe saboroso\ntendo maxixe e quiabo\num pedaço de seu rabo\nfaz um almoço gostoso, \num pirão muito oleoso\ncosinha com pouca lenha;\neu morava em Jurumenha,\nouvi dizer pelo clero\noutro peixe aqui não quero,\npirarucù tanto venha.\n\n\n14\n\nChico Então disse\nque tem esse pôbre peixe?\neu acho bem que se o deixe\nisso é uma pura tolice\nagora se ninguem visse\nesse peixe no sertão\nquem confessa ser chistão\ndiz que um homem legal\nvê logo que não faz mal,\npirarucù com feijão.\n\nUm poeta velho ouviu\no poeta atropellado\no outro estava damnado\ncomo uma féra partiu,\no poeta velho alli acudiu\ncom destino forte e crú\ncomo uma abelha de enxù,\nvai de encontro ao caçador\ndisse a Zé por favor\nnão gabe pirarucú.\n\nChico-Que tem que morra de fome?\nfiquei dormindo no matto,\ncomo pulga e carrapato\nmais pirarucú não como,\nsua lembrança se some\nonde não vai urubú\nnem cobra surucucú\nnão fica tão assanhada\nminha mãe era casada,\nnão come pirarucú.\n\n15\n\nZè - Disse eu já notei\ndiversos têm me dito\nvocê é muito exquesito\ne eu sempre o detestei,\ninda ha pouco conversei,\ncom alguem do Pageú,\ndisse um rapaz do Perú\nchegando agora do norte\nque até na hora da morte\nse come pirarucú.\n\nChico - Você é muito atrazado\nnão parece ser da roda\npirarucú está na moda\ncom o bigode raspado\ne um peixe engraçado\nbabento que só mussú\ncusido parece crú,\nassado fede a cumôa\nnão tem prazer a pessoa \nque come pirarucú.\n\nZé - Seu avô nasceu no matto\nemquanto viveu caçou\ne esse nunca engeitou\nlagartixa cobra e rato\nraposa furão e gato,\ncamaleão, tejuassú\nmaritacaca, timbú,\nsapo, rã, caçote e gia\nmorreu n'uma pescaria,\natraz de pirarucú.\n\n16\n\nChico - por uma dessas assim\neu hoje não gosto delle\nporque se não fosse elle\nmeu avô não tinha fim,\nque falta fez elle a mim!\npassei fome e andei nú\ncomendo bacalhau crú,\nsem alguem dar-me um abrigo\npor isso é meu inimigo\nque come pirarucú.\n\nZé - Tenho engeitado saldinha,\ndeixei, xixarro e salmão\ncom vinho alcobaça e pão\nensopados de estrellinha\nbôa canja de gallinha,\nbello papo de perú,\nfrigideiras de pitú,\nescabeche de cavalla,\nnem um desses me regala\nigual a pirarucú.\n\nFIM\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\n(LIVROS DE HISTORIAS EXPOSTOS A VENDA)\n\nZesinho e Mariquinha \nPrincesa Elysa \nOs Martyrios de Genoveva \nH. do Pescador \nJosé do Egypto \nOs dois Glosadores \nPadre Cicero \nJuvenal e o Dragão \nGenevra \nNatanael e Cicilia \nPierre e Beatriz \nRico Avarento \nPrincesa Rosa \nPeleja de Gavião e machd. \nO homem da Lua \nA morte de Xico Barulhao \nA vida do seringueiro \nO casamento infelis \nDiscussao de Zèduda com \n Joao Athayde \nA rainha que sahiu do mar \nO advogado da Religiao \nCapitão do Navio \nP. de Manoel Raymundo \n com Manoel Campina \nO segredo do casamento \nO homem que nasceu p'ra \n nao ter nada \nO cavallo que deffecava \n dinheiro \nO grande Roberto do Diabo \nO Poder da Nescessidade \nRachel e a fera encantada\nMarco do Meio-mundo\nPrincesa da Pedra-fina\nPulo e Maria\nFilha que matou a mãe\nPriso de Antonio Silvino\nA discussao de A. com\n Leandro\nP. de Ventania com P. Azul\nPeleja de Bern ardo No-\n gueira com Preto Limão\nA inf. de dois Amantes\nO homem que teve uma\n questao com S. Antonio\nA moça enterrada viva\nRoques Matheus\nA grande surra que o poeta\nCordeiro Manso levou de\n Joao Athayde\nO torpediamento do Macau\nGallinha com dente\nMorte de Leandro\nA guerra dos Animaes\nMulher Bonita\nHistoria de Barba-azul\nO Menino da Floresta\nRomeu e Julieta\nA Bella adormecida no\n bosque\nDonsella Theodora\nH. do Velho Antonio Co-\n coróte\n\n\n\n\nRemete-se pelo correio qualquer quantidade de \nlivros mediante a importancia do pedido para qualquer\nEstado do Brazil.\n\n\n---------\nNota: No original, os títulos estão divididos em duas colunas, não dispostos apenas em uma."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-062",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Suspiros de um Sertanejo - Completa",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"62",
"Palavras-chave": "Suspiro; sertanejo; terra; beleza; natureza; alma; coração; sonho; chuva;",
"Tema": "Sertanejo relembrando de sua terra",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nSUSPIROS\nDE UM\nSERTANEJO\n\nCOMPLETA\n\nE'dictada por João Martins\nde Athayde\n\nO auctor reserva o direito de \nPropriedade.\n\nA' venda no Mercado de S. José\nCompartimento n. 51\n\nRECIFE - PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nSUSPIROS\nDE UM\nSERTANEJO\n\nMinh'alma triste suspira\nem deslumbrante desejo,\neu choro por minha terra\nque a tempos que não a vejo\nsão suspiros arrancados\ndo peito de um sertanejo.\n\nMorro e não me esqueço\nde tudo que enserra\nnesta santa terra,\nmeu primeiro berço\nmeu sertão de apreço\nsolo abençoado\nhoje desterrado\nme vejo proscripto\narrancando um grito\nde um peito cançado.\n\nHei de cantar as bellezas\ndaquella terra encantada\nsó digo o que ella tiver\nnão quero exagerar nada\na natureza lhe deu\nnome de jardim de fada.\n\n- 2 -\n\nE como de vera\nnão há mais mimoza,\nparece uma roza\npela primavera\nOh! Deus! quem me dera\nas scenas d'alli,\nver o que jà vi\nem quanto creança,\nmas essa esperança\nde tudo perdi.\n\nDeslumbra a alma que vêr\naquelle grato arrebol\nquando a briza fresca mança\nbafeja ao sahir do sol,\npelas biqueiras das casas\ncanta alegre o rouxinol.\n\nQue manhãs saudosas\nque horas de amores\nquando os beija-flores,\ncom azas garbosas\ncom pennas lustrosas\nvem se penerando\ne exzaminando\nvêr se o camarà\nou maracujá\ntem algum florando.\n\n- 3 -\n\nAs tardes lá são tão bellas\ne chamam tanta attenção\nque embrandessem de momento\no mais duro coração\nnão pode contar do mundo,\nquem nunca foi no sertão.\n\nQuem nunca passou\npelo ciridó,\ne no piancó\nnunca viajou\nnão saboriou\no mel do abreu\num desses nasceu\nem hora esquecida\npassou pela vida\nporém não viveu.\n\nAquella terra de amores\ndo meu coração não sai\nvisito-a sempre por sonho\nas noites minh'alma vai\nver a terra onde primeiro\nchamei mamãe e papai.\n\nNão posso deixar\nde cantar a terra \nde lá uma serra\nnão deixo passar\n\n- 4 -\n\nMeu amor meu lar\nmeu bem meu praser\npara que viver\nestando auzente della\neu olhando ella\nqueria morrer.\n\nAlli nas noites de lua\nas crianças nos terreiros\ncorrendo decalços e nús\ne fitando os nevoeiros\nna mente que a lua vem\nnascendo atraz dos oiteiros.\n\nOs meninos enlevados\nem noites de glorías\nos pais contam historias\ndos seculos passados\nde principes encantados\ne requeza achada\nfortuna dobrada\ne reino de outrora\naté ver a hora\nque botem a cualhada.\n\nMuitas destas bellas noites\ngosei eu tão descançado\nquando a idade era um sonho\na vida um mundo dourado\n\n- 5 -\n\nos dias campos com flores\nas noites berço enfeitado.\n\nEu era pequeno\nde nada entendia\nbrincava e corria\nexposto ao sereno\nnaquelle terreno\nde grande tamanho\nhoje até me acanho\npara exaltar elle\nporque tomei nelle\nmeu primeiro banho.\n\nLà a vida é descançada\nde Agosto para Setembro\nbrocam-se logo roçado\ntoca-se fogo em Novembro\ne fica tudo esperando\na trovoada em Dezembro.\n\nQuando na espera\ndo inverno estamos\nde manhã olhamos\npara athmosphera\nvemos na esphera\no tempo mudado,\no vento parado\no sol differente\n\n- 6 -\n\ne ja no nascente\nnevoeiro armado.\n\nO sol nasce muito branco\no vento desapparece\nde noite na lua ha circulo\ne o nascente escurece,\no gado urra no campo\no chão na varzea humedece.\n\nTudo a esperar\nolha de hora em hora\ndiz: -parece agora\nque ouvi trovejar,\nporque ouvi soar\npresenciei bem\nnão fica ninguem\nque não vá olhar,\npara observar\nse é chuva que vem.\n\nOlha-se para o nascente\nvê-se aquella escuridão\nas nuvens se aglomerando\ntomando de vão a vão,\nsobra o vento abre o relampago\ncom pouco estronda o trovão.\n\nSangra os nevoeiros,\no chão se alangando,\n\n- 7 -\n\nAs aguas arrastando\npaul dos oiteiros,\nbuscando ribeiros\npara elles unir-se\ncomo se extrahisse\ndo céu um thezouro,\nesse riso de ouro\nque faz tudo rir-se.\n\nChove por exemplo hoje,\neis o festim no agreste!\ncanta o sapo na lagôa\no passarinho no cypreste,\ncupim cria azas e vôa,\ncom pouco o matto se veste.\n\nFlora o camará,\nenrama o pereiro,\nmarva o candieiro,\ncocão, trapiá,\nmufumbo e ingà,\nangico, arueira,\nflora a craibeira\ncatinga de porco\ndemora-se um pouco\npor ser mais ronceira.\n\nCom a chegada da chuva\nos passarinhos em folia\n\n- 8 -\n\nparecem se reunirem\npara festejar o dia\né uma orchestra sublime\nfesta de mais poezia.\n\nOs guriatans\ne os curiós\nnos rios socós\ne as jaçanans,\nas maracanans\nas michiriqueiras\ntetéo lavandeiras\nsaem os pirilampos\nos poldrinhos nos campos\nformando carreiras\n\nO saudozo sabiá\ncantando alegre de seu\ne o graùna nos ares\no encontro e o soffreu\ncomo quem diz um a outro\nnão sabes mano? chuveu.\n\nApitam os nambús\ngemem os juritys\nvôa o cordoniz\ngrasnam os urubús\npasseiam os jacùs\ncanta a seriema.\n\n- 9 - \n\nescaramuça a emma\na marreca vôa\ndentro da lagôa\no putrilhão rema.\n\nChove alli 2 trez horas\ndepois que a chuvada passa\ntudo que ixiste selera-se\ndesde a formiga a uma caça\nos sapos pelas lagôas\nparece a musica na praça.\n\nEnsaia primeiro\nmestre cururú\nnum turututù\nque é um desispeiro\nchia o caldereiro\nberra o sapo boi\ndiz um outro oi\ndiz outro aliluia\na rã raspa cuia\ndiz outro foi foi.\n\nDepois que chove dez dias\nalli todo matto flora,\ntoda abelha que existe\nestá alli toda hora\nsuga o aroma da flôr\ndepois vôa e vai embora.\n\n- 10 -\n\nChega a tataira\nbocca de limão\nve o sanharão\ncanudo e cupira\nvem a jandaira\nmoça branca, exú\njaty capuxú\nmosquitinho da praia\nvem a mandassaia\ntubiba uruçú.\n\nPulamos carneiros no pateo\nurra o touro com assombro\ntorcendo o matto nos chifres\nfazendo na terra um rombo\ncavando terra com o casco\ndeitando-a toda no lombo.\n\nOs bodes berrando,\ncorrendo os garrotes\ne os novilhotes\nas pontas amollando,\ncabritos saltando\npelos taboleiros,\ndescem dos oiteiros\nas cabras paridas\nporque são tangidas\npor pais dos chiqueiros.\n\n- 11 -\n\nDeixemos agora aqui\na vida dos animaes,\ntratemos na vida humana\nque nos enteressa mais,\ncom relação ao inverno\na riqueza que nos traz.\n\nO agricultor \ndiz com grande espanto,\namanhã eu planto\nseja como for,\ntenho trabalhador,\nfaço a plantação,\nestá molhado o chão\neu vou mais meu filho,\nelle planta milho\neu planto feijão.\n\nDiz a mulher - meu marido,\nagora é que me recorda,\nde lhe dizer que não plante\nfava nem feijão de corda,\ndiz o velho - minha velha,\no que não nos mata, engorda.\n\nHa muito quem diga\nfaltas que elle tem,\nmas se come bem\nenche-se a barriga,\n\n- 12 -\n\nSó não planto urtiga\nporque não se come\nmas elle se some,\nvocê que faz delle?\nmuitas vezes elle\nja matou-lhe a fome.\n\nE segue a rapaziada,\ndão começo a plantação,\nos moços cavando terra\nvelhos plantando feijão,\na velha mais as meninas\nplantando milho e algodão.\n\nSe plantam em Janeiro\ne a chuva não falta,\nnão tendo lagarta\naté Fevereiro\no girimunzeiro\nvai logo estendendo,\no milho crescendo\njá no fim de Março,\nnão tendo embaraço\nalguns vão comendo.\n\nDo fim de Abril até Maio\njá é enorme a faltura,\njá estão batendo feijão\ntem muita fava madura,\ndão pricipio a virar milho\nestá a lavoura segura.\n\n\n- 13 -\n\nS. João animado\na terra está rica\né tanta canjica\ne tanto milho assado\no samba trincado\nem qualquer cazinha\nda sala á cusinha\nsó se vêr soar\nviola tocar;\ne dançar mulatinha.\n\nLeitores ia me esquecendo\nde tratar da creação\nnão sò matava a historia\ncomo atrazava a acção,\nvisto o começo da obra\nser derigido ao sertão.\n\nCom todo cuidado\ndiz o fazendeiro,\neu mando o vaqueiro\najuntar o gado\ne elle veixado\nfaz-se logo ao val\npelo matagal\nsegue a vaqueirama\naboiando chama\no gado ao curral.\n\n- 14 -\n\nE' bello ver-se no campo\nos vaqueiros encourados,\ntangendo um aboio saudoso\ndando a conhecer os gados,\nque compareçam as revistas\ncomo que sejam soldados.\n\nE' o criador\nque a gado ensina\npela desciplina\nconhece o senhor,\nvá aonde for\ngado não se esconde\ne no lugar aonde,\nque ouve aboiar,\npega a se ajuntar\nurrando responde.\n\nEssa revista que eu trato\nchama-se apartação,\numa das maiores festas\nmais falladas do sertão,\nnem um carnaval na praça\ntem tanta apreciação.\n\nQuem no mez de Abril\nalli viajou\ndiz que já passou\npor belleza mil\n\n- 15 -\n\nviu um ceo de anil\num campo de ouro\nviu um grande touro\nvir dos matagaes\no vaqueiro atraz\ncom vestes de couro.\n\nEntão naquella fasenda\nque o gado á de se juntar\ná uma festa suberba\ntem muito que apreciar\no resto daquelle anno\ninda se ouve fallar.\n\nE' na apartação\nque vê-se os valores,\ndos vaquejadôres\nque á no sertão\nquando um barbatão\nespirra ligeiro\ngrita-lhe o vaqueiro\ntrate de correr\nhavemos de ver\nquem cança primeiro.\n\nO cavallo que já é\ncustumado a vaquejar\nse aproxima bem do boi\npara o vaqueiro o pegar\n\n- 16 -\n\nde fóra a gente só ver\né o mocotó passar.\n\nE' bello ver a chegada\ndo gado para o curral\nos vaqueiros encourados,\ntirando o gado do val\ncom cuidado que os novilhos\nnão entrem no mufumbal.\n\nO touro se ver\nno sol muito quente\no vaqueiro na frente\nnão deixa-o correr\npega arremeter\nfazendo explosão\nfazendo menção\nespirra ligeiro\nporem o vaqueiro\nestende-o no chão.\n\nFIM.\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-063",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "A Mulher e o Imposto - A verdade Núa (sic) ... - Historias (sic) Completas",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "Observando-se a tipografia, a configuração e a contracapa do folheto em comparação a outros, além da localidade, é possível especular que a edição do mesmo foi realizada por João Martins de Athayde.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"63",
"Palavras-chave": "Mulher; homem; economia; governo; dinheiro; casal; mundo; melhora; universo; moça; hoje; carrancismo;",
"Tema": "O trabalho que uma mulher dá; a hipocrisia do mundo",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nA MULHER\nE O \nIMPOSTO\n\nA VERDADE NÚA...\n\nHistorias Completas\n\nA' venda no deposito\nna Matinha da Encruzilhada.\nRua Telles Junior n. 23\n\nRECIFE PERNAMBUCO\n\n[Em branco]\n\nA MULHER E \nO IMPOSTO\n\nO mundo valia pena\na terra fazia gosto\nse apparecesse uma herva\ncom que matasse o imposto\nse o homem não precisasse\nde olhos e dente supposto.\n\nSe a mulher nascesse calva\nera uma grande façanha\nhavia uma economia\nem pente, oleo e banha,\ne ella sendo pelada\ntalvez não tivesse manha.\n\nSe o homem quando nascesse\nfosse calçado e vestido,\nse o feijão que se plantasse\nbotasse logo cosido\ncom carne, toucinho, verdura,\nestava o mundo garantido.\n\n- 2 -\n\nSe tudo que è necessario\nse tivesse a cada instante,\nse tivesse sem comprar,\ncarne, pão, assim por diante,\nnascesse bife em roçado,\ncarne guizada em vasante.\n\nSe o milho em vez de espiga\nbotasse logo pipoca,\ncuscús, angú, munguzà,\nnelle houvesse café moka,\nse se plantasse a maniva\ne nascesse tapioca\n\nSe ás 6 horas da manhã\nchovesse leite de vacca,\nhouvesse um rio de aguardente,\ndaquella mesmo que ataca,\ndormia o mundo n'um porre\nacardava na ressaca.\n\nSe o governo nos pagasse\npara se negociar,\ndésse dinheiro aos freguezes\ne mandasse nos comprar\ne não tivesse uma lei\npara o imposto cobrar.\n\nSe quando o homem casasse\na mãe da mulher morresse,\n\n- 3 -\n\nse a velhice se acabasse,\na molestia adoecesse,\na mocidade voltasse,\na morte de nós corresse.\n\nSe a mulher fosse uma cousa\nque nunca mais se acabasse,\nnão ficasse velha e feia,\ntodo tempo renovasse,\nfosse igual a canna\nque se corta e ella nasce.\n\nMas o Eterno sabendo\no que podia surtir,\npois a mulher renascendo,\npodia a sogra sahir\ne se desgraçava um genro\na sogra tornando a vir.\n\nPorque o casal com a sogra\nnunca pode viver bem;\na sogra põe-se a catar\nas faltas que o genro tem,\nplanta cíume na filha,\nd'ahi a desgraça vem.\n\nManda a filha lhe pedir\no que não pode dar,\ndiz-lhe: \"se faça doente\"\npara poder passeiar;\n\n- 4 -\n\nvocê só dentro de casa\no que é que pode gosar?\n\nOs homens casados de hoje\nsó querem é vadiar,\na mulher pede uma cousa,\ndiz: eu não posso comprar,\numa \"bicha\" lhe pedindo\nelle não ha de negar.\n\nBotar isso na cabeça\nde quem já é bem passada,\nensinar uma lição\nque ella tem decorada,\ndepois de dois ou tres annos\ncomo não està afiada?\n\nSe o homem trabalha longe,\nsae logo de madrugada,\nella inda fica dormindo\nem boa cama deitada,\nse levanta ás 8 horas\ne diz que está enfadada.\n\nElle sahiu muito cedo,\nsó vem em casa uma vez,\nella acorda muito tarde\ne diz com estupidez:\no diabo do malandro\nsahiu nem o fogo fez.\n\n- 5 -\n\nA's cinco horas da tarde\nvolta elle do roçado,\ntrabalhou lá todo dia\nchega com fome e cançado;\nencontra ella n'um canto\ncomo um touro aperriado.\n\nElle pergunta: mulher,\na janta está prompta ou não?\nElla pergunta: você\ndeixou-me lenha ou carvão?\nde onde eu tirava agua\npara cosinhar o feijão?\n\nVocê sae de madrugada,\nme deixou aqui doente,\ncom muita dôr de cabeça,\nme doendo até um dente,\nentende que uma mulher\né de ferro ou dormente.\n\nMas não contou ao marido\nque assim que se levatou\nfoi para casa do visinho\nsaber do que se passou,\nem fallar da vida alheia\no dia inteìro levou.\n\nEm vez de cuidar na janta\npara o marido jantar.\n\n- 6 -\n\nEntra logo para o quarto\ne pega a lastimar;\nvae elle para a cosinha\nse à noite quizer ceiar.\n\nUm desgraçado que casa-se\npara descançar da lida,\nter casa, viver em paz,\ngosar um pouquinho da vida,\nencontra uma cobra dessa,\nessa existencia é perdida.\n\nE se chegar-lhe um bebé\ndesses chamado de raça,\nquando nasce já encontra\ncama, roupa, leite e massa,\nahi é que o camarada\nvê a neta da desgraça.\n\nPois elle chega chorando,\nsem querer nada acceitar\npara comer o que guardou-se,\né preciso se rogar,\nisto assim é que é canudo;\ntriste de quem o levar.\n\nNada faz na agricultura,\npensa em botar um negocio,\no governo diz-lhe logo:\neu sou o primeiro socio,\n\n- 7 -\n\nporque o sabido come\né a custa do beocio.\n\nAntes de botar negocio\nprecisa está alerta\né necessario tirar\nlicença de porta aberta\ne pagar aferição\ne esperar pela collecta.\n\nJá pagou porta aberta\npagou mais aferição,\npagou limpeza publica,\npaga mais a revísão,\ninda é preciso pagar\nindustrìa de profissão.\n\nDá o que o fiscal pedir,\nse não por nada é multado;\nse intriga com o freguez\nque-não vender-lhe fiado;\nfaça o pobre o que fizer\nestà sempre desarrumado.\n\nPois o homem quando nasce\ntraz logo a perseguição,\ntoma a mulher como cruz,\npara mais condemnação\ncae nas unhas de uma sogra\nque é peíor do que dragão.\n\nA VERDADE NÚA...\n\nQuem é que vê este mundo\ne o acha adiantado?\nas cousas do Universo\nem que terão melhorado?\nmelhora quem é pedante\ne tem quengo refinado\n\nPara que os automoveis\nque correm pela cidade?\nmachucando os miseraveis\nQue recorrem á caridade,\ncrianças que são tangidas\npor grande necessidade.\n\nQuem inventou luz electrica\ndevia ter inventado\numa machina para chuva\noutra para fazer gado,\ndessa forma nosso mundo\nera bem adiantado.\n\nO inventor do cinema,\num dos artistas mais finos,\nantes estudasse um meio\npara ver os intestinos;\nmostrasse publicamente\nos ladrões e assassinos.\n\n- 9 -\n\nZoonophone se fosse\numa cousa que influisse,\nmas é como papagaio,\ndiz o que o outro jà disse;\neu nunca vi um segredo\nque um desses descobrisse.\n\nOs homens de nossa epocha\nacham que vão em progresso,\nmas sò o cégo não vê\nas lastimas do Universo,\nraro è o que não diz\no mundo vai em regresso.\n\nHa muito adiantamento\nnas sciencias dos artístas\nmas tambem a corrupção\nvôa claro em nossas vistas\no sentimento dos homens\nestá preso pelos quenguistas.\n\nA consciencia sumiu-se,\no caracter apodreceu,\na vergonha envergonhou-se\ne por isso enlouqueceu\na caridade queimou-se\no interesse cresceu.\n\nQuem já tiver meio seculo\nvolta a mente no passado\n\n- 10 -\n\nque vê um mundo grosseiro,\ncomo era o atrazado;\nvolte a vista no presente,\ntudo que vê é de agrado.\n\nVê o palacio de um nobre\nque parece um sanctuario\nportas e janellas feitas\npor perito imaginario\ncustou ao barão de tal\ndois mil contos do vigario.\n\nVamos na praça mais publica\nonde a belleza fluctúa,\nveja uma mulher jà velha\npasseando pela rua,\na saia é curta e estreita\nque parece estar nùa.\n\nMoças de 18 annos\ncm as canellas de fora,\num cinturão de camurça\nque já está tòra não tóra,\nse apertar mais qualquer cousa\nnão tem geito, vai embora.\n\nOs espartilhos, já vê-se\na moça quando se ataca,\nbota-os na segunda-feira\nna sexta inda tem a marca,\n\n- 11 -\n\no estomago della fica\ncomo as costas de uma faca.\n\nMas a moda exige isso\nisso é quer queira ou não queira,\nanda puxando de um quarto\ncomo quem soffre manqueira,\nmas devido aos sapatos\nque tem o salto de madeira.\n\nVem alli uma menina\nque já tem enorme altura;\nparece um anjo do céo,\né um symbolo da candura\na barra da roupa vem\npouco abaixo da cintura.\n\nNo tempo do carrancismo\ntudo vivia decente;\nmenina mostrava o pé\nao sapateiro sómente,\nmoças de quarenta annos\nainda eram innocente.\n\nO rapaz pedia a moça\nhavia de se ausentar;\ne na casa do pai della\nnão havia de passar,\ne só havia de vel-a\nquando fosse se casar.\n\n- 12 -\n\nHoje a filha de fulano,\nfoi pedida, ha de casar,\nJá hontem o noivo chamou-a;\nfoi com ella passeiar,\nfoi de manhã veio á noute,\nnão teve conta a quem dar.\n\nD. Fulana de tal\nque não dispensa o systema,\nás seis horas vai á missa,\nde tarde vai ao cinema,\no marido que se amole\ne marque o passo da ema.\n\nE se o marido fallar,\ncom certeza ella se inflamma,\nse não tem fome não ceia,\ne de noite aparta a cama\ne diz quem comprar o peixe\nrepare logo a escama.\n\nProcura-se na egreja\no padre da freguezia;\ndiz o sacristão: sahiu,\nnem disse se voltaria\nfoi tratar sobre politica\nnão poude marcar o dia.\n\nVá ao juiz de direito,\nprccise do promotor\ne vá em casa de um desses\npergunte pelo doutor;\n\n- 13 -\n\ndiz o creado foi hoje\nfallar ao governador.\n\nSe perguntar, quando vem?\no criado ha de dizer\nora o doutor quando vem?\nvem quando lhe parecer\nquem precisar delle espere\nse não! pode até morrer.\n\nO que elle quizer faz\nque è juiz de direito\nseu fulano vá queixar.\nse não ficar satisfeito\nvá pôr defeito na obra\ndepois do serviço feito.\n\nEntremos no hospital\npor mais curiosidade\nvejam como são possantes\nas irmãs de caridade \nsão ellas as parazitas\nda fragil humanidade.\n\nChega um doente morrendo\nna casa da caridade,\npergunta pelo doutor\nlhe dizem: só vem á tarde\ndalli mesmo o infeliz\nvai para a eternidade.\n\n- 14 -\n\nAgora quer ver a cousa\ncomo muda de figura?\ncaçe um cobrador de imposto\nque acha grande fartura.\nsó cupim em casa velha\nformiga preta em gordura.\n\nEssa classe não se acaba\nnão ha quem tenha esse gosto\nde dizer: o mundo hoje\nnão tem cobrador de imposto;\nmorre um no mez de Julho,\nchegam dez no mez de Agosto.\n\nHa uns cem annos atraz\nninguem se suicidava\na porta do cemiterio\npara um assim se fechava,\ntambem de 10 em 10 annos\num caso desse se dava.\n\nMas hoje qualquer pelintra\nque vive da malandragem,\nnão se sujeita ao trabalho\nacha uma grande vantagem\nnuma bala de revolver\npara fazer uma viagem.\n\nA moça não usa tiro\nmas se gostar de um rapaz\no pae e a mãe não querem\nquer saber ella o que faz?\n\n- 15 -\n\nbebe logo acido phenico\nou se incendía com gaz.\n\nE' hoje o que mais se vê\nnessa epoca adiantada,\nnesse tal seculo de luzes\nse tem luz é apagada,\né um claro côr da noite\nou liberdade amarrada.\n\nNo tempo do carrancismo,\nos homens todos em massa\nsempre faziam de véra\no que diziam de graça\num cabello do bigode\nera uma letra na praça.\n\nHoje em dia vê-se um\njurar, prometter que faz,\nquem não conhecer que o compre,\ncuça a prosa, vá atraz,\nfique esperando por elle\ne veja se elle vem mais.\n\nNa igreja em outro tempo\nhavia sinceridade\nhoje dá-se cousa nella\nque provoca piedade\no dinhero chegou nella\nacabou-lhe a sanctidade.\n\nExiste aqui, no Recife\numa velha freguezia\n\n- 16 -\n\nde frei São Pedro Gonçalves\num santo velho que havia.\nvenderam a igreja delle\nestá ella sem moradia.\n\nForam melhorar o porto\ne o governo o comprou,\no porto ficou melhor\nmas São Pedro peiorou,\nquem recebeu o dinheiro,\nesse foi quem melhorou.\n\nO Santo está muito velho\nJá precisa de tutor\ne só mesmo o arcebispo\npode ser procurador,\nse o santo precisar, peça:\ndo contrario, não senhor!\n\nSão Pedro fez-se de molle\ndeixou quem bem quiz chegar,\nPassou-lhe a casa no cobre\nnão tem onde morar,\nestá com os cacos na rua\ne não pode se queixar.\n\nSe não fosse no tempo antigo,\nisso não tinha se dado,\nmas nesse tempo moderno\nnem santo está descaçado,\nporque vendem-lhe a igreja\ne o deixam desarranchado. (FIM)\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\n(LIVROS DE HISTORIAS EXPOSTOS A VENDA)\n\nZesinho e Mariquinha \nPrincesa Elysa \nOs Martyrios de Genoveva \nH. do Pescador \nJosé do Egypto \nOs dois Glosadores \nPadre Cicero \nJuvenal e o Dragão \nGenevra \nNatanael e Cicilia \nPierre e Beatriz \nRico Avarento \nPrincesa Rosa \nPeleja de Gavião e machd. \nO homem da Lua \nA morte de Xico Barulhao \nA vida do seringueiro \nO casamento infelis \nDiscussao de Zèduda com \n Joao Athayde \nA rainha que sahiu do mar \nO advogado da Religiao \nCapitão do Navio \nP. de Manoel Raymundo \n com Manoel Campina \nO segredo do casamento \nO homem que nasceu p'ra \n nao ter nada \nO cavallo que deffecava \n dinheiro \nO grande Roberto do Diabo \nO Poder da Nescessidade \nRachel e a fera encantada\nMarco do Meio-mundo\nPrincesa da Pedra-fina\nPulo e Maria\nFilha que matou a mãe\nPriso de Antonio Silvino\nA discussao de A. com\n Leandro\nP. de Ventania com P. Azul\nPeleja de Bern ardo No-\n gueira com Preto Limã*\nA inf. de dois Amantes\nO homem que teve um*\n questao com S. Anton*\nA moça enterrada viva\nRoques Matheus\nA grande surra que o poeta\nCordeiro Manso levou de\n Joao Athayde\nO torpediamento do Macau\nGallinha com dente\nMorte de Leandro\nA guerra dos Animaes\nMulher Bonita\nHistoria de Barba-azul\nO Menino da Floresta\nRomeu e Julieta\nA Bella adormecida no\n bosque\nDonsella Theodora\nH. do Velho Antonio Co-\n coróte\n\n\n\n\nRemete-se pelo correio qualquer quantidade de \nlivros mediante a importancia do pedido para qualquer\nestado do Brazil.\n\n\n---------\nNota: No original, os títulos estão divididos em duas colunas, não dispostos apenas em uma.\nNota II: Os trechos assinalados com (*) estão com material danificado, não permitindo precisão na transcrição. Entretanto, sugere-se a leitura de \"Limão\", \"uma\" e \"Antonio\"."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-064",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "O Perdão de Antonio Silvino e a Quengada do Advogado / Um Almoço no Inferno no Casamento da Filha do Diabo",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "A Popular Editora pertencia a Francisco das Chagas Batista. Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=926%3Aedicao-de-cordel-no-brasil&catid=40%3Aletra-e&Itemid=1. Acessado em 07 de abril de 2016 às 13h.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"64",
"Palavras-chave": "Brasil; cangaceiro; Antonio Silvino; dinheiro; carta; dinheiro; advogado; lei; filha; diabo; casamento; nova seita; inferno;",
"Tema": "A esperteza de um advogado no perdão de um cangaceiro; almoço de comemoração do casamento da filha do diabo",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nLeandro Gomes de Barros\n\nO Perdão de Antonio Silvino e a Quengada do advogado / Um almoço no inferno no casamento da filha do diabo\n\n[Em branco]\n\nO perdão do Antonio Silvino e a Quengada do advogado\n\nEste norte do Brazil \nE' o lençol da desgraça,\nOs cangaceiros atacam \nNos sertões o povo em massa\nQuengos de barba e cabello\nEstão esborrotando a praça\n\nDesde o dia que entrei\nNesta maldita prisão\nOnde até da luz do sol\nTenho grande precisão\nConheci que o homem preso\nNão tem direito ou rasão. \n\nImagine quanto soffre\nNesta casa o desgraçado\nAlem de ferido preso \nAlem de preso ultrajado\nAlem de tudo inda os golpes \nDe quengos de advogado.\n\n2\n\nEu estava premiditando \nMeu horrivel desespero\nUm dia fui visitado\nPor um grande cavalheiro\nEsse me trouxe uma carta\nVinda do Rio de Janeiro.\n\nVinha na carta o seguinte\nAmigo Antonio Silvino\nNão desespere da sorte\nNem clame contra o destino\nConte com a proteção\nDe um advogado fino. \n\nVocê por essa defeza \nNão paga nem um cruzado\nEu quero é mostrar ao Norte\nQuanto eu sou grande e pesado\nSó minha sombra num jury\nDeixa tudo atrapalhado. \n\nEu respondi o seguinte\nDignissimo Senhor, \nParece-me que foi um balsamo\nVosso presado favor\nJa sinto nos labios o riso\nEm vez de amargura e dor.\n\n3\n\nSe botarme em liberdade\nJuro a vossa senhoria \nO dinheiro que hei de dar-lhe\nTalvez não conte-o n'um dia\nE terá mais um escravo\nPara sua serventia. \n\nMandei-lhe uma carta gorda\nPara aprontar meus papeis\nEntão eu sevei a carta\nCom sedulas de cem mil reis \nDuas ou trez de quinhentos \nMuitas de vinte e de dez. \n\nE eu fiquei esperando\nPelo tal advogado \nDias depois foi que soube\nQue elle estava engaiolado\nTinha que morrer no pau\nPadrinho e afilhado.\n\nNunca vi tão mal noticia\nComo essa que o jornal deu\nAte o advogado \nQue era o futuro meu\nEsse estava na cadeia\nInda peior do que eu.\n\n4\n\nEu esperar liberdade\nE' mirar o sol que poz-se \nBotar suspensorio em cobra\nE bainha numa fouce\nEsperar que aruá corra\nE que uma cobra dê couce. \n\nEu inda escrevi a elle\nContando grande misura\nPedi-lhe que se lembrasse\nDe minha grande amargura\nFicasse la com a carta\nMe devolvesse a gurdura. \n\nElle mandou-me dizer\nEu tambem estou enrascado \nO sebo que o sr. deu-me\nFoi quem salvou-me o estado\nPorque delle estou comendo\nE pago ao advogado.\n\nTenha muita paciência\nNão se maldiga da sorte\nA peior vida do mundo\nE' mais soffrivel que a morte\nCom relação ao dinheiro\nVocê deixe não se emporte.\n\n5\n\nVocê por esse dinheiro\nNão deixa de passar bem\nE' melhor dar um tostão\nDo que pedir um vintem\nAntes ter um para dar\nDo que pedir a alguem.\n\nEu disse com meus botões\nDeixa-te está desgraçado\nSe eu escapolir da qui\nTú seràs recompensado\nDarei teu quengo ao diabo\nPara comel-o guizado. \n\nAfinal ficou por isso\nNem defeza nem arame \nDesgraça não quer conselho\nNem boa vida vechame\nO nobre estaria mal\nSe nãon tivesse o infame.\n\nDias depois na cadeia\nVeio outro advogado\nEsse me disse Silvino\nPode dormir descançado\nNêsses dez ou quinze dias\nVocê será perdoado. \n\n\n6\n\nJá vi todos seus processos\nConheci ser tudo nullo\nEm quanto houver geito eu caço\nEm quanto houver brecha eu bulo\nA lei està esposta a todos\nEu vou ver se o escapulo.\n\nFiquei um pouco animado\nE disse esse aqui é certo\nE pode achar o governo\nUm dia de corpo aberto\nE tem de mais a vantagem\nQue mora aqui perto.\n\nDe facto o advogado\nE' um moço de capricho\nE' como diz o rifão\nAquillo é bicho p'ra bicho\nJá os meus adversarios\nSó converçavam em coxixo.\n\nO doutor Pereira Simões\nMinha defeza moveu\nFez tudo o que foi possivel\nPorem de nada valleu\nJa perto da salvação\nA desgraça apareceu.\n\n7\n\nRequereu um habeas-corpos\nE ia ser despachado\nQuando veio da Parahyba\nUm telegrama damnado\nAcusando dois processos \nOnde sou pronunciado.\n\nOra meu advogado\nTem força descumunal\nEsclariceu toda lei\nQue tem no codigo penal\nA maldita Parahyba\nFoi quem me fez todo mal.\n\nO doutor Simões Pereira \nFoi leal para comigo\nCitou a lei claramente\nNão escapando um artigo\nMinha desgraça sò foi\nUm processo muito antigo.\n\nLogo ao princípio da cousa\nO corpo me extremeceu\nMurmurei com meus botões \nQue homem feliz sou eu! \nQuando leu-se na \"Provincia\"\nComo o doutor requereu.\n\n8\n\nDisse comigo, estou solto\nGraças ao advogado\nAssim que vi o artigo\nQue elle estava baseado\nE a lei cincoenta e quatro\nCriada pelo Estado.\n\nFoi trezentos e quarenta\nO primeiro artigo citado\nE a lei setenta e dous\nDar o direito sagrado \nDe requerer habeas-corpus \nDepois de pronunciado.\n\nAssim mesmo Pernambuco \nEsse ainda concedeu\nEntre desembargadores\nNove juízes escolheu\nNa véspera do julgamento\nParahyba requereu. \n\nFiquei eu como uma criança\nQuando se perde no ermo\nSó quem me livra é a morte\nQuando aos meus dias por termo \nQuase acabo meu arame\nE fico por isso mesmo.\n\n9\n\nPreso que não tem parente\nMenino que não tem pai\nCego que anda sem guia\nAté na cama elle cai\nCachorro que não tem domno\nPara onde o botarem, vae. \n\n\n\n\n\nUm almoço no inferno no casamento da filha do diabo\n\n\nUma filha do diabo \nJustou casamento um dia\nCom um rapaz nova-ceita\nQue aqui na terra havia\nFoi do gosto do diabo\nE a mãe d'ella queria. \n\nEntão o velho diabo\nNuma alegria perfeita\nBebeu um copo de azougue\nGritou, viva a nova-ceita\nAgora tenho esperança\nQue meu inferno endireita.\n\n10\n\nDepois chegou um diabo\nQue andava caçando fora\nDisse o velho satanaz:\nPara que fez tal demora? \nA minha filha Tebufa\nDei-a em casamento agora.\n\nPergunta o diabo cocho\nMas a quem deu minha prima?\nAo filho de um nova-ceita\nQue todo o inferno estima \nDisse o diabo eu ja sei\nQue a desgraça está de cima. \n\nDa geração de frei bode \nO que é que se aproveita? \nAgora sim acredito\nIsso aqui nunca endireita\nQuem é que tem uma filha\nPara dal-a a um nova-ceita?\n\nMeu tio que o inferno\nTem se desgraçado agora\nEstá que só na Allemanha\nNão entra nada de fora\nBote a nova-ceita aqui\nEspere pela caipora. \n\n\n11\n\nDisse o velho satanaz\nRapaz não seja imprudente\nPegue qualquer nova-ceita\nQue pegará num parente\nRespondeu o diabrete\nAgora sim, estou sciente. \n\nDisse o velho satanaz\nAgora vamos tratar\nO dia do casamento\nPara se realisar \nEscolher-se as pessoas\nQue tem de se convidar.\n\nDisse o diabo zanoio\nEu só ficarei contente\nSe da classe nova-ceita \nChegar o noivo somente\nDo contrario o casamento\nFarão seu eu está presente. \n\nDisse o diabo pisunho \nVamos fazer ama cota\nEntão disse o scretario \nVão dizendo eu tomo nota \nIrão como encarregados\nA preguiça e a derrota. \n\n\n\n12\n\nEntão disse a mãe da noiva\nAmanhã eu tomo um rumo\nVou á terra chego là\nVou a um fiscal do consumo\nE' artista da minha arte\nCom esse sei que me arrumo\n\nDisse o diabo amarello\nEu irei ao escrivão\nO diabo gago disse\nEu vou ao sachristão \nElle é o primo de urubu\nTalvez não faça questão.\n\nDisse o diabo chaleira\nIrei com toda coragem\nVer se um conductor de trem \nArruma-me uma passagem\nAlcuvito umas 3 freiras\nLucro muito na viagem.\n\nSahiu a commissão toda\nComo tinham contractado \nEm menos de duas horas\nTudo ja tinha chegado\nDos cálculos que tinham feito\nNão sahiu nem um errado\n\n13\n\nPelo contrario trouxeram\nAté extraordinario \nTrouxeram uma avó de um bispo\nA madrasta de um vigario\nA enteada de um frade\nCacheiros de boticario. \n\nO diabo velho disse\nTudo que trouxeram presta\nJa que obtiveram tudo\nTambem agora nos resta\nNo dia do casamento\nFazer-se uma grande festa.\n\nDisse a mulher do diabo\nTenho muito que dançar \nEu ja estou sentindo o gosto\nDas voltas que tenho de dar\nO inferno neste dia\nE' preciso se enfeitar. \n\nE la prepararam tudo\nFoi um pagode animado\nO inferno nesse dia\nFedeu a chifre queimado \nAté o diabo coxo\nComeu enxofre torrado.\n\n14\n\nViu-se um casal de diabos\nDançando turututú\nA diaba em camisona\nCom botas de couto crù\nViva os noivos! ella dizia\nForça na perna dudù.\n\nTinha um diabo careca\nCoxo da perna direita\nDava uma rivira volta\nDisia oh! roda bem feita\nBatia palmas nos pés\nDava viva a nova-ceita.\n\nOs nova-ceita no samba\nDançavam todos ja quentes\nSoltavam cada risada\nMostrando os immundos dentes\nE abraçando o diabo\nGritavam: somos parentes.\n\nAté a mãe do diabo\nNuma aguardente correcta\nVirava bumba canasta \nGritava: oh! volta completa\nBebia metal fervido\nFazendo saude á neta.\n\n15\n\nCom pouco entrou o azar\nE deu o braço a desgraça\nUm nova-seita e a peste\nExecutaram uma walsa \nDizia a vó do diabo\nIsso é bom que só cachaça.\n\nQuem me contou essa historia\nTeve um grande esquecimento\nNão disse qual foi o padre\nQue fez tal casamento\nJa sei o padre qual foi\nFoi o diabo cinzento. \n\nDizem que foi uma festa\nQue inda hoje é fallada\nTinham muitas iguarias \nUma enorme panellada \nUm velho que vende fumo \nInda provou da buchada.\n\nTinha 30 mocotós \nDe oficial de justiça\nLingua de sogra guisada\nQue até causava cubiça\nMataram uma nova-seita\nPara faser a linguiça. \n\n\n16\n\nMiudos de alcoviteira\nToucinho de frade da Penha\nOs diabos todos bebedos\nGritavam aqui tanto venha\nHavemos de devorar\nQualquer legume que tenha. \n\nA pessoa que contou-me\nViu todo esse resultado\nViu uma velha chorando\nEsse festim animado\nInda viu um nova-seita\nCom o mocotó inchado. \n\nDiz o velho que não sabe \nSe foi por elle dançar\nOu se seria o diabo\nQue mandasse-o amarrar\nO nova-seita è caipora\nDe onde vai trazer o azar.\n\n[Em branco]\n\nTyp. da \"Popular Editora\"\nRua da República - PARAHUBA -"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-068",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Conversação de Pai Manoel com Pai José na Estação de Cascadura sobre a Questão Anglo-brazileira [brasileira] e Guerra do Paraguay [Paraguai]",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Paris, Rio de Janeiro, RJ",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "H. Garnier (1816-1911)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "-",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"68\". Um dos exemplares possui manuscrito à lápis parcialmente apagado na capa.",
"Palavras-chave": "Acabado; governo; Brasil; dinheiro;",
"Tema": "Conversa entre Pai Manoel, Pai José e um inglês sobre a questão Anglo-Brasileira.",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nBIBLIOTHECA POPULAR\n\nCONVERSAÇÃO DE PAI MANOEL COM PAI JOSÉ NA ESTAÇÃO DE CASCADURA SORE A QUESTÃO ANGLO-BRAZILEIRA E GUERRA DO PARAGUAY\n\n[Nota manuscrita na capa: \"Rua Bresser 378\"].\n\nH. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR\n\n71, RUA MOREIRA-CEZAR, 71, RIO DE JANEIRO\n\n6, RUA DES SAINTS-PÈRES, PARIZ\n\n\nH. Garnier, Livreiro-Editor, Rua Moreira Cezar, 71\n\n BIBLIOTHECA POPULAR\n\nHistoria da Princeza Magalona. Novissima edicação, 1 v. br..... $500\n\nHistoria da Donzella Theodora em que se trata da sua grande formosura e sabedoria. Novissima edição, 1 v. br ..... $500\n\nHistoria de João de Calais. Novissima edição. 1 v. br..... $500\n\nHistoria do Pelles de Asno, ou a Vida do Principe Cyrillo. Novissima edição, 1 v. br.................................................... $500\n\nHistoria jocosa dos Tres corcovados de Setúbal, Lucrécio, Flavio e Juliano, onde se descreve o equivoco gracioso das suas vidas. Novissima edição, 1 v. br .................................................. $500\n\nHistoria do Grande Roberto do Diabo, Duque de Normandia Imperador de Roma, em que se trata da sua concepção Roberto do Diabo e do seu grande arrependimento e prodigiosa penilencia, por onde mereceu ser chamado Roberto de Deus, e prodígios que por mandado de Deus obrou em batalha. Novissima edição, 1 v. br ......................................... $500\n\nHistoria da Imperatriz Porcina, mulher do Imperador Lodonio de Roma, na qual se trata como o dito Imperador mandou matar a sua mulher, por um falso testemunho que lhe levantou o irmão do dito Imperador, e como escapou da morte e dos muitos trabalhos e fortunas que passou, e como por sua bondade e muita honestidade tornou a cobrar seu estado com mais honra que deprimento. Novissima edição. 1 v. br .................. $500\n\nNova Historia do Imperador Carlos Magno e dos Doze pares de França, contendo a grande batalha que teve com Malaco, rei de Fez, na qual venceu Reinaldos de Montalvão. Novissima edição, 1. v; br ........ $500\n\nConfissão Geral do Marujo Vicente por via das rogativas que lhe fez sua mulher Joanna e sua apparição com o confessor. Novissima edução augmentada, 1 v. br ............................................. $500\n\nDespedida de João Brandão, filho do sublime e astuto Bertoldo. Novissima edição, 1 v. br......................................... $500\n\nMaria José, ou a filha que assassinou, degolou e esquartejou sua própria mãi, Mathilde do Rozario da Luz, na cidade de Lisboa em 1848, 1 v. br ............................................................ $200\n\nAstucias e subtilissimos de Bertoldo, villão de agudo engenho e sagacidade, que depois de vários accidentes e extravagancias foi admittido a cortezão. Novissima edição. 1 v. br................... $200\n\nSimplicidades de Bertoldinho, filho do sublime e astuto Bertoldo, e agudas respostas de Marcolfa, sua Mãi. Novissima edição. 1 v. br... $500\n\nVida de Cacasseno, filho do simples Bertoldinho e neto do astuto Bertoldo. Novissima edição. 1 v. br................................ $500\n\nA noite na Taverna, cantos phantasticos por Alvares de Azevedo. Precedido de um esboço biográfico pelo Dr Joaquim Manoel de Macedo. 1 v. br.............................................................. $500\n\nDisputa divertida das grandes bilhas que teve um homem com sua mulher por não lhe querer deitar uns fundilhos em uns calções velhos. Obra alegre e necessária para a pessoa que for casada. 1 v. br.......... $200\n\nConselheiro dos amantes, novíssimo secretario dos namorados. 1 vr. br................................................................. 1$000\n\nGalatéa. Égloga. 1 v. br........................................... $500\n\nVozes d' África. O Navio negreiro, tragédia do mar 1 v. br......... $200\n\nOs Escravos. Manuscripto de Sienio. 1 v. br........................ $500\n\nLyra do Trovador, novíssima colecção de modinhas, recitativos, iundús, ets., 1 v. br..................................................... 1$000\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n CONVERSAÇÃO\n DE \n PAI MANOEL COM PAI JOSÉ\n\n[Em branco]\n\nBILIOTHECA POPULAR\n\n CONVERSAÇÃO\n DE \n PAI MANOEL COM PAI JOSÉ\n NA \n ESTAÇÃO DE CASCADURA\n SOBRE \n A QUESTÃO ANGLO-BRAZILEIRA \n E \n GUERRA DO PARAGUAY\n\n\n H. Garnier, Livreiro-Editor \n\n71, Rua Moreira-Cezar, 71\nRio de Janeiro\n\n6, Rue Des Saints-Pères, 6\nPariz\n\n[Em branco]\n\nConversação de Pai Manoel com Pai José e um inglez, na estação de Cascadura sobre a questão Anglo-Brazileira.\n\n\n[NOTA - Coluna I]\n\nOra viva, sinhó Zuzé\nVossocé vem do cidáre;\nMi conta zi novidáre,\nConta turo cumo é.\nNáo é náta, Pau Manoé,\nTuro tá accommodáro; \nUma ingrèze renegáro,\nQui si sâma sinhô Crito,\nInventô uma cufrito;\nMassi turo tá acabáro.\n\nVocê dize: tá acabáro!\nMassi cumo é isso então?\nCuverno conpra canhao\nDesse qui sâma raiáro;\nQue navio coraçáro,\nPingata di Minié.\nPra qué isso, Pau Zuzé?\nAserná fundido bára,\nTá frutificando o barra.\nTuro isso pra que é?\n\n[NOTA - COLUNA II]\n\nCuverno tá si prontando\nPàra ôtro caziáo.\nZÊre no si quéce, não,\nSi tá sempre maquinando;\nZere, di quando in quando.\nCú Brazil vem tirá búia.\nHum ria áre toma no cúia.\nBrazirêro tá cançáro;\nNo quero sê cuvernáro.\nPor esse zento tô suia. \n\nPoren, dize, Pau Zuzé,\nCumo foi o tá cufrito;\nIô tá cu curação frito;\nQue sabe cumo isso é.\nIô te conta, Pay Manoé.\nParece que anno passáro\nMorreu zingrêze afogáro,\nNo praia di Labradão.\nDúm barco dêsse nação.\nQue tinha ali nofragáro.\n\n\n\n[NOTA: A formatação do texto é em duas colunas por página]. \n\n\n- 6 - \n\n[NOTA - Coluna I]\n\nZere qué que Brazi páca\nNo só carca cumo fréte,\nPurquê Brazi não cupéte\nCu zêre, que é nação fraca.\nE que tá sitá o matraca!\nBrázi é segurado\nPra ´pacà sÊza qui fó\nQui si préde no seu costa!\nZere que precisa é cóssa;\nDiabo de zisto pô.\n\nNo Tizúca treze ingrêze\nTomáro um caberêra,\nFizéro lá munto asnêra\nCumo faze muitos vêze.\nFôro prêzo turos trêze,\nPru briga cu sintinéra. \nZere no disse quen éra,\nTava vetido á paisana,\nTuros em frasco di cana\nPra moiá ozinguéra.\n\nSinhô Crito, provetando\nEsse circutançasinha,\nDice, son efficiá de marinha\nQue Brazi tá insurtando.\nQuen é que nó tá cherêcando\nQue isso nêre é um ardi\nPra cumpremetê Brazi.\nQuen no sabe o que êre qué!\nSucúta você Pay Manoé\nO que eu dize agora aqui. \n\n[NOTA - Coluna II]\n\nZere o que qué é dinheiro;\nE, cumo o cuverno nô deu,\nO que fêze o tá zudêu?\nBotô no barra um crizêro;\nTomô barco brazilêro\nPra pacá pro sua mão,\nInsurtando assim nação.\nZere p que qué é guerra,\nPra toma conta do terra;\nNô are sê assim, não. \n\nOh! oh! no dezesperra;\nMin senôr star enganada;\nSi Brazi quer faz tratada\nDecommerce, no tem guerra. \nEste Brazi stá bom terra; \nTem mui belles móletines,\nExcelentes creoulines;\nTem sucre, muite coffi;\nTem rome de Paraty;\nTem munte ôrre em seus\n [mines.\nOntem star com Willian,\nNo hetél tinhe de lunche,\nTinhe rez pipes de punche,\nE otres trez de Porquin.\nWillian star gentlemen;\nElle me dá segurance\nQue tude este contendance\nFique de tudi acabada,\nSe Brazi quer faz tratada\nDe commerce e alliance.\n\n- 7 - \n\n[NOTA - Coluna I]\n\nBrazi no qué tratada.\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-071",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Historia (sic) Completa de Lampeão - Contendo a Lucta [luta] no Serrote Preto, O Fechamento do Corpo de Lampeão por um Feiticeiro, o Pacto de Lampeão com o Diabo e a Lucta [luta] com uma Tigre",
"Detalhe": "Contém os textos: \"Os Decretos de Lampeão - Como Elle [ele] foi Cercado em 'Tenorio' e a Morte de seu Irmão Levino Ferreira\", \"Historia do Cangaceiro Lampeão\". \nVerso da contracapa: A Historia (sic) do Capitão Lampeão - Desde o seu Primeiro Crime até a sua Ida a Joazeiro [Juazeiro].",
"Localidade": "Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 18,
"Notas": "Autoria dos textos atribuída a Francisco das Chagas Batista. Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=928%3Achagas-batista&catid=38%3Aletra-c&Itemid=1. Acessado em 11 de abril de 2016 às 14h40.",
"Observacoes": "Possui ilustração em xilogravura na contracapa.",
"Palavras-chave": "Lampião; Virgolino; marco; bandido; Padre Cícero Romão; cabra; Antonio Silvino; decreto; sertanejo; fazendeiro; rifle; sangue; combate; sertão; punhal; pistola; Macumba; feitiço; mágica; cançaceiro; saquear; assassino; caboclo; diabo; tigre; onça;",
"Tema": "Histórias dos feitos de Lampião",
"Tecnica": "Xilogravura",
"Texto": "[Capa]\n\nPOESIAS POPULARES\n\nHistoria Completa de Lampeão\n\n[Ilustração]\n\nCONTENDO A LUCTA NO SERROTE PRETO, O FECHAMENTO\nDO CORPO DE LAMPEÃO POR UM FEITICEIRO, O PACTO\nDE LAMPEÃO COM O DIABO E A LUCTA COM UMA TIGRE\n[Nota: Parágrafo impresso na vertical à direita da ilustração]\n\nEDITOR PROPRIETARIO\nF. C. B[AP]TISTA IRMÃO\n<< Popular Editora >>\nPARAHYBA,-1-5-925\n\n[Em branco]\n\nO MARCO DE LAMPEÃO\n\nNo Estado de Pernambuco\nLampeão se abarracou,\nCom cento e trinta bandidos\nDos sertões se apoderou\nE no Pegehú de Flores,\nPraticando mil horrores\nO seu marco edificou.\n\nEste marco do bandido\nDetermina a divisão\nDas terras que elle governa\nQue occupam todo sertão,\nO Estado de Alagoas\nQue dispõe de forças boas\nLhe serve de divisão.\n\nDescança a base do marco\nSobre o rio Mochotó;\nAbrangendo a sua sombra\nDe Pesqueira a Cabrobó\nP'ra o lado da Parahyba\nA sombra vem quasi em riba\nDe Princeza e Piancó.\n\n-2-\n\nUm sargento alagoano\nSendo uma vez encontrado\nNos dominios do bandido\nFoi por este fuzilado\nDo morto o monstro arrancou\nAs divisas e as mandou\nAo chefe daquelle Estado.\n\nDeixando os seus dominios\nEm Alagoas entrou\nE a região do Ipanema\nQuasi toda devastou\nFez ali mortes crueis\nE mais de mil contos de reis\nNesse Estado elle roubou.\n\nNas terras de Lampeão\nPassava um empregado\nDa companhia Standart\nQue foi por elle roubado\nEm armas roupa e dinheiro\nE elle como prisioneiro\nQuasi que morre queimado.\n\nLampeão tinha mandado\nQue seus cabras amarrassem\nO viajante num auto\nE depois o encendiassem\nMas havendo intervenção\nO bandido Lampeão\nMandou que o homem soltassem.\n\n-3-\n\nO homem pediu em nome\nDo padre Cicero Romão\nQue lhe poupassem a vida\nE o bandido Lampeão\nQue obedece temeroso\nA esse Padre virtuoso\nAo homem deu o perdão,\n\nHoracio da Sergia que é\nComparsa de Lampeão\nConvidou-o p'ra matar\nManoel Giló no sertão;\nGiló 'stava preparado\nCom dose homens entrincheirado\nDentro em sua habitação.\n\nLampeão juntou seu grupo\nE a Manoel Giló cercou\nEste, resistiu trez horas\nE a munição esgotou\nOs Gilós foram então presos\nE os trezes homens indefezos\nLampeão todos sangrou.\n\nNo Estado da Bahia\nFez elle uma escursão;\nAli matou pouca gente,\nMas roubou uma porção\nP'ra Pernambuco voltou,\nE em Bom Conselho mandou\nGuardar sua munição.\n\n-4-\n\nNo lugar chamado Tigre\nO Anspeçada Liberato\nCom uma força de policia\nCercou Lampeão no mato\nE feriu-lhe dez seguazes\nQue eram dentre os seus rapazes [\"rapazes\" em itálico]\nOs mais ruins e mais baratos.\n\nO Dr. Sergio Loreto\nNomeou agora, então\nO major Teophanes Torres\nP'ra combater Lampeão\nE o bravo commandante\nQual delegado volante\nSeguiu p'ra o alto sertão.\n\nTeophanes foi quem prendeu\nO brabo Antonio Silvino,\nE agora quer prender\nO capitão Virgolino.\nQue jura que não se rende;\nE Teophanes diz que prende\nOu mata aquelle assassino.\n\nLuzardo afirma na camara\nQue Lampeão è legalista\nQue de Floro Bartolomeu\nElle estivera na lista.\nQue tem serviço prestado\nE que se fosse perduado\nSeria um bom bernardista.\n\nOs Decretos de Lampeão\n\nComo elle foi cercado em \"Tenorio\" e a \nmorte de seu irmão Cevino Ferreira\n\nEstá preso Antonio Silvino\nPorém ficou Lampeão\nGovernando pelas armas\nO nordestino sertão;\nE agora elle publicou,\nDois Decretos que baixou\nDa sua legislação.\n\nDiz o primeiro decreto\nNo seu artigo primeiro:\n-Todo e qualquer sertanejo,\nNegociante ou fazendeiro,\nAgricultor ou matuto,\nTem que pagar o tributo\nQue se deve ao cangaceiro.\n\nNo paragrapho primeiro\nDesse artigo elle restringe\nA lei somente aos ricos\nDizendo:-a lei não attinge\nAo pobre aventureiro\nPois quem não possue dinheiro\nDiz que não tem e não finge.\n\n[Nota: risco vertical à direita da página destacando as duas últimas estrofes]\n\n-2-\n\nO decreto numero dois\nFixa em trinta cangaceiros\nO Grupo de Lampeão\nDiz nos artigos primeiros:\n-Preciso de trinta cabras,\nTrinta figuras macabras;\nTrinta lobos carniceiros...\n\nSó quero cabras que tenham\n[M]enos de vinte e seis annos;\nQue conheçam palmo a palmo\nOs sertões pernambucanos\nQue possúam pernas bôas\nConheçam bem Alagôas\nE os sertões parahybanos.\n\nSaibam manejar o rifle\nSejam bons escopeteiros, [\"escopeteiros\" em itálico]\nDefendam os opprimidos,\nTirem só dos fazendeiros;\nPersigam os traidores\nNão perdoem os oppressores\nSejam peritos guerreiros.\n\nQuando o Jornal do Recife [\"Jornal do Recife\" em itálico]\nO Decreto publicou,\nO Grupo de Lampeão\nEm um mez se completou;\nE no estado pernambucano,\nSeu decreto soberano\nTodo mundo respeitou.\n\n-3-\n\nLampeão requisitou\nBrim kaki para fardar\nA todos os cangaceiros,\nE depois de os municiar\nSeguio seu féro destino\nDe ladrão e assassino\nContinuando a matar\n\nOs sargentos José Guedes\nE Cicero de Oliveira\nDa força parahybana.\nPolicia forte e guerreira\nPerseguiram Lampeão\nE tiveram ocasião\nDe cercar-lhe a cabroeira.\n\nFoi na fazenda \"Tenorio\"\nNo estado pernambucano\nNa noite do dia quatro\nDe Julho do corrente anno.\nDeu-se esse ataque renhido,\nE ali o grande bandido\nPerdeu Levino seu mano.\n\nCommandavam os dois sargentos\nSomente vinte e tres praças\nVinte e tres parahybanos\nQue não temem as desgraças\nLampeão, forte e valente\nResistiu he[-]icamente\nCommandando seus comparsas.\n\n-4-\n\nQuando o sargento Zé Guedes\nViu o tenente Oliveira\nMorto no Serrote Preto,\nFez uma cruz de madeira\nAjoelhou-se e jurou:\nDizendo a quem te matou\nEu darei morte certeira.\n\nOliveira fôra morto\nPelo bandido Levino\nQue em \"Tenorio\" se achava\nAo lado de Virgulino,\nApesar da noite escura\nZé Guedes cumpriu a jura\nMatando aquelle assassino.\n\nEsse combate sangrento\nMais de dez horas durou\nQuando o dia amanhecia\nA \"Tenorio\" então chegou\nUma força pernambucana\nQue a força parahybana\nMuito ali auxiliou.\n\nE devido a confusão\nQue entre as forças se deu\nLampeão fugiu deixando\nMorto um companheiro seu\nE Levino foi conduzido\nNuma rêde tão ferido\nQue no outro dia morreu\n\n-5-\n\nLampeão feriu na lucta\nO valoroso sargento\nCicero de Oliveira\nQue devido ao ferimento,\nDias depois falleceu,\nComo seu irmão morreu\nSem fugir do acampamento.\n\nLampeão depois da lucta\nFoi p'ra sua fortaleza\nDescançar a cabroeira\nE arctectar nova empreza\nAgora amarrou o guiba\nE no Estado da Parahyba\nVeio fazer uma surpresa.\n\nNa fazenda Santa Ignez\nDo termo de Conceição\nResidia um sertanejo\nInspector de quarteirão,\nQue fôra gratificado\nPor que já tinha atado\nDois cabras de Lampeão.\n\nLampeão cercou-lhe a casa...\nO Inspector resistlu!...\nPorém nos primeiros tiros\nAssassinado caiu\nLampeão matou-lhe o gado\nIncendiou-lhe o cercado\nE sua casa destruiu.\n\n-6-\n\nLevou bastante dinheiro\nDo termo de Conceição\nE com sua cabroeira\nAtravessando o sertão,\nFoi para o Cariry Novo\nOnde elle é amigo do povo\nE não teme perseguição.\n\n[Ilustração]\n\nHistoria do Cangaceiro Lampeão\n\nContendo a lucta do SERROTE PRETO,\no Feixamento do corpo de Lampeão por um\nFeiticeiro, o Facto de Lampeão com o DIABO\ne a lucta como o TIGRE\n\nDepois que Antonio Silvino\nSe entregára á prisão,\nFicou substituindo-o\nVirgolino Lampeão,\nUm cangaceiro ilustrado\nQue com um grupo bem armado\nDomina o alto sertão.\n\nDos sertões de Pernambuco\nE' natural Virgolino,\nNasceu no mesmo torrão\nEm que vivera Silvino,\nNas margens do Mochotò\nOnde o homem vive, só\nPensando em ser assassino.\n\nSeus paes eram quasi ricos.\nBotaram-o no Seminario,\nDe Alagoas onde elle,\nPretendia ser vigario.\nMas sendo outra sua sina\nElle rasgou a batina\nE tornou-se um temerario.\n\n-2-\n\nLampeão era parente\nDo grande Antonio Silvino\nE trouxe quando nasceu\nDe ser bandido o destiuo,\nA parteira que o pegou\nUm dia prophetisou,\nQue elle seria assassino.\n\nNo riacho dos Navios\nTeve elle o berço natal,\nNo centro de Pernambuco\nBem longe da capital,\nTerra onde impera o cangaço,\nAonde a força do braço,\nManeja o rifle e o punhal.\n\nTinha quinze annos de idade\nQuando nm dia foi a feira\nJunto com dois irmãos seus\nNo Afogados de Ingazeira,\nUm cabra deu-lhe um bofote,\nElle puxou um canivete\nE passou-lhe uma rasteira.\n\nO cabra desaprumou-se\nE foi de ventas no chão,\nLampeão com o canivete\nApunhalou-o no vão,\nTomou-lhe então o punhal\nUma pistola central\nE bastante munição.\n\n-3-\n\nChegaram seus dois irmãos\nQue tambem estavam armados,\nDisseram vamos embora\nSe não estamos desgraçados,\nMas, por seis cabras valentes\nQue eram do morto parentes,\nEstavam elles cercados.\n\nEntão feichou-se o commercio\nE choveu bala meia hora;\nLampeão pulava mais\nDo que burro na espora,\nPerdeu na lucta um irmão,\nMas deixou mortos no chão\nSeis cabras e foi embora.\n\nQuando elle chegou em casa\nSeu pae botou-lhe abenção,\nDeu-lhe um abraço e lhe disse:\nMeu filho do coração,\nSerás como teu avô\nQue cento e tantos matou\nE nunca foi a prisão.\n\nDisse-lhe o pae, vou mandar\nFechar teu corpo, primeiro\nPelo compadre Macumba\nQue é um bom feiticeiro,\nSem teres corpo feichado,\nP,ra faca e bala sarado,\nNão serás bom cangaceiro\n\n-4-\n\nFoi a casa de Macumba\nE elle fez o serviço,\nFeichou o corpo do rapaz\nP'ra bala, faca e feitiço,\nEntão disse a Lampeão:\nNão haverá valentão\nQue pise no teu toitiço.\n\nPrimeiro elle sujeitou-se\nA um processo ariscado,\nEm um caixão de defunto\nPassou uma noite trancado\nO feiticeiro o ungio\nE quando elle de lá saiu\nEstava de corpo fechado.\n\nEntão fez alvo do peito\nE o feiticeiro atirou,\nA bala batendo nelle\nSomente a roupa rasgou.\nCahiu no chão amassada\nE nem mesmo a dor da pancada\nAo heroe encommodou.\n\nDisse-lhe o velho Macumba:\nAgora podes brigar,\nBala não te fura o couro,\nFaca sò faz arranhar\nFeitiço não te offende\nE a policia sò te prende\nDepois que eu me acabar.\n\n-5-\n\nEmquanto eu vida tiver\nNão morrerás de desgraça\nCobra e cachorro doente\nRespeitarão tua raça\nDoença contagiosa,\nInda sendo perigosa\nPor tua casa não passa!\n\nPorem depois que eu morrer\nFicarás de corpo aberto,\nTudo pode acontecer-te\nDeverás andar alerto,\nPelos máos serás vencido,\nDeves viver prevenido\nQue a morte terás por certo.\n\nMacumba então preparou\nUm patuá de oração;\nBenzeu-as e amarrou-as\nN'um resistente cordão\nDeu um nò com muito esforço\nPendurando-as no pescoço.\nDo valente Lampeão\n\nDisse o feiticeiro a elle\nIsso, é p'ra te defender\nDos soldados de policia\nQue procuram te prender\nToda resa é valiosa\nMas a oração mais forçoza\nQue sei é a de S. Correr.\n\n-6-\n\nA oração de S. correr\nConsiste em seres esperto,\nTeres pernas resistentes\nPé ligeiro e pulo certo;\nNão quereres rezistir...\nTeres forças p'ra fugir\nAté sair do aperto.\n\nA oração de S. ligeiro,\nRezai se fores brigar;\nEssa oração é tão forte\nQue te ensina a pular;\nE faz bala não te romper\nCacete não te bater\nE faca não te furar.\n\nEssa oração consiste\nEm teres agilidade,\nSaberes dar grandes pulos\nCom muita velocidade;\nSó desempenha ella bem\nO cangaceiro que tem\nPericia e habilidade\n\nTodo o dia te encommendes\nAo velho S. Traiçoeiro,\nS. Brabo, S. Vigilante\nE a S. Escopeteiro,\nCom este, has de apr[e]nder\nA' munição não perder\nTeu tiro será certeiro.\n\n-7-\n\nEncommendar-se a S. Brabo,\nConsiste em ser valente,\nArroaceiro e perverso,\nAtrevido e insolente;\nOrar a S. Vigilante\nE' viver a cada instante\nPrompto para o accidente.\n\nOrar a S. Escopeteiro\nConsiste em ter a mão certa\nO indicador ligeiro\nVista boa e bem esperta\nOrar a S. Tariçoeiro\nE' ser sagaz e matreiro\nE ir sempre em hora incerta.\n\nTambem tenhas devoções\nCom santo Desconfiado,\nNão te esqueças de rezar\nPara o velho S. Cuidado.\nNão tenhas o ouvido môco,\nE ao velho S. Dorme Pouco,\nDeves ser afeiçoado.\n\nOrar a S. Dorme Pouco\nE' viver sempre acordado\nEnganando o proprio sono.\nA oração de S. Cuidado\nConsiste em viver activo,\nCom o olhar sempre vivo\nComo quem vive assombrado.\n\n-8-\n\nO sabio S. Cypriano\nSerá teu advogado\nDeves aprender com elle\nA viver bem preparado,\nContra os laços do feitiço\nE nunca farás serviço\nQue possa ser desmanchado.\n\nA magica do gato preto\nAo teu corpo ella encanta,\nEssa magica é tão forte\nE e sua força é tanta\nQue fazendo-a o inimigo\nInda te vendo em perigo\nContra ti não se levanta.\n\nSe fizeres essa magica\nFicas de ser visto isento\nTu vês e ninguem te vê\nAdivinhas pensamento\nPassarás nas emboscadas\nPorque de todas ciladas\nTu terás conhecimento.\n\nExecutando essa magica\nPoderás adivinhar\nOs planos dos inimigos\nE delles te desviar\nElla te mostra tambem\nA policia aonde vem\nE ensina a te encantar.\n\n\n-9-\n\nLampeão resolveu logo [\"Lampeão\" em itálico]\nDos intrigados dar cabo\nE sahiu de ali peior,\nDo que Roberto do Diabo, [\"Diabo\" em itálico]\nNão houve no Pageú,\noutro assassino tão cru\nE outro bandido tão brabo.\n\nJuntou seis feras humanas\nE logo um grupo formou,\nA' frente desses seis cabras\nMuita gente elle atacou...\nSeu intento era roubar,\nMas o instincto de matar\nNunca um instante o deixou!.\n\nO primeiro desses cabras\nE' fulo e mal encarado,\nNunca deu uma risada!\nNo dia que está damnado\nNão come nada nem falla\nNem mesmo a hyena o iguala\nO seu instincto malvado.\n\nEntra em fogo e não se queima\nPega corisco com a mão\nVidro ralado é p'ra elle\nUm excelente pirão\nSó bebe sangue de gente,\nMatta qualquer innocente\nSem raiva sem precisão.\n\n-10-\n\nO segundo é um negro,\nQue acode por Caçote [\"Caçote\" em itálico]\nEste, é uma onça na furna,\nUma officina de morte,\nSeu rifle não mente fogo,\nSeu punhal não perde o jogo,\nSeu facão não falha o corte!\n\nNo dia em que elle se zanga\nCome pedra e não se entala,\nFuma polvora com pimenta\nPor bolacha come bala!\nMatta a quem falar com elle\nE a tira até na mãe delle\nSe em sua frente encontra-la!.\n\nO terceiro é um mulato\nQue acode por Onça brava [\"Onça brava\" em itálico]\nEste cabra é mais valente\nDo que um touro na cava,\nQuando era ainda pequenino\nFoi tão perverso e \"traquino\"\nQue a todo mundo assombrava.\n\nPara este não existe\nNem afago nem carinho,\nDiz, que chumbo derretido\nP'ra elle é melhor que vinho,\nBebe sangue de serpentes\nMatta cobra com os dentes\nE da murro em porco espinho!.\n\n-11-\n\nO quarto é um caboclo\nQue acode por Violento [\"Violento\" em itálico]\nA carne do cururú\nE' o seu unico alimento\nEste quando está brigando\nParece um gato pulando\nE' ligeiro como o vento.\n\nO qninto é um mestiço\nQue atende por Goto brabo [\"Goto brabo\" em itálico]\nEste cabra tem pegado\nMuita Onça pelo rabo,\nE tem a cara tão feia\nQue é capaz de dar de peia\nAté no proprio Diabo. [\"Diabo\" em itálico]\n\nO sexto é um cabra fulo\nQue acode por Dragão, [\"Dragão\" em itálico]\nEste pegando um soldado\nArranca-lhe o coração,\nE sem do fogo ter medo,\nAssa-o na ponta do dedo,\nP'ra comel-o com pirão.\n\nEstas seis feras somente\nAttendem a Lampeão\nCumprem todas suas ordens\nSem nenhuma objecção'\nEsse grupo perigoso,\nE' hoje o mais temeroso\nQue existe em nosso sertão.\n\n-12-\n\nVoltando á casa paterna.\nJá achou seu pae enterrado,\nPor uma questão de terras.\nUm cabra o tinha matado.\nDisse elle aos dois irmãos.\nVamos lavar nossas mãos.\nNo sangue desse malvado.\n\nAgarraram o assassino.\nPicaram-o todo em pedaço,\nNão deixaram delle inteiro\nNem mesmo perna nem braço,\nOo tres d'ahi por diante,\nNão mais poderam um instante,\nAbandonar o cangaço\n\nConstituiram um grupo\nDe cangaceiros valentes,\nNos sertões da Parahyba.\nEram quasi residentes,\nForam á cidade de Souza\n-Fizeram ali, tanta couza\nQue assombraram os innocentes.\n\nDepois do ataque a Souza,\nO presidente do Estado,\nDa Parahyba, jurou\nQue seria eliminado,\nO grupo de Lampeão\nE creou mais um batalhão\nDe policia bem armado\n\n-13-\n\nO Coronel José Pereira\nChefe local em Princeza,\nPoz-se ao lado do Governo\nNessa perigosa empreza,\nPreparou seu pessoal.\nQue com a força estadoal\nFormou uma fortalesa.\n\nA força Parahybana\nCom os homens de Zè Pereira,\nAlcançou os lampeões [\"lampeões\" em itálico]\nOcultos n'uma pedreira,\nA policia matou trez.\nE ali ficou desta vez\nMorto o tal Chico Ferreira.\n\nChico Ferreira era um,\nParente de Lampeão\n-Fugiram os outros deixando\nAbandonados no chão,\nTrez mortos e dois feridos\nTambem foram aprehendidos\nAnimaes e munição.\n\nLampeão jurou vingar-se\nDo Coronel Zé Pereira\nPor ter seus cabras matado,\nSeu primo Chico Ferreira.\nE disse: p'ra me vingar,\nVou agora incendiar\nSua fazenda em Pesqueira.\n\n-14-\n\nE queimou duas fazendas\nMatou os vaqueiros e o gado,\nRoubou o que poude e mandou\nAo Coronel um recado,\nDizendo: cuide na vida,\nQue eu ando em sua batida\nComo um cachorro damnado.\n\nAos sertões da Parahyba\nLampeão não mais voltou, [\"Lampeão\" em itálico]\nE o Estado de Pernambuco\nCom seu grupo atravessou,\nInternou-se em Alagoas\nOnde fez collectas boas\nMuito dinheiro roubou.\n\nNa povoação de Custodia.\nA dose de Fevereiro\nVirgolino Lampeão\nEntrou com seu grupo inteiro\nDe vinte quatro bandidos\nTodos elles previnidos\nDe munição e dinheiro.\n\nDa quella povoação\nLampeão se retirou,\nE bem perto de Buique\nA um fazendeiro atacou\nHouve então debates fortes.\nDepois de haver oito mort[e][o]s.\nLampeão tudo roubou.\n\n-15-\n\nApenas um cangaceiro\nNessa lucta foi ferido.\nDe ahi foi a Paulo Affonso\nElá, quase encontra marido, [\"marido\" em itálico]\nPela força Alagoana.\nQue na lucta é deshumana\nSeu grupo fora batido.\n\nLampeão levava o plano\nDe saquear a cidade\nMas apolicia atacou-o,\nCom grande ferocidade\nHouve uma lucta tremenda,\nPorem depois da contenda,\nVenceu a legalidade.\n\nLampeão correu, deixando\nQuatro bandidos no chão.\nDentre esses estavam mortos,\nO Chá preto e o Azulão\nOs outros dois bem feridos\nForam logo apreendidos\nE mettidos na prisão.\n\nAs forças Parahybanas\nQue a trez mezes procuravam\nO grupo de Lampeão\nJá no rasto delle andavam.\nDo Estado pernambucano\nEntraram no alagoano\nOnde os lampeões estavam. [\"lampeões\" em itálico]\n\n-16-\n\nDa policia parahybana\nQuarenta e cinco soldados,\nQue por dois bravos tenentes\nEram então comandados,\nCairam numa emboscada\nPor Lampeão preparada\nSendo alguns assassinados.\n\nOs tenetes Joaquim Adaucto\nE Francisco de Oliveira\nDois officiaes que honraram\nSempre a farda Brasileira,\nPor serem mui destimidos\nEram sempre escolhidos\nPara a columna primeira.\n\nNo lugar Serrote Preto\nDo Estado Alagoano\nO bandido Lampeão,\nConcebeu o horrivel plano,\nDe emboscar nossa policia\nE executou com pericia\nSeu projecto deshumano.\n\nTinha uma casa velha,\nQue estava deshabitada,\nNo encosto de uns serrotes\nBem na margem da estrada,\nPelo terrivel bandido\nFoi esse canto escolhido\nPara a sinistra emboscada.\n\n-17-\n\nLampeão muito perito\nDividiu a cabroeira,\nNa casa e nos serrotes\nPreparou sua trincheira,\nE de lá dando noticia,\nFoi atrahindo a policia,\nQue caiu na ratoeira.\n\nO Tenente Joaquim Adaucto.\nDisse ao Tenente Oliveira:\nElles estão entrincheirados\nVamos cercar a trincheira.\nApolicia de Pernambuco,\nDisse! Quem for è maluco\nPois terá morte certeira.\n\nMas os dois bravos tenentes,\nQue nunca tiveram medo,\nDisseram: avante soldados!\nVamos cercar o rochedo:\nLampeão agora ou corre,\nOu se entrega preso ou morre,\nOu será pegado a dedo.\n\nEram seis horas da tarde.\nHora em que reina a tristeza,\nHora em que a noite veste\nCom seu manto, a natureza\nHora em que no coração\nDo assassino e ladrão.\nExiste maior fereza!...\n\n-18-\n\nQuando apolicia avançou\nP'ra casa velha cercar\nDa trincheira os lampeões [\"lampeões\" em itálico]\nComeçaram a atirar\nE com uma bala certeira\nAo tenente Oliveira\nConseguiram assassinar.\n\nCairam mais seis soldados,\nTres mortos e tres feridos!...\nO tenente Joaquim Adaucto.\nNotou que estavam perdidos,\nE mandou que os soldados,\nRecuassem desfileirados\nPara longe dos bandidos.\n\nMas um nova descarga\nDo grupo de Lampeão.\nDeixou Adaucto e mais quatro,\nSoldados mortos no chão,\nAforça então recuou\nE o grupo se despersou\nFugindo nessa occasião.\n\nP'ra cidade de Paulo Affonso.\nForam os feridos levados,\nAli, alguns escaparam,\nOs mortos foram enterrados,\nSeis mortos e dois ferido.\nCairam então dos bandidos.\nSendo por esses levados!...\n\n-19-\n\nLampeão com o seu grupo\nPara bem longe arribou,\nE na serra do Araripe,\nUma fortaleza achou\nToda feita de granito\nEm um lugar esquisito\nOnde elle se arrancho. [\"u\" escrito a lápis depois de \"arrancho.\"]\n\nDo pè da serra ao local\nOnde se acha a fortaleza,\nMedia umas cinco legoas,\nTendo do forte a defesa\nDe serras mui despenhadas,\nPonteagudas e escarpadas,\nOnde é bruta a natureza.\n\nNão ha estrada ou caminho\nPor onde possa la ir\nUma creatura humana,\nLampeão pode subir\nCom o seu grupo completo\nPor um caminho secreto\nQue conseguio descobrir.\n\nMargeando a Serra ao Norte\nPassa um rio caudaloso\nQue a braço não se atravessa\nPor ser bravo e magestozo\nE devido ás cachoeiras\nEm embarcações ligeiras\nNinguem vai que é perigozo.\n\n-20-\n\nPelo lado do poente,\nCom trinta legoas distante\nAlguem poderá subir,\nMas, não consegue ir adiante\nPorque mil féras malvadas\nEstão ali preparadas\nP'ra matar o viajante.\n\nPelo lado do nascente\nO Sertão é descampado\nVai-se atè o pé da serra\nMas Fica-se ali parado\nSentindo pavor e mêdo\nSó em olhar o rochedo\nIngreme e alcantilado.\n\nAo sul da fortaleza,\nCom magestoza espessura\nEstende-se um grande bosque\nTapisado de verdura\nBem perto de um coqueiral\nExiste um manancial\nD'agua christalina e pura\n\nQuando Lampeão com os seus\nAli, conseguio subir\nEncontrou-se com uma tribu\nCom quem procurou se unir\nEsses indios o guiaram,\nE depois o ajudaram\nA um subterraneo abrir.\n\n-21-\n\nAos caboclos valentes\nElle ensinou a atirar;\nElles todos lhe obedecem,\nFazem o que elle mandar\nConhecem da guerra os pontos,\nP'ra defendel-o estão promptos\nQuando elle precizar.\n\nVive a tribu preparada\nP'ra a qualquer hora brigar;\nE se um batalhão de policia\nAo pé da serra chegar\nSerá logo derrotado\nNão voltará um soldado\nPara a historia contar\n\nE se do subterraneo\nAlguem achar a entrada\nNão penetrará porque\nA passagem é povoada\nPor animaes perigosos\nPeçonhntos, venenozos\nDe ferêza illimitada.\n\nLogo na bocca da gruta\nExistem muitas serpentes\nTão bravas e venenosas\nQue assombram todos viventes\nCausando medo e pavor;\nE nas furnas [d]o interior\nVivem Onças mui valentes.\n\n-22-\n\nSe um exercito conseguir\nEsses perigos vencer\nTranspondo o subterraneo\nLeve por certo morrer;\nDe ali, não voltar ninguem\nPorque os caboclos têm\nForça para o abater.\n\nInda que alguem vença os indios\nNão se pode aproximar\nDa fortaleza onde elles\nEstão promptos p'ra luctar\nQuem for lá arrasta a mala\nE Lampeão recebe á bala\nQualquer um que lá chegar.\n\nLampeão dentro do forte,\nSó tem vinte companheiros,\nSão vinte feras humanas\nVinte Lobos carniceiros,\nNinguem se compara a elles,\nLampeão na frente delles\nE' o rei dos cangaceiros.\n\nO primeiro desses cabras\nE' Levino seu parente,\nFiscalisa o pessoal,\nE é seu lúgar-Tenente [\"lúgar-Tenente\" em itálico]\nParece calmo porem\nO diabo dentro tem!\nE luctando é uma serpente.\n\n-23-\n\nElle ensinou a seus cabras\nA comer de mez em mez,\nBeber agua por quinzena\nDormir no anno uma vez\nE mesmo sem estar zangado,\nAtirar em um soldado\nE derrubar dezeseis!...\n\nLampeão estava um dia\nSozinho na fortaleza\nQuando apareceu-lhe um negro\nE lhe disse de surpreza:\n-Virgolino, se és valente,\nEstaes com o diabo de frente,\nProcura tua defeza.\n\nLampeão lhe respondeu:\nMinha defeza é meu rifle;\nE você saia da frente\nSe não quer que eu lhe espatife\nCom uma bala no coração,\nE depois com meu facão\nDo seu corpo faça um bife.\n\nEntão respondeu-lhe o negro:\n-O Senhor não me respeita?\nFala-me por essa forma;\nSua cama já está feita;\nEstás por acaso sonhando;\nOu pensa[s] que estou brincando.\nEstarás na nova aceita?\n\n[Nota: \"luta com o diabo\" escrito a lápis à esquerda na página]\n\n-24-\n\nNem estou na nova seita,\nNem com você estou brincando;\nEstou disposto para a lucta,\nO que posso fazer não mando.\nE você dicida logo,\nPorque na banca que eu jogo\nMuleque não sai ganhando.\n\nAhi, o negro partiu\nE disse vamos a ella\nVocê hoje vai commigo \nJá deixei prompto a panella;\nVou comer-te em panelada,\nDo facto faço buxada\nE do sangue cabidella.\n\nLampeão atirou nelle\nMas quando a bala partiu,\nNa bocca o negro aparou-a\nCuspiu-a fora e sorriu.\nE disse: bala p'ra mim\nE' comida de festim,\nFoi quem sempre me nutriu\n\nEntão elle com o punhal\nTentou furar o diabo\nPorem a ponta da arma\nEnvergou até o cabo\nSem que lhe arranhasse o couro,\nSatanaz por desaforo,\nDeu-lhe uns cascudos com o rabo.\n\n-25-\n\nLampeão hi benzeu-se\nE chamou por S. Cypriano,\nDizendo ao santo livre-me\nDesse negro deshumano;\nDisse o diabo com espanto:\n-Não precisa chamar santo\nPorque já mudei de plano.\n\nAcalma-te Lampeão\nQue não mais te ofenderei,\nMachòca esses quatros dedos\nQue teu amigo serei;\nDesejo ser um teu socio\nVamos entrar em negocio\nPois eu te protejerei.\n\nDe assassino como tú\nTenho eu muita precizão,\nPorque daquelles que matas\nEu recebo o meu quinhão,\nPreciso a ti, me alliar,\nPor tanto podes contar\nCom a minha proteção.\n\nLampeão lhe respondeu:\nAcceito o offerecimento.\nPode propor seu negocio\nQue eu não sou de fingimento\nQualquer negocio eu acceito\nO que eu fiz[er] fica feito\nE o que eu disser sustento.\n\n-26-\n\nDisse o diabo: A proposta\nQue eu te venho fazer,\nE' p'ra me dares um calix\nDe teu sangue p'ra eu beber\nE levar delle um signal\nPara o velho maioral\nQue tudo pode fazer.\n\nEstou prompto, tire-me o sangue\nRespondeu-lhe Lampeão.\nE o diabo com a unha\nFurou-o perto do vão\nTirou lhe o sangue e bebeu\nUma parte, outra escondeu\nNo fundo do matulão.\n\nDisse o diabo a Lampeão\nNosso pacto setá formado,\nTerás o que desejares\nSem seres encommodado\nE se em perigos caires\nNão precisa te afligires\nQue estarei sempre a teu lado.\n\nEm quanto tiveres vida\nTeu corpo defenderei\nE no dia em que morreres\nA tu'alma levarei\nPara o meu reino inf[a][e]rnal\nOnde impera o maioral\nA quem sempre servirei.\n\n\n-27-\n\nDisse o Diabo: De hoje em diante\nCaro amigo Lampeão,\nSeguirá os meus conselhos\nCom toda exatidão,\nNão saberás perdoar,\nPorque roubar e matar\nSerá tua profissão!...\n\nLampeão disse-lhe as clauzulas\nDo contracto eu cumprirei,\nMas, não deixe que me prendam\nE espere que matarei\nPelo menos uns quinhentos\nE para lá, uns dois centos,\nDe almas lhe mandarei\n\nO Diabo hi, sorriu\nE disse: Bravo amigo,\nNão te lembres de ser preso\nPorque estarei comtigo.\nP'ra defender-te da morte,\nDar-te sempre bôa sorte\nE te livrar de perigo.\n\nVou ensinar-te as minhas regras\nDar-te um conselho maduro;\nRegras estas que serão\nTua guia no futuro\nSò a mim terás firmeza\nE o condão da riqueza\nTu terás na mão seguro.\n\n-28-\n\nNão entrarás na egreja,\nFugirás da confissão\nA calunia e a falcidade\nTù terás por divisão\nOrações não resarás,\nE por santos não chamarás\nNem que tenhas precisão.\n\nOs bens dos ricos pertencem\nAquem os poder furtar,\nPor tanto é feliz aquelle\nQue rouba até enricar,\nSerás ladrão e humicida\nPois sò deixarás com vida\nO que não poderes matar.\n\nLampeão disse: collega\nVá embora descansado,\nQue o pacto que fisemos\nPor mim será executado,\nO diabo se retirou,\nE a fortaleza ficou\nFedendo a chifre queimado.\n\nVirgolino ao ficar só\nDisse agora eu vou caçar\nMatar mocós nessas furnas\nP'ra quando o grupo chegar\nO pitéu estar preparado,\nPois quem chega fatigado,\nTem precisão de jantar.\n\n[Nota: \"caça\" escrito à mão à esquerda da quarta estrofe]\n\n-29-\n\nEntrou numa grande furna,\nE dentro ouvio um rugido.\nFoi o ronco d'uma tigre\nQue o deixou aturdido;\nO rifle apertou na mão,\nPorem nessa ocasião\nFoi pela fera agredido.\n\nDeu inda um tiro na tigre\nQue sobre elle se lançou,\nE deu uma tapa no rifle\nQue bem longe o atirou;\nO monstro não foi ferido,\nE quando ouvio o estampido\nMais assanhada ficou.\n\nElle pulou para traz\nE da garruncha puchou,\nPorem no mesmo momento\nQue um tiro lhe desparou,\nPor meio de outra bofetada\nA arma lhe foi tomada\nE desarmado se achou.\n\nPulou p'ra traz novamente,\nPuchou da cinta um punhal,\nE apertou-o na mão\nCom uma ira infernal;\nManejou ligeiro o braço,\nMas só furava o espaço\nE errava sempre o animal.\n\n\n[Nota: \"boa descrição\" escrito à mão à direita da primeira estrofe]\n\n-30-\n\nA Onça era tão ligeira\nComo uma exalação;\nLampeão sempre pulando\nMal sentava os pés no chão.\nNão conseguia fura-la\nPorem somente em mata-la\nEstava a sua salvação.\n\nPulou para traz, e o chapèo\nNuma das mãos segurou\nE quando a Onça partiu\nElle os olhos lhe tapou\nE marcando-lhe o pé da guella\nSeu punhal enterrou nella\nE dentro a arma deixou.\n\nA tigre ao ver-se ferida\nUm enorme salto deu\nE por cima d'um lagêdo\nO corpo em cheio estendeu\nE mortalmente ferida\nRugindo enraivecida\nAli mesmo ella morreu.\n\nLampeão de novo armou-se\nE continuou a caçada!\nMatou uns vinte mocòs,\nUma paca e um queixada,\nNa fortaleza os guisou\nE quando o grupo chegou\nHouve uma festa animada.\n\nEDIÇÕES\n-DA-\nPOPULAR EDITORA\n\nLivros com grandes descontos\npara os revendedores\n______________________\n\nPoesias Escolhidas-3. edição 3$000\nHist. Completa de Alonso e Marina 2$000\nHist. Completa de Antônio Silvino 1$500\nHist. do Testamento de Cancão de \n Fogo 1$500\nHist. da Donzella Theodora e Por-\n cina 1$000\nHist. de João da Cruz 1$000\nHist. de Rosa e Lino 1$000\nHist. de Esmeraldina-Traição e\n Vingança 1$000\nHist. completa de Carlos Magno em\n versos 1$000\nHist. de Pedro Malazarte 1$000\nHist. da India Necy 1$000\nHist. do Sertanejo Zé Garcia 1$000\nHist. da Noiva Engeitada 1$000\nGrande Peleja de Joaquim Francis-\n co com o Demonio $500\nHist. Completa de Lampeão conten-\ndo o Fechamento do Corpo e o \n Pacto com o Diabo $500\nA Orphã Abandonada $500\nO Capitão do Navio $500\nPelejas de Cantadores $500\nHist. de Carlos e Celina $500\n\n-32-\n\nZezinho e Mariquinha $500\nPeleja de Romano com Carneiro\n e Martello de Chico Arranca\n Toco com João Gallo Brabo $300\nPeleja de Silvino Pirauá com Zé\n Duda $300\nDefesa do Padre Ibiapina $300\nHist. de Pedro Cem $300\nA Revolução de S. Paulo, Sergipe e\n Pará $300\nO Fim da Revolução e o Feicha-\nmento do Corpo de Lampeão $300\nHist. de Juvenal e Zulmira $300\nHist. do casamento do Rato com a\n Catita e do Sapo $300\nDesgraças de um Desgraçado $300\n______________________________________\n\nNOTA-A Popular Editora, [\"Nota\" em itálico]\nacceita encommendas de impressões\nde livros e folhetos por preços ba-\nratos.\nVende com grandes descontos,\nLivros de toda a qualidade e accei-\nta encommendas de impressões de\ntoda qualidade.\n\nPOESIAS POPULARES\n\nA Historia do Capitão Lampeão\n\nDesde o seu primeiro crime até\na sua ida a Joazeiro\n\n[Ilustração]\n\nPREÇO 1$000\nEditor Proprietário F. C. Baptista Irmão [\"F. C. Baptista Irmão\" em itálico]\nTyp. da POPULAR EDITORA-Rua da Republica, 384-Parahyba\n\nComo Lampeão tomou pacto com o\nDiabo dando-lhe o sangue das suas veias\n\n[Ilustração]\n\nLeiam com attenção os conse-\nlhos que o Diabo deu a Lampeão."
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-073",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Os Decretos de Lampeão - Como Elle [ele] foi Cercado pela Policia Parahybana [paraibana] em Tenorio, onde Morreu Levino Ferreira, seu Irmão. / A Morte do Inspector [inspetor] de Santa Ignez / O valente Vilella",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Paraíba [PB]",
"Data": "28/08/1925",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "Autoria dos textos atribuída a Francisco das Chagas Batista. Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=928%3Achagas-batista&catid=38%3Aletra-c&Itemid=1. Acessado em 11 de abril de 2016 às 14:40h.",
"Observacoes": "Xilogravura \"retrato do grande cangaceiro Lampeão (sic.) governador do Sertão\", na contracapa. Numeração manuscrita na capa: \"73",
"Palavras-chave": "Lampião; Antonio Silvino; decreto; lei; sertão; cabras; sertanejo; fazendeiro; rifle; cangaceiros; valentão; Vilella;",
"Tema": "Histórias dos feitos de Lampião; História de Vilella",
"Tecnica": "Xilogravura",
"Texto": "POESIAS POPULARES\n\nOs Decretos de Lampeão\n\nComo elle foi cercado pela policia\nParahybana em Tenório, onde morreu Levino Ferreira, seu irmão.\n\nA morte do inspector de Santa Ignez\n\nO VALENTE VILELLA\n\nPreço . . . 400 reis\n\nEDITOR PROPRIETARIO\n\n-<< F. O Baptista Irmão >>-\nRua da Republica n.584\nParahyba do Norte \n28/8/925\n\n\n[Em branco]\n\nOs Decretos de Lampeão\n\nComo elle foi cercado em \"Tenório\" e a \nmorte de seu irmão Cevino Ferreira\n\nEstá preso Antônio Silvino\nPorém ficou Lampeão\nGovernando pelas armas\nO nordestino sertão;\nE agora elle publicou,\nDois Decretos que baixou\nDa sua legislação.\n\nDiz o primeiro decreto\nNo seu artigo primeiro:\n- Todo e qualquer sertanejo,\nNegociante ou fazendeiro,\nAgricultor ou maturo,\nTem que pagar o tributo\nQue se deve ao cangaceiro.\n\nNo paragrapho primeiro\nDesse artigo elle restringe\nA lei somente aos ricos\nDizendo: - a lei não attinge\nAo pobre aventureiro\nPois quem não possue dinheiro\nDiz que não tem e não finge.\n\n- 2 -\n\nO decreto numero dois\nFixa em trinta cangaceiros\nO Grupo de Lampeão\nDiz nos artigos primeiros:\n- Preciso de trinta cabras;\nTrinta figuras macabras;\nTrinta lobos carniceiros...\n\nSó quero cabras que tenham\nMenos de vinte e seis anos;\nQue conheçam palmo a palmo\nOs sertões pernambucanos\nQue possúam pernas boas\nConheçam bem Alagôas\nE os sertões parahybanos. \n\nSaibam manejar o rifle\nSejam bons escopeteiros.\nDefendam os oprimidos\nTirem só dos fazendeiros;\nPersigam os traidores\nNão perdoem os opressores\nSejam peritos guerreiros.\n\nQuando o Jornal do Recife \nO Decreto publicou,\nO Grupo de Lampeão\nEm um mez se completou;\nE no estado pernambucano,\nSeu decreto soberano\nTodo mundo respeitou.\n\n- 3 - \n\nLampeão requisitou\nBrim kaki para fardar\nA todos os cangaceiros,\nE depois de os municiar\nSeguio seu féro destino\nDe ladrão e assassino\nContinuando a matar\n\nOs sargentos José Guedes\nE Cicero de Oliveira\nDa força parahybana.\nPolicia forte e guerreira\nPerseguiram Lampeão\nE tiveram ocasião\nDe cercar-lhe a cabroeira. \n\nFoi na fazenda \"Tenório\"\nNo estado pernambucano\nNa noite do dia quatro\nDe Julho do corrente anno.\nDeu-se esse ataque renhido,\nE ali o grande bandido\nPerdeu Levino seu mano.\n\nCommandavam os dois sargentos\nSomente vinte e três praças\nVinte e três parahybanos\nQue não temem as desgraças\nLampeão, forte e valente\nResistiu heroicamente\nCommandando seus comparsas\n\n- 4 - \n\nQuando o sargento Zé Guedes\nViu o tenene Oliveira\nMorto no Serrote Preto,\nFez uma cruz de madeira\nAjoelhou-se e jurou:\nDizendo a quem te matou\nEu darei morte certeira.\n\nOliveira fôra morto\nPelo bandido Levino\nQue em \"Tenório\" se achava\nAo lado de Vergulino,\nApesar da noite escura\nZé Guedes cumpriu a jura\nMatando aquelle assassino.\n\nEm um combate sangrento\nMais de dez horas durou\nQuando o dia amanhecia\nA \"Tenório\" então chegou\nUma força pernambucana\nQue a força parahybana\nMuito ali auxiliou.\n\nE devido a confusão\nQue entre as forças se deu\nLampeão fugiu deixando\nMorto num companheiro seu\nE Levino foi conduzido\nNuma rêde tão ferido\nQue no outro dia morreu\n\n- 5 - \n\nLampeão feriu na lucta\nO valoroso sargento\nCicero de Oliveira\nQue devido ao ferimento,\nDias depois falleceu,\nComo seu irmão morreu\nSem fugir do acampamento.\n\nLampeão depois da lucta\nFoi pra sua fortaleza\nDescançar a cabroeira\nE artectar nova empresa\nAgora amarrou o guiba\nE no Estado da Parahyba\nVeio fazer uma surpresa.\n\nNa fazenda Santa Ignez\nDo termo de Conceição\nResidia um sertanejo\nInspector de quarteirão,\nQue fôra gratificado\nPor que já tinha atado\nDois cabras de Lampeão.\n\nLampeão cercou-lhe a casa...\nO Inspector resistiu!...\nPorém nos primeiros tiros\nAssassinado caiu\nLampeão matou-lhe o gado\nIncendiou-lhe o cercado\nE sua casa destruiu.\n\n- 6 - \n\nLevou bastante dinheiro\nDo termo de Conceição\nE com sua cabroeira\nAtravessando o sertão,\nFoi para o Cariry Novo\nOnde elle é amigo do povo\nE não teme perseguição.\n\nHistoria do valente Vilella\n\nTrato d'um caso notário,\nNotável de se adular;\nD'um valentão que havia\nAgora vou relatar,\nMorava no alto sertão\nDistante da beira-mar.\n\nOnde este homem morava\nNão se fazia pogodes,\nE a feição deste homem\nEra igual a de Herodes;\nTinha um palmo de peira\nE um e meio de bigodes!\n\nDirigiu-se um alferes\nCercado de muita gente\n- Hoje o valentão do mundo\nTrago inquirido na frente\nQue eu nunca cerquei homem\nP'a elle ficar contente! \n\nE apressado ajunto\nSua afamada escolta\nNo sahir foi avisado;\n\n- 8 -\n\n- Muitos vão e nem um volta,\nO homem lá não se entrega,\nPode contar com a derrota!\n\nA tropa ao ver a casa,\nPara diante arrancou,\nPela frene e por trazeiras\nTodos os beccos tomou,\nE como era necessário\nO delegado fallou:\n\n- Vilella, componha a casa,\nQuero fazer diligencia,\nNão queira se exagerar\nCom actos de resistência,\nQue o preso tambem se solta,\nTenha a santa paciencia.\n\n- A minha casa cercada?\nSim senhor! Já me debaro.\nEu sei que aqui vieram\nFoi apuz de meu sucaro\nQuero porém que me diga:\nCom quantos me arrodiaro?\n\nO delegado falou\nComo alferes de couraça:\n- Você está arrodeado\nPor 180 praças;\nMe renda as armas, Vilella,\nSe não quer ver a desgraça!\n\n\n- 9 -\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]\n\n[Em branco]"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-077",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Os Revoltosos do Nordeste / A Hecatombe de Piancó e a Morte do Padre Aristides / Os Novos Crimes de Lampeão (sic)",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "João Pessoa, PB, Parahyba do Norte",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "-",
"Folhas": 10,
"Notas": "Autoria dos textos atribuída a Francisco das Chagas Batista. Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=928%3Achagas-batista&catid=38%3Aletra-c&Itemid=1. Acessado em 11 de abril de 2016 às 15:30h.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"77",
"Palavras-chave": "Revoltosos; rebeldes; capital; resistência; governo; soldados; Lampião; bandidos; sertão; cabras; sangue; capitão; tiros;",
"Tema": "Revoltosos do Nordeste; Histórias dos feitos de Lampião",
"Tecnica": "",
"Texto": "[Capa]\n\nPOESIAS POPULARES\n\nOs Revoltosos no Nordeste\n\nA HECATOMBE DE PIANCÓ E A\nMORTE DO PADRE ARISTIDES\n\nOs novos crimes de Lampeão\n\nPREÇO . . . . . 400 reis\n\nEDITOR PROPRIETARIO\nF. C. Baptista Irmão\nPOPULAR EDITORA - R. da Republica, 584\nParahyba do Norte\n\n[Em branco]\n\nOs revoltosos no Nordeste\nA hecatombe de Piancó e a morte\ndo Padre Aristides\n\nIzidoro e João Francisco\nOs chefes da revolução,\nFugiram para o extrangeiro,\nLevando mais de um milhão,\nLá brigaram porque ambos\nQueriam o maior quinhão!\n\nO Coronel Luiz Prestes,\nGuiando os rebeldes sae,\nDo Paraná e Matto Grosso,\nAtravessa o Paraguay\nE segue rumo ao Norteste\nOnde a Esperança o atrae.\n\nAtravessaram os rebeldes\nO Estado de Minas Geraes,\nBahia e Pernambuco,\nCom escala por Goyaz,\nPassando nesses Estados\nPor longe das Capitaes.\n\nDe Goyaz os revoltosos\nPassaram p'ra o Maranhão,\nInvadindo Carolina\nCidade do alto Sertão,\nMarchando sempre em columnas\nSem temer perseguição.\n\n\n- 2 -\n\nProseguindo em avançadas\nVinham as columnas guerreiras\nAtravez de Grajanhú,\nBarra de Corda e Pedreiras,\nMas destas ultimas cidades\nRecuaram as carreiras.\n\nPara cortar a vanguarda\nDa columna revoltosa,\nO governo concentrou\nUma força poderosa,\nNo Estado do Maranhão\nQue era a zona perigosa.\n\nPerdendo sempre nas luctas\nMuita gente e munição,\nOs rebeldes recuaram,\nSahiram do Maranhão,\nCobrando imposto de guerra\nDe toda população.\n\nNo Estado de Piauhy\nOs rebeldes se apossaram,\nDe muitas localidades\nE a capital assaltaram,\nMas foram mal succedidos\nTodos seus planos falharam.\n\nDurante bem 15 dias\nDe cerrado tiroteio,\nThererina resistiu\n\n- 3 -\n\nRespondendo ao bombardeio,\nMas a columna rebelde\nFugiu não teve outro meio.\n\nComo veem os leitores,\nTherezina resistiu,\nDuas semanas a fio\nMas dali ninguem fugiu!\nOs revoltosos recuaram\nE a cidade não cahiu.\n\nO capitão Juarez Tavora,\nAli foi prisioneiro,\nCom o capitão Paulo Cunha\nSeu ousado companheiro\nAmbos foram escoltados\nPara o Rio de Janeiro.\n\nO Bispo de Piauhy\nD. Severino Vieira\nVendo o Estado Piauhyense\nBanhando em grande sangueira,\nSaiu qual medidor,\nAtraz da aguerrida bandeira.\n\nA sós com o seu secretario\nO Bispo conseguiu ir\nParlamentar com os rebeldes,\nE em nome de Deus pedir,\nPara o Exercito revoltoso\nDo seu Estado sair.\n\n- 4 -\n\nPelos chefes revoltosos\nO Bispo foi attendido,\nSeçaram as hostilidades\nAnte tão serio pedido,\nEntão foi o Ceará\nLogo depois invadido.\n\nPela serra do Ibiapaba\nNo Ceará penetraram,\nNa cidade do Ipú\nBom dinheiro arrecadaram,\nSeguiram p'ra Crateús\nOnde não se demoraram.\n\nDa villa de Crateùs\nNão poderam se apossar,\nEncontraram resistencia,\nResolveram então passar\nA Pereiro e Miguel Calmon\nQue conseguiram tomar.\n\nDeixando Miguel Calmon\nA linha ferrea arrancaram,\nForam a Riacho do Sangue\nOnde bem se demoraram,\nE defrontando os legalistas\nPor 2 vezes luctaram.\n\nDahi seguiram os rebeldes\nP'ra o Rio Grande do Norte,\nEncontraram em S. Miguel\n\n- 5 -\n\nUma resistencia forte,\nCaindo a villa afinal\nDepois de haver muita morte.\n\nSão Miguel foi defendido\nPor 25 soldados\nDo Rio Grande do Norte\nPoliciaes denodados\nQue luctaram 8 horas\nSendo por sim derrotados.\n\nNo povoado S. Miguel,\nQuando rebeldes entraram,\nAs casa commerciaes\nQuasi todas saquearam\nDepois os melhores predios\nDo logar incendiaram.\n\nRumando a Villa Luiz Gomes\nDeixaram então S. Miguel,\nPenetraram no logar\nComo pombinhas sem fel,\nPorque onde não ha resistencia\nO rebelde não é cruel.\n\nNa Villa de Luiz Gomes,\nTres dias se demoraram,\n-Invadiram Páo dos Ferros\nMas na Villa não entraram.\nFoi quando da Parahyba\nPara as fronteiras marcharam.\n\n- 6 -\n\nO Tenente Souza Dantas\nUm revoltoso evadido,\nCom o Tenente Serôa\nAviador destemido,\nQuizeram nos assaltar\nMas o plano foi perdido,\n\nJunto a quatro marinheiros\nE um rapaz estudante,\nArmados com dinamyte\nPlanearam um levante,\nMas o Dr. Suassuna\nNão os deixou ir adiante.\n\nFoi a 5 de Fevereiro\nDeste anno de 26,\nO Tenente Francelino\nCercou todos de uma vez\nHouve serio tiroteio\nPorem elles foi o revez.\n\nDepois de os interrogar\nO governo os enviou,\nPresos para Pernambuco\nOnde uma escolta os levou,\nForam todos castigados\nPorque o levante abortou.\n\nO Estado da Parahyba\nOs rebeldes atravessaram,\nMas foi tal a resistencia\n\n- 7 -\n\nDa policia que encontraram,\nQue só de uma cidade\nFoi que elles se apossaram.\n\nDe Souza, Pombal e Patos\nForam elles repellidos\nTomaram alguns povoados\nQue estavam desguarnecidos,\nEntão para e Piancó\nAvançaram destemidos.\n\nAo chefe Padre Aristides\nMandaram uma embaixada\nDizendo que iam passar,\nSem offenderem a nada,\nO Padre lhe respondeu\nQue teriam franca entrada.\n\nPorem desse accordo o Padre\nNão transmittiu a noticia\nAos dois tenentes que estavam\nNo commando da Policia\nE que deffendiam a villa\nCom heroismo e pericia.\n\nO dois bravos officiaes\nAntonio Benicio e Marinho,\nReuniram os seus soldados\nE foram devagarinho,\nAtucalhar os rebeldes\nNuma volta do caminho.\n\n- 8 -\n\nUm official revoltoso\nCom 25 soldados,\nCairam na emboscada\nE foram assassinados,\nCom este facto os rebeldes\nFicaram exasperados.\n\nSabendo o coronel Prestes\nDa morte do companheiro,\nFallou ás hostes rebeldes\nNum gesto audaz de Guerreiro:\nVamos! Avancem! Vingança!\nQuero ver tiro certeiro.\n\nSupondo-se atraiçoados\nRomperam fogo sem dó\nEntão banharam de sangue\nO sólo de Piancó,\nJuraram matar os chefes\nE não pouparam um só.\n\nDepois de oito horas de fogo\nSem uma interrupção,\nTendo a Policia esgotado\nToda a sua munição,\nFez-se ao largo em retirada\nComo unica salvação.\n\nOs tenentes comprehenderam\nQue seriam imolados,\nE recuaram salvando\n\n- 9 -\n\nO resto de seus soldados,\nDeixando a villa entregue\nA Sanha dos revoltados.\n\nAo penetrarem os rebeldes\nNaquella localidade,\nAttearam fogo as casas\nE num requinte de maldade\nEspalharam a morte e o lucto\nSem compaixão nem piedade\n\nPrenderam o Padre Aristides\nDeputado Estadoal,\nSeu sobrinho José Ferreira\nO Tabellião local,\nE o Coronel João Lacerda\nPrefeito Municipal.\n\nAlém destes muitos outros\nTambem foram aprissionados\nE morreram todos elles\nA arma branca, -apunhalados!\n-Victimas fieis do Dever\n-Bravos, heróes, denodados!\n\nDepois da carneficina\nOs cadaveres amarraram\nNas caudas de seus cavallos\nE nas ruas os arrastaram\nAntes porem do dinheiro\nE das joias os despojaram.\n\n- 10 -\n\nEm seguida praticaram\nO roubo, o saque a pilhagem,\nDinheiro, viveres e roupas,\nTudo entrou na rapinagem\nSó depois de bem providos\nProseguiram a viagem.\n\nNos annaes de nossa historia\nA todos cansando dó\nHão de ficar sem iguaes\nOs crimes do Piancó.\nPois esta hecatombe horrivel\nNa historia ficará só.\n\nO Coronel Manoel Queiroga\nFazendeiro no Pombal,\nFoi feito prisioneiro\nMas não soffreu nenhum mal,\nDepois de mil peripecias\nFoi libertado afinal.\n\nSaindo do Parahyba\nA horda de malfeitores,\nFoi invadir Pernambuco\nPela cidade de Flores,\nMais foi grande a resistencia\nQue encontraram os invasores.\n\nO tenente Cleto Campello\nFez uma revolução,\nPrimeiro soltou os presos\n\n- 11 -\n\nDa cadeia de Jaboatão\nPrendeu um trem e seguiu\nP'ra Victoria ou Santo Antão.\n\nPassou em Moreno e Nathan\nDe onde levou armamento,\n-Em Victoria soltou os presos\nE prendeu o destacamento,\nSaqueou a collectoria\nE proseguiu seu intento.\n\nEm Gravatá de Bezerros\nForam a bala recebidos,\nMorrendo o tenente Cleto\nE mais quatro destemidos\nDos seus, os outros fugiram\nE estão sendo persegidos.\n\nOs novos crimes \nde Lampeão\n\nTodos chefes de bandidos\nDo nordestino torrão,\nObedecem a directriz\nDo coronel Lampeão,\n-Porque elle é o mais forte\nDessa nefanda cohorte\nQue infesta o alto Sertão.\n\n-12-\n\nLampeão mandou seis cabras\nNa policia se engajaram,\nAssentaram praça em Patos\nE depois de se fardarem,\nSeguiram p'ra diligencia\nMas a mão da providencia\nFez os seus planos falharem.\n\nUm soldado de policia\nQue conhecia os bandidos\nDeu parte ao commandante\nDos seis soldados fingidos,\nForam elles condenados\nE da Policia afastados\nPor crimes já commettidos.\n\nO plano desses seis cabras\nDe instinctos canibaes,\nEra matar da policia\nTres ou quatro officiaes,\nE depois de desertarem\nPara o grupo retornarem\nQuaes cangaceiros leaes.\n\nA perda desses bandidos\nEnfureceu Lampeão,\nQue pretendendo vingar-se,\nMatou um velho ancião,\nDe uma pobre familia\n\n-13-\n\nArrebentou-lhe a mobilia\nE queimou-lhe a habitação.\n\nDesde então o celerado\nA mais ninguem respeitou\nAté de algumas familias\nA honra elle maculou,\nE no termo de Cajazeiras\nEm Cipó e Catingueiras\nMuito sangue derramou.\n\nLampeão no Ceará\nDisse a um velho fazendeiro,\n-Eu pretendo em pouco tempo\nTer de cabras um milheiro,\nTenho de politica um plano,\nE o Estado pernambucano,\nConflagarei todo inteiro.\n\nSou o coronel Lampeão\nE no meu estado maior,\nO amigo Horacio Navaes\nUsa galões de major\nTem um capitão e dois tenentes\nE mais cem cabras valentes\nQue são do bom e melhor.\n\nNo districto de Cajazeiras\nPerto do lugar Tatús\nEm um casamento eu fiz\nOs noivos dansarem nús,\n\n-14-\n\nPintou-se o sete e o bode\nE no meio do pagode\nMandei apagar a luz...\n\nDepois encontrei 3 moças\nTodas da Escola Normal\nDe Cajazeiras, e um velho,\nDe aspecto paternal,\nAo velho eu amarrei\nE o que diz as moças não direi\nP'ra não ferir a moral.\n\nResolvi ultimamente\nP'ra Policia distrair\nPreparar-lhe emboscadas\nOnde a tropa vae cahir\nOs que assim eu for matando\nDe menos irão ficando\nPara vir-me perseguir.\n\nA força da Parahyba\nEm novembro eu embosquei\nA um sargento e um soldado\nDesta vez elliminei,\nE qual perito General\nFugi com os meus do local\nE outra emboscada armei.\n\nDividi meu grupo em dois,\nDe um assumi a chefia,\nE meu mano Antonio Ferreira\n\n-15-\n\nAo outro dirigia\nFicando então combinado\nSe um de nós fosse atacado\nO outro defenderia\n\nA cinco de Fevereiro,\nNo districto de Floresta\nNo logarejo São Braz\nHouve de bala uma festa,\nEu quasi que ia morrendo\nPorem ficaram sabendo\nLampeão p'ra quanto presta.\n\nNum predio desoccupado\nEu com meu grupo estava,\nDevertindo no baralho,\nE quando menos esperava\nO tenente Josè Hygino\nHomem valente e ladino\nA casa velha cercava.\n\nA força pernambucana\nTinha quarenta soldados,\nTraziam bom armamento\nVinham bem municiados,\nE foram o cerco apertando\nE sobre a casa atirando,\nNós ficamos sitiados.\n\nEntrincheirados meus cabras\nRespondemos sem tardança,\n\n-16-\n\nMeu mano Antonio Ferreira,\nOuvindo os tiros,-Avança!\n-E foi o que me valeu\nSeu grupo a tropa envolveu\nCerrou fogo e entrou na dansa.\n\nNotando o tenente Hygino\nQue tinha sido envolvido,\nQuiz recuar mais não poude\nPorque se achava ferido,\nDisse para os seus soldados\nMuitos delles baleados:\n-O combate está perdido!\n\nMas o tenente Optato\nQue vinha se aproximando,\nCom um troço de soldados\nFoi tambem na lucta entrando,\nE eu temendo morrer\nDisse aos meus: toca a correr!\nE cada um foi se salvando.\n\nCom o tenente Optato\nOutra vez nos encontramos\nElle tinha uma grande força\nCom ella nos defrontamos\nTravou-se combate forte\nDe parte a parte houve morte,\nMas a historia inda contamos...\n\n[Em branco]\n\n[Contra capa]\n\nEDIÇÕES\n-DA-\nPOPULAR EDITORA\nLivros com grandes descontos para\nos revendedores\n\nPoesias Escolhidas-3. edição 3$000\nHist. Completa de Alonso e Marina 2$000\nHist. Completa de Antonio Silvino 1$500\nHist. da Donzella Theodora e Porcina 1$000\nHist. de Rosa e Lino 1$000\nHist. de Esmeraldina-Traição e Vingança 1$500\nHist. completa de Carlos Magno em versos 1$500\nHist. de Pedro Malazarte 1$000\nHist. da India Necy 1$000\nHist. do Sertanejo Zé Garcia 1$000\nGrande peleja de Joaquim Francisco com\no Demonio $800\nOs Decretos de Lampeão $400\nHist. Completa de Lampeão contendo o Fe-\nchamento do Corpo e o Pacto com o Diabo $500\nHist. de Zezinho e Mariquinha $500\nA Orphã Abandonada $500\nO Capitão do Navio $500\nAs Graças de um Desgraçado, O Estudante\nCaipora e O Roto na Porta do Nú $400\nPeleja de Romano com Carneiro $400\nPeleja de Zé Duda com Silvino Pirauá $400\nCasamento do Rato com a Catita e do Sapo\ncom a Gia $400\nA defeza do Padre Cicero $300\nA Revolução de S. Paulo, Sergipe e Manáos $300\n\nOs pedidos podem ser dirigidos para:\nF. C. Baptista Irmão\nRua da Republica n. 584\nPARAHYBA"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-079",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Conselhos do Padre Cicero (sic) a Lampeão",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Paraíba [PB]",
"Data": "s/d",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Francisco das Chagas Batista (1882-1930)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "Autoria do texto atribuída a Francisco das Chagas Batista. Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=928%3Achagas-batista&catid=38%3Aletra-c&Itemid=1. Acessado em 11 de abril de 2016 às 16:10h.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"79\". Este folheto apresenta marcas de leitura ao lado dos parágrafos e anotação manuscrita na página 8.",
"Palavras-chave": "Batalhão; patriótico; Lampião; revoltosos; Padre Cicero Romão; cangaceiro; Juazeiro; justiça; sertão; lei; costumes; novo; antigo; casamento; pais; filhos; irmãos; relacionamentos;",
"Tema": "Encontro entre Padre Cícero e Lampião; A diferença entre os costumes antigos e o modernos",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nPOESIAS POPULARES\n\nCoselhos do Padre Cicero a Lampeão\n\nEditor prorpietario F. C. Baptista Irmão\n\nRua da Republica n. 584-Parahyba\n\nPREÇO.......500 rs [Lateral direita]\n\n\n\n[Em branco]\n\nConselhos do Padre\nCicero a Lampeão\n\nQuando o exercito revoltoso\nPelo Nordeste passou,\nTres batalhões patrioticos \nPadre Cicero organisou\nE a um dessses batalhões\nQue defendiam os sertões,\nLampeão se encorporou.\n\nLuctando com os rebeldes\nEstava um batalhão\nPatriotico de Joazeiro,\nQuando chegou Lampeão\nCom seu grupo terrorista\nE ali, se fez legalista,\nEntrando logo em acção!...\n\nOs soldados patrioticos,\nJá estavam quasi perdidos.\nPorque pelos revoltosos\nEstavam sendo envolvidos\nPorem Lampeão chegou,\nDe retaguarda atacou...\nForam os rebeldes vencidos\n\n-2-\n\nOs revoltosos fugiram\nEm debanda geral!...\nLampeão matou uns dez\nE tomou d'um official \nUm rifle e uma espada\nQue, comsigo foi guardada\nComo um trophéo sem rival.\n\nCommandava o batalhão\nUm tenente, seu amigo\n-O Chagas, que então lhe disse\n-Lampeão irás comigos\nA' cidade do Joazeiro\nEu serei teu companheiro\nTe darei seguro abrigo.\n\nLampeão mui satisfeito\nEsse convite aceitou\nPois lá tinha elle parentes\nE, a todos visitou\nChegando ali, Lampeão,\nDo padre Cicero Romão\nUma benção implorou.\n\nDisse-lhe o padre:-Meu filho,\nNão percista no peccado,\nDeixe a carreira dos crimes\nSe torne um regenerado.\nSe me promete deixar,\nLhe prometo trabalhar\nP'ra você ser perdoado.\n\n\n-3-\n\nLampeão lhe respondeu:\n-Padre muito agradecido,\nNão posso deixar agora\nPorque estou comprettido\nA tomar certas (vinganças,\nPorem mantenho esperanças\nDe deixar de ser bandido.\n\nSenhor Padre peça a Deus\nPara mudar meu destino\nPorque eu, sou cangaceiro\nDesde o tempo de menino\nJá fiz milhares de dannos \nE tinha só quinze annos \nQuando me fiz assassino.\n\nTenho cento e vinte mortes\n'Stou no crime empedernido\nA' força tenho tomado\nNunca tirei escondido\nCrimes de damnos e ofensa\nDará uma somma immensa\nOs que tenho commetido,\n\nJà mandei feixar meu corpo\nPor um velho feiticeiro\nJá fiz pacto com o diabo\nP'ra não ser prisioneiro;\nPadre queira me explicar\nSe Deus pode perdoar\nA um tão vil cangaceiro.\n\n-4-\n\nRespondeu-lhe o padre Cicero\nP'ra todo crime ha perdão\nDeus só quer do peccador \nA humildade e a contrição\nO arrependido não pena,\nChristo salvou a Magdalena\nE a Dimas o bom ladrão.\n\nLogo que tù resolveres\nHonestamente viver\nVolta aqui no Joazeiro\nQue posso te defender;\nAbandona esse cangaço\nQue eu te garanto que faço\nO governo te proteger.\n\n-Sr. padre eu continùo\nNo cangaço inda três annos\nPara poder por em pratica\nDo meu programma os planos\nDepois, aqui voltarei\nE então lhe confessarei\nTodos mues crimes e dannos.\n\nLampeão ao despedir-se,\nO padre o abençoou;\nEntão elle mais dez cabras\nAo seu grupo enconrporou\nChegára lá com cincoenta \nE ao sair tinha sessenta\nCabras, a quem elle armou\n\n-5-\n\nSaíram do Joazeiro\nTodos bem municiados\nSeguiram do Ceará\nProcurando outros Estados\nComo os rebeldes guerreiros\nSeguiram os cangaceiros\nEm bons cavallos montados.\n\nLampeão acompanhado\nDe vinte e cinco ladrões\nPenetrou em Pernambuco\nE atacou Algodões\nAli tudo saquearam\nE ferozes praticaram\nHorriveis depredações.\n\nDa força Pernambucana\nEstavam 21 soldados\nGuardando a povoação\nMas, ao serem atacados,\nFugiram em caminhões\nAbandonando Algodões\nA' sanha dos celerados.\n\nLampeão todas as portas\nA' coices de arma arrombou\nO saque então foi completo\nDe tudo elle se apossou...\nE de seis mulheres casadas\nQue estavam apavoradas\nElle a honra violou.\n\n-6-\n\nUma mocinha honesta\nPassou pela mesma dor!\nCom uma infeliz viuva\nPraticaram tal horror,\nQue ella desfalecida\nFicou quasi que sem a vida\nDos monstros sob o furor!!!\n\nDos sertões de Pernambuco\nLampeão já se apossou.\nAli, vinte fazendeiros\nNo mez de Abril assaltou\nPerseguindo as moças bellas \nDe mais de vinte donzellas\nA honra prejudicou!\n\nOs caxeiros viajantes\nQue elle encontra no sertão\nDepois de os roubar, obriga-os\nA escreverem ao patrão\nDizendo estou prisioneiro,\nE só a peso de dinheiro,\nMe liberta o Lampeão!\n\nSe qualquer um sertanejo\nSe recusa obedecer\nA's ordens de Lampeão\nSó Deus o pode valer\nPorque Lampeão condemna \nE ninguem lhe revoga a pena,\nFuzilado ha de morrer.\n\n-7-\n\nDe Rio Branco p'ra cima\nO governador sou eu!\nTodos esses municípios\nObedecem ao mando meu;\nE só deixo de Governar\nQuando a nova se espalhar\nQue Lampeão faleceu.\n\nO meu governo se estende\nDe Rio Branco a Cabrorbó\nDe Petrolina a Triumpho\nDe Salgueiro a Mochotó\nBrejo Flores, Cajazeira,\nE de Villa Bella a Ribeira\nEsta pertence a mim só.\n\nSoldado, nos meus domínios\nAnda com muito cuidado,\nPorque quando eu pego um\nDou-lhe um castigo pesado,\nBoto todos p'ra correr\nE se algum não quer morrer\nFica doido ou aleijado.\n\nNos sertões onde eu governo\nA justiça é positiva\nO Juiz è o meu fuzil\nDonde toda lei diriva\nTodos me pagam imposto\nE quem vão pagar com gosto\nContem com minha ofensiva.\n\n-8-\n\nSó temo os bravos soldados\nDa policia Parahybana\nPorque essa corre menos\nDo que a Pernambucana\nMas qualquer que me cercar\nVenha disposto ápanhar\nOu brigar uma semana.\n\nA moda antiga e a \nmoderna\n\nLeitor não vos enfadeis\nEm ler a apreciação,\nQue sobre usos e costumes\nFaço com toda atenção,\nE depois dirás commigo\nQue os uzos do tempo antígo,\nBem differente hoje são.\n\nEste mundo, antigamente\nUma Lei só o regia.\nEra outra a educação,\nO tempo melhor corria\nMas cresceram as vaidades,\nE hoje se vê novidades\nQue dantes jamais se via.\n\n[Nota manuscrita: \"Talvez (?) mas fala em cinema p 12\"]\n\n-9-\n\nPara provas do que digo\nTemos o nosso Brasil,\nFoi Monarchia, é Republica\nSuas leis são mais de mil;\nDellas a que é mais certa\nE que mais o povo aperia\nE' o casamento civil.\n\nQualquer homem sem escrúpulo,\nQue se casa actualmente\nSó com o poder-como dizem\nOs matutos geralmente,-\nDa mulher se abusando\nE de outra se agradando\nPode casar civilmente.\n\nE o que abusar da lei\nE só casar com effeito \nNo casamento catholico,\nAo governo está sujeito\nMorrendo millionario\nFilho e mulher no inventario \nA nada teem direito.\n\nNão se via antigamente\nTão grande devassidão.\nOs paes de familia usavam\nA mais seria educação\nA familia que criavam\nA bailes não frequentavam\nTemiam a religião.\n\n-10-\n\nUm menino antigamente\nSe por um caminha ia\nE um velho encontrava\nLogo abenção lhe pedia\nHoje em lugar de abenção\nElles fazem é mangação\nAté da mãe que os cria!...\n\nSe estavam duas pessoas\nConversando em um salão\nUm meino não passava\nEntre ellas isto não,\nE se na conversa entrasse\nSem que alguem o chamasse\nSoffria reprehensão.\n\nHoje, estão duas pessoas\nConversanod em uma sala\nPassa um menino entre ellas\nO pae vê porem não fala,\nSe fala o filho lhe diz,\nQue passou alli porque quiz\nO pae o ouve e se cala.\n\nHoje um pae faz o cigarro\nO filho pede e ascende\nNão o achando bem feito\nDa forma que elle entende,\nDiz ao pae pilheriando\nQue ele morre fumando\nE a fumar não aprende!\n\n-11-\n\nOs filhos antigamentr\nRespeitavam muito aos paes,\nNão fumavam em sua vista\nNão diziam ditos taes\nBrinquedo algum frequentavam\nE jogo, os que jogavam\nEra occulto de mais.\n\nHoje o pae vae para o jogo\nLá o filho está primeiro\nE os dois na mesma roda\nSe põem a jogar dinheiro\nDito vem, pilheria vae\nEntre ambos, filho e pae\nUm do outro é pariceiro\n\nOs irmãos antigamente\nNão eram tão desumidos \nArengar uns com os outros\nPelos paes eram prohibidos\nE os que eram teimosos\nPor castigos rigorosos\nEntão eram repelidos\n\nHoje um irmão com outro\nQuestiona, faz afronta\nOs paes ralham, ameaçam,\nElles não os levam em conta\nNão tem aos paes attenção\nSomente a malcreação\nTrazem da língua na ponta.\n\n-12-\n\nAntigamente os paes,\nTinham mais religião,\nA familia que creavam\nTinha a obrigação\nDe aprender a doutrina\nE respeitar a lei divina\nCom jejum e confissão.\n\nHoje então, o que é que vemos?\nSão os taes paes de familias,\nProhibir a confissão.\nE lear filhos e filhas\nP'ra theatros immoraes\nE cinemas inda mais\nE, indecentes quadrilhas.\n\nNo povo dos tempos idos\nHavia mais inocência\nNo de hoje só há maldade,\nVaidade e incontinência\nPelo que emfim traduzo\nHoje o namoro e o uzo\nSão artes de boa sciencia.\n\nOs taes namoros modernos\nSão em si tão corrompidos;\nAs namoradas são falsas\nOs namorados fingidos!\nQuanto ao uso então os povos\nVão descobrindo uzos novos\nOs velhos foram esquecidos.\n\n-13-\n\nDe primeiro uma senhora\nFazia um bom vestido\nCom nove covados de chita\nE dizia ao marido:\nNão dê seu dinheiro atôa,\nSó compre fazenda bôa,\nDe um panno largo e fornido.\n\nHoje qualquer mulhersinha \nCompra quinze e deseseis\nCovados de chita bem larga\nE inda acha escacez\nNo panno e diz ao marido:\nNão sahiu o meu vestido\nComo o que fulana fez.\n\nAntigamente os casacos\nNas saias eram pregados\nTudo muito simplesmente\nSem roda pé nem babados\nEra um uso inocente\nQue faziam igualmente\nOs pobres e os illustrados.\n\nHoje as senhoras fazem\nO casaco decotado\nA saia com bico e renda\nE as vezes mais de um babado\nCamiseta a saiote\nGola, ponta e decote,\nE mais que achar de agrado.\n\n\n-14-\n\nAs fitas antigamente\nEram para anjos e santo,\nHoje as senhoras moças\nCom fitas se enfeitam tanto...\nBotão fita com fartura\nNo cabello, na cintura,\nNo casaco em todo canto.\n\nAntigamente usavam\nBotão, anquinha e corpinho,\nHoje, é o espartilho\nE um cinto apertadinho,\nQuem viu na antiga data\nMulher andar de gravata,\nPunho, chapéo, colarinho?\n\nSão innumeros os usos\nQue pelo mundo se espalham\nCom os quaes mulheres pobres\nCom as ricaa o uso igualham\nEmfim as ricas e pobres\nGastam com usos os cobres\nQue os seus maridos trabalham.\n\nAlem dos usos de roupa\nEllas fazem igualmente\nTantos usos no cabelo\nDe admirar a gente,\nEu digo semrpe comigo\nQue o uso do tempo antigo\nEra em tudo differente.\n\n-15-\n\nAntigamente as mulheres\nUsavam trança e còcó,\nHoje é as taes pastinha\nGuaribado e bedengó\nE tem alguma que gosta\nDe ua trança suposta\nOutras cabello cotó.\n\nMoças de cabello bom\nEu vejo hoje emfim\nEncrespal-o com papel\nPara ficar pichain !\nQue uso mal entendido\nDevia Deus ser servido\nDo cabello ficar ruim!...\n\nEmfim são tantos os usos\nQue faz a gente pensar\nQue ainda se vae ver cousa\nDo diabo se admirar\nEu digo e ninguem se offenda\nJá vi homem fazer renda\nE mulher almocrevar...\n\nO certo é que todo uso\nE' sempre um gosto perdido\nPorque vexa quem é pae\nAperta quem é marido,\nFaz irmão comprar fiado\nCom isso o pobre coitado\nDos bolsos fica abatido.\n\nLEIAM ESTA PAGINA\n\nNa Livraria Popular\nEditora encontram-se a vem-\nda, pelos preços mais baratos\ndo mercado:\nLivros escolares, Livros reli-\ngiosos, Livros de litteratura, critica\ne Poesia, Livros commerciaes, trata-\ndos de Escripturação Mercantil, arti-\ngos para Musicas, para Escriptorio,\npara presente, Medalhas, Estampas, \nPapeis, Guias e Livros para Collecto-\nrias, Talões de Recibo para aluguel\nde casa, para dinheiro, talões nume-\nrados, com e sem 2.ª Via.\nExecuta-se com a máxima pres-\nteza todo e qualquer serviço typo-\ngráfico.\n\nRua da Republica, 584-Prahyba do Norte\n\n[Em branco]\n\nEDIÇÕES\n-DA-\nPOPULAR EDITORA\n\nLivros com grandes descontos para\nos revendedores\n\nPoesias Escolhidas-3. edição 3$000\nHist. Completa de Alonso e Marina 2$000\nHist. Completa de Antônio Silvino 1$500\nHist. da Donzella Theodora e Porcina 1$500\nHist. de Rosa e Lino 1$500\nHist. de Esmeraldina-Traição e Vingança 1$500\nHist.completa de Carlos Magno em versos 1$000\nHist. da Noiva Engeitada 1$000\nHist. da India Neey 1$000\nHist. do Sertanejo Zé Garcia 1$000\nPeleja de Joaquim Francisco com o Demonio $800\nA filha do Coronel roubada pelos ciganos $800\nDescripção do Estado da Parahyba $800\nSegunda peleja de João Melchiades com o\nCapitão Protestante $800\nOs Decretos de Lampeão $400\nHist. Completa deLampeão contendo o Fe-\nchamento do Corpo e Pacto com o Diabo $500\nOs revoltosos no Nordeste e a hecatombe de Pianco $400\nO Capitão do Navio $500\nAs Graças de um Desgraçado, O Estudante\nCaipora e O Roto na Porta do Nú $400\nPeleja de Zé Duda com Silvino Pirauá $400\nA defesa do Padre Cicero $300\nA Revolução de S. Paulo, Sergipe e Manáos $300\n\nOs pedidos podem ser dirigidos para\nF. C. Baptista Irmão\nRua da Republica n. 584\nPARAHYBA"
},
{
"Codigo": "MA-LPCORDEL-082",
"Unidade": "CAIXA 011 - Folhetos de Cordel",
"Genero": "Iconográfico, Textual",
"Formato": "Folheto de Cordel",
"Suporte": "Papel",
"Titulo": "Discussão de um Praciano com um Matuto",
"Detalhe": "-",
"Localidade": "Recife, PE",
"Data": "14/05/1934",
"Idioma": "Português",
"Autor": "Leandro Gomes de Barros (1865-1918)",
"Registro": "Impresso Gráfico",
"Cromia": "Preto e Branco",
"Folhas": 10,
"Notas": "Autoria do texto atribuída à Leandro Gomes de Barros. Fonte: http://digitalizacao.fundaj.gov.br/fundaj2/modules/visualizador/i/ult_frame.php?cod=1207 - Acessado em 10 de janeiro de 2017 às 12:20h.",
"Observacoes": "Numeração manuscrita na capa: \"82\". Este folheto apresenta marcas de leitura na página 12.",
"Palavras-chave": "Matuto; praciano; Rio Grande do Norte; Paraíba; gente; queijo; preço; leilão; jerimum; macaxeira; angú; escárnio; mato; rua;",
"Tema": "Discussão entre um matuto e um praciano",
"Tecnica": "",
"Texto": "[CAPA]\n\nEdictor Propietario\n\nJoão Martins de Athayde\n________________________\n\nComo se Amança \nUma Sogra\n________________________\n\nZé do Brejo e Chico da Rua Glosando\n\nCOMPLETA\n\n________________________\n\nRemete-se pelo Correio qualquer \nquantidade de Livros mediante, \na importância do pedido para\nqualquer Estado do Brazil. \n\n____________\n\nRECIFE --- PERNAMBUCO\n\n\n\n\n\n[Em branco]\n\nComo se \nAmança\nUma Sogra\n___________________________\n\nVi o diabo côcora\nUm mez depois de casado,\nQuando julgava passar\nA lua de mel deitado,\nA doce, a queijo, e a vinho,\nE a pequena de um lado. \n\nPorém a mãe della,\nCabra conhecida,\nA pouco mordida\nPor uma cadella,\nE quem era ella\nInda eu não sabia\nTinha a theoria \nDa mãe do macaco\nTomava tabaco,\nFumava e bebia. \n\nEntão a velha criava\nUma maldicta ranchada,\nTinha um bode e um carneiro\nUma cachorra pelada,\nUm bacuráo na gaiola,\nE uma gata espritada.\n\n2\n\nFazia maió\nO bode bé-be,\nO carneiro mé\nO cachorro au au\nE o bacuráo,\nA manhã eu vou\nA mulher fallou\nDevido a zuada\nA velha deitada,\nNem se encommodou.\n\nUma porca magra velha\nDamnada contando um,\nUm bahú velho de flande\nOnde havia um guiamum\nFaça idéa um samba desses,\nSe não é mais que um jejum.\n\nEu já estava cheio\nPeguei logo um páo,\nFui ao bacuráo\nAquelle soltei-o,\nO cachorro veio\nMetti-lhe a madeira\nCom inquirideira\nParti a porquinha\nAlli a gatinha\nEncheu na carreira.\n\n3\n\nMinha mulher exclamou:\nQuando mamãe não ouvir,\nA gata della miar\nE' Cupido não latir\nSant'Anna este casa hoje,\nSe arrisca muito a cahir.\n\nPapai está no matto\nMamãi desertou-o,\nPorque obrigou-o\nEngulir um rato\nQue xarope ingrato,\nQue cousa cruel!\nQue taça de fel!\nMamãe disse alto\nOu engole o rato\nOu toma um cristel.\n\nEu disse deixe ella vir;\nMeu plano já está formado,\nCae uma banda do céo\nFica o sol dependurado\nSobe um cursico vermêlho,\nDesce um raio esverdeado.\n\nAs luzes se apagam\nA terra estremece,\nO ar humedece\nAs nuvens se rasgam\n\n4\n\nOs astros se estragam\nTudo é destruído\nEu estando \"ruído\"\nNão há quem me arranhe;\nHoje sua mãe\nEncontra marido.\n\nTres horas da madrugada\nA velha se levantou,\nDisse, \"Cupido\" não late\nPichane inda não miou\nO bode não quer berrar?\nA porca inda não roncou.\n\nIsto não é novidade\nQue houve em meus bichos,\nE esses caprichos\nSe acabam mais tarde:\nO cacête arde!\nE o dia é meu,\nGritou-me, entendeu?\nErga-se dahi,\nE saiba que aqui,\nO gallo sou eu. \n\nTrançou a saia nas pernas,\nFicou como um diabÊte,\nFez um cocô do cabelo\nE lançou mão de um cacête.\n\n\n\nBateu-me na porta e disse\nVamos a elle cadete?\n\nA mulher tremia\nQue embalava a cama,\nA mãe tinha fama\nPor isso temia\nMas eu lhe dizia,\nEsta fama caem\nElla hoje vae\nCom freio e com sella\nO diabo nella,\nCaçando seu pae.\n\nA velha ahi perguntou\nPorque está custando tanto?\nPara eu dar em cabra ruim\nPrimeiramente o espanto\nMarcou um coice na porta, \nFoi avoa-la no canto.\n\nJá rompia aurora,\nAo quebrar da barra:\nPeguei-a na marra\nMetti-lhe a espóra\nCom menos de uma hora\nElla disse eu morro!\nPedia soccorro\nO bode berrava\n\n6\n\nA porca guinchava,\nLatia o cachorro.\n\nEntão eu disse-lhe: velha\nEu cá não sou seu marido.\nSe elle fosse como eu\nNão andaria fugido,\nEu faço você beber,\nChá de chumbo derretido.\n\nQuer desenganar-se\nBalance-se ahi,\nQue eu faço daqui.\nVocê desmanchar-se:\nEnsino a montar-se\nNum bicho de pé,\nLhe juro por fé\nA cousa faz pena,\nGritou a pequena,\nTambem isso é.\n\nMas o que, seu camarada,\nFcilitei com a bicha; \nElla aripou-se toda\nFicou que só lagartixa\nTrançou a saia de novo,\nGritou couro velho espicha.\n\n7\n\nE disse se pode,\nFaça como fez\nPorém dessa vez\nPegou-me o bigode\nCritei, quem me accode\nA mulher correu,\nQue fazia eu?\nEstirei a mãe\nDei-lhe um cachação,\nQue a velha se ergueu.\n\nFechei a mãe bem fechada\nMarquei-lhe a bocca na frente,\nO murro inda obrigou\nA velha engulir um dente\nTambem mais de quinze dias,\nMeu braço ficou doente.\n\nE o rôlo entrou\nDe novo outra vez,\nQuando fez um mez\nO velho chegou\nA casa ficou\nQue só um vasculho\nCresceu o barulho\nNão parou uma hora\nQuem vinha de fora,\nSó via o embrulho.\n\n8\n\nChegou um filho da velha\nQue andava foragido,\nA velha quasi que o mata\nElle sahiu escondido,\nSoube da lucta foi vê,\nSe a velha tinha morrido.\n\nPorém dessa vez\nOs planos falharam,\nPorque arribaram\nDalli todos tres,\nA velha cortez,\nBizonha e calada,\nA saia rasgada\nE a cara rocha\nArrumou a troucha,\nEncheu a estrada. \n\nE foi assim que amancei\nO leão tão furioso,\nA cousa mais carregada\nO bicho mais perigoso\nEu julgava não haver,\nInsecto tão venenoso.\n\nBicha perigosa,\nNem touro zebu,\nOu surucucu\nDe pico de rosa. \n\n\n9\n\nQue féra teimosa\nAnimal valente,\nNem a ferro quente\nA cabra temia,\nBabava e cuspia\nQue me poz doente.\n\nE' mais fácil se amançar\nUma cabra de veado,\nDo que uma sogra velha\nDessa do olho virado\nA cabeça oval a secca,\nCabelouro levantado.\n\nA minha amançou\nMas quanto luctei?...\nSó eu mesmo sei\nQuanto me custou,\nInda hoje estou\nSem poder andar\nFiz ella amançar\nQue ficou de mais\nHoje só não faz,\nDar-me de mamar.\n\nFIM.\n\nZÉ DO BREJO E CHICO DA RUA GLOSANDO\n\nZé do Brejo-Pirarucu tanto venha,\nChico da-Rua não como pirarucu\n\nDois glosadores fallavam\nSobre a grande carestia,\nO bacalhau não havia\nOs vapores não chegavam,\nPreceitos não se guardavam\nEstava o tempo frio e crú\nO povo com fome e nú\nDisse o outro tempo é mau\nMias em vez de bacalhau,\nNós temos pirarucu.\n\nChico-Prefiro morrer damnado\nPrego os dentes na parede,\nComo uma cobra vêrde\nUm rato inda estando inchado\nMais aquelle desgraçado\nBaboso que só muçú, \nNão tem que vêr cururu\nInda que um santo me dê\nEu digo como isto o que ?\nNão como pirarucú.\n\n\n11\n\nZé-Ora seu collega deixe\nIsso é só opinião,\nPorque diz o rifão\nO que vem na rede é peixe,\nLargue a scisma não se veixe,\nEsse cuidado não tenha\nDisse um matuto da brenha\nAgora não o deixava\nE diz mesmo tendo raiva, \nPirarucu tanto venha.\n\nChico-Passo tres dias com fome\nMendingando pela rua,\nComo um cão ladrando a lua,\nQue a quatro duas não come\nPrefiro negar o meu nome\nDizer: me chamo urubu,\nSou filho de um tapurú,\nNeto de uma caranguejeira\nMóro n'uma bagaceira,\nNão como pirarucú.\n\nZé-Despreso perú assado\nNão dou valor a um leitão,\nNão acho graça em capão\nE deixo qualquer guizado,\nPor muito bem preparado\nE temperos que elle tenha,\nDesde a capital a brenha\nProcure tudo que há\nQue nada me agradará,\nPirarucu tanto venha.\n\n\n12\n\nC-Na catástrofe mais medonha \nNo supplicio mais horrendo,\nAinda alguém me prendendo\nEm Fernando de Noronha,\nPasso por uma vergonha\nAndo pela praça nú\nBebo um calco de urubú,\nComo um cachorro sem sal\nCom tudo isto afinal,\nNão como pirarucú.\n\nZé-Disse um frade em seu sermão\nMeus filhos abençoados,\nEu peço aos fieis amados\nQuem quiser ser meu irmão,\nNão estire sua mão\nPara a venda que não tenha\nEsse peixe que se empenha\nPor nossa sub-existencia\nEu como por excellencia,\nPirarucu tanto venha.\n\nChico-inda eu estande derrotado\nA fome horrenda e tyranna,\nComo casca de banana\nN'uma feira ou n'um mercado\nComo um aruá assado\nA fervento um cururu\nPrefiro um camello crú,\nConforme a necessidade,\nMais inda contra a vontade,\nNão como pirarucú. \n\n\n13\n\nZé- Não gosto de pedantismo\nE nunca escolho comida,\nTudo que sustenta a vida,\nSatisfaz o organismo,\nCensura até o cynismo\nPor muito sagaz que venha\nDisse-me um frade da Penha\nNuma taverna bebendo,\nMinha mãe morreu dizendo,\nPirarucu tanto venha.\n\nChico-Prefiro uma excomunhão\nDo padre do Joazeiro,\nPorém ao mundo inteiro\nIsto foi sem precisão\nNão foi tão má minha acção\nPara um castigo tão crú\nDeus do céu, dirá-me tú\nSustente conte commigo\nPosso cahir no perigo,\nNão como pirarucú.\n\nZé-É um peixe saboroso\nTendo maxixe e quiabo,\nUm pedaço de seu rabo\nFaz um almoço gostoso,\nUm pirão muito oleoso\nCosinha com pouca lenha,\nEu morava em Jurumenha,\nOuvi dizer pelo clero\nOutro peixe aqui não quero,\nPirarucu tanto venha.\n\n14\n\nChico então disse,\nQue tem esse pobre peixe\nEu acho em que se o deixe\nIsso é uma pura tolice,\nAgora se ninguem visse\nEsse peixe no sertão\nQuem confessa ser christão\nDiz que um homem legal \nVê logo que não faz mal,\nPirarucu com feijão.\n\nUm poeta velho ouviu\nO poeta atropellado,\nO outro estava damnado\nComo uma féra pertiu,\nO poeta velho acudiu\nCom destino forte e crú\nCom uma abelha de enxú\nVai de encontro ao caçador,\nDisse a Zé, por favor,\nNão gabe pirarucú.\n\nChico-Que tem que morra de fome\nFiquei dormindo no matto,\nComo pulga e carrapato\nMias pirarucú não come\nSua lembrança se some\nOnde não vai urubú\nNem cobra sururucú\nNão fica tão assanhada\nMinha mãe era casada,\nNão come pirarucú.\n\n\n15\n\nZé Disse eu já notei\nDiversos tem me dito,\nVocê é muito exquesito\nE eu sempre detestei,\nInda há pouco converse,\nCom alguém do Pageú\nDisse um rapaz do Perú\nChegando agora do norte\nQue até na hora da morte,\nSe come pirarucú.\n\nChico - Você é muito atrazado\nNão parece sêr da roda,\nPirarucu está na moda\nComo o bigode raspado\nÉ um peixe desgraçado\nBabento que só mussú,\nCusido parece crú,\nAssado defe a cumôa\nNão tem prazer a pessôa,\nQue come pirarucú.\n\nZé-Seu avô nasceu no matto\nEmquanto viveu caçou,\nE esse nunca engeitou\nLagartixa, cobre, e rato\nRaposa furão, e gato\nCamaleão, tejuassú\nMaritacaca, timbu,\nSapo, rã, caçote e gia\nMorreu n'uma pescaria,\nAtraz de pirarucú.\n\n16\n\nChico - Por uma dessas assim\nEu hoje não gosto delle,\nPorque se não fosse elle\nMeu avô não tinha fim,\nQue falta faz elle a mim\nPassei fome e andei nú,\nComendo bacalhau crú,\nSem alguém dar-me um abrigo\nPor isto é meu inimigo,\nQuem come pirarucú.\n\nZé- tenho engeitado Sardinha\nDeixei xixarro e salmão,\nCom vinho alcobaça e pão\nEnsopado de estrelinha,\nBôa canja de galinha,\nBello papo de perú\nFrigideira de pitú,\nEscabeche de cavala'\nNem um desses me regala,\nIgual a pirarucú.\n\nRecife, 26 de março de 1934\n\nFIM.\n\n\n\n[Em branco]\n\nA PERNAMBUCANA\n____________________\n\n - DE - \nNigro A. da Silva\n_________\nLivros, Romances e Modinhas dos mais \nconhecidos e applaudidos autores\nbrasileiros\n\nDeposito permanente dos livros do\ntrovador popular\n\nJOÃO MARTINS DE ATHAYDE\n\nGrandes descontos aos revendedores\n\nMercado Modelo, 158\n\n- BAHIA -"
}
]